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Jornal de Psicanálise

Print version ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.51 no.94 São Paulo Jan./June 2018

 

PESQUISA PSICANALÍTICA

 

Um exame da relevância e significado de uma pesquisa informal entre correntes do pensamento psicanalítico1

 

The meaning and relevance of an informal research developed among different currents of psychoanalytical thought

 

Un examen de la relevancia y significado de una investigación informal entre corrientes del pensamiento psicoanalítico

 

Un examen de l'importance et du sens d'une recherche informel parmi des courants de la pensée psychanalytique

 

 

Paulo Duarte Guimarães Filho

Membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, SBPSP. São Paulo. pduartegf@uol.com.br

 

 


RESUMO

O trabalho parte de referências na literatura psicanalítica sobre a ocorrência de concordâncias teórico-clínicas entre diferentes correntes do pensamento psicanalítico, particularmente em relação ao tema da contratransferência. Há um destaque especial para o fato de que essas concordâncias dão indicações da existência de um processo de pesquisa bastante peculiar, desenvolvido de um modo espontâneo e informal, com base nas práticas clínicas, e desse modo permitindo o reconhecimento do valor de noções que obtiveram um maior grau de aceitação em diferentes meios psicanalíticos. Outro ponto realçado é como a exploração da existência dessa pesquisa e de seus aspectos científicos pode contribuir para o reconhecimento epistemológico da validade da psicanálise e de processos da construção do conhecimento nessa área.

Palavras-chave: pesquisa, epistemologia da psicanálise, concordâncias teórico- -clínicas, contratransferência, identificação projetiva


ABSTRACT

This paper considers references in the psychoanalytic literature about clinical-theoretical concordances among different currents of psychoanalytical thought, particularly regarding the theme of countertransference. It is emphasized that these concordances indicate the occurrence of a very significant kind of research, developed in an informal and spontaneous way. This research has its basis in clinical practice, as this permits the acknowledgment of the value of notions with a greater acceptance among different psychoanalytic groups. Another aspect pointed out is how the acknowledgment of this kind of research, and of its scientific aspects, can contribute to the epistemological validation of psychoanalysis and of ways that develops the knowledge in this área.

Keywords: research, epistemology of Psychoanalysis, theoretical-clinical concordances, countertransference, projective identification


RESUMEN

El trabajo parte de referencias en la literatura psicoanalítica sobre las concordancias teórico-clínicas que ocurren entre diferentes corrientes del pensamiento psicoanalítico, particularmente en relación al tema de la contratransferencia. Se destaca, especialmente, el hecho de que esas concordancias indican la existencia de un proceso de investigación bastante peculiar, desarrollado de un modo espontaneo e informal, con base en las prácticas clínicas, permitiendo, así, el reconocimiento del valor de nociones que obtuvieron un mayor grado de aceptación en diferentes medios psicoanalíticos. Otro punto destacado es de qué manera la exploración de la existencia de esa investigación y de sus aspectos científicos puede contribuir para el reconocimiento epistemológico de la validad del psicoanálisis y de procesos de construcción del conocimiento en esa área.

Palabras clave: investigación, epistemología del psicoanálisis, concordancias teórico-clínicas, contratransferencia, identificación proyectiva


RÉSUMÉ

Ce travail se fonde sur les références trouvées dans la littérature psychanalytique concernant les occurrences des ententes théorique-cliniques parmi de différents courants de la pensée psychanalytique, notamment par rapport au thème du contretransfert. Il y a une remarque spécial sur le fait que ces ententes offrent des indications de l'existence d'un processus de recherche assez particulier, développé d'une manière spontanée et informelle, basé sur des pratiques cliniques, permettant, de cette façon, la reconnaissance de la valeur des notions qui ont obtenu un plus grand degré d'acceptation dans différents milieux psychanalytiques. Un autre point mis en évidence, c'est de comprendre comment l'exploration de l'existence de cette recherche et de ses aspects scientifiques peut contribuer à la reconnaissance épistémologique de la validité de la psychanalyse et des processus de la construction du savoir dans ce domaine.

Mots-clés: recherche, épistémologie de la psychanalyse, ententes théorique-cliniques, contretransfert, identification projective


 

 

A seguir vamos examinar um processo que vem tendo uma participação significativa na construção do conhecimento psicanalítico contemporâneo, especialmente em relação às concepções sobre a transferência. Um dos principais interesses no estudo desse processo é que ele ocorre por meio de procedimentos de pesquisa clínica e conceitual, realizados, de um modo espontâneo e informal, por um número amplo e variado de analistas; desse modo, a informalidade desse processo faz com que ele não se manifeste claramente, nem seja facilmente reconhecível, e, ao mesmo tempo, há dados indicativos de que temos aí um modo bastante singular do desenvolvimento do conhecimento psicanalítico.

