SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.51 número94Entrevista¹ com Mark Solms²Um exame da relevância e significado de uma pesquisa informal entre correntes do pensamento psicanalítico índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.51 no.94 São Paulo jan./jun. 2018

 

PESQUISA PSICANALÍTICA

 

Evidente, meu caro Watson: investigando em psicanálise

 

"Evident, my dear Watson": investigating in psychoanalysis

 

"Evidente, mi querido Watson": investigando en psicoanálisis

 

"Évident, mon cher Watson": rechercher en psychanalyse

 

 

Roosevelt M. S. Cassorla

Membro efetivo e didata da SBPSP e do GEPCampinas, professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP. Campinas. roocassorla@gmail.com

 

 


RESUMO

Com base em um lapso, em que o autor confundiu uma frase do detetive Sherlock Holmes, discutem-se as várias formas de investigação psicanalítica. Aborda-se a questão da cientificidade, as diferenças entre as pesquisas empíricas e as investigações clínicas, os instrumentos utilizados pelo clínico (intuição, imaginação, reverie, firasa, serendipidade) e a questão da validação em psicanálise. Com base no do conceito de campo analítico discute-se a inevitabilidade de o analista ser participante de fenômenos imprevisíveis, ao mesmo tempo que tem de objetivar sua subjetividade. O modelo do teatro, em que o analista deverá transitar por várias funções, é apresentado. Finalmente, utilizando material clínico, mostra-se a importância da observação minuciosa das rupturas do enquadre. Essas rupturas costumam indicar a presença de fatos novos que, diante da minuciosa investigação, podem enriquecer o conhecimento psicanalítico. Abordam-se também as dificuldades de sua publicação.

Palavras-chave: investigação em psicanálise, investigação clínica, campo analítico, enquadre analítico, intuição


ABSTRACT

From a lapsus in which the author confused a sentence of Detective Sherlock Holmes, the various forms of psychoanalytic investigation are discussed. It's addressed the question of scientificity, the differences between empirical research and clinical investigations, the instruments used by the clinician (intuition, imagination, reverie, firasa, serendipity) and the question of validation in psychoanalysis. From the concept of analytical field it is discussed the inevitability of the analyst to be a participant of unforeseeable phenomena, while at the same time he/she needs to objetify his/her subjectivity. The model of the theater, in which the analyst must go through several functions, is presented. Finally, using clinical material, the importance of close observation of setting ruptures is shown. These ruptures usually indicate the presence of new facts that, in the face of meticulous investigation, can enrich psychoanalytic knowledge. The difficulties of its publication are also discussed.

Keywords: research in psychoanalysis, clinical research, analytical field, analytical setting, intuition


RESUMEN

En base a un lapso, donde el autor confundió una frase del detective Sherlock Holmes, se examinan las varias formas de investigación psicoanalítica. Se enfoca el tema de la cientificidad, las diferencias entre la investigación empírica y las investigaciones clínicas, los instrumentos utilizados por el clínico (intuición, imaginación, reverie, firasa, seredipidad) y la cuestión de la validación en psicoanálisis.. A partir del concepto de campo analítico se discute la inevitabilidad del analista estar involucrado en fenómenos imprevisibles al mismo tempo que tiene que objetivar su subjetividad. Se presenta el modelo del teatro, donde el analista debe transitar por varias funciones. Finalmente, usando material clínico, se muestra la importancia de la observación cuidadosa de las roturas del encuadre. Estos trastornos a menudo indican la presencia de nuevos hechos que, sometidos a una investigación minuciosa, pueden enriquecer el conocimiento psicoanalítico. Las dificultades de su publicación también se discuten.

Palabras clave: investigación en psicoanálisis, investigación clínica, campo analítico, encuadre analítico, intuición


RÉSUMÉ

D'un lapsus où l'auteur a confondu une phrase du détective Sherlock Holmes, sont examinés diverses formes de recherche psychanalytique. Il est abordé la question de la scientificité, les différences entre la recherche empirique et les investigations cliniques, les instruments utilisés par le clinicien (intuition, imagination, rêverie,firasa, serendipité) et la question de la validation en psychanalyse. Du concept du champ analytique il est discuté de l'inévitabilité de l'analyste d'être impliqué dans des phénomènes imprévisibles, en même temps qu'il devez objectiver sa subjectivité. Le modèle de théâtre, où l'analyste doit marcher par différentes fonctions est discuté. Enfin, en utilisant du matériel clinique, l'importance d'une observation attentive des ruptures du cadre analytique est montrée. Ces troubles indiquent souvent la présence de faits nouveaux qui, si sont recherchés en details, peuvent enrichir la connaissance psychanalytique. Les difficultés de sa publication sont également discutées.

