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Jornal de Psicanálise

versión impresa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.50 no.92 São Paulo jun. 2017

 

A ESCRITA PSICANALÍTICA E A PSICANÁLISE DA ESCRITA

 

A escrita como fonte de prazer: relato de uma experiência

 

Writing as a source of pleasure: an experience report

 

La escritura como fuente de placer: relato de una experiencia

 

L'écriture comme une source de plaisir: récit d'une expérience

 

 

Maria Cecília Pereira da Silva

Psicanalista, membro efetivo, analista de criança e adolescente e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, SBPSP. Pós-doutora e doutora em Psicologia Clínica, mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP. Membro do Departamento de Psicanálise com Crianças e professora do Curso Relação Pais-Bebê: da observação à intervenção, do Instituto Sedes Sapientiae. Coordenadora da Clínica 0 a 3 do Centro de Atendimento Psicanalítico da SBPSP, São Paulo. mcpsilv@gmail.com

 

 


RESUMO

Este trabalho compartilha com o leitor o processo vivido pela autora ao procurar transmitir a experiência de publicar. Passando pelo horror calami, conhecimentos adquiridos, questões institucionais da formação psicanalítica, descreve as vivências típicas das configurações edípicas, em que estão presentes sentimentos de perda, luto e exclusão, até o prazer de escrever.

Palavras-chave: publicação, escrita psicanalítica, horror calami, conflitos edípicos, formação psicanalítica


ABSTRACT

This paper shares with the reader the process the author has gone through while publishing her work. She writes about horror calami, acquired knowledge, and institutional issues of the psychoanalytic training, when she describes the typical experiences of oedipal configurations. As such, there are feelings of loss, mourning, exclusion, and even pleasure of writing in her experiences.

Keywords: publication, psychoanalytic writing, horror calami, oedipal conflicts, psychoanalytic training


RESUMEN

Este trabajo comparte con el lector el proceso vivido por la autora al buscar transmitir la experiencia de publicar. Pasando por el horror calami, conocimientos adquiridos, cuestiones institucionales de la formación psicoanalítica, describe las vivencias típicas de las configuraciones edípicas en las que están presentes sentimientos de pérdida, luto y exclusión, hasta el placer de escribir.

Palabras clave: publicación, escrita psicoanalítica, horror calami, conflictos edípicos, formación psicoanalítica


RÉSUMÉ

Ce travail partage avec le lecteur le processus vécu par l'auteur, en essayant de transmettre l'expérience de publier. Elle décrit les vécus typiques des configurations œdipiens où l'on retrouve les sentiments de perte, de deuil, d'exclusion, jusqu'au plaisir d'écrire, en passant par l'horreur calami, les connaissances acquises et les questions institutionnelles de la formation psychanalytique.

Mots-clés: publication, écriture psychanalytique, horreur calami, conflits œdipiens, formation psychanalytique


 

 

Desejo compartilhar neste artigo o que muitos de nós vivemos, diante da tarefa de transformar uma percepção ou ideias em algo escrito, e que Freud, mesmo quando sentia-se seguro ao escrever, denominava de horror calami (Grubrich-Simitis, 1995, p. 90).

Na tentativa de desvendar alguns dos mistérios envolvidos na comunicação e na publicação, escolhi descrever os passos que experimento, misto de realidade e fantasia, diante da tarefa de escrever algo para comunicar. Mas, antes de mais nada, gostaria de fazer algumas ressalvas.

 

Ressalvas

Há uma diferença entre o comunicar e o publicar. Ao comunicar ou interpretar, também publicamos nossas ideias, action public, no dizer de Bion (1959/1992), mas o outro está presente. A presença viva do interlocutor nos permite reformular nossas hipóteses, escutar os próprios pensamentos, revê-los e confrontá-los, perceber possíveis falhas, conceitos incompreensíveis, para, num segundo momento, se de nosso interesse, reescrevermos para publicação. O comunicar também envolve uma limitação imposta pelo tempo. Com isso, temos que privilegiar alguns aspectos em detrimento de outros. As lacunas contidas na comunicação, assim como na interpretação, abrem um espaço para construirmos com o outro um conhecimento.