Para podermos entender como se dá a participação espontânea e informal de diferentes analistas nesse processo, será útil começarmos por uma sugestão apresentada por André Green (2003) na comunicação de abertura da Conferência Internacional promovida em 2002 pelo Comitê de Pesquisa Conceitual da IPA. A certa altura de sua comunicação Green diz:

Eu concordo acerca da necessidade da pesquisa conceitual, mas, novamente, tem-se que perguntar onde estará o ponto de partida. Eu considero que é impossível ter pesquisa conceitual que não seja radicada na história da psicanálise. Eu vou propor uma hipótese para discussão. Seria interessante considerar o todo da literatura psicanalítica, não somente como uma massa de escritos, livros, artigos, e assim por diante, mas como, eu diria, um organismo humano, corpo e mente, que nasceu com Freud, mas tem mudado constantemente, desde seu nascimento e mais ainda desde sua morte.

E um pouco mais adiante ele continua:

Deverá também ser uma tarefa da pesquisa conceitual investigar como noções básicas da psicanálise podem ter significados diferentes para grupos diferentes em ocasiões variadas. Por exemplo, a transferência é entendida do mesmo modo em todos os lugares? O que é um objeto, de acordo com a teoria psicanalítica? Há uma concepção psicanalítica específica do tempo? A psicanálise é uma psicologia? E, se não é, o que é ela? Essas são questões urgentes que esperam por um conhecimento integrativo.

Essas sugestões de Green, em grande medida, estão de acordo com o que será visto neste trabalho. De fato, ele terá como base dados indicativos da existência de um processo de pesquisa realizado por setores diferentes e significativos da comunidade psicanalítica internacional, funcionando como uma espécie do "organismo humano" referido pelo autor francês. Mais relevante ainda é não só que esse organismo venha realizando essa pesquisa, mas também que ela vá caminhando na direção do alcance de um conhecimento integrativo, no caso, sobre a transferência, que, também nos termos de Green, é uma das "questões urgentes que esperam por um conhecimento integrativo".

Efetivamente, é por meio do contato com dados de que vem havendo o desenvolvimento de concepções integrativas que é possível também distinguir elementos indicativos do processo de pesquisa subjacente. O principal desses dados é que nos últimos anos tem havido um maior grau de aceitação de determinadas hipóteses por parte de diferentes e significativas correntes do pensamento psicanalítico, especialmente sobre aspectos dos fenômenos transferenciais e suas associações básicas com os contratransferenciais. Já estudamos essa questão anteriormente, particularmente num último trabalho (Guimarães Filho, 2003), em que foram apresentadas algumas das referências à existência dessas concordâncias teóricas. Nessa altura é necessário um exame mais detalhado do que vem ocorrendo com as ferramentas conceituais que têm sido alvo dessa ampla apreciação intercrítica entre diferentes grupos analíticos e de como a diversidade dessas apreciações vem contribuindo para mudanças e ampliações nos conceitos que vão ganhando maior aceitação.

Tudo isso envolve também um outro ponto, sobre o qual há muito para ser pensado: a natureza bastante peculiar da pesquisa a que está sendo feita referência. Apesar do possível questionamento acerca do uso da designação de pesquisa para o tipo de construção do pensamento psicanalítico visto neste trabalho, há dados indicativos de que esse é um processo através do qual vêm-se dando aspectos bem importantes dessa construção. Seria, então, muito artificial que somente os procedimentos de investigação mais estruturados fossem designados como pesquisas e não fizesse parte destas a atividade informal e não sistematizada de autores e grupos que têm tido um papel central no desenvolvimento de importantes conceitos psicanalíticos, como está ocorrendo com a transferência e a contratransferência.

 

Alcançando um conhecimento integrativo sobre a transferência e a contratransferência

A respeito do alcance de um conhecimento integrativo sobre a transferência e a contratransferência já foi tratado parcialmente no trabalho referido anteriormente (Guimarães Filho, 2003). Naquela publicação tomou-se como base um levantamento bem ilustrativo, realizado por Gabbard (1995), e que apontava para confluências que vinham existindo em torno do entendimento dos fenômenos contratransferenciais e de como, mais especificamente, era em torno das noções de identificação projetiva e de enactment contratransferencial que as concordâncias vinham se articulando. Além dessa síntese de Gabbard, também foram consideradas outras manifestações da literatura, na mesma direção (Sandler,1993; Schafer, 1994; Wallerstein, 1988, 2002).

