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Jornal de Psicanálise

versión impresa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.50 no.93 São Paulo dic. 2017

 

SONHOS

 

Interpretação dos sonhos, sem fim1

 

Never-ending interpretation of dreams

 

Interpretación de los sueños, sin fin

 

L'interprétation des rêves, sans fin

 

 

Elsa Vera Kunze Post Susemihl

Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, SBPSP. São Paulo. esusemihl@gmail.com

 

 


RESUMO

A autora inicia com a retomada do texto fundante da psicanálise, "A interpretação dos sonhos", comentando algo da história de sua escrita e apresentando um resumo das ideias principais de Freud sobre o processo onírico. Busca em alguns autores as ideias próprias sobre sonhos, sonhar e trabalho clínico com sonhos, tentando reconhecer uma invariância com as proposições freudianas, bem como extensões e desenvolvimentos. O texto é permeado por vinhetas clínicas, que visam ilustrar algo do que está sendo apresentado.

Palavras-chave: realização de desejo, expressividade do sonho, espaço onírico, função alfa


ABSTRACT

The author starts her paper by revisiting the fundamental text of Psychoanalysis, "The interpretation of dreams". She comments on the history of its writing and she summarizes Freud's main ideas about the oneiric process. She searches for other authors' own ideas about dreams, dreaming, and the work with dreams in the clinical practice. The author's purpose is to recognize an invariance when she compares these ideas and Freudian propositions as well as extensions and developments. She uses clinical vignettes in order to illustrate some of the ideas presented herein.

Keywords: fulfillment of desire, expressivity of dream, oneiric space, alpha function


RESUMEN

La autora comienza retomando el texto fundamental del psicoanálisis "La interpretación de los sueños". Hace algunos comentarios sobre la historia de este texto y presenta un resumen de las ideas principales de Freud sobre el proceso onírico. Busca, en otros autores, sus propias ideas sobre sueños, el soñar y el trabajo clínico con sueños, tratando de reconocer una invariancia con relación a las proposiciones freudianas, como también extensiones y desarrollos. En este texto, la autora presenta varias viñetas clínicas, que ilustran el tema que está siendo presentando.

Palabras clave: realización de deseo, expresividad del sueño, espacio onírico, función alfa


RÉSUMÉ

L'auteur commence par la reprise du texte fondateur de la psychanalyse, "L'interprétation des rêves", en faisant des commentaires sur l'histoire de son écriture et en présentant un résumé des principales idées de Freud sur le processus onirique. Il cherche les idées concernant l'acte de rêver, les rêves et le travail clinique des rêves chez certains auteurs, en essayant de reconnaître une invariance des propositions freudiennes, ainsi que leurs extensions et leurs développements. Le texte est parsemé de vignettes cliniques qui visent à illustrer un peu de ce qui est présenté.

Mots-clés: la réalisation du désir, l'expressivité du rêve, l'espace onirique, la fonction alpha


 

 

Quem conhece meus outros trabalhos sabe que nunca apresentei coisas ainda não concluídas como se tivessem sido concluídas, e sempre me esforcei no sentido de modificar minhas asserções de acordo com o progresso do meu conhecimento.

(Freud, Prefácio à 2a. edição de "A interpretação dos sonhos")2

 

Introdução

Inicio este trabalho com o momento fundante da psicanálise, a publicação de "A interpretação dos sonhos" em 1900. A seguir, investigo em alguns autores de minha escolha como essas ideias evoluíram e se transformaram. Mais do que destacar as diferenças, porém, estou interessada em detectar invariâncias. Sustento, nesse sentido, que é imprescindível até hoje um psicanalista ter um bom conhecimento dessa obra, considerada por Freud a sua "obra magna" (Jones, 1953/2007). Vou me ater ao sonho somente enquanto experiência durante o sono. Permeio minha apresentação com vinhetas clínicas de sonhos.

 

O momento fundante

É marcante a relação intrínseca entre o sonho e a psicanálise, já que o descobrimento deste rico campo de investigação e trabalho se deu por meio de um profundo e detalhado estudo de Freud dos processos oníricos há mais de 100 anos. A laboriosa empreitada intelectual e de mergulho pessoal nas mais íntimas experiências de vida feita por Freud nos últimos anos do século XIX deu à luz a psicanálise, fruto do desvendamento dos processos oníricos por meio de modelos muito elaborados de como estes se dão e do sentido afetivo e emocional que veiculam. Foi com a publicação de "A interpretação dos sonhos" que Freud apresentou consistentemente aquilo que daí para a frente definirá o campo psicanalítico, a psicanálise, a saber, a realidade psíquica, nomeada furtivamente ao final do livro, mas descrita em todos os seus pormenores ao longo desse portentoso volume. A realidade psíquica, atuante e gerando resultados mediatos e imediatos em nossa vida psíquica de vigília e de sono, e em nossa vida material. Realidade psíquica, construída e armazenada nas profundezas de nosso ser, desde tempos imemoriáveis, e sempre novamente despertada, fazendo novas conexões e sendo transformada pelas experiências acumuladas ao longo da vida. Freud deixa registrada a importância da obra para ele (Prefácio à 3ª edição inglesa, 1931): "ela contém, mesmo que de acordo com meu julgamento atual, a mais valiosa de todas as descobertas que tive a felicidade de fazer. Um discernimento claro como esse só acontece uma vez na vida".

