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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.53 no.98 São Paulo jan./jun. 2020

 

CHRONOS/KAIRÓS

 

O trabalho onírico do War Memories1

 

The dream work alfa of War memoirs

 

El trabajo soñado de War memoirs

 

L'œuvre de rêve de War memoirs

 

 

Anne Lise Di Moisè Sandoval Silveira ScappaticciI; Orlando Hardt JrII

IMembro efetivo, didata e professora da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). Doutor em Saúde Mental pelo Departamento de Psiquiatria da Escola Paulista de Medicina / São Paulo / annelisescappaticci@yahoo.it
IIMembro efetivo, professor da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) / São Paulo / orlandohardt@yahoo.com

 

 


RESUMO

Convocando diferentes vértices - Homero, Joyce, Freud e Bion -os autores partem do tema "guerra" e usam a noção de memória do sonho (Traumarbeit/the dream work alfa) para examinar os capítulos de guerra de W. R. Bion.

Palavras-chave: guerra, memória do sonho, autobiografia, cronos


ABSTRACT

Summoning different vertices, Homer, Joyce, Freud and Bion, the authors starts from a common theme, the war, and use the notion of dream memory work (Traumarbeit/the dream work alfa) to examine W. R. Bion's wars chapters.

Keywords: war, dream memory, autobiography, chronos


RESUMEN

Convocando diferentes vértices (Homero, Joyce, Freud y Bion), los autores comienzan con el tema "guerra" y utilizan la noción de memoria del sueño (Traumarbeit/the dream work alfa) para examinar los capítulos de guerra de W. R. Bion.

Palabras clave: guerra, memoria del sueño, autobiografía, crono


RÉSUMÉ

Invoquant différents sommets - Homère, Joyce, Freud et Bion -, les auteurs partent du thème « guerre » et utilisent la notion de mémoire du rêve (Traumarbeit/le travail du rêve alfa) pour examiner les chapitres de guerre de W. R. Bion.

Mots-clés : guerre, mémoire du rêve, autobiographie, chronos


 

 

Todos de repente começaram a cantar - eu não; nem mesmo depois da guerra. Nunca, nunca mais. Eu não estava infeliz - Na verdade, eu sempre senti que estava muito mais feliz que a maioria. Mas não há mais canto; nunca.

(Bion, 1986, p. 191)

 

Introdução

Dois autores modernos, específicamente, Freud e Bion, ressaltaram a guerra, considerando o luto, dentro de um tumulto dessa magnitude, como o organizador da personalidade. Freud (2010b) dedicou a esse tema um artigo, denominado "Considerações atuais sobre a guerra e a morte" (1915/2019a, pp. 210-246), dividido em dois tópicos: "Desilusão causada pela guerra" e "Nossa atitude perante a morte". Wilfred Bion escreveu 43 capítulos sobre o assunto, em The long weekend (1982), War memoirs (1997). E fez menção à guerra em vários trechos da trilogia Memórias do futuro e em diversas ocasiões ao longo de sua vida.

Em trabalhos a que aludimos, Bion e Freud concorrem e coincidem quanto a vários pontos. Por exemplo: que cada um de nós deve uma morte à natureza, que a morte é incontestável, natural e inevitável, mas agimos como se as coisas fossem diferentes, isto é, tendendo a pô-la de lado, ou eliminá-la da vida. Quanto "à morte de outra pessoa, o homem civilizado evita cuidadosamente falar dessa possibilidade quando aquele destinado a morrer pode escutá-lo" (Freud, 1915/2019a, p. 230). Evitamos o contato com a experiência emocional da morte? Ou, ainda, evita-se o acesso aos traços não representáveis dos traumas da infância? E, neste caso, essa negação da percepção da vida seria uma defesa para sobreviver à guerra?

 

Narrativa

Em janeiro de 1916 Bion ingressou nas Forças Armadas. Tinha 19 anos, aproximadamente a idade de Telêmaco, filho de Odisseu. Como bom atleta, Bion destacava-se por suas qualidades, mas definia-se como rígido, tímido, taciturno e detestável (Bion, 1982). Com essa idade, dizia-se um colegial vestido de soldado, "uma detestável massa de inaptidão"."um pomposo idiota" (Bion, 1985, p. 19). Sua personalidade parece preenchida por um superego primitivo cuja servidão dita o lugar onde deveria estar, mas não está, ou aquilo que deveria ser, mas não é (Bion, 1965). Este funcionamento esvaziado, cindido e automático parece ser necessário; afinal, ninguém consegue suportar a perspectiva de uma guerra.