Mots-clés: recherche en psychanalyse, recherche clinique, champ analytique, cadre analytique, intuition


 

 

Há alguns anos fui convidado pela Sociedade Psicanalítica de Porto Alegre para uma atividade nomeada "Investigação em psicanálise: evidências". Ao pensar sobre minha participação me lembrei da frase "Evidente, meu caro Watson", que Sherlock Holmes dirigia a seu amigo Watson quando este se surpreendia com as deduções do detetive. No entanto, estava incomodado com algo que não me era claro. A frase me parecia estranha, como se "não coubesse". Havia um misto de ansiedade e constrangimento.

Poucos dias depois me vejo no Google pesquisando sobre a obra de Conan Doyle e seu personagem mais importante, o citado Sherlock Holmes. De repente, a expressão "Elementar, meu caro Watson" me vem à mente. Instantaneamente percebi meu erro. A substituição da palavra "evidente" por "elementar" cessou meu mal-estar. Senti-me aliviado e feliz, como se a harmonia do mundo se restabelecesse.

No entanto, não me surpreendi. Eu já sabia, de alguma forma, que a palavra era "elementar". No entanto, fui impactado por outro tipo de surpresa.

O que teria feito com que substituísse "elementar" por "evidente"? A curiosidade estimulou meu desejo de investigar.

As palavras "constrangimento, mal-estar, alívio, ansiedade" tentam nomear parte dos fatos. Sabemos como elas são pobres para descrever fenômenos emocionais. E, obviamente, para descrever investigações que lidam com esses fatos, como ocorre com a psicanálise. Ninguém conseguirá visualizar um camelo, por melhor que seja a descrição, se nunca viu um (ainda que adiante vejamos como os príncipes de Serendip "viram" um camelo desconhecido). Ninguém conseguirá vivenciar as vivências do outro a não ser – em forma limitada – através de uma relação íntima, preferentemente ocorrida no enquadre analítico. Esta é uma condição para a investigação clínica psicanalítica.

A investigação do lapso me fez constatar o óbvio: seu estímulo fora o título da conferência. Não pude ir além – faltava-me o "outro" que me ajudaria a pensar –, mas gostaria de imaginar que aspectos inconscientes me conduziram ao Google, em que descobri o que já sabia: que Holmes investigava usando métodos próximos dos que os psicanalistas conhecemos.

A tentativa de decomposição é uma forma de tentar ordenar fenômenos complexos. Após a descoberta da expressão "Elementar, meu caro Watson", senti, ao mesmo tempo: 1. alívio; 2. convicção; 3. harmonia; 4. surpresa; 5. curiosidade. A beleza e a harmonia remontam ao redescobrimento da palavra "elementar". Os fatos se tornaram aquilo que eles são, a "verdade".

A surpresa em redescobrir o já conhecido nos leva a imaginar o que ocorreria se a surpresa decorresse de uma ideia que não era esperada? É aqui que entra o investigador psicanalítico contemporâneo. Afinal, não há muitas vantagens em descobrir-se o já sabido...1

Tornou-se claro que o lapso me conduzira a caminhos que me inspirariam na preparação da conferência. Posso imaginar que o convite ativou funções mentais que "escanearam" a rede simbólica do pensamento. Cada fato ou vestígio encontrado se conecta a inúmeros outros, criando-se novos fatos e conexões, tanto no mundo interno como com o mundo externo. Esse processo, de um dinamismo incomparável, é predominantemente inconsciente. Portanto, a harmonia vivenciada decorreu também da percepção inconsciente de que a capacidade de pensar estava "afiada", fértil, criativa.

Em determinado momento me vi tomado por uma imensa quantidade de pensamentos. Vivenciava outro tipo de ansiedade, receando que a profusão de ideias impedisse sua articulação criativa. Por sorte fui capaz de ativar "paciência" e "confiança". Confiança na capacidade de fazer o luto pelas ideias que não podiam ser aproveitadas, pelas conexões menos adequadas e por tudo aquilo que deveria ser abandonado para que o pensamento continuasse fértil.

Penso que esta é uma das maiores dificuldades do investigador (e do escritor): escolher, sem voracidade e cobranças prejudiciais.

O fato descrito me fez lembrar uma descoberta que fizera quando jovem. Quando perdia um documento ou objeto importante, e me desgastava procurando-o, acabava encontrando-o quando desistia da busca e já me esquecera do fato. Por vezes o "perdido" aparecia em lugares já examinados exaustivamente. A constatação de que certas coisas perdidas se encontram quando não se as buscam prenunciava meu encontro com a psicanálise, em que ficar no escuro é a condição para ver a luz.

Logo descobri que isso era válido para tomar decisões com forte componente emocional. Como psicanalistas, sabemos que o "não buscar" faz parte da técnica e é uma condição necessária para captar fenômenos emocionais.

Em ciência é comum que um dispositivo técnico aprofunde ou inaugure uma área de investigação, como ocorreu com o telescópio e o microscópio. A analogia entre aparelhos que aumentam a capacidade visual e procedimentos técnicos da psicanálise não é aleatória. O investigador psicanalítico utiliza instrumentos que captam fenômenos para além dos sentidos comuns. Entre eles a intuição, cuja etimologia nos conduz a ver dentro, minuciosamente.

