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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.51 no.95 São Paulo jul./dez. 2018

 

TEMAS LIVRES

 

A literatura na construção da linguagem do analista1

 

The literature in the construction of analyst language

 

La literatura en la construcción del lenguaje del analista

 

La littérature dans la construction du langage de l'analyste

 

 

Maria Luiza Salomão

Membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). São Paulo. sm-salomao@uol.com.br

 

 


RESUMO

Ao refletir sobre a construção da linguagem analítica, tomo o conceito de Ferro (2008), que vê nos relatos do paciente uma narrativa: enfatiza a escuta do como o paciente narra, e não o conteúdo propriamente dito (sintomas). Reflito sobre como Freud, em seus historiais clínicos, concede-se liberdade para criar uma narrativa sobre seus pacientes, criando conceitos iluminadores da prática psicanalítica. Dou como exemplo o conceito de cena primária, presente em seu trabalho com o paciente russo Sergei Pankejeff (Freud, 1918/2010), o Homem dos Lobos, que rejeita ter tido a experiência descrita por Freud, dizendo ser uma invenção do pai da psicanálise. Freud, ao comunicar suas descobertas, constrói, audaz, uma linguagem e um léxico, que permite ao leitor um desdobramento fértil de ideias e de percepções. Ao transmitir sua experiência analítica, não cuida de seguir literalmente o relato do paciente, mas cria uma narrativa que permite ir além do vivido na dupla, construindo conceitos com base em sua potência investigativa e imaginativa. Considero, neste texto, a leitura de textos psicanalíticos como experiências emocionais, semelhantes às leituras que faço de poesias e de prosas literárias. Reflito brevemente sobre as vicissitudes que os analistas enfrentam na transmissão de suas experiências clínicas nos encontros entre pares; assim como na interferência da personalidade do analista na experiência e no relato da experiência da dupla analítica.

Palavras-chave: narrativa psicanalítica, construção da linguagem psicanalítica, leituras psicanalíticas


ABSTRACT

In reflecting on the construction of analytical language, I take up Ferro's concept (2008), in which he considers that, the patient's account is a narrative: he emphasizes listening to how the patient re-counts his/her narrative and not the content itself (symptoms). I reflect on how Freud, in his clinical histories, gives himself the freedom to create a narrative about his patients, creating illuminating concepts of psychoanalytic practice. I give as an example the concept of primary scene, present in his work with the Russian patient Sergei Pankejeff (Freud, 1918/2010), the Wolf Man (der Wolfsmann), who rejects having had that experience, claiming to be an invention of the father of psychoanalysis. Freud, in communicating his discoveries, constructs, boldly, a language and a lexicon, which allows the reader a fertile unfolding of ideas and perceptions. In conveying his analytical experience, he does not literally follow patient's account, but creates a narrative that allow him to go beyond what was experienced by the analytic pair, constructing concepts based on his investigative and imaginative power. I consider, in this text, the reading of psychoanalytic texts as emotional experiences, similar to my readings of poetry and literary prose. I briefly reflect on the vicissitudes that analysts face in transmitting their clinical experiences in peer meetings; as well as in the interference of the analyst's personality in the experience and the account of the experience of the analytic pair.

Keywords: psychoanalytic narrative, construction of psychoanalytic language, psychoanalytic readings


RESUMEN

Al reflexionar sobre la construcción del lenguaje analítico, me baso en el concepto de Ferro (2008) que nota en los relatos del paciente una narrativa: enfatiza la escucha de como el paciente narra y no el contenido propiamente dicho (síntomas). Reflexiono sobre el modo como Freud, en sus historias clínicas, se concede la libertad para crear una narrativa sobre sus pacientes, creando conceptos iluminadores de la práctica psicoanalítica. Doy como ejemplo el concepto de escena primaria, presente en su trabajo con el paciente ruso Sergei Pankejeff (Freud, 1918/2010) el Hombre de los Lobos, que rechaza haber tenido la experiencia descripta por Freud, diciendo ser una invención del padre del psicoanálisis. Freud, al comunicar sus descubrimientos, construye, audaz, un lenguaje y un léxico, que permite al lector un desdoblamiento fértil de ideas y de percepciones. Al transmitir su experiencia analítica, no cuida de seguir literalmente el relato del paciente, pero crea una narrativa que permite ir más allá de lo vivido en la relación terapéutica, construyendo conceptos con base en su potencia investigadora e imaginativa. Considero, en este texto, la lectura de textos psicoanalíticos como experiencias emocionales, semejantes a las lecturas que hago de poesías y de prosas literarias. Reflexiono brevemente sobre las vicisitudes que los analistas enfrentan en la transmisión de sus experiencias clínicas en los encuentros entre pares; así como la interferencia de la personalidad del analista en la experiencia y en el relato de la experiencia de la relación terapéutica.