Desde então sonhos e psicanálise andam de mãos dadas, tanto na atualidade do encontro analítico e no desvendamento contínuo de seus processos subjacentes, quanto no imaginário público e cultural. Podemos pensar que esta marca da constituição do campo psicanalítico que é a importância dada aos processos oníricos, sua investigação levando a esclarecimentos dos processos psíquicos em geral e, com base nisso, a sua utilização para a investigação da mente singular e dos sentidos psíquicos, torna a relação entre psicanálise e sonhar indissociável.

Mas que sonhos são esses dos quais falamos? O que chamamos de sonhos? Ainda são os mesmos que Freud analisava? Ainda nos mantemos fieis àqueles princípios de interpretação apresentados há cem anos? Quais foram as mudanças, as transformações? Estas são algumas questões que têm me guiado ao longo dos meus estudos e dos seminários que coordeno, e que pretendo abordar aqui. Naturalmente não será possível um estudo exaustivo das contribuições importantes feitas durante cem anos neste pequeno espaço. Antes, pretendo fazer algumas considerações a respeito de contribuições feitas por autores escolhidos por mim de acordo com o meu interesse pessoal e a oportunidade.

Tenho percebido que, mesmo entre psicanalistas, infelizmente, existe um grande desconhecimento a respeito dessa "obra magna" de Freud, fato também já notado por ele, quando afirmou, não sem um pouco de amargor, que muito se lê e se cita "A interpretação dos sonhos", mas parece que suas ideias principais ainda assim não são conhecidas e consideradas (1933[1932]/1969c, p. 18). Muitas vezes a leitura é tida como exaustiva demais, e os recortes na leitura acabam impedindo o acompanhamento da gradual aproximação que Freud engenhosamente vai tecendo para nos levar até o capítulo teórico final, o famoso capítulo 7. Penso que a experiência pessoal dessa leitura continua sendo riquíssima para qualquer psicanalista praticante. Incluo nessa leitura o primeiro capítulo, em que acompanhamos Freud na revisão da literatura científica disponível na época e em suas reflexões e argumentações ao longo das quais elabora seu posicionamento. Sabemos (Gubrich-Simitis, 2000; Jones, 1953/2007) que, ao longo das oito edições publicadas durante sua vida, Freud fez diversas alterações no texto, tanto em termos do formato quanto do conteúdo. Foram introduzidas notas com base em experiências clínicas que reiteravam as teorias expostas, assim como em outras que as discutiam diante das novas ideias que surgiam, por exemplo, atualizando pontualmente temas como a sexualidade infantil, a teoria das neuroses, as ideias de "Totem e tabu", o capítulo 7 à luz dos textos metapsicológicos e a discussão em torno dos sonhos traumáticos. Alguns capítulos foram recortados e reposicionados e mais tarde novamente realocados em sua ordem inicial. Alguns novos sonhos foram incluídos. Sem dúvida, isso faz o texto apresentar rupturas e ritmo não constante. Mas mostra também algo da obra viva, retrabalhada ao longo de uma vida, que sempre acompanhou o autor e nunca deixou de interessá-lo. Penso ser importante termos em mente que o livro que temos em mãos atualmente não é a obra original publicada em 1900, mas sim a obra que foi reorganizada e editada por Freud até a última edição em 1930.

Sabemos, ainda, que o interesse por sonhos era antigo na vida de Freud, que há sinais deste interesse na correspondência com a noiva e com o amigo Fliess. Tomou um lugar importante em sua investigação sobre as neuroses quando os pacientes começaram a trazer espontaneamente sonhos durante suas conversas e associações. Podemos considerar 1885 um ano decisivo para a germinação do sonho no contexto do que viria a ser a psicanálise, quando Freud sonha o sonho de Irma. Considera então que descobriu, por meio de sua análise, o método da interpretação do sonho. Quase simultaneamente escreve o "Projeto para uma psicologia científica", o último esforço em pôr a teoria psicológica numa linguagem neurológica, e que logo será descartado. Mas ali se encontram presentes já algumas das ideias centrais que serão apresentadas em "A interpretação dos sonhos", e que serão retomadas, agora descoladas de uma pretensa base neurofisiológica, inaugurando assim o campo da psicanálise.