A intuição se desenvolve junto com a atenção flutuante. Penso que esta foi a maior descoberta técnica da psicanálise, juntamente com a livre associação. Os fenômenos ou experiências emocionais intuídos se conectam com a rede simbólica que se manifesta entre os membros da dupla. A intuição indica também falhas ou buracos nessa rede. Intuição e capacidade de observação caminham juntas. Sherlock Holmes aconselhava não concluir precocemente perante os dados, porque se corre o risco de distorcê-los para que se encaixem em teorias.

Tenho um costume de nunca ter qualquer pré-conceito e de seguir naturalmente para onde quer que os fatos me levem ... [O caso] pode parecer apontar diretamente para uma única direção, mas, se você mudar um pouco seu ponto de vista, é possível que descubra-o mirando uma coisa completamente diferente. (Doyle)

O leitor psicanalista identificará similitudes com os procedimentos da psicanálise.

O estudo desses procedimentos vem se aprofundando nas últimas décadas. Cada vez mais se valorizam as imagens que passam pela mente do analista (que as "sonha"), estimuladas pelas emoções intuídas, pelos relatos de fatos, narrativas, sonhos e não-sonhos (quando a simbolização está deficitária) comunicados verbal e pré-verbalmente pelo paciente. A ideia de campo analítico subjaz a essa descrição. O analista e a dupla ressonham os sonhos que se manifestam nesse campo e sonham os não-sonhos, ampliando ou dando significado àquilo que não tinha (Cassorla, 2016a). Os procedimentos técnicos são indissociáveis de teorias do funcionamento mental.

Durante as décadas de 1960/1970 percebeu-se que a atenção flutuante do analista estava tornando-se cada vez menos flutuante, fixando-se em teorias, memórias e expectativas, que poderiam ser incutidas ao paciente. A psicanálise adaptativa, um termo incongruente, teria vingado nos Estados Unidos, mas imagino que se espalhou pelo mundo. Esse foi um dos motivos da receptividade dada a Lacan e Bion. O primeiro criticando a psicologia do ego e o outro mostrando a necessidade de o analista deixar de lado memória e desejo.

 

A questão da cientificidade

Um dos problemas do psicanalista devotado à ciência é demonstrar a cientificidade de sua área de estudo. Existe uma acirrada discussão – dentro da psicanálise – entre pesquisadores empíricos e pesquisadores clínicos. Penso que a oposição decorre menos de fatos científicos que de aspectos ideológicos. Ambos são investigadores, mas seus objetivos e métodos diferem.

O pesquisador empírico utiliza os métodos das ciências exatas e naturais. Ele observa os dados, registra-os, realiza experimentos e busca leis que, em geral, podem ser descritas com termos matemáticos. A investigação empírica parte da premissa de que o homem obedece, em vários pontos, às leis da ciência natural. Essas leis explicam os fenômenos e eventualmente podem prevê-los. Outros investigadores podem repetir as observações e experimentos. A generalização é possível.

Já o pesquisador clínico se atém às características de situações únicas, por exemplo, casos individuais, o que impede que os fatos estudados possam ser examinados por outros investigadores. A investigação clínica é rica em sua ca- pacidade de aprofundamento dos fenômenos individuais, mas pobre em sua capacidade de formular leis gerais (Ginzburg, 1990).

Não custa lembrar que as teorias que utilizamos na clínica psicanalítica são o resultado de generalizações efetuadas com base nas experiências de atendimento com muitos pacientes. É uma generalização diferente da que ocorre nas ciências empíricas, pois envolve também fatores ideológicos, linguísticos e culturais.2

Como estudante e médico, fui inicialmente atraído pela bioquímica, depois pela neuroanatomia e a neurofisiologia e finalmente, antes de me tornar psicanalista, pela epidemiologia. Fascinava-me a precisão, as leis claras da natureza, o diagnóstico preciso da área cerebral lesada. A epidemiologia era menos precisa, mas associações e correlações estatísticas eram harmoniosas.

Rapidamente verifiquei que a psicanálise era muito mais complexa, e assustadora. Mas muito mais interessante. Quanto mais se supõe que se sabe, mais se amplia a área de ignorância. O que importa é a investigação dentro de nós, na relação com nossos analistas. O pesquisador clínico se conformará com seu "não saber" e continuará investigando, utilizando sua mente analiticamente treinada, sabendo que esse treinamento nunca se completa. A fugidia ideia de infinito passa a assombrar-nos.

 

O campo analítico

A experiência analítica cria um "laboratório", em que se facilita o aparecimento das variáveis a serem investigadas. Essas variáveis se manifestam na relação entre analista e paciente e recebem diferentes nomeações.