Palabras clave: narrativa psicoanalítica, construcción del lenguaje psicoanalítico, lecturas psicoanalíticas


RÉSUMÉ

En réfléchissant à la construction du langage analytique, je prends le concept de Ferro (2008), qui voit dans les rapports du patient une narration: il met l'accent sur l'écoute du récit du patient et pas sur le contenu lui-même (symptômes). Je réfléchis à la manière dont Freud, dans ses histoires cliniques, se donne la liberté de créer une narration de ses patients, en produisant des concepts éclairants de la pratique psychanalytique. Je donne comme exemple la notion de scène primaire, présente dans son travail avec le patient russe Sergei Pankejeff (Freud, 1918/2010), L'Homme des Loups, qui rejette avoir eu l'expérience décrite par Freud, prétendant être une invention du père de la psychanalyse. Freud, en communiquant ses découvertes, construit audacieusement un langage et un lexique permettant au lecteur un déploiement fertile d'idées et de perceptions. En transmettant son expérience analytique, il ne prend pas soin de suivre littéralement le récit du patient, mais conçoit un récit qui lui permet d'aller au-delà de la vie en couple, et construit des concepts basés sur son pouvoir d'investigation et d'imagination. Je considère, dans ce document, la lecture de textes psychanalytiques comme des expériences émotionnelles, similaires aux lectures que je fais de la poésie et de la prose littéraire. Je réfléchis brièvement aux vicissitudes des analystes lors de la transmission de leurs expériences cliniques au moment des réunions avec des pairs. ainsi que dans l'ingérence de la personnalité de l'analyste dans l'expérience et le récit de l'expérience du duo analytique.

Mots-clés: récit psychanalytique, construction du langage psychanalytique, lectures psychanalytiques


 

 

Leio a literatura psicanalítica como leio poesia e escrita literária. A literatura sempre presente na minha vida. Nasci em uma cidade pequena, sem muito que fazer: ler tornou-se uma necessidade de ampliar meu universo vital.

Escolhi comentar a literatura psicanalítica por entender que a construção de uma linguagem no campo específico da psicanálise - é a grande questão para pensar no "silêncio das entranhas" de pacientes, que muitas carecem de palavras.

Acompanho Antonino Ferro, o psicanalista italiano, na maneira pela qual ele usa a narração a do paciente e a do analista como uma conarrativa transformadora, em lugar de usar da chamada interpretação psicanalítica. Uma cooperação dialógica, diz Ferro, que gera significados novos e abertos, e que "não põe à prova as partes ou os funcionamentos do paciente, ainda não capazes de plena receptividade e dependência" (De Chiara, 1985, 1992, citado por Ferro, 2000, p. 18).

A comunicação de inconsciente para inconsciente é um fato psíquico de difícil apreensão, evidência quase sempre de difícil comprovação. No entanto, ela existe. Há vários caminhos usados pelos analistas, como se fossem lentes, extraídos de suas experiências pessoais e significativas para essa captura.

 

Ler o paciente

Ler um paciente, ler uma alma é tarefa muito complexa, porque envolve a criação de uma linguagem comum. Bion o diria, em uníssono. Sinto necessidade de ouvir os analistas contarem histórias sobre seus pacientes, e vejo no esforço de transmissão do que ocorre na sala de análise, nas entrelinhas do que relatam, as histórias de como se tornaram, na situação específica relatada, analistas. Difícil e complexo manter-se sentado na "poltrona de psicanalista".

Ler histórias clínicas nos ajuda a aprender a contar nossas próprias histórias com nossos pacientes, embora fundamental mesmo para o psicanalista seja deitar-se no divã e sofrer as dores e as delícias de ser paciente, em uma análise pessoal profunda.

Como na poesia e na prosa literária, nas histórias clínicas o analista usa suas lentes, usa-se - corpo e alma para ler seu paciente, amplia seus horizontes psíquicos. Como na poesia e na prosa literária, vivemos outras vidas, por meio da leitura das experiências (escritas) dos colegas, nas salas de análise. Tomados pelas vozes de diferentes analistas, vivemos muitas análises e conhecemos aspectos ignotos da vida psíquica de outros pacientes e de nós mesmos.