Tratando-se da transferência, ficará mais fácil acompanhar os aspectos desse fenômeno em relação aos quais as articulações vêm-se dando, se for reconhecido que eles já apareciam no texto de Freud (1912) a respeito da dinâmica da transferência. No entanto, eles não foram objeto de um maior desdobramento nem naquela ocasião, nem no seguimento da obra do criador da psicanálise. Nas palavras de Freud, são os seguintes os aspectos dos fenômenos transferenciais que estão sendo referidos:

Os impulsos inconscientes não querem ser recordados, do modo como é desejado no tratamento, mas se esforçam para serem repetidos, de acordo com a atemporalidade do inconsciente e de sua capacidade de alucinação. Do mesmo modo como acontece nos sonhos, o paciente encara os produtos do despertar de seus impulsos inconscientes como presentes e reais; ele procura pôr suas paixões em ação, sem levar em conta a situação real. (Freud, 1912/1958, p. 108)

É importante o reconhecimento desse ponto de partida. Se essa afirmação de Freud for olhada com atenção, será visto que, embora se refira a aspectos do conceito de transferência, ela também diz respeito a fenômenos que vão além e que passaram a ser um dos principais centros das investigações psicanalíticas. Não temos no caso, portanto, um processo linear, no qual um determinado conceito fosse sendo estudado diretamente, mas sim um quadro bem mais complexo e que envolve algumas das questões teóricas mais destacadas da psicanálise. Um fato também muito significativo nessa situação é como, num determinado momento, o estudo dessas questões se deu separadamente, para depois irem-se estabelecendo articulações, tanto no plano da prática clínica, como no das teorizações.

Nesta oportunidade, vamos nos restringir ao acompanhamento de como foram sendo alcançadas algumas das principais articulações a respeito da concepção da transferência. Para isso, como já foi dito, é bastante útil o ponto de partida freudiano. Na citação vista acima, não é difícil perceber, na comparação que ele faz de aspectos das manifestações transferenciais com os sonhos e com as paixões – especialmente quando ele aponta para a procura do paciente, na transferência, de levar o analista a corresponder às fortes demandas dirigidas a ele –, como está implícito aí que a transferência tende a arrastar com ela a contratransferência. Essa junção, no entanto, não foi feita nesses termos por Freud, e ele também não se voltou para um estudo mais amplo da dimensão apaixonada e alucinada da transferência. Novamente é possível contar aqui com o auxílio de Green (1988), pois ele tem um trabalho, não por acaso tendo o título de "As paixões e suas vicissitudes", em lugar de "Os instintos e suas vicissitudes", no qual esclarece bastante como esses aspectos apaixonados e "loucos" (folie, em francês) da transferência deixaram de estar num foco destacado das elaborações de Freud. O que basicamente Green salienta é como Freud, diante de uma série de fatores, entre os quais a necessidade de procurar dar um caráter científico a suas descobertas, foi levado a destacar o estudo do papel das representações inconscientes em detrimento de um maior reconhecimento da participação dos afetos. Isto ocorreu com uma paralela subestimação da dimensão apaixonada e "louca" (folie, em francês) envolvida nos fenômenos pulsionais e amorosos, com o consequente reflexo sobre como Freud tratou os fenômenos transferenciais.

Desse modo, essa questão não foi desenvolvida mais amplamente por Freud, mas sim por outros autores, graças aos quais surgiram elementos fundamentais para um melhor entendimento dos diferentes aspectos dessa força atuadora tão intensa nas manifestações transferenciais. Ao mesmo tempo, o contato com esses dados permitirá que se vá identificando o processo de pesquisa aí envolvido. Um modo bastante expressivo de figurá-la já foi visto em Green (2003), quando ele considerou as produções da literatura psicanalítica como um "organismo humano" que vem se desenvolvendo, desde seu nascimento com Freud. Nos exemplos que deu a respeito, aquele autor fez referência a algumas manifestações mais facilmente reconhecíveis, em que determinadas correntes de ideias na psicanálise foram se definindo como críticas a aspectos das teorizações preexistentes. Nesses casos procura-se a substituição de umas concepções por outras, e não é difícil verificar que usualmente esse tipo de mudança não se tem efetivado, mas sim que vão sendo acrescentadas novas correntes de pensamento, num quadro de pluralidade teórica.

De um modo surpreendente, e até certo ponto paradoxal, algo bem di- ferente vem acontecendo com as concepções sobre a transferência e a contra- transferência!