Tudo aquilo que ocorre na relação analítica é chamado fato clínico, e ele é observado segundo a teoria da observação preponderante. Essa teoria tem relação com a teoria psicanalítica de base, mas é menos dependente dela. A observação pode modificar a teoria, e a teoria pode incrementar a capacidade de observação, constituindo-se um círculo virtuoso.

A ideia de campo analítico tem sido bastante utilizada pelos investigadores psicanalíticos. O investigador faz parte do campo e, conforme veremos, transita por inúmeras variáveis que podem assinalar as formas de funcionamento do campo. Retomo texto anterior:

Frente à complexidade da realidade a mente humana tenta discriminar, separar e isolar determinados aspectos, como fatos e fenômenos que, ao serem nomeados, são incluídos na rede simbólica do pensamento. Se, por um lado, a discriminação facilita o pensamento, essa mesma discriminação dificulta o contato com a complexidade. Fatos e fenômenos aparentemente "simples" se relacionam entre si em formas complexas, e essas relações indicam que não é possível aproximar-se do conhecimento da realidade sem levar em conta a complicada dinâmica das relações entre supostos "objetos simples".

A realidade se torna "simples" ou "complexa" em função dos vértices de observação do observador. As ideias sobre campo fazem com que o observador se interesse menos pelos fatos em si que pelas relações e influências que existem entre eles. Essas relações estão em constante movimento e é essa percepção que torna o campo dinâmico. (Cassorla, 2016b, p. 91)

Sendo o campo produto da capacidade de observação do observador (que participa do campo), é evidente que o observador influencia os atos observados. Não será possível ser "objetivo" e o analista terá que aprender a objetivar sua subjetividade.

Podemos identificar certas regras no funcionamento dos campos. Os princípios da incerteza e da incompletude indicam que a observação é sempre incerta e transitória. Aquilo que é observado, enquanto é observado, já se transformou, tanto por estar em constante movimento como porque o próprio processo de observação já transformou o observado. Não será possível, tampouco, decidir sobre o grau de influência do observador no que é observado e vice-versa.

Podemos investigar quais as funções que determinado analista imagina para o campo e os fatores que fazem com que esse psicanalista tenha escolhido vértices de observação que determinam essas funções. A proposta permite que cada analista utilize e identifique suas teorias explícitas e implícitas que o levam a fazer parte de determinado campo. (Cassorla, 2016b, p. 93)

Proponho como vértice de observação para as funções do campo a capacidade de transformar e ampliar a rede simbólica do pensamento. Essas transformações se manifestam no aumento da capacidade do paciente atribuir significado a suas experiências, isto é, de pensar os fatos conscientes e inconscientes de sua vida.

Entre os fatores do campo proposto identificam-se fenômenos que se articulam em forma complexa, tais como a qualidade dos vínculos entre paciente e analista; a qualidade das experiências emocionais resultantes desses vínculos; a capacidade de continência e reverie do analista que permite transformar experiências emocionais em sonho; a capacidade da dupla analítica de ampliar os significados dos sonhos sonhados pela dupla; a capacidade do analista em identificar e lidar com elementos que não podem ser sonhados (não-sonhos); a perícia da dupla em lidar com ataques aos processos descritos etc. Analista e paciente se vinculam através de emoções e o campo, em constante transformação, indica qualidades dos vínculos e formas de ataques aos vínculos. Tudo o que acontece com um dos membros da dupla repercute emocionalmente no outro.

A transformação em K (Knowledge) e a busca pela transformação em O são determinadas pela capacidade de simbolizar fatos protomentais (Bion, 1962). Símbolos são metáforas que atribuem significado àquilo que não tem significado emocional transformando os elementos brutos em fatos mentais. Os símbolos se caracterizam por sua capacidade de atração e vinculação emocional, o que resulta numa rede, a rede simbólica do pensamento. As primeiras formações simbólicas (elementos alfa) apresentam-se como imagens, pictogramas afetivos que, conectadas entre si, constituem cenas predominantemente visuais. Essas cenas buscam símbolos verbais para serem narradas. (....) Um importante fator do campo do sonhar é a capacidade de imaginar experiências sem significado. (Cassorla, 2016b, pp. 93-94)

 

O teatro da sala de análise

O modelo do campo superpõe-se ao modelo do teatro da análise. Em área de simbolização suficiente esse teatro nos mostrará cenas, enredos, estórias, com forte conotação visual. Em áreas de simbolização deficitária teremos não-enredos, descargas, comportamentos e outros fatos sem sentido aparente.

Nas cenas interagem "personagens" e "não-personagens" produtos da externalização de aspectos do self, objetos internos, relações objetais internas do paciente, mais ou menos simbolizados, tanto do paciente como do analista. Os "personagens", inicialmente trazidos pelo paciente, apresentam-se manifestando modos de funcionamento mental, e, nessa manifestação, o analista é pressionado a participar da cena.