Ler a literatura psicanalítica é uma experiência emocional importante de aprendizado de como ler os pacientes. Wilfred Bion convidava seus leitores a ter uma experiência emocional com seus escritos.

 

Antonino Ferro

No Capítulo 3 do seu livro Técnica e criatividade (2008), Ferro põe a psicossomática em um prisma: "Psicossomática ou metáfora: problemas do limite". O autor ouve o relato do paciente psicossomático, sintomas ou doenças físicas, como uma comunicação como qualquer outro relato de sonhos, de situações vividas.

Para Ferro, interessa a narrativa dos pacientes, não somente dos psicossomáticos: como narram os seus sintomas. Como a dupla é capaz (ou não) de criar uma narrativa.

Ler um analista tentando encontrar um meio de entrar em contato com a realidade inefável, psíquica, usando de recursos teóricos e clínicos, é fascinante: torna possível a cada leitor encontrar a sua forma de tornar-se analista, seja por identificação, seja por contraste, com as experiências clínicas de outro psicanalista.

Abre possibilidades de descobrir novas formas de ser analista. Como somos mãe (ou pai) diferente para dois filhos. Cada paciente cria seu analista, e vice-versa. A dupla cria uma história, com enredo, personagens, começo-meio-fim. Peripécias acontecem na vivência compartilhada da dupla paciente-analista.

Histórias cativam crianças, adolescentes e adultos. Ferro desenvolveu uma técnica de aproximação afetiva, uma espécie de "esquenta" - como os adolescentes dizem quando se preparam para uma balada - usando narrativas.

Lembrei-me de que a forma do relato dos meus sonhos se modificou nas três análises que fiz, com três analistas com diferentes personalidades. No contato íntimo com eles, algo me fez variar a forma de relato.

Fiz uma análise junguiana de poucos meses e nunca mais tive longuíssimos sonhos como aqueles, com cavernas e seres mitológicos. Com outro analista, meus sonhos eram telegráficos, porque escutei (a atmosfera presente nos corredores do Instituto é prenhe de comentários sobre os analistas, supervisores, professores) que ele teria se sentido saturado por um relato de sonhos de uma paciente, longos demais. Algo me fez "encurtar" meus relatos: o campo que se estabelece entre analisando e analista é uma rede de transferências e contratransferências, todos sabemos.

Talvez devêssemos conversar mais francamente sobre os efeitos das personalidades dos nossos analistas na forma de nossos relatos. Talvez a transmissão das experiências analíticas mostre diferenças significativas, não tanto em razão das escolas às quais pertencem os analistas, suas lentes teóricas, mas da personalidade e da maneira peculiar pela qual os analistas didatas se relacionam com aqueles em formação, dentro da sala de análise.

Ferro, seguindo Bion, como vários outros analistas, trabalha em busca da chamada "linguagem de êxito", que permita vivacidade no contato íntimo da dupla analítica.

Diz Bion, no livro Atenção e interpretação: "Falar sobre análise não é fazer análise... o vértice psicanalítico é O. Com este o psicanalista não se identifica: é tornado O (grifo de Bion)" (1991a, p. 37).

Bion destaca a dificuldade de entrar em contato com o "real" (psíquico) por meio dos sentidos, deixando em aberto a descoberta daquilo que - pelas palavras - é dificilmente capturável. O fato psíquico demanda aproximações: Bion usa de incógnitas para deixar em aberto a realidade incognoscível, chamando-a de O.

Clarice Lispector diz: "Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras... Só de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo" (Lispector, 1969, p. 178).

Ela chamava de "antimétodo" seu modo de aproximar-se das coisas, da vida. Podemos chamar de atenção flutuante, expressão criada por Freud; ou, mais minuciosamente, de um estado de prontidão, intuitivo, que Bion detalha no caminhar entre a realidade sensível e a realidade psíquica: sem memória, sem desejo, sem compreensão.

Boiamos na sessão, muitas e muitas vezes, até que algo brilha na escuridão.

As formas pelas quais o analista em sessão procura entender seu paciente têm a ver com sua história, seus interesses, sua cultura - não me refiro à erudição, mas ao pertencimento à sua cultura local.

O processo psicanalítico na relação paciente-analista nos coloca, permanentemente, no limite entre a ignorância e o conhecimento.

Estou há poucos meses com uma paciente - Bela. Chega encaminhada por um psiquiatra. É obesa e se mostra expressiva, comunicativa, tem um lindo sorriso. Relata uma história triste de perda da mãe, aos nove anos, por ingestão de remédios para emagrecer. Depois, o convívio difícil com o pai alcoólatra, violento, que regulava o que ela deveria comer (e também os dois irmãos), tendo de trabalhar cedo.

