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Jornal de Psicanálise

versión impresa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.50 no.93 São Paulo dic. 2017

 

NOTAS INTERNACIONAIS

 

O Congresso da IPA: psicanálise, tecnologia e intimidade

 

IPA Congress: psychoanalysis, technology, and intimacy

 

El congreso de la IPA: psicoanálisis, tecnología y intimidad

 

Le Congrès de l'IPA: psychanalyse, technologie et intimité

 

 

Stephania A. R. Batista Geraldini

Psicóloga e psicanalista, doutoranda do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, IPUSP, em seu Departamento de Psicologia Escolar e Desenvolvimento Humano. Membro filiado ao Instituto de Psicanálise "Durval Marcondes" da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, SBPSP, e da Clínica 0-3. São Paulo. stebatista@hotmail.com

 

 


RESUMO

Após situar o leitor na complexa estrutura com a qual se deparou pela primeira vez no 50º Congresso da International Psychoanalytical Association (IPA), em Buenos Aires, entre os dias 25 e 29 de julho de 2017, a autora destaca, dentro do tema geral "Intimidade", o debate sobre psicanálise, tecnologia e intimidade, muito enfatizado a propósito do uso crescente das novas tecnologias não presenciais na psicanálise. Tal uso é visto em análises individuais, especialmente no caso de alguns candidatos, que realizam a formação psicanalítica à distância, como ocorre na Ásia, uma provável futura quarta região da IPA, que atualmente está incluída na América do Norte e Europa.

Palavras-chave: Congresso, IPA, psicanálise, tecnologia, formação, Ásia


ABSTRACT

First, the author places the reader within the complex structure they faced for the first time in the 50th Congress of the International Psychoanalytical Association (IPA). This IPA Congress was held in Buenos Aires between the 25th and the 29th of July, 2017. Then, the author highlights, within the general theme of the Congress (i.e., "Intimacy"), the debate about Psychoanalysis, Technology, and Intimacy. It is a growing debate due to the increasing use of new technologies in remote psychoanalysis. These technologies are applied in individual psychoanalysis, especially for some candidates who experience remote analysis in training. It represents the current reality of psychoanalytic training in some countries of Asia, which may be a future region of IPA. Nowadays, IPA has a well-established presence in North America and Europe.

Keywords: congress, IPA, psychoanalysis, technology, training, Asia


RESUMEN

Después de situar al lector en la compleja estructura con la que se deparó, por primera vez, en el 50 Congreso internacional de la IPA en Buenos Aires (25-29 Julio de 2017), la autora destaca dentro del tema general del Congreso, el debate sobre 'psicoanálisis, tecnología e intimidad' al que se le dio especial énfasis, teniendo en cuenta el uso creciente de las nuevas tecnologías no presenciales. Se observa el uso estas tecnologías en análisis individuales, sobretodo por candidatos que hacen su formación analítica a distancia, como ocurre en Ásia. Ásia se perfila como una probable futura cuarta región de la IPA que, actualmente, está incluída en la región de América del Norte y Europa.

Palabras clave: congreso, IPA, psicoanálisis, tecnologías, formación, Ásia


RÉSUMÉ

Après avoir situé les lecteurs dans la structure complexe, découverte par l'auteur au moment du 50ème Congrès de l'International Psychoanalytical Association (IPA) qui a eu lieu à Buenos Aires du 25 au 29 juillet 2017, elle souligne, dans le thème général "l'Intimité", le débat concernant la psychanalyse, la technologie et l'intimité, mis en évidence dans ce qui concerne l'usage de nouvelles technologies non présentielles en psychanalyse. Ces techniques sont également utilisées lors des séances individuelles de psychanalyse, notamment dans le cas de certains candidats qui suivent leur formation à distance, comme l'on voit en Asie, celle qui sera probablement une future quatrième région de l'ipa, mais qui appartient actuellement à la région Amérique du Nort et Europe.

Mots-clés: congrès, IPA, psychanalyse, technologie, formation, Asie


 

 

O Congresso

O Congresso da IPA (International Psychoanalytical Association), que é o maior e mais importante dessa organização, acontece a cada dois anos, obedecendo a um rodízio entre as três regiões em que ela está presente - América do Sul, América do Norte e Europa -, considerando que a Ásia integra as duas últimas. Após 26 anos, no momento que um país da América do Sul deveria ser a sede deste evento, Buenos Aires voltou a ser escolhida.