O analista, com função analítica preservada, desempenhará ao mesmo tempo as seguintes funções, durante as entradas em cena.

1. "Personagem" do enredo, contracenando com os demais "personagens" postos em cena pelo paciente.

2. Espectador da cena, observando e tentando compreender o que está ocorrendo. O poder participar e, ao mesmo tempo, separar-se da cena é o que lhe permitirá exercer as funções seguintes.

3. "Coautor" da cena, na medida em que, ao contracenar com os "personagens" inicialmente postos em cena pelo paciente, ele não necessariamente o fará da forma em que se sente pressionado. Pelo contrário, grande parte de sua atividade analítica será denunciar essa pressão, tornando-a compreensível para o paciente (para quem, em geral, não é consciente); dessa forma, o analista, abre espaço para ressignificação e mudança psíquica.

4. "Diretor" da cena, na medida em que, contracenando analiticamente com os personagens postos em cena pelo paciente, procurará determinar as melhores formas para que o enredo inicial seja compreendido e alterado.

5. Crítico teatral: nessa função o analista afasta-se da cena, e utiliza seu conhecimento para avaliar, em forma crítica, como o enredo ocorreu, como os personagens se comportaram, se a cena poderia ter ocorrido de outra forma (aqui, ele dará ênfase à crítica da função do analista) etc. Poderá também avaliar que teorias psicanalíticas foram usadas, explícitas e implícitas, tanto para a observação como para a compreensão dos fenômenos, como eles poderiam ser entendidos com base em outras teorias, ou ainda se não se exigem novos conceitos e modelos. O papel de crítico continua e torna-se mais potente após a cena ter ocorrido. A capacidade crítica do analista será fator importante para definir seu modelo de observação.

6. Iluminador e técnico de som: estes auxiliam o diretor, ao focalizar, lançar luzes e microfones sobre aspectos da cena, que se escondem, se mascaram, ou mesmo escapam para os bastidores. Ainda que o papel do iluminador (associado ao técnico de som) pareça ser de um coadjuvante menor de uma representação teatral, ele é indispensável, e a representação não poderá acontecer se o teatro permanecer no escuro e o diálogo for inaudível. Será ele também que focalizará os personagens, com nuances de luz e de cor indispensáveis: se não for um bom iluminador, poderá deixar partes da cena no escuro, ou iluminadas de forma inadequada, atrapalhando ou impedindo todo o desenrolar e a compreensão das cenas.

A função iluminadora do analista depende da capacidade do profissional de permitir-se entrar no contexto das cenas, "vivendo-as", utilizando a acuidade visual em função da forma como as cenas (e as não-cenas) são produzidas e se apresentam. "Acuidade visual" é, em nosso modelo, equivalente a intuição psicanaliticamente treinada. Como o analista é também coautor, personagem e diretor, essas funções complementarão sua capacidade de observação psicanalítica. E será essa mesma capacidade de observação que permitirá a ele exercer criativamente aquelas funções. No entanto, tudo isso não será possível, ou ficará perturbado, se o analista não for capaz de efetuar cisões adequadas em seu funcionamento mental.

Ainda que no começo da cena analítica seja possível identificar quem (geralmente o paciente) está pondo em cena seus "personagens" internos, logo se percebe que esses "personagens" acabam mesclando-se e logo não mais se sabe a quem pertencem, ou melhor, sabe-se que eles são o resultado da interação entre as mentes de paciente e analista, e pode postular-se que mesmo o início da cena já inclui essa mistura.3 Dessa forma, novos "personagens" são criados, produtos da fertilização de aspectos do analista e do paciente. Lembrando que esses "personagens" não são necessariamente pessoas, podendo ser, por exemplo, um sintoma, uma carta, uma viagem, um ideal, uma relação, uma instituição etc., que podem ser criações "terceirizadas" da dupla paciente <-> analista. Ou não-personagens que se manifestam como vazios e descargas sem sentido aparente.

Lembremos que as funções descritas acima, do analista trabalhando, são as mesmas do investigador psicanalítico, já que ambas as atividades coexistem.

 

A ruptura do enquadre

É muito interessante observar quando o enquadre explode. Os fenômenos que estariam restringidos rompem o laboratório, não se comportando "como deveriam". Deixando de lado eventuais inadequações do analista, essa ruptura indica que a teoria subjacente ao enquadre não dá mais conta do fato clínico.

Estamos diante de uma surpresa que, se aproveitada, permitirá a ampliação do conhecimento e a transformação da própria teoria.4

A frase anterior deve ser retomada. O que seriam "eventuais inadequações do analista"? Seriam limitações próprias ou indicam a ruptura de seus pressupostos observacionais e teóricos, não mais úteis para lidar com os fenômenos do campo? Caso o analista se prenda a culpas moralísticas, condenando-se por seus "erros", não poderá debruçar-se sobre os fatos para investigá-los com isenção, isto é, tornar-se capaz de fazer trabalhar seu mal-estar. Não é raro, em qualquer ramo das ciências, que os supostos "erros" apenas manifestem a necessidade de alterar as teorias e os métodos observacionais, ampliando os horizontes do conhecimento.