Nos cinco anos que se seguem ao sonho de Irma, acompanhamos através da correspondência com Fliess as idas e vindas no projeto da publicação do livro dos sonhos. Anos necessários para o desenrolar da autoanálise, conforme testemunha Freud no prefácio à segunda edição: "ter este livro também uma importância subjetiva, que só pude reconhecer ao seu término. Mostrou ser um pedaço da minha autoanálise, como minha reação à morte do meu pai, logo, ao acontecimento mais importante, à perda mais decisiva na vida de um homem". Já em 1897, Freud está decidido a publicar um livro sobre sonhos e começa a mandar trechos escritos ao seu amigo, que passa a ser seu crítico e conselheiro, preocupado com a exposição pessoal de Freud na obra, na medida em que grande parte do material ilustrativo das teorias é composta pelos próprios sonhos pessoais de Freud e de suas associações.3 Possivelmente esse conflito em torno da autoexposição contribuiu para uma inibição na escrita e pelo tempo que se passou até que finalmente, em maio de 1899, surge um empuxo para a finalização da obra. E agora a rapidez é estonteante, alguns capítulos já se encontram quase prontos (2-6), o capítulo 1 é escrito em um mês, e o capítulo 7 é escrito em duas semanas, quando o resto do livro já se encontra na gráfica. A primeira edição teve 600 exemplares, que foram vendidos ao longo de dez anos, e a crítica recebeu o livro com certa frieza. Freud mesmo escreve para seu amigo em 21/09/1899:

creio que minha autocrítica não era totalmente injustificada. Abrigo também em algum canto em mim certo senso para a forma, uma valorização do belo como uma espécie de perfeição, e as frases rebuscadas do meu trabalho dos sonhos, que se escoram em palavras indiretas e cobiçam pensamentos, ofenderam profundamente um ideal dentro de mim. Não devo estar sendo injusto ao considerar essa falta formal como um sinal de domínio incompleto da matéria tratada. Você deve ter percebido assim também, e sempre fomos sinceros um com o outro, não precisamos nos enganar. O consolo reside na necessidade; não foi possível fazer melhor. (Masson, 1985/1999)

 

Últimas palavras de Freud

Mais uma vez Freud retorna ao assunto nas "Novas conferências", de 1933, quando ao final da vida resume pontos importantes e novas reflexões. Escritas como conferências a serem proferidas na posteridade, e numeradas em continuidade com as "Conferências introdutórias sobre psicanálise" (1916-1917/1969a), Freud retoma os sonhos na Conferência XXIX. Dá-lhe o nome de "Revisão da teoria dos sonhos", mas ao término da leitura não nos parece que houve alguma revisão importante. A esperada revisão à luz das novas teorias apresentadas na década de 1920, tanto em relação aos instintos de vida e de morte, quanto em relação à segunda tópica, não foi feita, isto é, não foi além das notas já introduzidas ao longo das edições do próprio livro dos sonhos. Alguma atenção maior foi dispensada à questão dos símbolos. Deixa-nos então um último resumo do que seriam as características básicas de sua concepção sobre os processos oníricos.

Seguindo seu próprio resumo, destaco alguns pontos:

• o sonho é composto de um conteúdo manifesto e um conteúdo latente;

• o sonho tem a função de manutenção do sono. Pode, posteriormente, ser utilizado para a investigação da vida mental, própria ou do analisando;

• o trabalho onírico transforma o conteúdo latente em conteúdo manifesto;

• o trabalho onírico se compõe de condensação, deslocamento, consideração à apresentabilidade e elaboração secundária;

• durante o estado do sono há um relaxamento da repressão e da censura, assim, os impulsos inconscientes profundamente recalcados, que clamam por vida e satisfação, os "filhos da noite", se agregam aos pensamentos latentes pré-conscientes, e tendo essa dupla base, no amálgama de ambos que se dá no trabalho onírico, produz-se o sonho, apresentando-se com a forma de desejos realizados;

• o trabalho onírico em si não cria nem pensa nada de novo,4 somente transforma o modo de apresentação dos conteúdos psíquicos inconscientes e pré-conscientes para outra linguagem, aquela dos processos primários. Por meio de um processo intenso de compressão, que se dá pelos mecanismos de deslocamento e condensação, o trabalho onírico apresenta aqueles mesmos conteúdos (latentes) em outra forma, predominantemente de imagens visuais, na mente durante o sonho;

• contribui para esse resultado também o fato de que ao dormir as vias de descarga motora apoiadas nos objetos da realidade externa estão bloqueadas, causando um refluxo de energia e uma regressão tópica, e levando a um funcionamento na borda da alucinação;

• nunca se termina ou esgota uma interpretação, ideia expressa já em 1900, sobre o "umbigo do sonho", que o liga ao desconhecido, inalcançável.

Como nos situamos hoje diante dessas ideias? Somos leitores pouco atentos? Ou descobrimos novos caminhos, nomes, ferramentas, que não traíram as ideias originais, mas as expandiram dentro de seu espirito inicial? Perguntas pertinentes, sempre recorrentes, inseridas em movimentos psicanalíticos, e situações de política institucional, além de modismos. Ou seja, nada simples de responder. Talvez não devam ser respondidas, mas, antes, nos servir de guias para reflexões.

Intervalo onírico I

Paciente A, um sonho de início de análise:

Estava em uma loja de bolsas, uma parte da loja era dentro, outra parte fora. Todas as bolsas eram iguais, só uma bolsa era especial. Achava ela interessante e diferente. Peço o preço, que é algo em torno de X. Acho caro - não compro. Depois fico sabendo que ficou mais caro ainda e fico arrependida.