No Canto l da Odisseia, Telêmaco relata quando "amadurece nele a resolução de tomar em suas mãos os seus direitos de enfrentar abertamente os pretendentes e responsabilizá-los perante o povo, na ágora, e pedir que o auxiliem no projeto de descobrir o paradeiro de seu perdido pai . Decide numa súbita mudança, cheia de consequências, atacar o problema com seus recursos e empreender secretamente uma viagem, através de cujas experiências se tornará homem." (Jaeger, 1919/1979, p. 52).

Haveria uma analogia entre a "Telemaquia", um poema originariamente independente da Odisseia, e os capítulos escritos por Bion sobre a Primeira Grande Guerra? Nos capítulos da guerra relatada por Bion, não faltam traços essenciais da "Telemaquia", "nem o influxo delicado e sensível da mãe temerosa e cheia de cuidados pelo filho.", (nem) "uma velha ama dedicada, Euricleia, ternura resumida pelo detalhe em como ela pega e dobra uma túnica jogada descuidadamente." (Williams, 2019, p. 222).

De fato, vários autores associam a experiência da guerra e a metapsicologia bioniana (Tarantelli, Souter, Szykierski), e Meltzer (1992/2017, p. 94) menciona o vértice da parte telêmaca da personalidade infantil.

 

Tanques e andorinhas

Bion foi designado para treinar em carros blindados; em fevereiro desse ano, 1916, conheceu o Tank Mark I, um "monstro" de 28 toneladas cuja velocidade atingia 7,4 km/h.

Em Bovington Camp, em Wool, deparou com seu primeiro tanque: "ele" bloqueava a estrada para o acampamento, dia quente, ensolarado e parado. Estranha forma mecânica, imobilizada e imobilizante, queria fugir dali. Uma martelada metálica veio de dentro dele; um soldado saiu. E o dia voltou à vida novamente. (Bion, 1982, p. 115)

Nas vésperas de todas as batalhas ocorre um consenso dos objetos internos, a tensão emocional nesse momento é análoga ao retesar do arco de Telêmaco, que se dispunha para uma disputa, da qual ele precisou para crescer, uma reafirmação interna, ao remover os pretendentes da casa de seus pais. Na Odisseia, essa passagem narra a matança do salão de Ítaca - trata-se da "melodia da andorinha", quando o arqueiro é comparado a um harpista; com a mão tranquila em seu instrumento inicia o soar entre o polegar e o indicador, lembrando o voo de uma andorinha. Era como Telêmaco armava no arco a seta mortal, e o tenso sibilar da corda vibrava a melodia da andorinha.

Segundo Meg Williams, Bion também retrata a passagem da adolescência para a fase adulta, tal como ocorre com Telêmaco, livrando-se dos resíduos de sua antiga identidade - o grupo - como a pilha de folhas secas, seu casulo" (Williams 2019, p. 244). Bion reconhecerá que "a guerra lhe tinha imposto responsabilidades que ultrapassaram sua capacidade, sua formação, sua educação", ou, "ainda que não nos déssemos conta, somos homens que evoluímos da insignificância à irrelevância em poucos anos" (Bléandonu, 1993, p. 43).

O destino, um entroncamento ferroviário e dali até Flesquieres, onde tive meu veículo atingido na parte traseira, após Cambray, uma insuportável tensão me levou mais à morte que à vida, tinha cavado trincheiras na terra gelada. (Bion, 1982, pg, 161)

Em seu livro The dream, Bion (1975/1989, p. 69) fala dos engraçados ingleses que rumaram em tanques para a batalha, mas não eram andorinhas, e sim estegossauros, alvos fáceis para o inimigo: "O tiranossauro provoca uma reação igual + contrária - o estegossauro afunda sobre sua própria 'linha Maginot', a armadura defensiva que é sua própria fraqueza e faz do armamento seu próprio peso, sob o qual ele afunda".