A área apontada na citação de Freud vem sendo trabalhada em diferentes contribuições. Logo será visto que algumas delas forneceram ferramentas conceituais que se mostraram de grande utilidade nesses esclarecimentos, e o surpreendente é que gradativamente foram se dando concordâncias sobre esse ponto, coexistindo com a manutenção da pluralidade entre os sistemas teóricos mais gerais. Já foi referido que uma das ferramentas teóricas que têm estado numa posição de destaque em todo esse processo é a noção de identificação projetiva. Inicialmente essa noção foi desenvolvida por Melanie Klein (1946), em relação a situações mentais primitivas intoleráveis para os pacientes, e que eram projetadas no analista. Quanto ao modo em que foram se dando as articulações com a transferência e a contratransferência, um elo importante foi o surgimento, no grupo kleiniano, do trabalho pioneiro de Paula Heimann (1950) sobre a contratransferência. Naquela ocasião essa autora ainda estava participando do grupo kleiniano, e, embora no seu trabalho sobre a contratransferência, ela não faça uma ligação explícita entre esta e a identificação projetiva, é possível imaginar que a convivência com essa última noção tenha contribuído para que Heimann pudesse ter uma apreensão mais clara de ligações da transferência com a contratransferência. Ao mesmo tempo, foi esse seu trabalho de 1950 que, mais tarde, serviu como uma das bases para o desenvolvimento da noção de "role-responsiveness", por parte de Sandler (1976), uma figura destacada do grupo freudiano inglês. Embora nesse trabalho ele reconheça que termos como identificação projetiva poderiam ser empregados para os fenômenos estudados, Sandler não considera que ela fosse apropriada para explicar esses tipos de interação, na medida em que se tratava de funcionamentos inconscientes mais estruturados dos pacientes, tendendo a mobilizar comportamentos correlatos por parte do analista. Talvez tenhamos aí um bom exemplo de como vai se dando a captação do que ocorre nessa área de investigação, em que novas facetas de uma concepção vão sendo reconhecidas e surgem diferentes termos para designá-las. A noção de role-responsiveness de Sandler apreende uma dessas facetas e, ao mesmo tempo, não é difícil verificar que contribui para uma aproximação dos enfoques freudiano e kleiniano em torno do tema que está sendo visto. Embora o termo "role-responsiveness" não tenha ganhado maior aceitação, mais tarde isto veio a acontecer com uma noção bastante semelhante, a de "enactment contratransferencial", desenvolvida entre autores norte-americanos. Gradativamente esse termo passou a ser usado amplamente na descrição de funcionamentos inconscientes do analista, estimulados por mobilizações correlatas do paciente. Como indicou Gabbard (1995), no trabalho já referido, essas noções, da identificação projetiva e do enactment contratransferencial, passaram a ter um papel central para um entendimento comum, em diversas áreas analíticas, dos fenômenos contratransferenciais.

Correlatamente, houve também uma continuação do desenvolvimento da noção de identificação projetiva e de suas relações com a contratransferência, com base em sua matriz inicial kleiniana. Quanto ao modo em que foi se dando a articulação com a transferência e a contratransferência na área kleiniana, além do trabalho já referido de Paula Heimann (1950), outros autores foram dando contribuições importantes, podendo ser lembrados Money-Kyrle (1956), Racker (1960) e Grinberg (1962, 1979). No entanto, foi com Bion (1965, 1970) que houve as aberturas mais significativas no conceito de identificação projetiva, principalmente quando ele veio a alterar bastante o pensamento até então vigente sobre sua natureza, ao atribuir à identificação projetiva um papel básico no desenvolvimento mental primitivo. Com Bion, a identificação projetiva deixa de ser vista como um processo essencialmente evacuativo, para ter também uma função comunicativa e é através dela que o bebê transmite situações emocionais para a mãe, e esta, por meio do que Bion chamou de reverie, vai acolher os estados mentais da criança, apreender sua significação e poder dar o devido retorno para o bebê. Comentando sobre essas ideias, Sandler (1988) diz que elas também são bem apropriadas para a descrição do que se passa na situação clínica, em que o analista funciona como "continente" de situações emocionais do paciente e depois tem oportunidade de devolvê-las de um modo suportável. Ao mesmo tempo ele faz uma objeção a que esse processo seja chamado de identificação projetiva, a não ser, como diz, que, "esse conceito seja estendido ao extremo dos seus limites".

Essa objeção de Sandler é pertinente, e, de fato, outros autores lidam com esses fenômenos usando outros conceitos, como já foi visto em relação ao "enactment contratransferencial" e à noção anterior de "role-responsiveness", do próprio Sandler (1976). Além dessas formulações, aspectos dessa área de fenômenos entre o paciente e analista também vêm sendo apreendidas por meio de outras importantes noções psicanalíticas como, por exemplo, as de empatia e de "self-objeto", de Kohut, ou a de "holding", de Winnicott.