Associações ao sonho:

O valor x da bolsa especial coincidia com o valor inicialmente solicitado para a sessão, que foi reduzido, atendendo o pedido da paciente. Ela associa que quando era criança fazia questão de que lhe comprassem as roupas mais caras de moda, sendo sempre atendida pela mãe. Atualmente acha tudo isso uma bobagem. Sabe que foi uma filha não planejada, a mãe já tinha filhos bem mais velhos, mas também tem certeza de que após ter nascido passou a ser a preferida da mãe. Continua lembrando-se das constantes brigas a que assistia entre os pais, constatando que talvez eles já não formassem mais um casal muito feliz. Quando pequena tomava sempre o partido da mãe durante as brigas, somente mais tarde pôde perceber as coisas por outro prisma. E então conta que sua mãe tinha uma pequena loja, onde vendia, entre outras coisas, também o artesanato que fazia. Quando pequena não valorizava as coisas que a mãe fazia ou vendia na sua loja, não eram caras nem chiques.

Comentários:

A situação transferencial é aquela que mais chama a atenção nesse sonho. Nesse início de análise, surge a ambivalência que se apresenta no sonho, parte dentro e a favor da análise, parte fora e contra. A análise é uma coisa especial, diferente, mas será que pela redução de preço ela deixou de ser especial? Novamente a dúvida, se compra ou não compra, e depois se arrepende. Não é necessário dizer, estávamos em dia de pagamento. E que ela inicia dizendo que o sonho não tem nada a ver com isso. Freud já nos ensinou a ouvir tais negativas.

Mas o sonho também aponta para situações do passado que surgem com as associações. A loja da mãe, por muito tempo depreciada pela paciente e da qual sentia vergonha, e a idealização ligada a coisas caras, a dúvida entre ser rejeitada e abandonada pela mãe e em ser sua preferida (agora projetada na analista, que pode ou não ser abandonada), e como do ponto de vista infantil se via muito aflita em saber com quem ficar na briga entre os pais.

Podemos notar aqui vários elementos indicados por Freud na produção de um sonho. Pensamentos pré-conscientes, latentes, que estão ligados também a restos diurnos relacionados com esse momento inicial de um processo de análise. Temos um conteúdo manifesto e um conteúdo latente, restos diurnos e um afeto de dúvida que expressa a ambivalência. A outra base do sonho é acessada pelas associações ao conteúdo manifesto, quando a rede associativa remete a eventos e conflitos do passado, situações também de ambivalência, de dúvida, de receio, permeadas de fantasias de ser a preferida, de fazer o que quer, e de desprestigiar e desvalorizar a mãe, que é amorosa. Enfim, aspectos da realidade psíquica dessa paciente, que clamam por expressão e que agora puderam vir à tona.

 

Seguindo adiante

Acompanhamos através de seus escritos a utilização criativa que Klein faz dos sonhos e sua interpretação. Já em um dos primeiros casos de criança que atende, a pequena Rita, Klein (1955/1993) dá mostras de sua profunda capacidade de compreender a ansiedade da pequena criança, quando interpreta o terror noturno, seu sintoma, no medo que seu encontro com ela despertava. Talvez hoje disséssemos que Klein sonhou o sonho que Rita não conseguia sonhar (Ogden, 2006), ao dizer a Rita que o medo que ela tinha de Klein teria algo a ver com o medo que ela também tinha à noite, quando sozinha tinha uma fantasia de que uma mulher má viria atacá-la. Rita parece ter se sentido compreendida e se acalmou.

Intervalo onírico II

Brincando de sonhar:

D, menino de 5 anos, que nasceu com uma fenda no maxilar superior e sofreu duas cirurgias reparadoras no primeiro ano de vida, em certo momento de sua análise propõe a construção de uma boneca. Passamos a fazê-la com panos, retalhos, cordões e copinhos. Ambos nos envolvemos na tarefa, e as dificuldades são grandes para conseguirmos levar a cabo o projeto. Em certo momento D fica muito aflito, pois usamos um copinho para ser a cabeça, mas ele era aberto, e tínhamos que fechá-lo para o "cérebro não cair". Como vamos resolver este problema? Tentamos algumas coisas, e aí D põe um apontador como cérebro dentro do copinho-cabeça e juntos conseguimos fechar a cabeça com um pescoço de tal forma que o apontador ficasse na cabeça. E continuamos a sessão, agora um pouco menos perturbados. Penso que esse jogo foi muito importante no processo de D, quando pôde dar uma forma simbólica, por meio da construção da boneca, a experiências muito precoces, vividas corporalmente e carregadas de emoção e ansiedade. Optei por não falar sobre seu passado ou sobre essa relação, penso que poder sonhar, brincar e simbolizar ajudou-o o suficiente. A boneca nos acompanhou por muito tempo, com sua simples presença na sala, durante todas as outras aventuras que ali vivemos.