Esse foi um congresso muito especial para mim em diversos aspectos, mas, principalmente, porque foi o meu primeiro. Então, o caminho que desenvolvi para compartilhar com vocês as minhas impressões a respeito dele é permeado pelo entusiasmo proporcionado por essa experiência nova e por outra, que se daria logo em seguida, uma estada na Ásia.

Desde a chegada, senti uma atmosfera alegre. Muitas pessoas caminhando por todas as partes do hotel onde aconteceria o evento e seus arredores; conversando em diferentes idiomas, representando diversas culturas, sorridentes, com um olhar que também parecia ser de curiosidade e exibindo seus crachás do congresso, o que permitia que fossem identificadas e que identificassem colegas. Enfim, senti que os que lá estavam presentes tinham um desejo genuíno de conversar sobre a psicanálise. Com o passar dos dias essa atmosfera se manteve e a ela outra, um pouco mais séria, talvez, devido à concentração dos que apresentaram trabalhos e à inquietação dos que a eles assistiram, veio a se somar.

Foi com alegria e surpresa que vi, ouvi e conversei com analistas pelos quais tenho uma enorme admiração. Também, foi com grande satisfação que descobri o trabalho de outros. Parecia que, realmente, estávamos sintonizados, compartilhando sentimentos muito próximos. Penso que é possível que cada um dos dois mil analistas que ali estiveram tenha saído um tanto diferente de como chegaram, como disse Stefano Bolognini, até então presidente da IPA, em texto publicado no programa do congresso. Eu, com certeza, saí.

Hoje, entendo muito melhor a instituição, IPA, os diversos projetos encabeçados por ela e a grandeza e estrutura de um evento como o Congresso. Então, o meu primeiro objetivo aqui é informativo, é poder dividir com vocês o que aprendi em Buenos Aires. E não foi apenas sobre essas coisas que aprendi. Igualmente, me vejo pensando e questionando mais sobre a Intimidade, tema do congresso, dentro e fora de nossos consultórios. Este é o meu segundo objetivo, dividir uma questão que foi bastante popular nos trabalhos apresentados: a presença da tecnologia na psicanálise e na formação psicanalítica. Outros trabalhos enfatizaram outras questões envolvendo intimidade, porém, como apontei, pode ser que a minha escolha aqui tenha bastante a ver com o meu momento de vida, uma vez que estou na Ásia, e, nesse lado do mundo, principalmente na China, parte da formação analítica é feita à distância, via meio de tecnologia não presencial.

Bom, para começarmos do início, gostaria de falar do antes do Congresso, mais especificamente, sobre a escolha do tema. No site da IPA, até pouco tempo atrás, líamos:

Intimidade, para os psicanalistas, é a moeda de cada sessão. Ela conta sobre a relação com os nossos pacientes, nossas teorias e com o nosso trabalho. Intimidade transcende o individual/diádico, colorindo a construção das dimensões do social, familiar e cultural do nosso dia a dia.

Intimidade permeia todas as facetas da psicanálise, assumindo diversas formas. Ela pode ser vívida ou indistinta, revelar ou obscurecer, ser transformadora ou perversa, divertida ou restrita, silenciosa ou apaixonante.

Psicanálise requer que continuemos nos perguntando:

Qual é a relação entre intimidade e sexualidade, corpo e gênero?

Como a intimidade é sustentada e, contrariamente, se deteriora dentro e fora dos nossos consultórios?

Qual o perigo para a vida do analista quando ele vive tal intimidade com seus pacientes?

Como pensamos sobre a infraestrutura da intimidade, incluindo o ambiente físico; instintual, individual e as dinâmicas clínicas dos casais, das famílias, da comunidade e da sociedade?1 (IPA , 2017)

Vemos que a intimidade ocupa um lugar central em todas as nossas relações, até mesmo com nossos pacientes, e é muito importante que dialoguemos sobre esta temática, pois ela tanto pode enriquecer o processo analítico como pô-lo a perder, seja por sua presença, ausência, excesso ou escassez.

Durante os quatro dias de congresso o debate sobre a intimidade e suas manifestações ou falta delas esteve presente em todas as atividades. Logo no primeiro dia, após a cerimônia de abertura, que foi marcada por um discurso simples na forma e bastante honesto no conteúdo, de Stefano Bolognini, assistimos à apresentação de um recorte do caso de uma paciente adulta, que, por conta de alguns traumas, apresentava incapacidade de viver a intimidade também na análise. Era comum que ela, durante as sessões e mesmo antes ou depois destas, se manifestasse por meio de acting out. E o analista se debatia com a contratransferência. Uma discussão e tanto, com um material clínico emocionante, logo nos primeiros minutos do evento.