O que atraiu Bion para os tanques? Segundo M. Williams (2019, p. 348), teria sido o ronronar semelhante ao dos tigres. Um primitivo nível mental do pressuposto básico, quando avançavam nas batalhas, um falso continente para conhecer, remeteu, talvez, para aquela tosca armadilha, vista em sua infância na visita a Gwalior: o ronronar do tigre, ou o poderoso tanque. O material contido nos sonhos é, segundo Freud em Interpretação dos sonhos (1900/2019b), derivado de experiências, o sonho dispõe de memórias que são inacessíveis, um sonho mostra lembranças e conhecimentos que, acordado, o indivíduo percebe que possui, mas ao mesmo tempo não sabe de onde provêm, são os "pensamentos inconscientes de vigília" (Freud, 2010 a). Para Freud, o sonho é a via régia do inconsciente, o produto que revela a mente; para Bion, o sonho é o inconsciente, é o modo por excelência do funcionamento mental.

O trabalho onírico alfa é contínuo, diuturno. As impressões senso-riais, a própria palavra, precisam ser sonhadas, transformadas. O mesmo vale para a experiência emocional. Neste sentido, o conceito de memória se expande, visto que o "fato tal como se deu" não existe. Bion conta, portanto, sua guerra em sua autobiografia, assim como fazia Fellini: "não se trata de uma memória que supostamente preserva o vivido e o ocorrido, mas de uma faculdade incontrolavelmente criativa, que aumenta, recria, retorce ou colore as histórias que reconta". Assim, Fellini declara: "inventei uma vida para recontá-la" (Folha de São Paulo, Carlos, 2020, p. C6).

Em outras palavras, podemos, diante dessas escolhas autorais, pensar a função alfa, aquela função da mente que atribui um colorido mental, tornando único e intransferível o modo de viver a experiência: "podemos presumir que os elementos alfa são mentais e individuais, subjetivos, personalizados em alto grau, específicos e pertencentes, de modo inequívoco, ao domínio da epistemologia de uma pessoa em particular" (Bion, 2000, p. 189).

Bion soube do final da batalha; soube também que fora indicado para a Military Cross.2 Seus colegas o cumprimentaram, mas algo tinha se modificado nele... E de novo parece necessário dissociar para conseguir sobreviver:

Eu olhava a mancha de lama agitando a palha, pedaços de terra espirraram para todos os lados, olhava o rosto sujo do motorista, olhando seu rosto tenso. Como um bumerangue, fiquei pairando a dois metros de altura acima de nós, via as árvores passando, meu tanque não era um Rolls-Royce, e aí disse ao motorista, acelere. caiu em um buraco de bombas nos campos de Flandres. Pernas e tripas de vinte homens, de alemães e franceses ... Que o amor fraternal vença! (Bion, 1997, p. 23)

Durante quatro anos, 10 milhões de homens se mataram, 20 milhões se feriram e 960 mil britânicos morreram.

 

Cronos em Homero e Joyce

Segundo afirma Werner Jaeger no livro Paideia, o mais antigo dos poemas gregos é a Ilíada, que "mostra-nos o predomínio absoluto do estado de guerra, tal como devia ser no tempo das grandes migrações das tribos gregas ... É impossível imaginá-los a viverem em paz: pertencem ao campo da batalha" (Jaeger, 1919/1979, p. 37). No seu próprio material se encontra a marca da sua maior antiguidade, aproximadamente oito séculos antes da era cristã. A Odisseia oferece outro quadro, o regresso do herói, o que conduz às representações intuitivas e amorosas de sua vida na paz.

Em "Conversations with internal objects: family and narrative stru-ture in Homer's Odissey" Meltzer (2003, p. 123) observa que as divagações do pensamento de Édipo em sua busca de autoconhecimento tiveram origem literária trezentos anos antes, na narrativa da volta de Ulisses para casa. Nessa história discutem-se relações de poder e saber num drama encenado tipicamente pela tríade pai, mãe e filho.

Ulisses, em Homero e Joyce, constitui, porém, diferentes vértices de personagens de uma mesma aventura psicanalítica. Embora Freud e Bion relatassem a mesma guerra, o que esta revelou para um autor foi diferente do revelado ao outro, dentro de um tanque. O primeiro escreveu um artigo, o segundo, capítulos de memórias, mas ambos retratam a guerra em seu esplendor terrível. Segundo Freud, a guerra irrompe trazendo a desilusão, segundo Bion, é uma emergência, ou uma "experiência imprevista" (Oxford English Dictionary). A guerra vista por Bion seria uma aventura pelo tempo subjetivo, como a experiência do Ulisses joyciano. Neste personagem vê-se a realidade por lentes que operam como fator organizador da experiência: o Ulisses de Joyce fez seu périplo no tempo de um dia, nos domínios do mundo interior. Por outro lado, o Ulisses de Homero percorreu vinte anos, organizados segundo uma lente histórica, característica do tempo telescópico da narrativa que segue uma cronologia. Ambas as narrativas seguem servindo como modelo para pensar o psíquico, embora a de Ulisses por Joyce seja a própria expressão do psíquico, o sonho em si, o Ulisses da mitologia é a elaboração do sonho, o mito representado.