Em outro texto, Klein (1940/1981) nos conta, sob o pseudônimo da sra. A, um pequeno pedaço de autoanálise, quando apresenta seus sonhos ao longo do doloroso trabalho de luto pelo seu filho que falecera. Descreve, com base na interpretação de seus sonhos, como seu mundo interno havia desabado com esta morte e como lentamente reconstrói dentro de si a esperança, a saudade e a alegria de viver, lidando com ódio, inveja e culpa. É um trabalho tocante, de profunda coragem e sinceridade diante da dor, ao longo do qual Klein apresenta a luta travada pelos instintos de vida e de morte na aceitação de realidade tão dolorosa e de como a dor pode devastar o mundo interno e como este pode ser reconstruído no trabalho do luto. Klein não parece interessada na questão da realização do desejo, ou na função do sonho, ainda que possamos reconhecer esses elementos nas entrelinhas e nos sonhos. Penso que os sonhos eram antes utilizados para aquilo que mais a importava, investigar o mundo interno e assim poder alcançar a relação existente entre os diferentes objetos internos, as fantasias subjacentes, as ansiedades em andamento e as defesas utilizadas. O sonho é considerado em um continuum com a vida desperta; em ambos, passado e presente atuam enlaçados e de forma dinâmica resultam em pensamentos, emoções e ações. O passado é um afeto ou uma marca que clama por ser simbolizada e atua sempre, mas é antes de tudo um modelo de relação objetal que será apresentado no sonho, assim como na relação transferencial.

Notamos assim como todas as novas descobertas de Klein, que foram gradativamente se afastando de Freud e construindo um corpo teórico consistente e próprio, são integradas na maneira com que ela se utiliza dos sonhos e os interpreta. Como é seu estilo, Klein não apresenta modelos metapsicológicos complexos e abstratos, mas antes concepções que apanham e acompanham suas experiências emocionais pessoais e clínicas. Apreende o mundo emocional através das fantasias inconscientes por meio da linguagem simbólica pela qual elas se expressam. Assim como se apoiou na concepção do sonho para se aproximar do brincar e de seu sentido, tomando este como um sonho, também enriqueceu sua interpretação do sonho com as aquisições e descobertas que fez em seu trabalho com as pequenas crianças, brincando e trabalhando psicanaliticamente com elas. É assim que se aproxima do conteúdo latente do sonho, com base nos símbolos que se referem às angústias inconscientes, e que estão relacionadas com o que está posto na vida atual. Descolando-se da fórmula da realização de desejo e mirando diretamente a angústia subjacente, Klein nos mostra como o sonho pode ser utilizado em sua qualidade expressiva como comunicação pessoal e interpessoal, quando existe alguém para apreender seu sentido.

Essa forma de apreender o sentido do sonho deu ênfase maior na expressão do mundo interno no sonho. Desde então foram muitos os autores que trouxeram desenvolvimentos a partir desse vértice, entre os quais cito Meltzer (1984), que enfatizou o pensamento onírico no sonho, o qual apresenta à mente problemas a serem considerados, expressando questões do mundo interno. Entre nós, Barros (2004), que estuda a maneira pela qual a mente dá representação pictórica expressiva às emoções durante o trabalho onírico, possibilitando, por meio da criação de pictogramas, o pensar; e Meyer (2015), que também trabalha com o sonho como "modo expressivo através do qual o aparelho psíquico delineia, constrói e comunica uma questão com a qual se confronta".

Intervalo onírico III

Paciente B, sonhos de reparação:

Não me lembro bem, foi um sonho, não sei exatamente, mas é como se eu tivesse encontrado A, um amigo de adolescência, outro dia lembrei dele aqui, ele era muito bacana, tudo de bom, já não tenho mais contato com ele, só sei que continuou sua vida, estudou, casou, tem filhos. No sonho a gente se encontra e é como se a gente conversasse sobre o passado e era como se fosse possível a gente mudar o passado e viver ainda aquela situação, mas sem que isso fosse mudar o nosso presente. Isso é possível?

Comentários:

Acho que sim, penso que a paciente sonha com a análise e com o paradoxo que se vive na análise, em viver o passado e mudar o passado, sem que de fato não se mude nada, nem no passado, nem necessariamente na vida presente, ainda que tudo possa mudar e tudo possa ficar diferente. Penso que eu, a analista, sou esse amigo idealizado do passado com quem algumas coisas podem ser revividas, mesmo que a roupagem dada no sonho ao encontro com esse amigo seja de um encontro amoroso, e talvez não corresponda àquilo que vivemos aqui na análise, em que as conversas e os momentos pelos quais passamos são árduos e difíceis. Podemos pensar que houve uma transformação em realização de desejo, em romance, para a apresentação das ideias latentes e inconscientes a respeito da dúvida sobre a possibilidade de reparação.

A associação oferecida ao sonho é outro sonho:

Era como se estivesse num lugar, consertando uma porta de entrada, acho que era de vidro... (não entendo uma parte)... e à medida que tento consertar uma parte que está perto da maçaneta parece que começa a trincar a outra parte e levo um susto, como vou dar conta de consertar tudo isto?

