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Jornal de Psicanálise

versión impresa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.51 no.95 São Paulo jul./dic. 2018

 

EDITORIAL

 

Editorial

 

 

Celso Antonio Vieira de Camargo

Editor Associado. celsovieira@uol.com.br

 

 

Escolhemos como tema para este número a formação psicanalítica e a clínica atual. Assim que a psicanálise despontou como área de investigação autônoma, com os trabalhos iniciais de Freud, o interesse por esse modo de abordagem tem ao mesmo tempo se expandido e enfrentado uma oposição intensa.

Aqui na nossa Sociedade, temos procurado manter o padrão de formação com uma análise pessoal de no mínimo quatro sessões semanais, durante um intervalo de tempo longo, associado à necessidade das chamadas supervisões oficiais e dos cursos teóricos. Com toda as críticas que podem ser feitas a esse modelo, ele tem cumprido suas funções básicas: propiciar ao interessado em formação psicanalítica a oportunidade de contato com as dificuldades do tornar-se psicanalista.

Penso que a formação analítica somente termina com nossa morte. Enquanto estamos vivos, é possível continuar aprendendo e desenvolvendo nossa capacidade de contato com a realidade psíquica, sabendo de todas as limitações a que estamos sujeitos. Aliás, Bion, em supervisão recentemente discutida aqui em São Paulo, dirigindo-se à analista iniciante que apresenta o caso, muito aflita com seu pouco conhecimento sobre psicanálise, diz: "se você, algum dia, pensar que sabe muito sobre análise, você pode estar razoavelmente certa [de]que está deteriorando" (Bion, 2018).

Nenhuma formação em Psicanálise pode garantir a quem a frequentou que atingiu o patamar mínimo necessário para exercer a profissão. No entanto, qualquer modelo que seja proposto deveria dar ao interessado condições para que este desenvolvesse sua intuição, mostrasse seu interesse na vida psíquica, na vida em geral, na cultura, e seu empenho em continuar se desenvolvendo e desenvolvendo sua capacidade de lidar com frustrações muitas vezes severas, aliada a uma tenacidade em prosseguir nesse caminho árduo em que nos constituímos analistas.

Creio que esse seja um dos motivos da insistência de nossa Sociedade em manter a frequência mínima de quatro sessões por semana, durante um longo período de tempo. Não garante que os profissionais assim formados tenham a competência desejada para lidar com a vida emocional, seja a própria, seja a de outras pessoas, mas exige condições mínimas de persistência e de interesse para que o trabalho evolua.

Muito diferente é o panorama que encontramos na nossa clínica do dia a dia. Aqui, as pessoas não estão geralmente preocupadas com o próprio desenvolvimento, mas em resolver seus problemas. Baseiam-se na ideia tentadora de que, em algum momento, deixamos de enfrentar dificuldades na vida.

Nesse contexto, podemos oferecer o trabalho analítico como uma oportunidade para aquele que nos procura verificar se as ferramentas de que dispomos, e que lhe oferecemos, poderão ser úteis para sua vida.

É possível que, com o desenrolar do contato, percebam que a cada etapa da vida surgem dificuldades novas, e que somente criando recursos adequados podemos lidar com os empecilhos no nosso caminho e, assim, adquirimos certa capacidade de aprender com eles e de ter uma apreciação estética do prazer e da oportunidade rara de estarmos vivos.

Todos somos confrontados com a questão de como vamos nos desenvolver emocionalmente ou, então, de arcarmos com as consequências do não desenvolvimento. Isso independe de sintomas, queixas, incapacidades etc. Estes variam de acordo com as épocas, mas o desafio de poder ter um contato criativo consigo e de encontrar caminhos para o crescimento mental sempre exige muito trabalho e muito esforço.

Para finalizar, como este é o último número de que participo como editor associado, gostaria de agradecer a toda a valorosa equipe que acompanhou esses dois anos de trabalho, e de maneira muito especial à Vera Fonseca, nossa atual diretora do Instituto, bem como à Ana Clara (que continuará à frente deste trabalho), o convite e o estímulo constante que recebi para desempenhar essas funções. Destaco, nestes agradecimentos, Lidia Freitas que assumirá a função de editora associada, tarefa para a qual sua competência é inegável. Foi um prazer e um privilégio contar com a ajuda de todos(as) vocês para levarmos a bom termo o nosso querido Jornal.

A tarefa teria sido impossível para mim sem a ajuda dedicada e constante de todos esses queridos amigos e amigas.

 

Referência

Bion, W. (2018). Supervisão n.º S21. In J. A. J. Mattos, G. M. Brito e H. B. Levine (Orgs.), Bion no Brasil: supervisões e comentários. São Paulo: Blucher.         [ Links ]

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