Esses dois modelos do mito de Odisseu nos remetem ao mito de Édipo, a pré- concepção edípica ou ainda a viagem infindável em busca de compreender quem sou e para onde vou. Este mito, basilar na psicanálise, é visto de modo diverso e complementar por Freud e Bion, assim como nos respectivos escritos de ambos sobre a Primeira Grande Guerra. Nos escritos respectivos em que ambos abordam esse evento, escreve Anne Lise Scappaticci:

Na paisagem-devaneio, o indivíduo está imerso no grupo como um borrão na tela. O recurso grupal é a necessidade quando a experiência é tão penosa, que não há continente individual que a suporte; assim, por muito tempo permanecemos incorporados no grupo, no Édipo. É necessário utilizar a contraparte mental das características do animal da horda, como bem ilustrado por Freud, Wilfred Trotter, ou pelo próprio Darwin; ou, ainda, ouvir o grupo como recurso próprio e íntimo para o Despertar. Permanecer na cesura, na "transiência" do pré-humano ao humano, e vice-versa, à procura de um continente que dê conta de um nascimento psíquico. (Scappaticci, 2018)

Neste sentido, a guerra pode ser vista no contexto do edípico primordial em que a vivência de ser só e dependente (na multidão de pessoas ou corpos), ser tomado pela força "urge por existir", ou, ainda, a consciência moral primitiva pode manifestar-se.

pode haver na personalidade algo análogo ao sistema dos vasos capilares que, em condições ordinárias, permaneceriam adormecidos, mas, em condições extraordinárias, como no choque cirúrgico, podem se dilatar. A analogia residiria num hiperestímulo do "grupalismo" do indivíduo - "grupalismo" este em que sua capacidade de comportar-se de modo consciente e sofisticado esvai-se para o interior de seu "inconsciente" (Bion, 1977a)

O mundo estava lá, antes de mim. Os portões de ferro do meu paraíso ressoaram atrás de mim enquanto eu caminhava sozinho, solitário, anônimo em minha glória, para enfrentar o amanhecer da liberdade que eu tinha aguardado por tanto tempo. Não tinha milhões de outras pessoas? Não; só eu sabia que era eu mesmo. Ninguém sabia do medo terrível, ninguém podia saber como se sente, quão terrível era a primeira noite na escola preparatória. Procurar-as-escrituras-nas-aulas-de-domingo no ginásio, rastejando sobre a trave horrível com o chão de cimento abaixo de nós, e dos "sóis de verão estão brilhando", mas não para mim. "Ah, de novo, não!" Exatamente, não novamente. Não mais, não, nunca mais. (Bion, 1982, p. 104)

 

Troia, tigre e tanque

O artífice Epeu, ajudado pelas artes de Atena, criou um cavalo para abrigar em seu ventre uma hoste armada, liderada por Ulisses, e o enviou para dentro das muralhas de Troia, carregado de morte; um dia os homens falarão do cavalo de madeira, com sua carga oculta de guerreiros. Essa estratégia, descrita na Odisseia, é narrada pelo aêdo Demódco, a pedido do próprio Ulisses, quando de sua acolhida, ainda incógnito, na corte do rei Alcínoo, na ilha dos feácios.3

Não podemos negar essa interessante versão mítica do Cavalo de Troia como precursor de um tanque, arma que surgiu no transcorrer da Primeira Guerra Mundial, quando os exércitos já haviam sofrido muitas perdas. Como no cerco de Troia, os dois exércitos já tinham perdido seus principais guerreiros, e os gregos utilizaram-se da derradeira e vencedora estratégia de apresentar um enorme cavalo de madeira aos inimigos. Neste sentido, a memória comporia o vínculo K, dependente dos sentidos, e seria como um continente para o passado, que poderia ser projetado num futuro?