Surge agora a angústia de reparação mais clara e explícita, não mais travestida de romance. Como vou entrar por essa porta de vidro? Transmite toda uma situação psíquica de muita fragilidade diante de uma situação interna nova, e uma ansiedade quanto à possibilidade de que tudo possa fragmentar-se. A angústia expressa no sonho agora é se será possível dar conta de consertar o passado, de reparar dentro de si a destrutividade e levar a cabo uma integração.

 

O espaço onírico

Encontro em um texto clássico, Kahn (1993), um aproveitamento interessante de algumas ideias de Winnicott (1971/1975), quando este distingue um tipo de fantasiar que é um fenômeno isolado, uma produção da mente que permanece dissociada e "não contribui para sonhar nem para viver", e também de sua ideia do uso do objeto, quando o objeto é vivido fora da área da identificação projetiva e pode ser reconhecido como entidade própria, e assim pode ser utilizado e usufruído. Kahn chama a atenção para a experiência do sonhar em si como algo tão importante quanto a procura do sentido no sonho. Refere-se à incapacidade de sonhar, ou de sonhos que não cumprem a experiência de sonhar, quando os processos simbólicos que fazem parte da formação dos sonhos não são utilizados, no sentido de criar um espaço onírico onde o sonho se atualiza. Kahn mostra que sonhos podem ser utilizados pelos adultos exatamente como o espaço transicional é utilizado pelas crianças. Neste sentido, ele afirma que, além do processo do sonhar, que articula os impulsos inconscientes com os conflitos, é também importante a construção de um espaço onírico no qual o sonho pode atualizar uma experiência. Quando este espaço não existe, pouca satisfação é extraída do sonhar e pouca noção da realidade da experiência do sonho sonhado se desenvolve. Kahn ainda aponta para uma consequência muito interessante dessa situação de incapacidade do sonhar, pois mostra que, quando não existe a capacidade de construção do espaço onírico na realidade interna do paciente, este tende a explorar o espaço social atuando suas relações objetais na realidade, o que leva a acting out. Kahn indica que a realização de desejo durante o sonhar, conforme descreveu Freud, cuja função é a preservação do sono, depende do clima psíquico interno, de funções do ego e da capacidade de usar o discurso simbólico que é a essência da formação do sonho. Já o espaço onírico é construído com base na capacidade de se utilizar do sonho como uma experiência para se descobrir o self e a realidade, e é onde a experiência do sonhar se atualiza.

Intervalo onírico IV

Paciente C

Tive um sonho estranho "assustador"! Estava no carro à noite em uma rua, poderia ser no Morumbi, de repente o carro na minha frente para e aí um monte de policiais começa a atirar no "casal" da frente, com armas, acho que metralhadoras. Eu me abaixo para não ser atingido. Aí recebo um sinal para me afastar e vejo na parte de trás dois casais de adolescentes, poderiam estar indo para a balada, olhando "horrorizados" para mim com o que estava acontecendo.

Comentários:

Fico impactada com a violência do sonho, a violência contra o casal.

A única associação do paciente é com o trânsito excessivo que ele pegou na volta da viagem no fim de semana, e como se aborreceu e se sentiu desamparado diante das dificuldades de trânsito, fazendo-o pensar em se mudar de cidade. A sensação de impotência, desamparo e de certa claustrofobia possivelmente estava na raiz de alguns temas que havíamos começado a bordejar durante a análise. Não contava internamente com um casal parental unido que pudesse ampará-lo e protegê-lo internamente, algo que começava a se evidenciar nas sessões. Existia, sim, um ataque interno ao casal parental, que dessa forma não podia ser apreendido e que, de acordo com as lembranças e associações que o paciente vinha tendo nos últimos tempos, nunca pode ser vivido e introjetado harmonicamente. Por situações externas relativas a uma dinâmica familiar e de casal bastante conflituosa, o paciente costumava se refugiar em fantasias, nas quais fazia uma aliança com a mãe e ignorava o pai, "matava" o pai. Não pudemos até aquele momento acessar uma presença interna do pai. No sonho, essa situação infantil de extrema violência e onipotência se apresenta, sendo ele um expectador impotente e presa dessa composição interna terrível do seu mundo emocional. Mas vale ressaltar que há um espaço na sessão e um espaço onírico, em que esses elementos psíquicos podem ser apresentados e se transformam em uma experiência útil para investigação e conhecimento a respeito do seu mundo interno.