Casou-se com um homem que se revelou muito violento, para escapar da atmosfera familiar, adolescente ainda, e teve de lutar para conseguir a guarda dos filhos. Chama a mulher com quem o pai se casou pela segunda vez de "mãe".

Bela detalha uma situação de muita solidão. Está no seu segundo casamento, e o marido trabalha muito: é bom, mas ausente. Ele trabalha muito, ela come muito. Excessos. Sistematicamente ataca a medicação psiquiátrica e diz que lhe faz mal.

Relata problemas razoavelmente sérios com o fígado, mas não segue o tratamento. Fica, me diz, dois dias inteiros sem comer. Falta frequentemente às sessões, mas avisa previamente. Um dia o marido veio com ela, uma Bela transfigurada, encolhida, olhar assustado. Com a ausência da medicação, entrou em uma depressão grave, sem comer nem dormir, sem querer sair do quarto. Ela já tentou o suicídio uma vez. Escutei o marido, nada repliquei. Ele foi embora e ficamos as duas.

Trancada em um silêncio de muita desconfiança (quase vi a criança Bela), ela o rompe brevemente e me diz que quer ir para a casa da mãe. Encarando a ambiguidade do nome mãe (referente à mãe que faleceu e à mãe adotiva), disse a ela que ela estava flertando com a morte, e um jeito de seguir a mãe, para a casa da Morte, era parar a medicação.

Ela faz uma associação do remédio com veneno e da comida - e de tudo o que não pode comer - com alegria, prazer. Engordar/emagrecer é uma questão de vida/morte, na relação com o marido e no acúmulo de ódio que Bela tem do pai e, talvez, da mãe, de quem não parece ter feito o luto, quase 40 anos depois.

Vi o brilho nos seus olhos e, com a minha fala, um susto! Desde o início me chamava a atenção o nome "mãe" dado à mãe adotiva. Há um negativismo em Bela. É só dizer não pode, que ela quer fazer, e faz, mesmo contra ela mesma. As suas faltas às sessões são como "pausas", um tempo de digestão, que eu respeito. Entendo que não posso empanturrá-la com interpretações.

Cada analista tem uma espécie de "grade" interna, consciente ou inconsciente, para aprender a ler o seu paciente. Minha prática clínica me ensina que a grade obedece a uma especificidade da relação da dupla e é útil após a vivência das sessões.

Bion descreveu sua grade, de uso particular, sugerindo que ela o ajudava no exercício da intuição, assim como no registro do trabalho nas sessões analíticas, para ampliar a agudeza das observações e poder ligar os fatos da análise com as interpretações feitas pelo analista.

No livro Domesticando pensamentos selvagens (2016), sua filha Francesca Bion, editora, publica um texto "A grade", escrito por Bion em 1963, em que ele mostra como vislumbrou o cruzamento entre dois eixos, vertical e horizontal, em uma construção cartesiana, dizendo que a grade era "uma frágil tentativa de produzir um instrumento" (2016, p. 14) que pudesse ter a função de reflexão após a sessão vivida com o paciente. A grade, portanto, não é uma teoria, não deve ser usada na sessão analítica, não é para ser usada contra o paciente.

No livro Cabala e psicanálise (Eigen, 2017), o autor faz considerações interessantes sobre a grade de Bion, no Apêndice 5, mostrando que ela trata do crescimento do pensamento, da experiência, do sentimento. Chega a acrescentar a dimensão, não explicitada por Bion, do crescimento da sensação. O que interessa na grade, segundo Eigen (2017), é o funcionamento do pensamento, do sentimento, da sensação.

Usando de incógnitas beta, alfa, O - Bion pode mostrar funções positivas ou negativas no uso de conceitos que vão do pensamento mais concreto ao pensamento mais abstrato (eixo vertical - de A a H) e o crescimento da experiência em direção à ação (eixo horizontal - de 1 a 6...n). O "O", segundo Eigen (2017), permeia, atravessa o todo da grade.

Quando Eigen encontra Bion em Nova Iorque, em 1978, observa que Bion enfatiza a sessão vivida, a experiência emocional do analista, por meio dos enunciados contidos na fileira C da grade, referente aos sonhos, pensamentos oníricos e mitos. Não há ênfase de Bion na grade, diz Eigen (2017).