Evidentemente, essa multiplicidade de designações e de sistemas conceituais a que elas tendem a se associar pode levar a pensar-se que, mais uma vez, estamos diante de um quadro de pluralidade teórica, indicativo do caráter aleatório e não científico do conhecimento psicanalítico. Olhando de uma outra perspectiva, ao contrário, pode-se ver, ao lado das diferenças, que em torno dessas noções sobre a transferência e a contratransferência vem havendo uma aproximação de um conhecimento integrativo, na direção destacada por Green (2003). Isto se dá na medida em que há muitos aspectos em comum entre os diferentes termos aplicados nessa área de fenômenos e também cada um deles ilumina diferentes facetas do campo a que se dirige, de modo que termina havendo uma certa complementaridade entre eles. Encontra-se isso, por exemplo, no que foi referido há pouco, quanto a Sandler (1988). Apesar da objeção que ele faz numa parte de sua publicação a respeito de uma aplicação demasiado extensa do conceito de identificação projetiva, num outro trecho esse autor reconhece que as contribuições de Bion fazem parte de uma terceira fase do desenvolvimento da concepção de identificação projetiva, na qual, por meio de suas ideias sobre o continente e o contido, há o reconhecimento de que nesse mecanismo se dá uma clara externalização de efeitos de situações mentais sobre o objeto. Tudo isso contribui enormemente para as mudanças que estão sendo vistas no entendimento da transferência e da contratransferência. Sandler faz uma afirmação em que explicita isto, ao dizer:

A identificação projetiva acrescentou uma dimensão ao que entendemos por transferência, na qual a transferência não precisa agora ser encarada simplesmente como uma repetição do passado. Ela também pode ser uma reflexão de fantasias acerca da relação com o analista criada no presente por identificação projetiva e mecanismos associados. (1988, p. 20)

Um outro debate, bastante esclarecedor de muitos dos pontos que estão sendo vistos, ocorreu entre analistas ligados à psicologia do self. Nele, Sands (1997a) volta-se para o modo com que vê as relações do conceito de identificação projetiva com a psicologia do self. Sua principal tese é que tem existido uma incompatibilidade básica entre os dois. A razão disso seria que um dos principais instrumentos do analista do self é o uso da empatia, para procurar estabelecer uma sintonia com o vivenciado pelo paciente. Para Sands, ao contrário disso, a identificação projetiva diz respeito a uma área inversa de fenômenos, ou seja, situações em que o paciente é capaz de provocar no analista experiências emocionais intoleráveis para o próprio paciente. Apesar de reconhecer essas diferenças, Sands acredita que o conceito de empatia pode ser ampliado, para incluir os tipos de experiência subjetiva estimulados pelo paciente. Suas ideias foram amplamente discutidas e criticadas por Bacal (1997) e Crastnopol (1997), outros dois analistas ligados à psicologia do self. Mesmo havendo essas objeções, uma das ideias com que Sands (1997b) respondeu a elas, e que pode ajudar bastante no acompanhamento do que ocorre com os conceitos nessa área, foi a noção clássica de Racker (1960) sobre a identificação "concordante e complementar" do analista com o paciente. Como Sands (1997b) formula, a concordante se dá quando o analista se identifica com o "ego" do paciente, e isto é bastante paralelo ao que se dá na empatia. Quando o analista se identifica com um objeto interno do paciente, que faz parte do não eu, ocorre a identificação complementar, bem próxima da identificação projetiva, no seu sentido mais específico. Assim, o sentido mais usual em que a empatia é considerada está bem distante daquele referente à identificação projetiva. Já foi visto, no entanto, que principalmente com a ampliação de Bion, acrescentando uma função comunicativa à identificação projetiva, esse conceito passa a ter elementos da identificação concordante e também daqueles presentes na empatia. Por outro lado, o que Sands propõe é que não há impedimento a que se pense na empatia, voltada também para a apreensão de estados não tolerados pelo paciente e projetados no analista. Neste sentido, podemos pensar que temos aí mais um exemplo de como nessa área central da psicanálise, constituída pelos fenômenos transferenciais e contratransferenciais, a discussão entre conceitos originados em diferentes correntes do pensamento psicanalítico tem levado a mudanças, ampliações e articulações entre eles, podendo ir na direção de um conhecimento integrativo.

 

A pesquisa espontânea e informal dos analistas

Os dados examinados, até agora, emprestam um valor especial às formulações iniciais de Green (2003), sobre a necessidade de que a pesquisa conceitual em psicanálise tenha como uma de suas principais bases a história dessa disciplina e considere as publicações psicanalíticas como um "organismo humano" que vem se desenvolvendo a partir de Freud. Pensamos que essa afirmação de Green tem a ver com o fato de que o surgimento e as alterações dos conceitos analíticos são sempre criações espontâneas de autores individuais. Ao mesmo tempo, a pesquisa desses conceitos se dá quando eles passam a ser usados e testados por diferentes analistas, de modo que a amplitude dessa aceitação é o que vai dando força a um determinado conceito no interior da psicanálise. O mais comum, em relação a essas aceitações, é que elas se dêem pela adoção de sistemas de ideias de um autor por um ou mais grupos de analistas, de modo que diferentes correntes de pensamento foram se desenvolvendo na psicanálise. Em geral são encontradas dificuldades significativas nas tentativas de discussão entre essas correntes. Quem tem feito estudos esclarecedores a respeito dessas dificuldades é o analista uruguaio Ricardo Bernardi. No seu trabalho sobre a necessidade de verdadeiras controvérsias na psicanálise (Bernardi, 2002), ele também dá sugestões importantes a respeito de medidas que poderiam tornar as controvérsias psicanalíticas mais proveitosas. Apesar do valor das observações de Bernardi e de ser usual o encontro de dificuldades semelhantes às que ele estudou, também em outras tentativas de trocas de ideias entre analistas de diferentes correntes de pensamento, o que veio sendo acompanhado a respeito da transferência e da contratransferência mostra que também pode acontecer uma situação diferente. Isso é bastante significativo, pois revela que, longe das contendas mais diretas nos encontros ao vivo entre analistas, há áreas em que eles vêm sendo capazes de mudar seus pontos de vista e reconhecer a eficácia de ferramentas teóricas desenvolvidas por outras correntes de pensamento. E, de fato, a diferença básica em relação aos conceitos examinados de transferência e contratransferência é que eles têm se desenvolvido e sido aceitos de um modo amplo, não circunscrito a correntes de pensamento específicas.