Quando uma paciente se sentia aterrorizada com a possibilidade de que eu interrompesse sua análise em determinado mês de outubro, fui sentindo-me preocupado, ansioso e perplexo. Mais ainda quando ela passou a afirmar que sentia que estava enlouquecendo, graças à "certeza" de que eu interromperia sua análise nessa data. Era claro que eu seria o responsável pela interrupção e por sua loucura, presente e futura. Aos poucos percebi minha capacidade intuitiva definhando e me via buscando explicações para o que estava acontecendo. Tentava investigar o significado desse mês de outubro, buscava associações em relação a datas ou fatos que poderiam ter ativado essa crença. Num determinado momento me veio à mente a hipótese de que poderia tratar-se de uma reação de aniversário (Cassorla, 1986). Ela me parecia evidente, já que em setembro ocorreria o aniversário da morte de seu pai. Quando se haviam completado 20 anos de sua morte a paciente tentara suicídio, e fora esse o fator determinante de sua busca de análise.

A evidência fez sentido à paciente e foi validada por associações prenhes de sentimentos. O processo analítico parecia caminhar bem. No entanto, o pavor e a certeza de que a análise terminaria em outubro não se modificaram.

Neste momento o leitor me permitirá uma digressão sobre validação. A ampliação da rede simbólica do pensamento da paciente (e da dupla) com base na hipótese sobre a reação de aniversário validava a hipótese. O processo analítico se desenvolvia, a rede simbólica do pensamento se ampliava. No entanto, a ansiedade e a crença na interrupção da análise não se modificaram. Somos obrigados, portanto, a imaginar que a interpretação ativou parte da trama simbólica, mas não outras partes, reprimidas, cindidas, deficitárias ou ausentes. Como vimos, a teoria subjacente à validação é que a ampliação da rede simbólica, com ressignificação e significação de fatos com simbolização deficitária, é o objetivo do trabalho analítico. Outras teorias implicariam outras formas de validação e invalidação.5

Um dia, de repente – e isto é importante – lembrei-me de que meu filho(a) nasceria no mês de outubro. Naquele momento (ano de 1987) somente pude sentir-me perplexo pela convicção que acompanhava a lembrança, e não poderia imaginar a possibilidade de estar "sonhando" o não-sonho da paciente. A convicção era que o nascimento de meu filho(a) seria um fator do sofrimento da paciente.

Este analista, racional e com aversão a qualquer tipo de misticismo, sentiu-se presa de outro tipo de ansiedade. Ela refletia a constatação de que sua convicção não tinha qualquer substrato lógico ou emocional. Não se tratava de material clínico disperso que aos poucos tomava forma, não havia "nuvem de probabilidades" anterior. Era algo que surgia do nada, ainda que saibamos que o analista estava com a mente prenhe de indagações.6

Firasa, termo sufi que designa a capacidade de passar imediatamente do conhecido para o desconhecido na base de indícios, serve tanto para designar as intuições místicas como as formas de discernimento e sagacidade atribuídas aos filhos do rei de Serendip, a serendipidade. Nesta segunda acepção, a firasa é o órgão do saber indiciário, isto é, aquele que se baseia em indícios, pistas, sinais, entre cujas áreas se encontra a psicanálise.

Três irmãos (os príncipes citados) encontram um homem que perdeu um camelo. Sem hesitar, descrevem-no: é branco, cego de um olho, tem dois odres nas costas, um cheio de vinho, o outro cheio de óleo. Viram-no? Não, não o viram. Então são acusados de roubo e submetidos a julgamento. É, para os irmãos, o triunfo: num instante demonstram como, através de indícios mínimos, puderam reconstruir o aspecto do animal que nunca viram. (Ginzburg, 1990, pp. 151-152)

A situação descrita (o "sonho" sobre o nascimento de meu filho) não me parecia conectada a vestígios ou pistas. Teria vivenciado um tipo de intuição em que os indícios eram imperceptíveis pela consciência?

Intuía (e aqui estamos de novo às voltas com esse termo) que não seria prudente apostar nessa convicção. Já havia falhado em relação a outras hipóteses "causais", ainda que, em relação àquelas, a convicção não existisse. Outro motivo para desistir do uso da convicção era que, se a utilizasse, teria de expor aspectos pessoais.

Mas como esquecer o sentimento de harmonia, o maravilhamento que a hipótese me havia trazido?

