SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.51 issue94The meaning and relevance of an informal research developed among different currents of psychoanalytical thoughtVicissitudes of the observation and of dreams in analytical practice author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Jornal de Psicanálise

Print version ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.51 no.94 São Paulo Jan./June 2018

 

PESQUISA PSICANALÍTICA

 

Reflexões sobre a diversidade do campo da psicanálise1

 

Reflexions on the psychoanalysis diversity

 

Refexión sobre la diversidade psicoanalítica

 

Réflexions sur la diversité psychanalytique

 

 

Cinthia Maria Arcuri Jank

Membro filiado do Instituto de Psicanálise "Durval Marcondes" da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, SBPSP. São Paulo. cjank@ibest.com.br

 

 


RESUMO

O objetivo deste artigo é refletir sobre a diversidade que caracteriza a psicanálise contemporânea. A pesquisa se dá em três planos: 1) a apresentação de autores que já contribuíram para a questão; 2) a definição de um critério específico para se pensar a diversidade, a estruturação psíquica; e 3) a apresentação de uma abordagem que tenta aproximar a multiplicação do pós-freudismo.

Palavras-chave: psicanálise contemporânea, diversidade, pós-freudismo, estruturação psíquica


ABSTRACT

The purpose of this article is to discuss the contemporary psychoanalysis' diversity, with the exponential trend that characterizes post-Freudism. The research goes along three levels: 1) search for authors that might have brought reflections over the issue; 2) definition of a specific criterion to systematize the field, the psychical structuring; 3) presentation of an approach that tries to contain the post-Freudism multiplication.

Keywords: contemporary psychoanalysis, diversity, post-Freudism, psychical structuring


RESUMEN

El propósito de este artículo y reflexionar sobre la diversidade del campo psicoanalítico. La investigación secada en três planos: 1) La presentación de autores que contribuyreon a la cuestion; 2) definición de un critério específico:la estructuración psíquica; 3) la aptitud de ua vision que intenta integrar la multiplicación del posfreudismo.

Palabras clave: psicoanalisis contemporanea, diversidade, posfreudismo y estructuración psíquica


RÉSUMÉ

Le propôs de cette article est la reflexion sur la diversité du champ psychanalytique. La rechereche se présente dans trois plans: 1) la présentation des auteurs contributeurs à la question; 2) la definition de un critère spécifique: la struturation psychique; 3) la présentation d une vision: essayer intégrer la multiplication de le posfreudism.

Mots-clés: psychanalyse contemporaine, diversité, posfreudism et structuration psychique


 

 

Introdução

A psicanálise é uma atividade muito particular, habitando um lugar que não é o da atividade filosófica, nem o das ciências naturais, e tampouco se resume a uma técnica, ou um método terapêutico. Apesar de ser difícil definir os limites da psicanálise, podemos simplesmente constatar que se pratica psicanálise há cem anos; sua vitalidade reside justamente na permanência, repetição e reelaboração de teoria e prática.

A obra de Freud nos mostra como o método desenvolvido e as teorias metapsicológicas se entrelaçaram desde o início: prática clínica associada a uma postura de pensamento. Na base deste complexo temos o interesse clínico de cada autor: Freud iniciou com a histeria, Lacan com a paranoia, Klein com a neurose infantil. Essa postura de pensamento reflete uma concepção particular da natureza humana de modo que o recorte, as reflexões e o questionamento de tal prática diferem entre os autores. Muito já se escreveu sobre a vida dos grandes autores da psicanálise, estabelecendo paralelos entre a biografia e a produção teórica. Estará a psicanálise fadada à dispersão produzida pela multiplicação da experiência clínica? Como compreender a diversidade do campo psicanalítico?

O movimento exponencial característico do pós-freudismo, com a multiplicação de conceitos e escolas, tem crescido numa velocidade maior do que os esforços para seu entendimento.2 É tarefa dos psicanalistas, mais do que de historiadores ou filósofos, dar conta do movimento existente entre a particularidade da clínica e a generalização metapsicológica, pois a relação analítica é a grande fonte que origina, contextualiza e problematiza qualquer hipótese teórica em psicanálise. Sabemos que a mola propulsora das renovações teóricas de Freud tinha a clínica como origem. Sabemos também que os pós-freudianos repetiram seu movimento, ou seja, renovaram a teoria com base em novas experiências clínicas. Pensamos que o aprofundamento da questão da diversidade da psicanálise não deve ser feito com base na comparação de um conceito muito específico entre teorias, pois assim reforçamos a diversidade, ao mesmo tempo em que perdemos a vitalidade do conjunto no qual está inserido.

Por que é importante pensarmos nessa difícil apreensão do que é da ordem do particular, o encontro clínico, e do universal, o esforço metapsicológico em psicanálise?

Diante dessa questão, podemos nos posicionar de diferentes maneiras. Certamente a mais abrangente, e talvez "confortável" e um tanto pragmática, é a posição antimetapsicologista, que relaciona a diversidade à fragmentação metapsicológica atual e garante a unidade da psicanálise somente com base em referenciais clínicos.

 

A abordagem antimetapsicologista

Foi Robert S. Wallerstein (1988) quem apresentou a ideia de que a prática clínica (evolução dos pacientes e o manejo da transferência) formaria um polo comum de comparação e entendimento entre as diversas teorias psicanalíticas. A diversidade pertenceria a outro plano, o da metapsicologia, definido como secundário por apenas reunir diferenças de estilo e linguagem. Mais tarde, Wallerstein (1990) defendeu a existência de uma clínica psicanalítica única, baseada em uma teoria clínica comum de defesa e ansiedade. Será que é possível igualar as teorias de ansiedade, angústia ou defesa, ou então a própria definição do que é a natureza do conflito psíquico em Freud, Klein, Lacan ou Winnicott?