 

Abertura

Bion, a meu ver, é o autor que traz maiores contribuições para a teoria dos sonhos de Freud, que expandem o campo de investigação e a compreensão dos processos oníricos, com consequências também para a sala de análise. O início desse desenvolvimento pode ser acompanhado em suas Cogitações. Considerando observações de Freud sobre um pensamento inconsciente de vigília, Bion vai expandir também para a vida de vigília o trabalho onírico, com base na observação de seu colapso nos pacientes psicóticos.5 No final dos anos 1950 e início dos 1960, Bion debruça-se sobre as questões teóricas e clínicas relativas ao sonhar e alucinar, ao trabalho onírico no sono e na vida de vigília, sobre a consciência como órgão de percepção das qualidades psíquicas (Freud, 1900/1973), sobre como apreendemos a realidade externa e a interna psiquicamente, e como estas questões estão relacionadas também às formulações de Freud (1911/ 2004) sobre os dois princípios do funcionamento psíquico, bem como às contribuições de Klein (1946/1978) a respeito das posições esquizoparanoide e depressiva. É assim que ele supõe, ao longo desse caminho, um trabalho-onírico-alfa, que se daria continuamente durante o dia e à noite, operando sobre os estímulos recebidos de dentro e de fora da psique. Nota o trabalho de alfa quando considera a gama de associações diferentes para cada pessoa diante de uma percepção ou palavra, "mesa", o exemplo por ele oferecido. Já para certas pessoas, mesa é mesa, não traz nada nem desperta nada. Não houve trabalho de alfa, a mesa somente se tornou uma palavra indigesta, um fato indigesto. Uma descrição do que este alfa faz: "é dar atenção às impressões sensoriais, mas para fazerem elas se tornarem duradouras. Para tanto precisam se transformar para possível armazenamento e lembrança, precisam se submeter à atividade-alfa ... a impressão deve ser ideogramatizada, transformada em uma imagem visual". Sob o domínio do princípio da realidade este ideograma vai então ser capaz de armazenamento e lembrança, já sob o domínio do princípio do prazer-desprazer, ele será utilizável para evacuação" (Bion, 1992, pp. 63-64).

Podemos notar nesse pequeno extrato, aqui somente uma ilustração das suas preocupações e reflexões, como ele tenta integrar os conhecimentos psicanalíticos de Freud e Klein com sua experiência com pacientes psicóticos em análise, fazendo um grande esforço em integrar esses elementos à sua experiência e refletir como isso poderia se dar.6,7

Ao cabo de alguns anos, Bion (1962) chega a sua formulação mais conhecida da "função alfa" como uma função mental que transforma as impressões sensoriais brutas relacionadas com a experiência emocional, denominadas de elementos beta, em elementos alfa. Os elementos beta, as impressões sensoriais não processadas, não podem se vincular ou se associar a outros elementos e assim não podem ser utilizados para pensar, sonhar ou lembrar.

O fracasso da função alfa significa que o paciente não pode sonhar e, portanto, não pode dormir. À medida que a função alfa põe as impressões sensoriais da experiência emocional à disposição para o [pensamento] consciente e do pensamento onírico, o paciente que não é capaz de sonhar também não é capaz de adormecer nem, portanto, de acordar. Daí a condição peculiar observada na clínica quando o paciente psicótico se comporta como se estivesse exatamente nesse estado. (Bion, 1962, pp. 6-7)

Intervalo onírico V

Paciente F

Essa paciente não sonha, também tem dificuldade para adormecer e dormir, e durante o dia preocupa-se obsessivamente com o que ingere, contando as calorias e se pesando. Cumpre também seus deveres como estudar e tirar as melhores notas, o que consegue dada sua capacidade intelectual e de abstração, ainda que em sua atual condição física isto também lhe custe muito esforço. Está muito abaixo de seu peso, e sente-se culpada e mal por qualquer coisa que coma. Ao se olhar no espelho, vê uma pessoa gorda. E se odeia por isso.

Comentários:

Temos aqui uma pessoa que tem dificuldade para dormir e para sonhar, e podemos pensar que não discrimina um estado de vigília de um estado de sono-sonho, ambos são equacionados em um estado de sonovigília ou vigíliasono, no qual vive de forma alucinatória um sonho não sonhado. Qual seria este sonho? Penso que seria um sonho de triunfo e controle onipotente sobre todas as limitações e dependências. E de negação onipotente do mundo psíquico e da realidade psíquica, banindo amor e ódio e qualquer consciência de uma relação objetal. A realização do desejo seria se ver livre das vicissitudes da vida psíquica com todas as dores e prazeres envolvidos. O sonho alucinado e atuado na vida material e no espaço social, no entanto, se torna um pesadelo alucinado, quando a exterminação da realidade psíquica ameaça também a vida física, quan- do surge ainda um sinal de ansiedade como resto de uma vida psíquica agonizante. Quando não há paz ao se ver presa do próprio controle autoimposto. Quando a imagem no espelho não acalma, pois a alucinação se sobrepõe a ela, por menos que coma e por mais magra que fique.

Seguindo ainda as contribuições de Bion, é necessário sublinhar também a consideração teórica e clínica que este autor deixou no que tange ao trabalho conjunto da dupla analítica, com base na investigação da identificação projetiva como comunicação e do processo de reverie, acentuando a importância da atenção ao trabalho da dupla, analista e analisando, empenhados em conjunto na análise do analisando. Nesse sentido as contribuições de Bion fertilizaram o campo analítico e instrumentaram o analista no sentido de observar a relação analítica com base na função alfa em andamento.