As fileiras do eixo vertical, de B a H - Bion dispõe elementos alfa (B), pensamentos oníricos, sonhos, mitos (C), preconcepção, concepção, conceito (D, E, F); sistema dedutivo científico (G) e cálculo algébrico (H) como categorias de enunciados insaturados - no léxico de Bion, são enunciados que podem acumular significados. Somente os elementos Beta (fileira A) são propositalmente desconhecidos e equacionados a sensações.

Há, em Ferro, uma constante referência aos sonhos, mitos, pensamentos oníricos na experiência analítica, em uma afinidade eletiva com o trabalho de Bion, usando enunciados da fileira C.

Eigen (2017) faz uma boa reflexão, no livro citado, sobre os elementos beta e sobre os usos que podem ser feitos não só dos elementos beta, mas também de todos os enunciados presentes no eixo vertical. Vê a grade como uma reflexão sobre como funciona um pensamento, um sentimento, uma sensação. Diz ele: "conceitos podem funcionar como demônios, ou um nada irreal, ou entrar numa luta, uma tentativa de genuína para pensar... as janelas da tabela podem se fundir ou se separar de inúmeras formas" (Eigen, 2017, p. 173).

Como se pode ver, há possibilidades de uso da grade de Bion, e da criação de novas grades de inteligibilidade. O que importa, verdadeiramente, é poder definir o que e como é observado o que ocorre dentro da sala de análise, com a dupla analítica, se há ou não experiência emocional.

Segundo Bion (2016) no texto "A grade", uma teoria não é certa ou errada, ela precisa ser significativa.

 

Psicanálise não explica nem cura tudo

Ferro alerta para uma fantasia onipotente de controle sobre tudo o que acontece no nosso corpo e que poderia ser explicado pela psicanálise. Fantasia que assalta, de maneira angustiante, principalmente os iniciantes da prática analítica, no início da formação. Expectativa delirante.

Ferenczi (1912/1991), em 1926, escreve sobre sintomas transitórios na análise. Alguns sintomas físicos podem acontecer: uma otite de um paciente, após uma sessão em que sente que ouviu interpretações muito doídas, que o inflamaram de ódio. Em outro, a visão embaçada, a dificuldade em ver uma realidade distorcida, que não segue o roteiro dos seus delírios.

Esses sintomas transitórios me parecem, ou eu posso me servir deles, como indícios de uma transformação, uma espécie de modulação ou início de alfabetização daquilo que não é pensável, ou não pode ser sentido.

Diz Ferro que há um longo trajeto entre uma evacuação violenta (diarreia) e uma contenção exagerada (prisão de ventre). Um modelo intestinal de mente.

Seguindo Bion, Ferro fala da necessidade de uma mente receptiva - quando há explosão do continente psíquico, ou excesso de conteúdo a ser evacuado. No caso de Bela, o Ódio, como personagem, tem tomado uma posição importante, neste momento.

Com Ferro aprendo que é possível modificar a qualidade da interpretação pela atenção a como o paciente escuta o que oferecemos. Tenho usado o humor com Bela, que se senta e me olha diretamente nos olhos. Eu também me sinto ser alfabetizada pelo paciente no seu léxico. É aos poucos que começo a falar seu idioma e a aprender a escutar o que o paciente ouve, quando lhe informo algo, no meu léxico.

 

Comunicação entre pares - outra alfabetização

Tenho, por vezes, dificuldades em participar de seminários clínicos. Há uma pressa em contrapor ideias, experiências, e pouca escuta ao que o apresentador traz, com coragem e generosidade. Penso em algumas questões, que envolvem o processo de criação do apresentador, mas o grupo, frequentemente, volta-se para o conteúdo apresentado. Penso que poderia ser útil os membros do grupo e o coordenador desenvolverem, com o apresentador, uma conarrativa:

O que o fez eleger este paciente, e não outro? No que o paciente o marcou tão profundamente? Quais palavras são usadas para descrevê-lo? Quais impasses nesse fragmento de um instante que já passou, e o que esse fragmento evoca no grupo?

Creio que poderia ajudar a pensar na dificuldade que é transmitir a experiência sentida pelo analista, mesmo dentro da sala de análise.

O apresentador de material clínico desenvolve um léxico com o paciente - léxico aprendido no contato com o paciente, aprendizado longo, às vezes; a apresentação do material clínico no grupo tem muito de criação, de invenção própria para o vivido pela dupla analítica. Que léxico é esse, criado pelo apresentador, cuja nascente está no que pôde viver com seu paciente? Quais palavras brilham em neon? (como quando se lê poesia, e algumas palavras, de repente, se destacam, sob um holofote).