O que vimos a seguir foi a apresentação de três trabalhos importantes, abrindo cada dia. O primeiro era de uma colega da América do Norte e falava sobre a questão da intimidade com a sexualidade na análise de uma paciente adulta. O segundo, de dois colegas da Europa, descrevia a infraestrutura da intimidade: casais, família, comunidades e sociedades, focando a análise de uma garotinha, que teve o seu início quando ela ainda era bebê e no qual foi realizado um trabalho mãe-bebê. O último foi apresentado por um colega da América do Sul, brasileiro, e falou sobre a intimidade e a falta desta no setting analítico, tendo como exemplo clínico o caso de um paciente homem.

A diversidade de temas trazidos com base na intimidade foi enorme. A grande maioria dos trabalhos propôs conversar sobre a intimidade na relação analista-paciente, seja no contexto de análise com adulto, criança, pais-bebê, adolescente, idoso, casal, família ou grupo. Um segundo tema recorrente foi a psicanálise e a intimidade nas instituições de formação psicanalítica, por exemplo, a autoridade nos Institutos. Uma terceira temática bastante dialogada e que relaciona, de certa maneira, estas duas primeiras foi psicanálise, tecnologia e intimidade, focando o setting quando há o uso de uma tecnologia não presencial e a questão da confidencialidade dentro desta realidade. Muito também foi falado sobre psicanálise, intimidade e gênero; psicanálise, intimidade e psicose; psicanálise, intimidade e trauma; psicanálise, intimidade e psicossomática; psicanálise, intimidade e corpo; psicanálise, intimidade e morte; psicanálise, intimidade e escrita/publicação etc.

Os formatos propostos para os encontros e conversas eram os mais variados: encontro com o analista; sessão com o autor; apresentação de trabalho de um autor ou com coautores; painéis; apresentação de trabalho a respeito de projetos realizados com e na comunidade, e de programas que integram pensamento psicanalítico e práticas comunitárias; grupos de discussão; workingparty; exercício clínico; supervisão de caso apresentado por um candidato - atividade promovida pela ipso (International Psychoanalytical Studies Organizations - organização dos candidatos/membros filiados dentro da IPA) -; pôsteres e sessão de filme.

Vimos uma riqueza impressionante de atividades e assuntos debatidos. Isso porque não falamos ainda do pré-congresso, que aconteceu em dois dias. Atividades fechadas, ou seja, era preciso inscrever-se e pagar para participar delas. Gostaria de destacar a discussão sobre psicanálise e pesquisa, que contou, também, com a apresentação de alguns estudos que falam da eficácia do método psicanalítico, ao mesmo tempo que trazem à luz a questão de como se fazer pesquisa em psicanálise ou com psicanálise.

Antes de finalizar essa primeira parte, penso ser importante compartilhar o estímulo da IPA para a escrita de trabalhos, não só para serem apresentados no evento, mas também, e principalmente, em benefício da psicanálise. Durante o congresso ocorre a premiação de contribuições e de analistas que fizeram diferença para a comunidade psicanalítica. Estas premiações são: Extraordinarily Meritorious Service to the IPA Award, Extraordinarily Meritorious Service to Psychoanalysis, Hayman Prize for Published Work Pertaining to Traumatized Children and Adults, Elise M. Hayman Award for the Study of the Holocausto and Genocide, Psychoanalytic Research Exceptional Contribution Awards, Tyson Prize Winner (e dois Runner up) - o melhor trabalho de cada uma das três regiões da IPA -, o Sacerdoti Prize - melhor trabalho individual, de autor com menos de 50 anos e que seja apresentado em congresso internacional pela primeira vez -, o IPA Video Award, The Elizabeth Young-Bruehl Prejudice Award, Outsdanding Scientific Achievement e o Sigourney Award - reconhecimento internacional de um analista devido às suas contribuições teóricas e clínicas. Dois desses prêmios foram para analistas brasileiros.

Finalizando, cabe ressaltar que algumas votações ocorrem durante o congresso. Neste ano, tivemos a votação que deu autonomia para cada Instituto regulamentar o número de sessões de análise didática e uma segunda votação, referente às sessões remotas de análise, ou seja, com o uso de alguma tecnologia não presencial, o que ainda vem sendo pensado. No encerramento, temos o discurso do novo presidente e o anúncio da sede e do tema do próximo congresso. Virginia Ungar é a nova presidente, sendo a primeira mulher a presidir a IPA. O próximo congresso será em 2019, em Londres, com o tema "O feminino". Promete!