Na publicação, nos comprometemos mais com as formulações escritas e, ao mesmo tempo, nos desfazemos delas. Não que não seja possível discordarmos de nós mesmos num outro momento, mas as ideias escritas e publicadas tomam diversos rumos, podem gerar derivações posteriores que nos escapam, como se adquirissem vida própria. A publicação envolve uma perda, uma separação e um afastamento depressivo da produção escrita.

Tanto o comunicar como o publicar em psicanálise deixam o autor em uma situação de exposição. O trabalho analítico é um processo íntimo e individualizado, extremamente privado. Não é tarefa fácil transpor esse setting e tornar públicas as experiências vividas no interior da relação analítica, respeitando o sigilo, a ética e a seriedade que essa prática exige.

Com essas ressalvas, já estou tratando dos avatares que envolvem essa temática e que podem se constituir em inibidores do pensamento ou da escrita, se não puderem ser superados.

 

Retomando um caminho conhecido

Na experiência de escrever este trabalho, vários diálogos se travaram dentro de mim. Desde o sentimento de responsabilidade para comunicar algo, passando pela vontade de desistir, diante da vivência caótica de organizar os pensamentos, até a satisfação narcísica com a experiência de intimidade e prazer do escrever.

Num dado momento, rapidamente encontrei uma solução e pensei: posso descrever os conflitos vividos pelos analistas para tornar pública essa ciência tão subjetiva, fruto de um setting privado e íntimo, apoiada em um trabalho que escrevi acerca do que vem a ser o psicanalista (Silva, 1992) e que por sua vez deriva da minha dissertação de mestrado (Silva, 1994), algo muito familiar para mim.

Nesse trabalho dissertativo, aprendi que para os professores apaixonados, isto é, aqueles que são entusiasmados pela arte de formar, formar é: ser um mediador, facilitador ou catalisador. Para eles a relação que se estabelece no processo de formação é mais importante que o conteúdo a ser transmitido, pois formar é levar o aluno a achar seu próprio caminho, a se transformar, a evoluir, a refletir, a se mover, a se relacionar. Processo que se dá internamente tanto por parte do aluno como do professor. É como um jogo lúdico, de muito prazer em que também está se formando, se movimentando, se transformando, evoluindo, se relacionando com trocas ricas e significativas. E, ainda, com disponibilidade para o inesperado, o desconhecido, o que implica o manejo das diferenças, das divergências, presentes em todas as relações humanas.

Toda referência feita pelos professores ao movimento, à troca, à transformação, no sentido "de deixar o mundo melhor" (o desejo de construir contém o de destruir), está relacionada a um processo que se dá internamente, isto é, para dentro; e não para fora. Reconhecem que os desejos destrutivos estão presentes, embora bem contidos; só aí, então, a criação, a "paixão de formar" pode emergir.

Além disso, a paixão de formar é descrita como uma passagem sofrida, dolorosa, de ultrapassar umbrais. A angústia da formação é vivida por ambas as partes, mas cabe ao professor criar um movimento. Para esses professores entrevistados por mim, formar não envolve criar discípulos a sua imagem e semelhança, mas indivíduos que pensem e possam trocar na relação professor-aluno. Não é um processo consciente, predeterminado, lógico ou intelectualizado. Parece que há algo de misterioso envolvido na paixão de formar.

Para Freud o amor constitui o motor principal da educação, a saber, a demanda de amor que a criança dirige a seus pais e educadores. Para conquistar esse amor ou conservá-lo, propõe ao adulto uma imagem enganadora, com a qual tentará satisfazer às exigências cujo polo é constituído pelo Ideal do Ego (Millot, 1987, p. 153). O professor está diante do próprio inconsciente e do inconsciente do outro. Mas o professor não pode renunciar aos meios de sua ação enquanto educador, ele está ali para formar. Por meio dos relatos desses professores, descobri que eles "criaram uma pedagogia própria, criativa e livre, escapando das armadilhas inconscientes de idealização, ou de petrificação, ou de institucionalização, transferidas para as relações pedagógicas" (Silva, 1994, p. 112). Nesse movimento do professor, haverá sempre uma chance de que seu aluno venha a abandoná-lo como figura ideal. Num dado momento, o professor aceita ser objeto do desejo do aluno, sem, contudo, sobrepujar esse desejo, compreendendo que isso faz parte de todo processo de formação.