Talvez possamos concordar parcialmente com Wallerstein, não porque o "manejo da transferência" seja comum, pois sabemos que não há possibilidade de seu desprendimento em relação à teoria subjacente sobre o psiquismo, mas porque está subentendida aí a referência ao aspecto dinâmico da relação transferencial. É o lugar de instalação dos conflitos, modos de relação, repetições, em que a escuta e a relação analítica se estabelecem. As diferentes concepções sobre a natureza conflitiva ou dissociativa do psiquismo têm na relação transferencial a particularidade que define a prática analítica como algo diferente de outras formas de investigação da subjetividade. E aí temos o common ground, tema abordado no congresso internacional da IPA; ambiente mais propício para uma postura mais abrangente, pois procura unificar a psicanálise com base em alguns princípios clínicos.

No entanto, a pergunta retorna. Em 2001, a Revista Francesa de Psicanálise (periódico de grande destaque na Europa) publicou um número especial sobre a psicanálise contemporânea, convidando analistas de todo o mundo a refletir sobre a questão da diversidade. Wallerstein amplia sua contribuição e apresenta posturas alternativas à postura antimetapsicologista. Ao acolher novamente a discussão metapsicológica no interior da questão, ao invés de expulsá-la, ele faz uma apresentação de outras abordagens que sistematizam o campo psicanalítico. Temos, por exemplo, a abordagem multimodal, em que existe

a crença de que se deve abordar sempre os fenômenos clínicos percebidos em nossos consultórios a partir de uma seleção de quatro psicologias diferentes – das pulsões, do ego, do self e do objeto –, trabalhando sempre o clínico psicanalítico dentro do quadro de referência que mais utilmente esclareça o que é que o estado do paciente exige toda vez que ocorrer uma mudança na interação terapêutica. (Wallerstein, 2002, p. 104)

A partir desse ponto, percebemos que a diversidade das linhas e as inúmeras contribuições metapsicológicas podem nos oferecer vários critérios para comparação das teorias. A abordagem multimodal nos mostra quatro eixos de aproximação. Uma outra abordagem identificada por Wallerstein seria do tipo dicotomista, em que existiriam dois campos, abrangendo as perspectivas teóricas: o modelo estruturalpulsional – "o ego busca o prazer e tenta satisfazer a pressão pulsional de modo compatível com as exigências do superego e da realidade" –, e o modelo da relação de objeto, que vê "o ego como o órgão em busca de um objeto, estabelecendo o ser em relação" (Wallerstein, 2002, p. 105).

Essa diferença de definição e compreensão da natureza e função do objeto, assim como sua influência na constituição psíquica, parece ser uma das grandes pistas para se entender melhor as diferenças metapsicológicas, assim como para considerar a riqueza da contribuição pós-freudiana, com os pensamentos de grandes autores, como Bion, Lacan, Klein e Winnicott.

Para concluir, ressaltamos mais uma vez que a sistematização feita por Wallerstein não se preocupa com a problematização envolvida na escolha ou apresentação dos critérios. Sua análise passa por uma livre seleção de autores, muito influenciada pelo ambiente da psicanálise norte-americana, fato que nos faz também não optar pela necessidade de apresentá-las com maior detalhe, pois gira em torno da ego-psychology e deixa de fora a interlocução com contribuições importantes provenientes do ambiente psicanalítico tanto da Europa como da América Latina. Mais importante para nós seria evidenciar que toda proposta de mapeamento, sistematização ou entendimento do campo psicanalítico é fruto de uma escolha, e que a simples exclusão da discussão metapsicológica reflete uma atitude pouco comprometida com a história da psicanálise.

Entendemos que qualquer esforço de análise do campo psicanalítico contemporâneo deve, ao incluir a discussão metapsicológica, evitar a produção de "tratados teóricos" anestesiados, que se distanciam da clínica.

Mais adiante defenderemos a existência de um eixo comum à produção analítica, com base no qual situaremos algumas questões.

 

A abordagem sistemática: Paul Bercherie

A pesquisa nos remete à necessidade de destacar uma abordagem que busca sistematizar o campo psicanalítico a partir da obra de Freud. O reconhecimento do "pai" fundador faz-se necessário não só por um resgate histórico, mas pela necessidade de incorporar a questão da multiplicidade ao caráter diverso do texto freudiano, que muito fez brotar. Sua proposta se aproxima de um mapeamento teórico que estabelece as conexões das grandes escolas com blocos teóricos do percurso de Freud. Podemos adiantar que sua contribuição ilumina o campo com base em uma perspectiva centrada na "filiação", mas se afasta da reflexão clínica sobre a diversidade por priorizar a relação com Freud em detrimento da valorização da "nova contribuição", que muitas vezes requer distanciamento. Sabemos que muitos conceitos inovadores só adquirem valor se tomados em um campo de referência que também deve passar por um processo de construção. Não devemos, contudo, idealizar uma suposta completude desses respectivos campos, pois as teorias de psicanálise não devem ser entendidas como sistemas fechados e absolutos, mas como detentoras de princípios fundamentais que estabelecem uma lógica de pensamento sobre o psiquismo.