 

Um recorte do congresso: psicanálise, tecnologia e intimidade

Nos últimos anos, temos visto o crescente uso das redes sociais e dos aplicativos para celulares, pelos quais as pessoas se encontram, se reencontram, namoram, trabalham etc. Podemos acompanhar na mídia e no mundo acadêmico, por meio de pesquisas e teses, textos e estudos que falam do mundo atual e do comportamento das pessoas, diferenciando as gerações e enfocando o modo pelo qual cada uma traz para o seu cotidiano as tecnologias e faz uso destas. Por exemplo, em notícia recente, foi divulgado por um portal (G1, 2017) que o Facebook, rede social, perdeu milhões de usuários, sobretudo na faixa etária dos 13 aos 17 anos: para estes, as redes sociais que privilegiam o uso de imagens no lugar dos chamados "textões" são as preferidas.

Os psicanalistas também têm pensado e discutido sobre a presença da tecnologia no setting analítico. Já não é de hoje que encontramos pessoas demandando análise mediada por tecnologia não presencial. Agora, parece que o debate sobre essa questão está mais acirrado. Alguns profissionais se perguntam: por que não em alguns casos? Quais seriam esses casos? Outro fato comum é ouvirmos, principalmente dos colegas que trabalham com crianças e adolescentes, relatos do uso do celular e do computador nas sessões. Estas mesmas perguntas tornam a ser feitas.

Por tudo isso, talvez, um dos temas mais populares nesse Congresso relacionou psicanálise, tecnologia e intimidade. Já nos dois dias de pré-congresso foi realizado o terceiro workshop sobre teleanalysis. No primeiro dia do Congresso, tivemos a apresentação de um painel sob o título de "Intimidade e tecnologia: desenvolvendo um diálogo psicanalítico", que enriqueceu o debate sobre esse tema com um analista de cada uma das três regiões da IPA. No mesmo horário outro painel, com o título de "Intimidade cibernética: explorando a relação entre realidade virtual e psicanálise", era comentado por dois analistas europeus.

Posteriormente, ainda nesse dia, mais um trabalho discutia a confidencialidade da psicanálise dentro da vigilância que ocorre no mundo tecnológico, sob o título de "Um novo 'fato da vida': a vigilância de massa das telecomunicações e suas implicações para o sigilo psicanalítico".

No segundo dia um grupo de discussão dialogou a respeito de um trabalho que tinha como tema não só a questão de psicanálise, tecnologia e intimidade, mas também a questão da formação psicanalítica quando o candidato precisa realizar parte das suas sessões didáticas de forma remota, ou seja, via alguma tecnologia não presencial, como Skype, FaceTime ou WhatsApp câmera, além de outros. O título era "Intimidade e privacidade na tela: paradoxo ou oportunidade?" Análise remota ou "relações virtuais" na psicanálise, dentro do contexto chinês.

No mesmo horário era apresentado um texto individual abordando o tema da tecnologia na psicanálise com criança: "Tecnologia e intimidade em psicanálise com criança". Também, outro painel tinha um título sugestivo: "Intimidade nos tempos da tecnocultura: progresso ou regressão?

Ainda no segundo dia, mais tarde, um trabalho individual com o título de "Intimidade e solidão na idade digital: considerações sobre o psiquismo do paciente adulto do futuro" era apresentado, e um pequeno grupo de discussão debatia o tema da sexualidade nas mensagens de texto dos aplicativos de celular, bem como no Skype e a busca por intimidade.

Apesar de ter me alongado expondo os títulos dos trabalhos, quis dividir com vocês como o debate sobre psicanálise e tecnologia torna-se mais rico quando vamos mais além e acrescentamos a intimidade entre psicanalista e paciente, e quando pensamos o uso da tecnologia na formação analítica, por exemplo, quando a análise didática precisa ser remota. "Análise remota" é a expressão usada dentro da IPA para denominar o modo de ser realizada a análise didática de candidatos que moram em um país que não tem instituto de formação, grupo de estudo ou centro associado filiado a ela, mas tem profissionais interessados em fazer a formação psicanalítica dentro dessa instituição. Atualmente, é o que acontece na China.