Nessa perspectiva, defenderia que a relação professor-analista e aluno-membro filiado busque uma constante transformação, criando novos caminhos, ultrapassando umbrais, repleta de criatividade. Os seminários poderiam ser mais um espaço de descoberta que de impedimentos. Os professores-analistas poderiam, em seus seminários, propiciar um campo de ilusão (seja ele análise pessoal, supervisão ou seminários) em que se dê vazão ao sonhar, à criatividade, à curiosidade e à espontaneidade na clínica psicanalítica, para depois, num outro momento, também, elaborar e teorizar. Nesse campo, mais importante que buscar discípulos submissos, seria encontrar curiosos fiéis à investigação psicanalítica na tentativa de que o conhecimento se movimente, se desarranje e, então, como na arte, se represente e tome novos significados. E, ainda, um espaço lúdico, em que o olhar do ouvinte e o reconhecimento ocupem sua relevância no campo da relação transferencial professor-analista/aluno-analista em formação, mantendo vivo o espírito da psicanálise.

Assim, concluiria que a única saída para o desenvolvimento da psicanálise e a possibilidade de o psicanalista publicar estaria numa formação psicanalítica com mestres apaixonados, e, como num piscar de olhos, teria me livrado dessa terrível angústia de estar diante de uma folha em branco.

Embora essa fosse uma proposta interessante, talvez compelida por objetos internos mais exigentes e pela capacidade de continência diante do desconhecido, esperei surgir um campo de ilusão, um campo onírico, que permitisse nascer algo novo.

 

Escrevendo, escrevendo e escrevendo

Escrever é sempre um processo penoso, em que um certo "mal-estar" está presente. Em uma carta a Ferenczi, Freud escreveu respondendo ao amigo que se queixara das dificuldades de uma formulação definitiva: "para mim foi, na maioria das vezes, uma luta penosa. Por que não seria para você também?" (carta de 6/12/1915) (Grubrich-Smitis, 1995, p. 89). Nessa retomada, no diálogo com meus objetos internos, a confiança prevaleceu e surgiram sentimentos acolhedores e reasseguradores.

Descubro, então, que o "mal-estar" estaria relacionado a uma espécie de luto, à vivência de uma depressão sem defesa, que só se supera quando é possível a tolerância às fantasias e aos temores depressivos, assim como a confiança nas próprias capacidades reparadoras.

Quando estou diante de um tema que me interessa e desejo desenvolver, não posso me sentir comprimida por prazos e tempo. Concordo com Freud, que duvidava dos trabalhos que havia escrito sob encomenda. Mais do que o tempo necessário para não "forçar nada" e deixar que as ideias genuínas surjam, após o término de um trabalho, gosto de deixá-lo de lado por alguns dias, para me distanciar daquilo que escrevi e então enxugar o texto ou mesmo esclarecer aquilo que ficou condensado demais.

Na elaboração de um trabalho é comum vivermos um momento imaginativo e hipotético, repleto de ilusão e paixão, em que há vários pensamentos concorrendo ao mesmo tempo, para depois, humildemente, fazermos uma seleção, um refinamento do que é essencial e, finalmente, cuidarmos da sintaxe e da estética.

Além disso, como analista, sinto-me sempre muito presente naquilo que escrevo; ao distanciar-me do texto, crio um espaço para escutar os comentários e aceitar as críticas dos colegas sem tomá-las como pessoais.