Descontente com a onipotência da postura lacaniana na releitura de Freud, Bercherie (1988) voltou-se primeiramente ao estudo da história e epistemologia da psicanálise, a fim de tentar compreender os enunciados de Freud no contexto de sua origem. A intenção do autor era a busca da "identidade original" do texto freudiano, necessária para que ele pudesse situar melhor a releitura lacaniana, que ele considera fecunda. Cabe aqui um comentário, pois a "identidade original" de um texto é uma ideia que o estudo da hermenêutica põe em questão. A possibilidade de se retornar a um texto desvinculando-se de um viés pode ser uma tarefa impossível, pois este sobrevive ao tempo justamente porque está sendo relido, reinterpretado e usado.

Na sua leitura de Freud, Bercherie nos aponta a existência de quatro modelos metapsicológicos, que estão associados a quatro momentos de preocupações patológicas: a histeria e a questão narcísico-psicótica (referentes à primeira tópica), e a melancolia e a obsessão (referentes à segunda tópica). A escolha pelo viés da psicopatologia nos oferece uma perspectiva muito interessante para a leitura da obra freudiana, pois põe seu movimento em função da clínica e da preocupação com os pacientes como a grande mola propulsora de seu pensamento. Podemos dizer que Freud foi o único analista que realmente experimentou a anterioridade do tratamento em relação à metapsicologia. Bercherie vai mais adiante ao associar as principais correntes pós-freudianas3 a cada modelo, não só pela clínica em que se baseiam, mas pelo conjunto teórico subjacente. A preferência dos autores por um ou outro modelo se explica por um complexo que escolhe conceitos em Freud e rejeita outros. Para Bercherie, Lacan remonta a inúmeras características do modelo histérico, que se aproxima do psiquismo descrito na "Interpretação dos sonhos", "os marginais" (Ferenczi, Balint, Winnicott), às questões "narcísicas" de pacientes de funcionamento regredido, Klein, ao "ser" constituído pela pulsão de morte, característico do modelo melancólico que inaugura a segunda tópica, e finalmente a egopsychology britânico-americana, que se apoia no "reforço do ego" presente em textos da segunda tópica. A associação dessas quatro escolas aos quatro modelos de interesse psicopatológico pode ser muito interessante se pensarmos em uma sistematização generalista, mas apresenta problemas quando Bercherie as diferencia definindo quem estaria em ruptura ou continuidade ao pensamento freudiano.4

 

A escolha de um critério: o eixo da estruturação psíquica e o destino do Édipo na psicanálise

A intenção do presente artigo é, mais do que sistematizar, refletir sobre a possibilidade de o psicanalista conviver com a multiplicidade da psicanálise contemporânea. Como podemos acolher a riqueza produzida por outros autores? Mais do que uma demanda de informação, trata-se de uma questão de atitude, de abertura para seu questionamento clínico. As reflexões feitas até aqui tiveram como objetivo evitar dois excessos: o da posição antimetapsicologista e o de seu negativo, a posição sistematizante de Bercherie, que analisa o campo com base em uma ótica que acentua as relações das metapsicologias com o pluralismo do texto freudiano. Para a clínica, nenhum dos dois casos nos oferece a possibilidade de utilizar as diferenças da diversidade de forma enriquecedora, ponto fundamental que deve ser perseguido para que esse exercício seja válido para os analistas.5 Temos aqui um ponto de partida: o analista se define como tal com base em uma formação, que tem como fundamento sua própria análise. Sua trajetória inclui também os atendimentos, as supervisões, a teoria e por fim um relacionamento que se estabelece com um grupo, que fornece outros parâmetros a sua prática clínica. Sua "teoria da escuta" é resultado desse percurso e contém princípios que apontam para diferentes processos de subjetivação. O analista não pensa na metapsicologia quando atende seus pacientes, mas isto não pode ser dito dessa "teoria da escuta", que por sua vez não se descola completamente nem de referenciais teóricos, nem de sua análise pessoal. Pelo contrário, sua inclusão é sutil e está de certa forma deslocada por alguns parâmetros básicos: a compreensão da problemática psíquica, a atenção à transferência, suposições relativas ao estatuto do desejo, da angústia e das defesas, e, por fim, o próprio manejo transferencial.

Entre esses parâmetros, defendemos a hipótese de que a compreensão da problemática psíquica existe com base no eixo da estruturação subjetiva. A angústia, por exemplo, é de aniquilação, de castração... o que mais a psicanálise pensou para atrelar o psiquismo aos processos "constitutivos"?

Entendemos que o eixo da estruturação psíquica (em que historicamente a referência central é o complexo de Édipo em Freud) produziu uma série de movimentos – adesões, reformulações e inquietações – entre os pós-freudianos. Destes movimentos derivaram questões e mutações metapsicológicas importantes, como a reflexão do estatuto da neurose nos dias atuais, as reinterpretações do Édipo pelos pós-freudianos, as reformulações do papel do objeto, assim como novas aberturas para concepções da psicopatologia.

Se historicamente Freud afirmou, em textos da segunda tópica, que o complexo de Édipo/castração é o complexo nuclear das neuroses (Freud, 1926[1925]/1980), como a histeria e a neurose obsessiva, temos então uma terapêutica organizada com base nos referenciais edípicos, que se prestam a uma reatualização de conflitos com figuras parentais. Ao definir a transferência, Freud reúne essas ideias:

Todos os sintomas do paciente abandonam seu significado original e assumem um novo sentido que se refere à transferência; ou apenas tais sintomas persistem, por serem capazes de sofrer essa transformação. Mas dominar essa neurose nova, artificial, equivale a eliminar a doença inicialmente trazida ao tratamento – equivale a realizar nossa tarefa terapêutica. (Freud, 1933[1932]/1980, p. 517)

Qual seria o "complexo nuclear" dos pós-freudianos? A resposta começa pelo próprio questionamento dessa suposta nuclearidade, que sugere um psiquismo determinado essencialmente com base em uma lógica específica: a do recalque. Sabemos que Freud, já na década de 1920, respondia às produções divergentes de seus primeiros discípulos.