Talvez não se venha prestando a devida atenção à importância e às im plicações desse fato!

Através dele, temos a indicação relevante de que a troca crítica entre analistas de diferentes enfoques teóricos pode levar a que algumas das ferramentas conceituais usadas por eles se mostrem mais consistentes, especialmente na clínica, a partir daí passando a ter um maior grau de aceitação. No caso estudado da transferência e da contratransferência, foi visto que as aceitações não se dão em torno de conceitos precisos, mas sim de concordâncias e articulações parciais, que, ao mesmo tempo, vão contribuindo para a evolução do conceito. Apesar de isso ser diferente do que ocorre nas chamadas ciências exatas, tal fato não retira o valor do que se passa na psicanálise e pode ser visto, ao contrário, como algo bem peculiar ao que poderia ser chamado de uma cientificidade da psicanálise, a qual decorre e é reflexo da natureza do seu objeto e do modo de investigação que ele requer (no caso, por um número amplo, variado e não organizado de observadores).

O mais importante em todo esse processo é que ele implica uma avaliação comparativa entre conceitos, o que em última análise vai se dando por meio da verificação do grau de eficácia de cada um deles na prática clínica. Existe aqui, portanto, algo que é crucial, ou seja, um critério por meio do qual é possível se chegar a uma escolha entre conceitos que estão sendo comparados entre si. E isso é crucial porque, apesar da complexidade das discussões sobre o que é ou não ciência, e da posição da psicanálise em relação a isto, uma noção simples, mas de grande valor, a que os filósofos da ciência foram chegando é que algo fundamental na construção de um conhecimento com características científicas é que ele possa ser submetido a procedimentos confiáveis de avaliação e correção. A confiabilidade da avaliação, no caso, é dada pelo que aparentemente seria sua fragilidade, isto é, a já referida forma não deliberada, variada e assistemática como as observações vêm sendo feitas. Paradoxalmente, o caráter não deliberado dessas pesquisas e sua amplitude não organizada dão um valor especial aos dados que ela vai fornecendo, especialmente porque desse modo as escolhas tendem a não ser determinadas por fatores como os de autoridade e carisma, frequentemente operantes nos grupos mais estruturados. Logo adiante veremos a importância epistemológica desse fato. Também ao se falar de correção, especialmente no caso da psicanálise, isso não significa dizer se um determinado conceito é certo ou errado, mas ter indicações sobre aqueles que vão se mostrando mais operativos na prática clínica.

Para que os aspectos que estão sendo vistos, da construção do conhecimento psicanalítico, possam ser devidamente valorizados, é preciso levar em conta a noção de que temos não uma unidade, mas sim um pluralismo das ciências. Nessa direção, não foi por acaso que a primeira Conferência realizada em 2002 pelo recém-criado Sub-Comitê de Pesquisa Conceitual da IPA tenha tido o título de "Pluralismo das Ciências: O Método Psicanalítico entre a Pesquisa Clínica, Conceitual e Empírica". Na apresentação que fez nesse encontro, o filósofo alemão Michael Hampe discute como em grande medida hoje não se pensa que exista uma unidade da ciência, baseada nos paradigmas da física, de acordo com os quais tal ciência formularia suas teorias numa linguagem matemática, dedutivamente e testada por experimentos. Ao contrário disso, Hampe diz:

há outros critérios de razoabilidade, como a explicabilidade das regras para o conhecimento e ação, a intersubjetividade de crenças e experiência sem apelo para autoridade e carisma e, por último, mas não o último, métodos de continuação de projetos de pesquisa que são independentes de pessoas particulares. (2003, p. 47)