Sem um prazo definido para finalizar um texto, descubro o que Freud experimentou com Breuer, Fliess, Ferenczi, interlocutores essenciais que estimularam e intermediaram, numa espécie de intimidade pública, a criação de muitas de suas teorias que se transformaram em obras valiosas.

Foi assim que me dei conta de que as ideias brotavam livremente dentro de mim e muitas delas estavam esboçadas. Já estava sonhando com o tema e, de uma maneira descontínua, fazia anotações aqui, acolá, sem muito controle e crítica, como se pintasse dez telas ao mesmo tempo.

Juntamente com uma leitura cuidadosa e específica, comecei a refletir sobre a minha trajetória durante minha formação psicanalítica e nas conferências e publicações que organizei. Tinha diante de mim uma experiência que poderia ser ressignificada e reinterpretada.

Ainda não havia encontrado um eixo para este trabalho quando li a "A ansiedade de publicação: conflito entre comunicação e afiliação", de Britton (1994). O caos tomou conta de mim. Mas do caos vem a luz. Vou explicar. Britton descreve os vários conflitos e sintomas que envolvem a escrita e caracteriza aqueles que escrevem e divulgam sem muita crítica, movidos por uma excessiva prontidão em publicar, e ressalta como a ansiedade está sempre presente. A ansiedade tem duas fontes: "uma é o medo de ser rejeitado pelo público a que o autor é afiliado, com a possibilidade de ser exilado do convívio deles. Se excessiva, a ansiedade pode causar inibição ou resultar em distorções, desvios ou distrações no texto. Se negada, pode resultar num texto superficial e complacente" (Britton, 1994, p. 46).

Como se fosse um filme, revi em várias cenas todos os trabalhos que já publiquei, minha necessidade de me comunicar e as publicações de colegas que tanto incentivei. Quando a cena se aproximava de um abismo, vi uma curva e verifiquei quão importante foi para mim, no meu processo de escrever, cada trabalho que encontrou um espaço para publicação ou para comunicação, assim como os de vários colegas.

Observei que nesse processo criativo com vistas a uma publicação, de trabalhos de colegas ou meus, sempre esteve presente uma preocupação em dar voz à comunicação sem muita censura, sem muita avaliação, criando um espaço potencial (Winnicott, 1971/1975). Freud usava a metáfora do nascimento para descrever o horrível sofrimento que experimentava durante a fase conclusiva do processo criativo. Acredito que é necessário comunicar, contar com o interlocutor para ampliar o processo de simbolização e uma possível criação.

Recordo-me de como nos diversos grupos de estudos que participei ou coordenei, procurava criar um espaço acolhedor, um ambiente facilitador (Winnicott, 1988/1990), para que os colegas comunicassem, escrevessem sobre algo novo ou pelo que já se interessavam. Eram espaços em que discutíamos e trocávamos experiências, e muitos dos trabalhos foram publicados e vieram a se ampliar, e a se desenvolver mais tarde.

Ao mesmo tempo, quando iniciamos nossa formação psicanalítica, vivemos um processo de regressão em função da análise didática e, muitas vezes, de infantilização pela instituição. Também se idealizam os pais institucionais. Além disso, estudam-se vários temas e teorias de forma muito fragmentada durante a formação. Diante de tudo isso, nesse momento, torna-se muito difícil manter intacta a capacidade de simbolizar, analisar e sintetizar, exigidas no processo de escrever.

Por um lado, o processo de elaboração, seja ele clínico ou teórico, se faz na escrita, isto é, no processo de simbolização. Por outro, há sempre uma busca de reconhecimento e de reasseguramento dos pares institucionais por parte de todo aquele que se inicia na formação psicanalítica e, posteriormente, deseja pertencer a ela. Se analisamos com base na atenção flutuante, sem escrever, por outro lado, o trabalho intelectual sintetizante permanece dependente de uma fixação escrita.

Hoje, percebo com muito mais clareza como a instituição é um quarto eixo do tripé da formação psicanalítica. Há uma ideologia em toda instituição. A instituição impõe modelos do que é aceito ou não, dos grupos mais reconhecidos, do que é ou não é psicanálise, podendo restringir a liberdade de pensamento entre seus associados.