O inconsciente freudiano é estruturado pelo desejo e pelo recalque; por sua vez, Melanie Klein insiste na dor psíquica do recém-nascido, na clivagem e na capacidade precoce de sublimação mais ou menos entravada (Kristeva, 2002, p. 19).

A reformulação do impacto do mito edípico, assim como a fragmentação e multiplicidade do que entendemos por objeto em psicanálise (que se deslocou das figuras parentais já em Freud), interferiu muito no que se pensou sobre a dimensão do sofrimento psíquico e nas definições das grandes problemáticas pós-freudianas. O resultado foi uma ampla variedade das respectivas definições da transferência no campo psicanalítico, como bem aponta Roudinesco (Roudinesco & Plon, 1998):

Todas as correntes do pós-freudismo consideram a transferência essencial para o processo psicanalítico. Entretanto, conforme as escolas, as divergências são múltiplas quanto a seu lugar no tratamento, seu manejo pelo analista e o momento e os meios de sua dissociação. (Roudinesco & Plon, 1998, p. 767)

A fim de dar consistência à questão da diversidade, façamos então um rápido percurso pelas definições pós-freudianas de transferência encontrados pela autora:

Em Melanie Klein, a transferência é concebida como uma reencenação (reenact ment), durante a sessão, de todas as fantasias inconscientes ... Para os kleinianos, todo ato (gesto ou palavra) que se produz no tratamento deve ser interpretado como a própria essência de uma manifestação contratransferencial, sem ser relacionado, em primeiro lugar, com uma realidade externa ... Winnicott desenvolveu a concepção da transferência como repetição do vínculo materno ... Lacan inscreveu a transferência numa relação entre o eu do paciente e a posição do Outro. Sua problemática ainda não estava em ruptura total com as leituras psicologizantes do texto freudiano. O Outro continuava a ser concebido como sujeito, e, se o analista podia criar obstáculos ao estabelecimento ou à consumação da transferência, era em virtude da ostentação laudatória de seu eu ... Lacan introduziu em seu seminário do ano de 1961-1962 ... a transferência aparece ali como a materialização de uma operação que se relaciona com o engano e que consiste em o analisando instalar o analista no lugar do "sujeito suposto saber", isto é, em lhe atribuir um saber absoluto. (Roudinesco & Plon, 1998, p. 769)

Temos então uma referência ao método psicanalítico, que muito se transformou com o pós-freudismo, mas que tem na repetição um elemento comum, que por sua vez está ligada ao "eixo" da estruturação psíquica em cada caso: falhas ambientais, para Winnicott, fantasias com base em um modo estabelecido de relações objetais, para Klein; e a relação com o simbólico, para Lacan.

O que nos interessa não é o "histórico", mas o que faz marca, produz sintomas, fixa estruturas ou modos de funcionamento mental. Freud insistiu no trabalho analítico sobre a rigidez do superego, o herdeiro direto do Édipo. Klein nos forneceu uma teoria privilegiada na percepção do funcionamento mental online, fixado pelas relações objetais e pela configuração de um mundo interno. Lacan prefere o sujeito do inconsciente ao eu, referências que se apresentam por marcas subjetivas que tenham a castração (e não a frustração) como um organizador central que diferencia as formas de gozo.6 Todo autor de peso em psicanálise deve nos oferecer uma proposta de estruturação subjetiva, seja pelo modelo do recalque, da clivagem, da dissociação... nuclear? Talvez não. O que nos interessa é a captação de um (ou mais de um) eixo, e aqui insistimos na ideia de um processo, uma estruturação mental com base em uma travessia: da urgência dos afetos em direção ao simbolismo, ao processo secundário, ao pensamento. A clínica contemporânea nos obriga a rever as patologias e pensá-las de forma diferente da de Freud. Jurandir Freire Costa nos pergunta: Por que insistir tanto em eternizar quadros clínicos herdados, fundamentalmente, da psiquiatria do século XIX? O que nos leva a crer que "histeria, obsessões e fobias" ou mesmo "neuroses, psicoses e perversões" sejam entidades psicológicas imutáveis? (Kehl, 2000, p. 10)

A psicanálise atual deve ter abertura para a inclusão de sua história e repensar possibilidades, como a relativização dos contextos de Freud e de seus sucessores. Com base na ótica da estruturação psíquica como "operador" central que, entre seus inúmeros efeitos, supõe o significado da transferência, nosso trabalho direciona-se para a divisão do campo psicanalítico em dois grupos: com base na aproximação ou afastamento da consideração do Édipo/castração como organizador estrutural do psiquismo.

 

A "psicanálise do pai" e a mothering psychoanalysis: os dois objetos

A primeira consideração a fazer é que existe uma polaridade no mundo pós-freudiano, que gira em torno da apreensão da natureza e função dos objetos, que de certa forma ordena as diferenças que relacionamos à temática da transferência e da estruturação subjetiva. Na verdade, entendemos que a questão do objeto é o referencial metapsicológico que sustenta os principais questionamentos pós-freudianos, e que tem sua origem em contradições na obra de Freud, mas principalmente nas diferentes respostas à questão edípica, sempre no eixo da estruturação psíquica.