Ao falar da "explicabilidade das regras para o conhecimento e ação", Hampe parece estar se referindo a que, embora o conhecimento psicanalítico não tenha os mesmos paradigmas da física, existe uma outra lógica própria dos funcionamentos inconscientes, e, com base nisso, podemos pensar que a sessão analítica seja um campo especial em que esses funcionamentos aparecem e podem ser investigados. Apesar da importância e da amplitude desse ponto, não vamos nos deter nele, mas nos voltar para a outra parte da afirmação de Hampe, que tem um interesse especial para o que vinha sendo visto em relação à psicanálise. Nesse outro ponto ele fala da importância "da intersubjetividade de crenças e experiência sem apelo para autoridade ou carisma". Isto quer dizer, de um modo mais geral, que, numa ciência que lida com o humano, o fato de que se possam desenvolver pontos de vista comuns entre diferentes observadores, se isto não é determinado por autoridade ou carisma, é uma ocorrência que tem todas as importantes implicações que vimos no caso da psicanálise, na medida em que é um modo possível e bem significativo de indicação do grau de consistência de um conhecimento.

Um outro autor que tem uma abordagem dessas questões com bastante paralelismo com o ponto de vista de Hampe é Michael Rustin (1991), que é sociólogo, mas também desenvolve atividades ligadas aos meios analíticos na Clínica Tavistock, em Londres. No capítulo do seu livro (Rustin, 1991), em que discute críticas cientificistas à psicanálise, como as de Gellner (1985) e Grunbaum (1984), Rustin mostra como esses críticos desconhecem as condições concretas em que se dá a construção do conhecimento psicanalítico, trazendo o exemplo de suas observações na Clínica Tavistock e na Sociedade Britânica de Psicanálise. Nessas instituições Rustin verificou que os analistas, desde sua formação, estão frequentemente submetendo seus trabalhos clínicos à apreciação de seus pares em atividades grupais. No fundo, Rustin também está falando na importância da "intersubjetividade de crenças e experiências" na construção do conhecimento psicanalítico, e, evidentemente, esse tipo de troca adquire um valor epistemológico bem mais elevado quando é realizado numa dimensão bem mais ampla, entre diferentes setores da comunidade psicanalítica.

Embora essa troca ampla e variada seja o ponto mais significativo do processo que vínhamos examinando, é preciso considerar que tais trocas nem sempre dão lugar a resultados consequentes Além de poder ser influenciada por "carisma ou autoridade", como bem indicou Hampe (2003), ela também pode não se dar de um modo aproveitável, desde que é um processo espontâneo e não organizado. Dessa forma, somente quando a "intersubjetividade de crenças e experiências" se desenvolve num campo amplo e heterogêneo de observadores é que esse tipo de pesquisa pode passar a dar indicações consistentes sobre a validade das noções assim investigadas. Associado a isso, conforme vimos no caso da transferência, tais indicações também só aparecem quando há um grau elevado de aceitação de determinadas noções.

Só deixando essas restrições bem claras será possível apreciar de um modo mais realístico a natureza desse tipo de pesquisa, com sua força e limitações. Começando pelas limitações, uma delas é que só identificamos um processo com essas características, de uma maneira mais definida, em torno da concepção de transferência, e um questionamento que pode ser levantado é se esse é um acontecimento único, ou se ele poderia existir também em relação a outras noções. Uma outra limitação, ligada a essa, diz respeito a como aferir o grau e a amplitude de aceitação de um determinado conceito. Mesmo no caso da transferência e contratransferência, não foi feito um levantamento sistemático, mas sim uma verificação de manifestações nessa direção de um número significativo de autores. Uma última limitação, também vista através do que vem se passando com a transferência, é que essa pesquisa não chegou a conceitos precisos, mas sim a uma aproximação de noções integrativas.

Se agora nos voltarmos para as forças desse processo, poderemos inicialmente constatar um paradoxo: as limitações apontadas anteriormente também fazem parte das qualidades da pesquisa nos moldes que estão sendo vistos. Isto se dá porque, evidentemente não sendo a psicanálise um processo matemático-dedutivo, nem uma ciência exata, mas sim um saber em que têm uma importância saliente os pontos de vista que vão sendo desenvolvidos por um grande número de observadores independentes, não é de esperar que concordâncias espontâneas a que eles vão chegando se deem através da uniformidade de pontos de vista e, muito menos, da exatidão. Ao contrário, o estudo que está sendo feito nos leva a compreender que os parâmetros da física, ou de outras ciências da natureza, não são os mesmos da psicanálise e, assim, também nos ajuda a encontrar aqueles que são próprios e possíveis para nosso campo.