Interrompo meu texto aqui, quando se abre todo um amplo campo de investigação e utilização dos aportes mencionados para a clínica e a investigação da relação analítica. A título de referência, lembro a contribuição de Ogden (1994), iniciando com a concepção de "terceiro analítico" e os trabalhos posteriores mostrando como a capacidade ou não de sonhar incide na relação analítica (2006), de Ferro (1997), com inúmeras contribuições sobre como observar na relação analítica o andamento ou não da função alfa operando na dupla, de Sandler (2009), que apresenta as contribuições de Bion para o sonhar, transformação, continência, e de Cassorla (2014), enfatizando as perturbações desse funcionamento na dupla com reflexões, entre outras, sobre o enactment.

 

A título de conclusão

Mudou o mundo, mudou o tempo, mudaram-se as concepções, os jargões, os modismos, e algumas ideias novas e importantes foram acrescentadas. Quão distantes estamos de "A interpretação dos sonhos"? O suficiente para prescindir de sua leitura e de seus conceitos e modelos? E, se não, do que nos vale ainda rememorá-la? Só porque foi Freud quem a escreveu?

Penso que não, e espero que ao longo deste texto pude mostrar a importância de não nos descolarmos daquelas ideias matrizes, ainda que elas tenham se transformado em novas teorias e acréscimos. Espero também que tenha ficado evidente como cada um dos autores citados desenvolve suas ideias com base na rica matriz que Freud nos deixou. Ou seja, acredito que a invariância existe necessariamente, e é a sua apreensão que dará profundidade à compreensão teórica dos novos desenvolvimentos e que contribui para nossa prática clínica diária.

 

Referências

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Recebido em: 18/9/2017
Aceito em: 15/10/2017

 

 

1 Trabalho apresentado em reunião científica na Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, SBPSP, em 11/11/2017 com comentário de Luiz Tenório Oliveira Lima, no qual se referiu ao título aqui parafraseado de um artigo de Goethe sobre Shakespeare de 1813, que se refere ao fato de muito já ter sido dito sobre Shakespeare, mas que sempre há algo mais a ser pensado, pois "é a característica do espírito que ele estimula o espírito".
2 Os textos extraídos de obras que constam em alemão ou inglês nas referências foram traduzidos livremente pela autora.
3 Por muito tempo essa crítica o acompanhará e, quando, anos mais tarde, Freud as ouve também de Jung, decide-se, em 1911, na 3ª edição (edição que tem certa característica de uma edição coletiva, pois inclui contribuições de colegas nos capítulos 5 e 6), que esta será a última. Escreverá um novo livro com colaboração dos colegas e que não poderá mais sofrer essa crítica. Mas em algum momento desiste deste projeto (Gubrich-Simitis, 2000).
4 "O sonho, como descobrimos, substitui diversos pensamentos que derivam de nossa vida diurna e formam uma sequência completamente lógica. Não podemos duvidar, portanto, de que esses pensamentos se originem de nossa vida mental normal. Todos os atributos que tanto valorizamos em nossas cadeias de pensamento e que as caracterizam como realizações complexas de ordem superior são reencontradas nos pensamentos oníricos. Não há, porém, necessidade de presumir que essa atividade de pensamento seja executada durante o sono, possibilidade esta que confundiria gravemente o que até aqui constituiu nosso quadro aceito do estado psíquico de sono. Ao contrário, é bem possível que esses pensamentos tenham se originado no dia anterior, passado despercebidos por nossa consciência desde o início, e talvez já se tenham completado ao iniciar-se o sono. O máximo que podemos concluir daí é que isso prova que as mais complexas realizações do pensamento são possíveis sem a assistência da consciência ; um fato de que não poderíamos deixar de nos inteirar..." (Freud, 1900/1969b, p. 619).
5 "O uso psicanalítico do sonho como um método de tornar o inconsciente consciente é um emprego em reverso do processo (machinery) que é empregado na transformação do consciente em material apropriado para armazenagem no inconsciente. Em outras palavras, o trabalho onírico que conhecemos é somente uma pequena parcela do sonhar propriamente - sendo o sonhar propriamente um processo contínuo que pertence à vida de vigília e atuante por todas as horas de vigília, mas usualmente não possível de ser observado, salvo em pacientes psicóticos" (Bion, 1992, pp. 37-38).
6 Remeto o leitor interessado a uma descrição detalhada desse processo em The language of Bion, a dictionary of concepts (Sandler, 2005).
7 Ainda, "O domínio do sonho é o lugar de armazenamento no qual as impressões transformadas são armazenadas depois de transformadas. O trabalho onírico é responsável por oferecer material pré-comunicável e "armazenável" e comunicável, o mesmo para estímulos e impressões derivadas do contato da personalidade com o mundo externo. O contato com a realidade não depende do trabalho onírico, o acesso da personalidade ao material derivado desse contato é que é dependente do trabalho onírico. A falha no trabalho onírico e a consequente falha na disponibilidade da experiência da realidade externa ou interna psíquica resultam em um particular estado psicótico...". (Bion, 1992, p. 45)

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