A divisão proposta como "psicanálise do pai" e mothering psychoanalysis7 é apenas uma nova maneira de nomear dois grupos que já foram caracterizados por inúmeros autores. Alguns psicanalistas brasileiros preocupados com a questão, como Figueiredo (2003), utilizam a divisão proposta por Greenberg e Mitchell (1983), que diferencia o modelo "estrutural-pulsional", o freudiano, e o "modelo das relações de objeto" na psicanálise.

Sabemos que razões históricas e institucionais sempre estão presentes para uma caracterização do campo psicanalítico, mas gostaríamos de acentuar que o que esta divisão reflete é justamente a escolha por privilegiar uma polaridade fundamental, que tem origem na suposta nuclearidade do complexo de Édipo em Freud, pois a escola das relações objetais funda-se como uma resposta ampliada a tal nuclearidade.

Kristeva busca em Klein um momento considerado importante, um registro histórico, para a cristalização de diferenças, que geraram a possibilidades de o analista situar-se como um ser pensante, independente e principalmente atrelado a sua escuta clínica.

Tendo lembrado que, para Freud, em "Inibições, sintomas e ansiedade" (1926[1925]/1980), "no inconsciente nada há que tivesse podido alimentar nossa concepção do aniquilamento da vida", Melanie Klein declara sem rodeios: "Eu não partilho dessa opinião, porque minhas observações analíticas me mostraram que há no inconsciente um medo do aniquilamento da vida" (Kristeva, 2002, p. 102).

Quais as vantagens dessa escolha? Talvez porque essa polaridade exprima uma diferença fundamental na psicanálise: o inconsciente centrado nos efeitos do recalque edípico ou a consideração de que o sofrimento humano e a experiência do inconsciente nos remetam a um complexo organizado com base em "outras angústias" além da angústia de castração. Admitir isto nos leva à consideração da existência de múltiplas temporalidades para o psiquismo, ou seja, ampliar as relações entre experiência, constituição e patologia.

A pulsão freudiana tem uma fonte e um objetivo, mas não um objeto; as pulsões do recém-nascido kleiniano são desde logo dirigidas para o objeto (o seio, a mãe): o outro está sempre já-aí, e os dramas deste liame precoce que se estabelece entre o objeto e um ego com seu superego igualmente precoces, de um Édipo precocíssimo, se desenrolam com o horror e a sublimidade de um Jeronimus Bosch (Kristeva, 2002, p. 19).

Pensar o ser humano como movido primordialmente pela lógica da pulsão independentemente da influência do objeto talvez tenha sido a proposta freudiana mais retomada e questionada por seus sucessores. Não se trata exatamente de separar a pulsão de um lado e o objeto do outro, mas de verificar a forma como eles se combinam no processo constitutivo. Klein parcializa o objeto, mas, mais do que isto, introduz o conceito de internalização e o inclui na dinâmica da constituição psíquica, afastando-se da primeira tópica freudiana. Substitui a subordinação do objeto pela (pequena) capacidade de "neutralização" dos efeitos da pulsão. Seus seguidores, como Winnicott, por exemplo, acentuam essa passagem de mero coadjuvante a papel principal. Lacan, por sua vez, desmembrou os vários objetos (real, simbólico e imaginário), criando uma hierarquia em relação à questão da alteridade, promovendo alguns e "condenando" outros, de forma que considera no final de sua obra que o que importa é a primazia da pulsão (mais propriamente do gozo) e sua relação com o objeto "a". Na perspectiva estruturalista, as marcas psíquicas das relações não se confundem com a noção de objeto, mas com o "eterno" exercício de escamoteamento da falta, e, entre elas, a castração como falta fundamental.

Por mais delicado que seja esse terreno, parece ser importante distinguirmos onde se localizam diferenças significativas que possam estar relacionadas à questão da problemática psíquica. De um lado, a "materialização" da questão do objeto (escola das relações objetais: o objeto primário, anaclítico, objeto interno, objeto transicional) em que este é concebido como representante, participante ou "produto" da experiência emocional, do vínculo do bebê com o mundo, e participa da estruturação psíquica de forma que se "neutralize" (ou não) o intolerável; o que está em jogo nessa materialidade é a dimensão da suspensão de "algum sofrimento" e seu potencial fundante. Vale lembrar que em Klein, sem dúvida grande pioneira, entre outros, do grupo das relações objetais, essa materialidade se confunde com a concepção de que o psiquismo existe com base na angústia, e toda noção de objeto está a ela associada... a um "conglomerado de representações, de sensações e de substâncias" (Kristeva, 2002, p. 78).

A intensidade dess a angústia, que está ligada tanto a Tânatos como a Eros no sistema kleiniano, nos remete a um universo violento, que não tolera a "falta" de início (esta é resultado de um longo processo aquisitivo) e faz com que o apeago aos objetos (objeto-alvo, ou "abjeto", segundo Kristeva) seja ponto de partida para a integração do ego ainda arcaico.

Na perspectiva estrutural-pulsional, temos a dessubstancialização do objeto (objeto da pulsão, o objeto vazio, objeto "a"), cuja função de "presença perdida" não faz mais do que servir de suporte para o trabalho da pulsão. Aqui temos a perspectiva centralizada no desejo, que nos remete tanto à "alucinação da satisfação" em Freud, como aponta para a eterna busca do objeto "a" em Lacan.