Se for definido que um dos mais importantes desses parâmetros será o destaque daquelas noções que tenham sido sujeitas a um processo espontâneo, amplo e heterogêneo de investigação e aceitação nos meios psicanalíticos, isto vai nos ajudar a poder distinguir uma série de questões significativas. Uma delas é que não temos de mimetizar outras ciências, nessa área de nossas investigações, mas sim valorizar e procurar usar, de um modo mais criativo e produtivo, o instrumento de que dispomos, no caso, a pesquisa realizada pelo "organismo vivo" das produções psicanalíticas, nos termos de Green (2003). Mesmo que esse instrumento só tenha podido revelar um resultado mais definido no caso da transferência e da contratransferência, isso não quer dizer que ele não possa se dar também em relação a outras noções, ou mesmo que já esteja se dando e que, em algum momento, outros conceitos possam ir se desenvolvendo e ganhando aceitação mais ampla.

Ainda uma questão que precisaria um trabalho específico para tratá-la seria a da relação entre uma pesquisa com a natureza da que estamos examinando e outros tipos de investigações estruturadas e sistematizadas, como, por exemplo, as estudadas no informativo livro sobre pesquisa conceitual de Anna U. Dreher (2000), no qual ela apresenta especialmente os estudos realizados no âmbito do "Hampstead Index Project" e do "Trauma Project". De uma maneira muito breve, diria que não vemos incompatibilidade em que resultados de pesquisas amplas e informais entre setores significativos da comunidade psicanalítica fossem depois submetidos a procedimentos mais estruturados e sistematizados de investigação, como os referidos por Dreher; ao mesmo tempo, também é importante constatar que há diferenças importantes no que podemos obter com cada um deles.

Voltando-nos agora para a questão de como usar, de um modo mais criativo e produtivo, a pesquisa que está sendo estudada, uma primeira constatação a que poderemos chegar é a da importância do reconhecimento da existência desse processo. Como foi visto no caso da transferência e da contratransferência, o acompanhamento da evolução do que foi se dando nessa área também levou a distinguir algumas das articulações mais significativas ocorridas na psicanálise contemporânea. Desse modo, apresenta-se aí o valor que o reconhecimento desses elementos possa ter no processo de formação dos analistas. Pensaríamos aqui não só em informações mais claras sobre as mudanças e acréscimos que os conceitos foram tendo, como também no valor da adoção de uma atitude de pesquisa flexível no uso das ferramentas conceituais.

Um outro uso criativo que pode ser imaginado, em relação ao instrumento de pesquisa em foco, será não considerar o seu achado a respeito da transferência como algo definitivo e fechado. Ao contrário, não é difícil perceber que uma melhor visualização do que foi ocorrendo com essas noções abre uma série de pontos a serem desenvolvidos. Falando de um modo mais geral, podemos pensar que nos tópicos estudados existe uma aproximação e articulação entre alguns dos conceitos e que essa seria uma área privilegiada para continuar a investigar: quais seriam algumas das principais diferenças que permanecem? Pensemos, por exemplo, no caso de noções que têm muitos elementos em comum, como as da identificação projetiva e a do enactment contratransferencial; são termos equivalentes, vindos de sistemas teóricos distintos, ou há diferenças básicas entre eles? Caso haja tais diferenças, uma melhor discriminação entre elas ajudaria na continuação de sua investigação e comparação na prática clínica.

Uma outra questão, com paralelismos com esta, foi vista em relação às noções de empatia e identificação projetiva, conforme o debate iniciado por Sands no âmbito da psicologia do self. Aquele debate se deu em 1997: como evoluiu? parou naquele ponto, ou teve desdobramentos? se parou, qual o motivo? há questões que poderiam continuar a ser investigadas, novamente fazendo uma comparação na prática clínica? Esses são apenas uns poucos exemplos de como a identificação da "pesquisa ampla e espontânea" que foi estudada neste trabalho pode dar lugar à continuação mais estruturada de novas investigações. Ao mesmo tempo, as concordâncias existentes, embora amplas, são também limitadas, continuando a haver outros pontos de vista diferentes sobre essa mesma área de fenômenos, de modo que tais divergências ganham um relevo especial como possíveis focos de estudo.

Concluindo, somos levados a pensar que a identificação e um melhor reconhecimento dessa "pesquisa ampla e espontânea" poderão servir como um estímulo especial não só para um aprofundamento do estudo dos conceitos que vão ganhando maior destaque, mas também para que os analistas, de uma maneira geral, possam encontrar formas de valorizar e contribuir para esse modo singular de desenvolvimento do conhecimento e da eficácia psicanalítica.

 

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Recebido em: 22/2/2018
Aceito em: 16/5/2018

 

 

1 Uma versão com modificações deste trabalho, com o título A central clinical-conceptual research into the construction of contemporary psychoanalytic knowledge foi apresentada em Workshop on Conceptual Research, Frankfurt (2006) e publicada em Leuzinger-Bohleber, Canestri, J., Target, M. (Eds.) Fruhe Entwicklung und ihre Störungen. Frankfurt: Brandes & Aspel.

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