Uma boa questão é: podemos acordar nossos modos de apreensão do psíquico sem recorrer a conceitos de escolas: de freudianos, kleinianos, bionianos, winnicottianos? Interessa essa questão pelo que ela possa revelar a construção da linguagem psicanalítica.

Criar linguagem eficaz não só com o paciente, mas também na comunicação entre os próprios psicanalistas. Linguagem para a transmissão da psicanálise.

Poesia se escreve à sombra de poesia. Escritores escrevem à sombra de outros escritores. A psicanálise também se escreve à sombra de outros psicanalistas precedentes.

O analista possui uma "família analítica" dentro de si (Bolognini, 2008). Por vezes a "família" convive harmonicamente, por vezes em conflito, ou até em total desordem, numa torre de Babel. São comuns as brincadeiras "irmãos de divã", para denominar quem deita no divã do mesmo analista; e o denominado "avô psicanalítico" - para quem fez a análise do seu analista.

Terminada a sessão, conforme o hábito de cada analista, há um registro, uma notação, um armazenamento. Como registrar a atmosfera, isso que Clarice Lispector alcança, em sua "linguagem de êxito"?

A chamada vinheta clínica, que vemos em tantos escritos (a "microscopia de sessão") geralmente é falha. "O paciente disse, o analista disse." Poderá ganhar riqueza e profundidade se surgir o modo específico e particular, ligado à personalidade do analista, de capturar o chamado fato psíquico, algo que não tem cheiro, forma, cor.

A mesma sessão, escrita do ponto de vista do paciente, como seria?

A rigor, o paciente é a nossa ficção psicanalítica. Aprendo isso com Freud, e, mais contemporaneamente, com Ogden, Ferro e Bollas.

É muito complexo o processo de traduzir o impacto emocional contido na fala do paciente, descrevê-lo, relacioná-lo a uma imagem. A emoção, por exemplo, pode tornar-se uma personagem.

Lendo e relendo os textos de Freud, aprendo com o seu apreço pela descrição minuciosa. Como ele aprendia com o paciente, desde Dora, com os relatos do pai de Hans (sua "supervisão" de uma "terapia" do pai Max Graf com o filho, Hans, Herbert Graf), com o Homem dos Ratos, com o Homem dos Lobos. Uma liberdade de pensamento e sentimento enorme. Harold Bloom considera Freud um poeta forte.

Vejamos o caso do russo Sergei Pankejeff (1887-1979), por exemplo, que recebeu o apelido de Homem dos Lobos pelo sonho relatado e interpretado por Freud (1918/2010). Serguei foi sustentado pela IPA por toda a sua vida e, em um livro de entrevistas que concedeu a uma jornalista (Obholzer, 1993), conta que não aceitou a interpretação de Freud sobre a cena primária. Freud criou esse conceito a partir da análise do sonho de Sergei (cujo tratamento durou de 1910 a 1914 - início da I Grande Guerra depois mais três meses, de 11/1919 a 02/1920).

Freud redige o trabalho História de uma neurose infantil em 1918, e o conceito de cena primária torna-se patrimônio da linguagem psicanalítica, orientando e centralizando muitos estudos de diferentes autores, de diferentes países e culturas.

O conceito nasceu do encontro entre Sergei e Freud. Para Sergei, nunca existiu a cena primária; ele a considerou uma fantasia de Freud, e não dele. No entanto, muito aconteceu na relação entre os dois. Relação que desenvolveu a imaginação e a potência analítica de Freud.

Freud não se importou se havia veracidade na sua tese sobre o assassinato do pai da horda primitiva, em "Totem e tabu" (1912-1913), seu mito científico. Se o erro do nome do pássaro que deu origem à interpretação mitológica do sonho de Leonardo da Vinci deveria fazê-lo jogar fora o trabalho que ele mesmo considerou um dos mais belos. Ao contrário, não abriu mão das suas teses. No ensaio "Moisés e o monoteísmo" (1938), Freud o denominou de romance histórico. Concordo com Pontalis quando diz que todos os textos de Freud, não somente os clínicos, são importantes no estudo de sua obra.

Questões como verdade e mentira; lembrança e criação que podemos ter sobre fatos da nossa vida; realidade material e realidade histórica; a construção da fantasia; a imaginação e os rumos tomados pela vida de uma pessoa, todas elas sofreram variações ao longo da história da psicanálise.

O que importa é a captura do fato psíquico. E a construção dele, assim como a sua apreensão, o nomear, o processo de captura do fato psíquico. Qualquer fato psíquico descrito, capturado por um analista, recria, de certo modo, a psicanálise.