Nesse sentido, quando é possível escrever e publicar, existe a possibilidade de "superar" a instituição, parafraseando o processo edípico, sair do âmbito de seus pares para um olhar sobre o mundo, em que se possa descobrir que há formações diferentes, escolas teóricas diversas, pensamentos e propostas distintos de seus pais institucionais.

A instituição, enquanto representante parental, dentro de uma visão pluralista e democrática, pode oferecer um ambiente acolhedor e estimulante para as ideias ainda incipientes de seus membros, auxiliando o desabrochar do potencial de cada um. Como enfatizaram Britton (1994) e Anzieu (1984), a necessidade de ser reconhecido entre os colegas e o medo de ser excluído da instituição envolvem o autor numa situação triangular e se tornam uma encarnação da situação edípica. Klein (1921-1945/1981) também já afirmava que o impulso epistemofílico estava intimamente ligado à situação edípica, assim como Bion (1962/1991), quando apontou os três impulsos inatos como elos de todas as relações de objeto fundamentais: a propensão a amar, a odiar e a conhecer.

Acredito que as várias etapas da escrita estabelecem um diálogo com o triângulo edípico e evocam fantasias e ansiedades a ele associadas. Num primeiro momento há um diálogo com os objetos primários para acolher, ou não, as ideias imaginárias ou o impulso criativo. Depois há um diálogo com um público imaginário, que é a contraparte do objeto parental interno que ele ansiou impressionar ou convencer. Esse espectador não participante é o terceiro (o outro) membro do triângulo edípico, um trio que inclui self, objeto e o outro.

No ato da comunicação ou da publicação o autor trava um diálogo temeroso e/ou esperançoso com o grupo fantasiado de colegas significativos, incluindo entre eles ancestrais e afiliados. Convida o outro, progenitor interno, a testemunhar sua comunicação. Até mesmo as novas descobertas, por mais modestas que sejam, evocam, uma vez mais, a situação edípica, em que estão envolvidos sentimentos de exclusão e rejeição. Para suportar esse processo é necessário aceitar ser o terceiro na relação, suportar essa separação e a perda dos objetos primários, para dar vazão ao processo criativo envolvido na escrita.

Em meio a todos esses diálogos internos, quando encontrei um ambiente interno estimulante para desenvolver este trabalho, experimentei um sentimento de satisfação e confiança. É uma sensação de prazer, de divertimento, com todas as qualidades afetivas do jogo criativo (Winnicott, 1975). De um estado indiferenciado e caótico, passando por momentos depressivos e criativos, a escrita foi adquirindo um caráter libertador e as palavras passaram a ter uma característica lúdica, buscando sentidos por meio de metáforas, construções sintáxicas e, às vezes, poéticas.

Várias leituras se seguiram e muitas coisas interessantes foram grifadas. Este trabalho poderia tomar vários rumos. Escolhi o caminho de descrever o escrever, a experiência que estava perdida sem palavras, viva, mas não menos angustiante e frustrante. Para isso, tive que lidar com as inúmeras lacunas que contém todo o processo do conhecer e escrever. Procurei enfatizar como a escrita não é mágica e não se concretiza sem um trabalho de simbolização, tolerância à frustração, perda e separação. É fruto de uma elaboração psíquica. Há nisso tudo muita semelhança com o processo analítico.

Por fim, ao perceber como reaprendo todas as vezes que desejo escrever, surge um sentimento de gratidão que estendo ao leitor, pela oportunidade de compartilhar os bastidores dessa experiência de transformar o que, no início, parecia ser de horror calami em um sonho compartilhável.

 

Referências

Anzieu, D. (1984). Fantasmatique de la formation psychanalytique. In R. Kaës et D. Anzieu, La fantasme et formation (pp. 93-123). Paris: Dunod.         [ Links ]

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Recebido em: 1/4/2017
Aceito em: 17/4/2017

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