Dessa forma me vi tentando validar (ou invalidar) minha convicção. Na ocasião, não me dei conta dessa tentativa, nem de que essa necessidade decorria do pavor de sentir-me louco ou... pior... místico!7

Retornemos à questão da validação. No início deste texto a palavra "elementar" teria que ser validada, buscando-a num texto sobre Holmes. Isso não foi necessário, porque confiava em minha memória. A validação funcionava para mim, mas não seria necessariamente aceita por quem não conhece Holmes. Outro investigador poderia encontrar a expressão lendo Holmes. Como a experiência analítica não é replicável, o leitor terá que acompanhar o processo de validação que o analista efetuou e publicou. O leitor deverá acreditar que o relato do analista é suficientemente verdadeiro. O "fazer sentido" para o leitor é um fator acessório de validação, mas não suficiente.

Mesmo tomado pela hipótese sobre o nascimento de meu filho, não me imaginava dividindo-a com a paciente. No entanto, em determinada sessão, em que ela continuava sofrendo com a crença de que eu a abandonaria em outubro, surpreendi-me perguntando-lhe se havia ouvido falar algo a meu respeito.

A paciente respondeu "não" à minha questão. Nada ouvira sobre minha pessoa, mas na sequência trouxe associações significativas sobre situações em que se sentiu excluída, porque crianças roubavam a atenção de quem estava por perto.8 Mais surpreso ainda, percebi que estava fazendo a pergunta: "Maria, você notou alguma coisa diferente em mim, ultimamente?". Não tinha a menor ideia de onde me vinha essa estranha indagação. A paciente respondeu: "Não, nada". Após um longo silêncio reflexivo, Maria me diz: "Engraçado, quando entrei hoje vi tua barriga e pensei: o Roosevelt está grávido...". E, desatou a rir.

Rompendo todos os cânones analíticos, me surpreendi contando a Maria que teria um filho em outubro. Sabia que estava "atuando" e me sentia constrangido e culpado, certo de que minha capacidade analítica havia sido perdida. Maria começou a chorar e, entre soluços, me agradeceu emocionada a informação. Dizia "Obrigado, obrigado, agora sei o que estava me acontecendo, obrigado!"

Quando a sessão terminou, intuindo que acabava de vivenciar algo terrível e/ou magnífico, escrevi tudo o que conseguia lembrar, incluindo meus sentimentos.

A evolução da análise foi surpreendente. A paciente se tranquilizou, perdeu o terror de enlouquecer, o impasse foi desfeito, e a análise continuou, ainda mais produtiva, por três anos e meio.

Quando Maria encerrou a análise, porque ia mudar-se para outro país, lembrei-me do episódio e pensei que poderia dividi-lo com os colegas através de publicações. Devido ao grau de confiança que alcançáramos, resolvi sondar sobre como se sentiria se ocorresse a publicação. Assim, numa das últimas sessões perguntei-lhe se se lembrava daquele episódio sobre o nascimento de minha filha. Percebi que tentava recordar-se. Após algum tempo me disse: "Ah! Foi aquela vez em que te perguntei se tua mulher estava grávida?". Disse-lhe que ela não havia perguntado nada, que fora eu quem lhe passara a informação. Seguiu-se uma controvérsia, em que a paciente insistia em que fora ela que perguntara, e eu dizia que a informação fora dada por mim, sem que ela perguntasse. A dúvida foi resolvida quando fui em busca de minhas notas e as li para ela. Nesse momento, ela se reconheceu e concordou comigo, estranhando a confusão que fizera.

Penso que esse episódio revalidou, de certa forma, a hipótese teórica efetuada anteriormente. Ela fora formulada da seguinte forma: Maria intuíra que o seu analista estava grávido, e a impossibilidade de pensar esse fato (assim como tantos outros) a estava enlouquecendo. Ao dizer-me que ela fizera a pergunta (e não fora eu que a informara), confessou-me que realmente ela já "sabia" do fato, mas não conseguira transformá-lo em pensamento, capaz de ser verbalizado por meio de uma questão.

Outras hipóteses não são descabidas. Poderíamos supor que a confusão da paciente, no final da análise, poderia ser fruto do recalque da lembrança do episódio anterior, por vários motivos, tais como evitar entrar em contato com aspectos invejosos, não se lembrar de seus antigos terrores psicóticos, ou mesmo como demonstração da ambivalência em aceitar a publicação. Não posso descartar a concomitância dessas possibilidades e outras.

Certamente, hoje, mais experiente, não teria fornecido detalhes sobre minha gravidez. Teria interpretado as situações de exclusão fruto de minhas reveries e das associações de Maria, para além da concretude do nascimento de minha filha. Mas não sei se os resultados teriam sido os mesmos. Em outras palavras, teria tomado meu "sonho" sobre a gravidez como um sonho manifesto que mereceria, de minha parte, tentativas de interpretação para aceder a seu conteúdo latente.