Dick, paciente de Klein entre 1929 e 1946, dizia não se lembrar da sua analista; quando Grosskurth o encontrou, estava com 50 anos.

Quando estudei A narrativa da análise de uma criança (Klein, 1961/1984), em que ela faz um relato minucioso de Dick, sessão por sessão, fiquei impactada com a sua linguagem.

Diz Meltzer sobre esse livro: "[Klein] Não se preocupava em fazer a diferença entre descrição, modelo, teoria e sistema notacional, diferentes tipos de definições. Não percebeu o salto que deu referente ao método e ao modelo mental" (1990, pp. 12-13).

Meltzer (1989) acha que a hostilidade inicial às ideias de Klein decorre da pobreza de comunicação, da complicação linguística e do tom dogmático dos escritos dela (e dos seus seguidores). Apesar disso, sua contribuição até 1960, quando faleceu, foi marcante: a escola kleiniana é reconhecida como uma das grandes escolas de psicanálise.

Voltando ao que dizia no início, leio psicanálise como leio literatura.

Para não construir uma colcha de retalhos teóricos, refaço o caminho da gênese dos conceitos que os autores criaram, relacionando com o momento histórico em que viveram: seus interlocutores (e, também, seus adversários).

Freud, por exemplo, ao criar a disciplina nova e revolucionária, teve Fliess como o seu grande interlocutor (cartas entre 1887 e 1904): dezessete anos de uma amizade intensa, quando escreve sua grande obra-prima "A interpretação dos sonhos" (1900).

"Introdução ao narcisismo" (1914) teve como inspiração Jung, que interrogava Freud sobre a psicose. No período da Primeira Grande Guerra (1914/1918), Freud escreveu os chamados trabalhos metapsicológicos. Seu interlocutor teria sido a guerra? Freud teve importantes interlocutores, como Ferenczi, húngaro que, nas palavras de Freud, valia por uma sociedade psicanalítica inteira; Abraham, de Berlim, que morreu precocemente; Sachs; e Jones (o seu biógrafo oficial).

Winnicott tinha profunda gratidão a Klein, sua supervisora por seis anos, que analisou sua segunda esposa, Clare.

Bion disse que precisamos - todos os anos - nos interrogar quais os conceitos que usamos na clínica e quais os que foram deixados de lado. Uma dica fundamental. Sua obra mostra esse processo de renovação de conceitos, diferentes ângulos do fenômeno psíquico. Até mesmo do mito de Édipo, fragmentando-o (de modo analítico) para melhor usar na interpretação - foco na Esfinge, ou no Édipo em Colona.

Comecei meus estudos de Bion, com seu livro O aprender com a Experiência (1991b), e ele me pareceu um autor que tentava compreender o que se passa na mente do analista e que o instrumenta a pensar/sentir sua ação/intervenção na sessão de análise, delimitando o que contribui ou atrapalha na aquisição de um conhecimento para o paciente, para o analista. Do conhecimento rumo à sabedoria (o uso do conhecimento determina o grau de sabedoria). Assim leio Bion.

Fernando Pessoa dizia que quem não é capaz de ler uma palavra não é capaz de ler uma alma. Ampliando: quem não é capaz de ler uma palavra e um silêncio não é capaz de ler uma alma. Muitos pacientes dormem no silêncio das entranhas. Precisamos acordá-los do sono mortífero.

Importa reconhecer a idiossincrasia do paciente, seu idioma, como diria Bollas, definindo idioma como o

núcleo único de cada indivíduo, uma figuração de ser, parecida com uma semente que pode, sob condições favoráveis, evoluir e se articular. O idioma humano é a essência definidora de cada sujeito, e, embora todos nós tenhamos certo sentido sutil do idioma do outro, esse conhecimento é virtualmente impensável. (Bollas, 1992, p. 236)

Saúdo com muita esperança novos ventos que nos falam que precisamos ser poliglotas. Não ecléticos, penso ter deixado claro. Mas respeitando a estrutura gramatical de cada idioma usado pelos psicanalistas, conhecendo origem, história, interlocutores, adversários, época em que viveu. Reconhecendo seus caminhos e também descaminhos. Minha trajetória, se quiser autonomia de pensar e sentir, será uma construção pessoal e significativa, intransferível.