Leclaire (1977) nos ajuda a entender a lógica do pensamento "estrutural-pulsional":

Na perspectiva estruturalista, que privilegia apenas o "objeto da pulsão", tal cruzamento parece não existir, ... em primeiro lugar, falar sobre o fato de o poder da letra não se estender até o elemento que definimos como objeto e que aparece no lugar da falta. (p. 83)

Aqui as marcas das relações pré-edípicas pertencem à ordem da letra, das representações, de forma que sua possibilidade constitutiva é desconsiderada. A repetição parece obedecer mais a um automatismo pulsional do que à consideração da angústia ou mesmo ser respostas traumáticas do objeto.

Qual o significado clínico de tais diferenças? André Green (2002) é muito preciso ao afirmar que o que levou Freud a pensar a questão pulsional da compulsão à repetição foi a clínica da melancolia, e não da perversão. Postula a existência de um objeto primário concebido como total, único e insubstituível, que funciona como condição para o desenvolvimento psíquico saudável. Sua "perda" "custa" ao ego um sacrifício, e este se altera pela via da identificação primária.

A presença do objeto primário possibilita a ausência, o intervalo, e a negatividade psíquica, enfim, as possibilidades de mediação espacial e temporal, características do processo secundário.

O que Freud diz sobre a pulsão de morte no final de "Além do princípio do prazer", ou seja, que trabalha em silêncio, pode igualmente ser dito sobre o objeto – eu digo, o objeto real.

Apesar de o objeto fantasmático ser capaz de, por si só, clamar pela vida e ação de Eros, ele só pode fazer isto se o objeto anaclítico cumpriu o seu papel (Green, 2002, p. 105, trad. livre).

Para Leclaire (1977), a falta de que trata a psicanálise preconizada por Lacan não se confunde com qualquer sedimentação psíquica oriunda das primeiras relações objetais. Metáforas que simbolizem esta concretude são tudo o que Lacan procurou evitar:

O trabalho da psicanálise será sempre o de detectar as modalidades de redução da dimensão da falta, e parece-me que se pensarmos na importância desta função veremos que, se não sempre, pelo menos ainda durante muito tempo, haverá necessidade de psicanalistas. (p. 82)

 

Voltando a Freud: do Édipo à incidência do pai

O que significa associar a questão edípica ao "pai" em Freud? Este é relacionado à onipotência do falo, à interdição do incesto, à imposição da lei ou às identificações superegoicas? A partir do cenário mítico e dos textos antropológicos, procuramos o conflito de ordem pulsional e fantasmático, que enfrenta o terror da angústia de castração.Essa perspectiva pode ser encontrada em Freud se nos concentrarmos nos textos escritos entre 1924 e 1926. A lógica fálica domina o cenário em que se desenrola o conflito edípico, e define um particular cruzamento entre a vida dos afetos, das relações dos objetos e a vida pulsional.

Thomas Ogden (2002) publicou interessante artigo no International Journal of Psychoanalysis cujo principal objetivo foi evidenciar em Freud as origens da "escola das relações objetais" com base em "Luto e melancolia" (1917). Sua originalidade se deve à hipótese sobre o momento confuso em que Freud se encontrava, pois publicava esse texto pouco tempo depois de seu esforço de sintetização de sua metapsicologia, em 1915.

Ogden termina por evidenciar um objeto que se interioriza com base em uma experiência emocional; também aqui a montagem de um sistema que não anula a questão da falta ou a importância da ausência na estruturação psíquica, mas entende que as marcas e as representações entram na economia psíquica de maneira particular. Assim como Green postula a primazia do objeto primário na sua presença silenciosa, Ogden nos apresenta os fundamentos da escola das relações objetais também com base em um psiquismo que se funda na "ideia de que o inconsciente se organiza, em grande parte, ao redor de relações de objetos estáveis entre partes emparelhadas e partes clivadas do ego" (Ogden, 2002, p. 767).

Em "Inibições, sintomas e ansiedades" (1926[1925]/1980), Freud está envolvido em uma série de contradições. Ao reformular a teoria da angústia, ele faz um enorme esforço para priorizar a angústia de castração, a Kastrationangst, como principal, quando comparada a angústias anteriores, como o nascimento ou o desmame, resultado também de sua interlocução com produções de Otto Rank ou Ferenczi.8 Ao mesmo tempo, a sustentação desta hipótese se complica, pois Freud diferencia o Édipo masculino do feminino justamente por insistir na sua associação com a castração, e nas consequências psíquicas das diferenças anatômicas entre os sexos. O aspecto do medo e do pavor (condizente com o termo em alemão Angst) só adquire pleno significado no caso do menino, e não se ajusta a qualquer tentativa de inversão no caso da menina. Para o menino, a questão se situa na perda do amor edipiano comparado à Kastrationangst. A preservação de sua integridade narcísica, representada pela lógica fálica, custa a renúncia ao objeto materno. No caso da menina, o mesmo objeto primordial, a mãe, é imediatamente associado à percepção da incompletude fálica. Diante de um importante abalo narcísico representado pela ameaça de castração, percebemos que o menino preserva sua integridade se desligando rapidamente das questões relacionais diante da desintegração do corpo. A menina se fixa no estigma da incompletude e da inveja fálica, e Freud termina por afirmar que sua "angústia de base" é representada pela ameaça de perda do amor. Em vez de um desligamento do objeto materno, há uma intensificação que se complica e só encontrará saída no "repouso edipiano", que é o amor a ser desenvolvido pelo pai. A inveja do pênis será a grande herança feminina, que dará rumos para a sua sexualidade, comparável à severidade do ideal de eu relativo ao superego, mostrando que para Freud a lógica fálica determina o psiquismo.