A publicação dessa experiência, evidentemente, não foi fácil. O receio em expor-me certamente era um fator. Quando venci esse obstáculo, escrevi o trabalho citado (Cassorla, 1991) e o enviei para avaliação pela Revista Brasileira de Psicanálise. Uma avaliação cega (em que os avaliadores não sabiam o nome do autor) revelou uma situação curiosa. Metade dos avaliadores deram nota zero ao trabalho (naquela época faziam-se várias perguntas e os avaliadores davam notas de zero a dez). A outra metade deu nota dez.9 O editor da Revista enviou-me uma carta com os pareceres. Diante do impasse, ele havia solicitado novos avaliadores, que não conseguiram desfazê-lo. O editor me pediu que considerasse os pontos levantados pelos avaliadores e que reescrevesse o trabalho. Finalmente ele foi publicado. Não me consta que tivesse qualquer repercussão, ou, se houve, não fiquei sabendo. Não pude saber se devido a sua limitação científica ou por outros fatores.

Aos poucos fui-me dando conta de que nossos trabalhos não têm consequências, pelo menos entre nós. Com certeza eles são lidos, por nós e pelos avaliadores. Possivelmente por mais ninguém, a não ser que já tenhamos algum respeito científico, quando seremos lidos por nossos alunos e colegas mais jovens. E pelos poucos amigos que nos ajudam a pensar. Fatores grupais, ideológicos e culturais fazem parte, portanto, da divulgação da investigação científica. Investigação não divulgada, não lida, não considerada, impede a validação (ou invalidação) pelos pares, o que denomino macrovalidação (Cassorla, 2012).

Para que ocorra a validação entre os pares é necessário que estes sejam capazes de discutir cientificamente com o autor, e vice-versa, ocorrendo fertilização mútua. Infelizmente, em muitos grupos psicanalíticos (e não psicanalíticos), as reuniões científicas parecem comemorações entre amigos em que será malvisto qualquer colega que ouse discutir algum ponto em profundidade. Deixo de lado os questionamentos invejosos que somente servem para o suposto crítico expor sua "superioridade". Não há dúvidas de que esses fatos merecem investigações em que o conhecimento psicanalítico poderá ser útil. Os investigadores, preferencialmente, terão que ser externos à instituição.

 

Referências

Bion, W. R. (1962). Learning from experience. London: Heinemann.         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (1986). Reações de aniversário: aspectos clínicos e teóricos. Jornal de Psicanálise, 19(38),25-39.         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (1991). Considerações sobre um tipo de comunicação intuitiva. Revista Brasileira de Psicanálise, 25(3),515-530.         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (1998). Objetividade, confidencialidade e validação: três problemas e uma surpresa na apresentação de material clínico. Jornal de Psicanálise, 31(57),93-112.         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (2012). What happens before and after acute enactment? An exercise in clinical validation and broadening of hypothesis. International Journal of Psychoanalysis, 93,53-89.         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (2016a). O psicanalista, o teatro dos sonhos e a clínica do enactment. São Paulo: Blucher.         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (2016b). The dreaming field. In S. M. Katz, R. M. S. Cassorla & G. Civitarese, G. (Orgs.), Advances in contemporary psychoanalytic field theory (pp. 91-112). New York: Routledge. (Re-publicado, modificado, como: O campo analítico como campo do sonhar. Revista de Psicanálise da SPPA, 23, 447-476, 2016).         [ Links ]

Cassorla, R. M. S. (2018). When the analytic field becames uncanny. In C. Bronstein & E. O'Shaughnessy, On Freud's "The uncanny". London: Routledge (in press).         [ Links ]

Doyle, A. C. Recuperado em abril de 2018, de https://mundosherlock.wordpress.com.         [ Links ]

Ginzburg, C. (1990). Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In C. Ginzburg, Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história (pp. 143-180). São Paulo: Companhia das Letras.         [ Links ]

 

 

Recebido em: 2/4/2018
Aceito em: 4/4/2018

 

 

1 O inconsciente reprimido é, de certa forma, conhecido. Mas não todo o desconhecido é inconsciente. A psicanálise contemporânea vem investigando os déficits de representação e simbolização, fatos que não se manifestam ou surgem como ausências e assombrações.
2 No Debate sobre Investigação, publicado neste mesmo número do Jornal, estes aspectos são discutidos.
3 Essa turbulência emocional prévia ocorre em qualquer relação humana. Os termos "transferência antecipatória" e "contratransferência antecipatória" são formas de nomear essa potencialidade.
4 Em outro texto (Cassorla, 2016b) propomos que a percepção da ruptura do enquadre ocorre dentro do campo analítico, que continua preservado.
5 O leitor interessado em detalhes sobre o processo de validação em psicanálise poderá ir a Cassorla (1998).
6 Em outro texto (Cassorla, 2018) abordo esses fatos a partir do fenômeno Unheimlich.
7 Fenômenos intuitivos também fazem parte da loucura e do misticismo.
8 O leitor interessado nos detalhes poderá ir ao texto original (Cassorla, 1991).
9 Pode ser que a situação não tenha ocorrido exatamente assim, mas ficou dessa forma em minha mente.

Creative Commons License