Saúdo Figueiredo (2013, 2014) quando reafirma o método freudiano expresso por atenção flutuante, mas inclui outras escutas de diferentes analistas pós-freudianos. Cito aqui a conclusão de seu excelente trabalho:

a escuta do desejo e seus desenhos apenas esboçados, a escuta das resistências e suas formas e sistemas, a escuta das angústias e suas criações/projeções, e a escuta das necessidades não encontradas nem reconhecidas (e por isso, petrificadas e emudecidas) requerem diferentes procedimentos, sempre articulados com a ética da atenção igualmente flutuante... Cria-se uma escuta ampliada, diversificada, paradoxal - uma escuta verdadeiramente polifônica. (Figueiredo, 2013/2014, p. 135)

Resumindo, creio serem a personalidade do analista, sua história, sua idiossincrática relação com a sua clínica, seu meio social, sua família analítica e o processamento dos múltiplos fatores - pessoais e culturais os fatores essenciais para a criação de uma linguagem, de um léxico, de um reconhecimento do idioma do paciente. Não só reconhecer, mas dar voz a esse idioma e ao próprio idio- ma do analista. É em uma atmosfera misteriosa e íntima que podemos aproximar do núcleo gerador de significados a relação da dupla paciente-analista.

De Freud colho a atitude corajosa: o seu método está inscrito na sua escritura do início ao fim - atenção flutuante. Palavra poética.

De Klein guardo a ideia de compreensões emocionalizadas: o trabalho de luto arcaico; posições esquizoparanoide e depressiva; constelações; os conceitos de identificação projetiva e de inveja; reparação (que conceito!); a esperança na transformação - na tolerância da perda, da culpa, na responsabilidade pela nossa destrutividade. A bondade sobrevive?

De Bion, continente-contido; cesura, metáfora poderosa - enterrar no futuro o que não aconteceu/enterrar no passado o que se esqueceu -, o que une/separa/penetra; o "O", o mistério, a possibilidade de ser ou não ser; o tornar-se; memória do futuro; as grandes incógnitas, para evitar saturações indevidas função alfa, elementos beta.

De Winnicott, o Príncipe dos Paradoxos: "somos de fato pobres se somos apenas sãos", "a primeira posse, espaço potencial, "a capacidade de estar só em presença de", "obtemos êxito ao falharmos".

Diz Rosa, no conto O espelho:

os olhos são a porta do engano; duvide deles, dos seus, não de mim. Ah, meu amigo, a espécie humana peleja para impor ao latejante mundo um pouco de rotina e lógica, mas algo ou alguém de tudo faz frincha para rir-se da gente. (Rosa, 2008, p. 76)

Falho ao tentar reproduzir como esse léxico psicanalítico rico me fez a analista que estou/sou sempre (me) tornando, a cada sessão, a cada paciente novo, a cada sessão de paciente que convive comigo anos, até décadas.

Falho ao retratar emoções. Falho, se pretendo explicar o curso da vida. E é nessa condição, sabendo que posso falhar, segundo Winnicott, felizmente, que tento construir uma linguagem, forjada em silêncios e palavras.

Diz Winnicott:

no final, temos êxito por falhar, falhar no sentido do paciente. Esta é uma distância longa da simples teoria da cura pela experiência corretiva. Desse modo, a regressão pode estar a serviço do ego se recebida pelo analista e transformada em uma nova dependência em que o paciente traz o fator prejudicial externo para a área do seu controle onipotente, e para a área controlada pelos mecanismos de projeção e introjeção... Finalmente... não devo falhar nos aspectos do cuidado do lactente e da criança até um estágio posterior, em que ela me fará falhar de forma determinada por sua própria história. (Winnicott, 1963/1983, p. 233, grifos do autor)

Ferro diria, em outras palavras, que o campo analítico deve inevitavelmente adoecer, e, assim, o analista e o paciente poderão encontrar meios de superar os 'bastiões", os impasses vividos no curso da análise.

O analista pode sentir que falha, ou o paciente pode sentir que o analista falhou com ele. Mas são justamente essas "falhas" que permitem o aprendizado de um idioma - o cruzamento do léxico do paciente e do léxico do analista, na abertura polifônica de canais, nas narrativas que podem emergir da relação da dupla.

Diz Beckett: "fail, fail again, fail better" (1996).

O paciente a nos interrogar: "Trouxeste a chave?" (Drummond, 1997). E nós, analistas, a retrucar: "Vamos procurá-la juntos?".

 

Referências

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Recebido em: 23/09/2018
Aceito em: 8/11/2018

 

 

1 Trabalho baseado em uma apresentação, em Marília, em junho de 2018, sobre "Psicossomática e a construção de linguagem".

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