Deixando de lado a "novela familiar", sabemos que a "psicanálise do pai" supõe o inconsciente centralizado nos efeitos e recorrências dessa lógica fálica. O salto para o pensamento de Lacan é muito grande e não poderá ser exposto aqui. Apenas reforçamos que, justamente na tentativa de se desfazer do Édipo mítico, da novela familiar, Lacan estruturaliza o Édipo, faz do falo um conceito, e não mais um adjetivo de uma fase, e redimensiona a questão da castração como a falta fundamental, a falta que realmente importa para o psiquismo. A relação dual, nos moldes do que se entende genericamente por pré-edípico (na escola inglesa), é condição do que ele chamou registro imaginário. Neste registro, se entrecruzam outros dois, a dimensão do real e do simbólico, este último diretamente ligado à questão da incidência do Pai, da função que determina a questão das estruturas: neurose, psicose ou perversão.

A mothering psychoanalysis está ligada à consideração das angústias iniciais, cujos processos estruturantes se referem justamente a uma experiência que se internaliza precocemente:

É aí que Freud trata em maior profundidade da cisão do eu (Ichspaltung) como uma defesa primitiva radical contra os riscos impostos à integridade narcísica do indivíduo. O resultado desse modo de lidar com as experiências traumáticas poderá ser uma crescente separação entre "correntes de desenvolvimento psíquico" que se tornam cada vez mais afastadas uma da outra, instalando uma duplicidade no aparelho mental e em suas formas de lidar com a realidade externa. A essa defesa Freud denominou Verleugnung, o que tem sido traduzido como disavowal, déni, renegación, desmentido e recusa. Prefiro falar em "desautorização". (Figueiredo, 2003, p. 19)

Estamos nos referindo a um processo contínuo (daí o gerúndio) de experiências polarizadas, cuja característica principal é uma inversão constante entre estados angustiados e aliviados (ou uma simultaneidade?), estados estruturados e desestruturados, confiança e insegurança. A mediação e o amparo da mothering favorece a constituição psíquica, a um tipo de "objeto estruturante"9 que só pode ser internalizado com base em boas experiências. Logicamente as relações objetais não se resumem a esse bom objeto, pois o processo de internalização também incluiria o objeto invasivo e persecutório. Temos então a ideia de que o inconsciente se organiza com base nestas primeiras experiências, fixando um mundo interno/espaço transicional que media as relações com o mundo externo, e que antecede futuros conflitos, identificações sedimentando o vir a ser a constituição subjetiva. Não é uma prerrogativa que elimina a neurose, mas fornece um "campo" em que ela possa vir a se situar. A partir do exemplo da escola kleiniana, vejamos como a constituição psíquica determina uma particular concepção da transferência:

Para Klein, a transferência é fruto da externalização de relações objetais internalizadas sob pressão exercida pela ansiedade, e, como já vimos, sua origem remonta aos mesmos processos que, no passado, iniciaram as relações objetais, ou seja, cisão e identificação projetiva. Para os kleinianos, a questão essencial envolvida na transferência não é a relação passado/presente, mas aquela existente entre mundo interno/mundo externo (Barros, 1989, p. 19).

A partir de Green, podemos pensar que existiriam dois momentos cruciais de "constituição" psíquica que estariam subjacentes aos vários (novos) modelos (neurose, borderline, psicossomático): a problemática de estruturação, em que os processos iniciais de identificação e relação de objeto se confundem, e a problemática do pai,10 em que identificação e desejo se diferenciam a partir da oposição:

Eu acredito muito nessa distinção feita por Freud: de um lado, a relação com a presença, que implica o contato, de corpo a corpo, o corpo materno, o protótipo para todas as futuras relações de amor; e, de outro lado, a relação com o pai como uma identificação que sempre envolve a distância ao objeto, o objeto da fascinação, como ele é, como ele aparece, sem contato direto. E eu penso que estes são dois momentos de constituição psíquica, que sempre devem ser considerados ao mesmo tempo (Green, citado em Kohon, 1999, p. 56, trad. livre).

Pensar a problemática da estruturação inicial e a questão edípica como dois planos, como momentos de estruturação psíquica que podem refletir diferentes aspectos do mesmo paciente, é uma saída possível para a rigidez do campo psicanalítico, que não deve desconsiderar a riqueza da diversidade pós-freudiana. A duplicidade pode ser estendida à função do objeto, que caminha da concretude ao seu estatuto fálico, que, por sua vez, depende da primeira "incorporação", e principalmente do desenvolvimento da capacidade de "objetalizar".

Valorizar o desenvolvimento pós-freudiano que investiga as relações objetais e os detalhes do movimento psíquico não significa o abandono da neurose e da questão do desejo, mas reconsiderar que estes não podem ser dissociados das marcas dos primeiros anos de vida. Cabe ao analista, com base em uma tradição e um estilo que se evidencia principalmente em sua escuta e manejo da transferência, lidar com a diversidade de maneira produtiva, de modo que sua prática seja sempre permeável aos movimentos: movimentos do paciente, de sua própria experiência, da dupla analítica, e também da cultura.