É importante enfatizar que a IPA tem tentado estar cada vez mais presente na Ásia. Enquanto muitos dizem que a psicanálise está morrendo, vemos o nascimento dela nesse continente. Hoje, a Ásia faz parte de duas regiões dentro da IPA, como apontado anteriormente, sendo a Índia integrante da Europa enquanto, Japão, Coreia do Sul, Taiwan e China, integrantes da América do Norte. A quarta região, Ásia-Pacífico, que terá como componente também a Austrália, hoje integrando a Europa, está sendo desenvolvida.

Desde 2008 existe na IPA o comitê China. O livro Psychoanalysis in Asia - China, India, Japan, South Korea, Taiwan (Geralch, Hooke & Varvin, 2013), escrito por analistas dessa instituição após uma conferência em Pequim, que teve como título "Freud e Ásia - evolução e mudança", aponta como a presença da psicanálise na China, bem como da IPA, foi um ponto fundamental para que o número de psicanalistas e instituições de formação psicanalítica no continente asiático se expandisse.

Em relação à IPA na Ásia, existem institutos de formação na Índia e no Japão. A Coreia do Sul e Taiwan possuem um grupo de estudo, que é o primeiro passo para se criar uma sociedade da instituição, e um centro associado, que funciona como um grupo que oferece suporte para o desenvolvimento e crescimento da psicanálise em determinada área. E a China, por enquanto, tem apenas um centro associado.

Dessa forma, nesse país a formação psicanalítica daqueles que querem realizá-la dentro da IPA acontece da seguinte maneira: analistas de diversas sociedades, sobretudo as dos Estados Unidos, vão anualmente para lá, por um período de tempo, para dar seminários e atender os candidatos em análise didática, que ocorre de forma condensada. Além disso, esses mesmos candidatos vão para o país dos respectivos analistas, também por um curto espaço de tempo, para dar seguimento à análise didática, denominada "shuttle análise". Apesar desses esforços, esta, em sua maior parte, acontece por meio de algum dispositivo tecnológico não presencial, a chamada "análise remota".

O comitê China foi criado não só para viabilizar a formação psicanalítica no país, mas também para pensar, conversar e cuidar de questões como, por exemplo, a da análise didática precisar ser remota. Como fica a relação analista-paciente? A transferência, a contratransferência, o estabelecimento do setting etc.?

Outro importante comitê, que foi criado dentro da IPA no início deste ano de 2017, é o Observatório Profissional, que tem proposto pensar, dialogar e regulamentar a transferência de um analista, em formação ou que já tenha terminado este processo, para um instituto ou sociedade em outro país, quando este precisar migrar. Apesar de se tratar de outra questão, esse comitê talvez tenha que lidar também com a realidade da análise remota, por exemplo.

 

Conclusão

São muitas as mudanças no mundo, e elas têm impacto na psicanálise, podendo estender-se para a nossa forma de trabalhar enquanto analistas. É importante ressaltar, e um de nossos objetivos aqui foi esse, o quanto a instituição IPA está atenta a essas mudanças e propõe-se a conversar sobre elas em espaços como esses comitês e o próprio congresso. Conhecer bem os dispositivos que nela existem e participar, quando possível, desses espaços propostos pode ser muito enriquecedor para cada um de nós, não só no sentido de constantemente questionarmos as nossas teorias e clínicas, o que nos leva a crescer enquanto profissionais, mas também no sentido de sabermos e sentirmos que temos um lugar, entre nossos pares, a que sempre podemos recorrer.

 

Referências

G1 (2017). Jovens dos EUA trocam Facebook por Instagram e Snapchat. https://g1.globo.com/tecnologia/noticia/jovens-dos-eua-trocam-facebook-por-instagram-e-snapchat-diz-estudo.ghtml. Recuperado em 17/10/2017.         [ Links ]

Geralch, A., Hooke, M. T. S., & Varvin, S. (2013). Psychoanalysis in Asia: China, India, Japan, South Korea, Taiwan. Londres: Karnac.         [ Links ]

IPA - International Psychonalytical Association (2017). Texto do presidente da IPA sobre o tema do congresso. http://www.ipa.world/ipa/BuenosAires/General_Information.aspx?WebsiteKey=cac040de-8e5a-4819-9ce2-2b70332736c8&hkey=87d5b177-21f9-46a1-800e-dd247520859e&EventTabs=1#EventTabs. Recuperado em 17/10/2017.         [ Links ]

 

 

Recebido em: 18/10/2017
Aceito em: 21/10/2017

 

 

1 Tradução livre da autora.

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