 

Referências

Barros, E. M. R. (org.) (1989). Melanie Klein – evoluções. São Paulo: Escuta.         [ Links ]

Bercherie, P. (1988). Géographie du champ psychanalytique. Paris: Navarin.         [ Links ]

Costa, J. F. (2000). Plaidoyer pelos irmãos. In: M. R. Kehl (Org.). Função fraterna. Rio de Janeiro: Relume Dumará         [ Links ].

Figueiredo, L. C. (2003). Psicanálise: elementos para a clínica contemporânea. São Paulo: Escuta.         [ Links ]

Freud, S. (1980). Inibições, sintomas e ansiedades. In S. Freud, Ediçao standard brasileiras das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (Vol. 20). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1926[1925]         [ Links ])

Freud, S. (1980). Transferência – Conferência xxvii – Conferências introdutórias sobre psicanálise. In S. Freud, Ediçao standard brasileiras das obras psicológicas completas de Sigmund Freud (Vol. 16). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1933[1932]         [ Links ])

Freud, S. (1980). Luto e melancolia. In S. Freud, Obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1917)        [ Links ]

Green, A. (1999). The greening of psychoanalysis. In G. Kohon, The dead mother – the work of André Green. London: Routledge.         [ Links ]

Green, A. (2002). Time in psychoanalysis – some contradictory aspects. London: Free Ass. Books.         [ Links ]

Greenberg, J. R. & Mitchell, S. A. (1983). Object relations in psychoanalitic theory. Cambridge: Harvard University Press.         [ Links ]

Jank, C. M. A. (2001). Reflexões sobre a diversidade do campo psicanalítico. Dissertação de Mestrado. Instituto de Psicologia. São Paulo: Universidade de São Paulo.         [ Links ]

Kehl, M. R. (Org.) (2000). Função fraterna. Rio de Janeiro: Relume Dumará         [ Links ].

Kohon , G. (1999). The Dead Mother – The work of Andre Green. London: Routledge.         [ Links ]

Kristeva, J. (2002). O gênio feminino a vida, a loucura, as palavras. São Paulo: Rocco.         [ Links ]

Leclaire, S. (1977). Desmascarar o real. Lisboa: Assírio & Alvim.         [ Links ]

Ogden, T. (2002). A new reading of the origins of object relations theory. International Journal of Psychoanalysis, 83,767.         [ Links ]

Roudinesco, E. & Plon, M. (1998). Dicionário de psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.         [ Links ]

Wallerstein, R. S. (1988). One psychoanalysis or many? Int. J. Psychoanal., 69,5-21.         [ Links ]

Wallerstein, R. S. (1990). Psychoanalysis: the common ground. Int. J. Psychoanal., 71,3-20.         [ Links ]

Wallerstein, R. S. (2002). A trajetória da psicanálise: onde estamos hoje? In A. Green (Org.), Psicanálise contemporânea (pp. 101-114). Rio de Janeiro: Imago.         [ Links ]

 

 

Recebido em: 16/3/2018
Aceito em: 12/5/2018

 

 

1 Artigo baseado na dissertação de mestrado em Psicologia Experimental "Reflexões sobre a diversidade do campo psicanalítico", Instituto de Psicologia da USP, realizada com auxílio do cnpq, 2001.
2 Esse ambiente marcado pela pluralidade é ainda reforçado pela cultura, pois o Brasil não apenas carrega essa marca como símbolo identificatório, como também recebeu todas (ou quase todas) as influências do pós-freudismo.
3 O desenvolvimento kleiniano, o lacanismo francês, "os marginais" (Ferenczi, Balint, Winnicott) e a egopsychology britânico-americana.
4 A apresentação dos modelos e a discussão mais ampla desta abordagem podem ser encontradas em Reflexões sobre a diversidade do campo psicanalítico (Jank, 2001).
5 Ora pela via da exclusão da importância dos conceitos e de sua relação com a prática clínica, ora pela posição de Bercherie, que garante a filiação das principais metapsicologias em relação a Freud, mas não caminha para qualquer hipótese de comparação horizontal.
6 A referência aqui é o intenso debate que Lacan trava com a escola inglesa, período de sua produção que excluem o chamado "último Lacan".
7 Sugerida em Reflexões sobre a diversidade do campo psicanalítico (Jank, 2001).
8 Como já dissemos, a ambiguidade do texto de 1926 parece oscilar entre uma posição de defesa da ansiedade de castração como "a única força motora dos processos defensivos que conduzem à neurose" e uma postura mais flexível, que inclui o desamparo do bebê como problemática básica do ser humano. É admirável que ele deixasse brechas em seu texto, mesmo dentro de um contexto histórico em que estivesse defendendo a angústia de castração e a neurose como o pilar em que a psicanálise se sedimentava.
9 Tanto Winnicott como Klein incluem a construção de um "objeto estruturante", que de alguma forma se aproxima das noções de "objeto internalizado" e "espaço intermediário". Sabemos que Winnicott pensou a realidade compartilhada do "espaço intermediário" justamente como uma diferenciação da polaridade mundo interno/mundo externo kleiniano, e de objetos excessivamente dominados pelos processos projetivos. Existe, porém, um ponto que unifica os dois autores que é a identificação primária com o objeto através do contato, da assimilação, da incorporação, mesmo considerando as diferenças de participação de uma realidade pulsional (em Klein) ou de uma realidade externa e independente (em Winnicott).
10 Apesar de Green reservar o termo "estruturação" apenas para designar o pré-edípico anterior ao real sentido da inclusão do "terceiro", estamos denominando como "estruturação psíquica" toda a possibilidade de processo constitutivo da subjetividade.

Creative Commons License