Ainda outros fantasmas estariam confabulando no Hades. No diálogo da autobiografia de Bion (1977b), "... eu morri em 8 de agosto de 1918, na Ferme Anglaise, não me aproximarei mais da estrada entre Amiens e Roye, com medo de reencontrar meu fantasma..." (O passado apresentado). O artigo "O estranho encontro" (Junqueira, 2015, p. 50) também fala do diálogo entre o fantasma de Wilfred Bion e a alma do poeta W. Owen, conforme relatado em sua autobiografia. Mostra-se ali o aprendizado emocional auferido após ter se tornado um fantasma culpado, por não ter morrido como soldado.

Para Bion, em sua autobiografia, nos capítulos referentes à guerra, fica demonstrada a complexidade e a impossibilidade de um fator temporal como conceito. A psicanálise seria então uma atividade futura, de "pré-vi-são", enquanto todas as camadas se atualizam num impossível tempo presente organizador da narrativa, abrangendo o tempo que virá, o tempo da memória, e o tempo proposto? James Joyce também reproduz esse aspecto em Ulisses. Em um "fluxo de consciência", assim como na autobiografia, temos vários tempos coexistindo numa mesma página, às vezes em um só parágrafo.

Em The long weekend, Bion (1982) continua na narrativa das provações e do regresso à pátria, rumo à sua Ítaca, depois da errância iniciada pelos fronts, tal como Ulisses: a continuidade através das gerações, a ineficácia da palavra na temática das guerras e as provações, fonte da autêntica experiência. O War memoirs bioniano é mais que uma ferida aberta, ou já cicatriz, demorando a encontrar meios para narrar acontecimentos violentos, recalcados ou não. O War memoirs é, na verdade, dream memoirs. Bion recorreu a metáforas para essa memória: neste caso, privilegia seu registro, e, como no bloco mágico freudiano, a perpetua.

Se o mito edipiano já está presente na "Telemaquia", parte inicial da Ilíada, também está presente em War memoirs, desempenhando amplo papel no pensamento humano e psicanalítico. O modelo baseado no mito permanecesse vivo: como atingir a verdade, apesar de avisos contrários? Bion repete igualmente o encontro de Ulisses com Polifeno, enfatizando que ele é "ninguém", mas se salva, volta para casa só, tendo perdido seu diário, desdourando sua DSO, lamentando ter perdido os homens sob seu comando, usando várias formas de procurar o esquecimento e evitando o irresistível efeito da glória e a vã retórica. Tornar-se "ninguém" é uma cisão necessária para tornar-se "alguém", ou mera sobrevivência?

Os escritos de Bion sobre sua vida de guerreiro sobrevivente aos massacres são testemunhos da condição de fragilidade da existência. Como escreveu Walter Benjamin, "não se esqueçam dos mortos, dos feridos, vencidos" (1996, v.1, p. 93): isso dará uma forma de organização para as experiências emocionais. Nessa linha, em termos genéricos, mostraria fatos impressos como imagens de uma vida onírica. Alguma coisa acontece quando tentamos contar um sonho, uma autobiografia. A Odisseia seria então como o relato em uma sessão de análise.

Assim a preocupação básica de Bion, ao escrever sobre sua participação na guerra, não foi a de reportar reminiscências, mas talvez tenha sido tentar sonhar a dor de algo que permaneceu sem poder ser sonhado. Podemos ler os relatos autobiográficos mais como uma trajetória, uma tentativa de construção de si mesmo, para escapar do lugar-comum; o relato de uma passagem para a vida adulta, da magia para a dominação racional, para escapar de uma natureza continuamente ameaçadora, que troca tigres por tanques, e também para escapar do domínio esquizoparanoide ou da imersão no pressuposto básico de ataque-fuga.

War memoirs representa muito bem "o terror do abandono psíquico e seu oposto, a necessidade absoluta da presença de outra mente para a sobrevivência psíquica" (Souter, 2009, p. 800), como vemos neste trecho:

"Saiam!", gritei. "Todos vocês! Andem logo atrás." Eles pularam para fora. Eu assumi a direção do tanque, ou seja, dirigi em ziguezague com a escotilha de escape aberta sobre mim. Então percebi que, sem tripulação, não podia dirigir o tanque e não podia dirigir para lugar nenhum, a não ser para a frente. Eu não tinha sensação de medo. Abri o acelerador para que o tanque estivesse a toda a velocidade.

Antes que eu soubesse o que estava fazendo, deixei o assento do motorista e me juntei à tripulação. Era difícil acompanhar o tanque sem motorista em movimento rápido. Então, só então, o pânico tomou conta de mim. Suponha que eles não estavam atirando em nós!? Suponha que eles não tenham nos atingido? Um tanque totalmente equipado em perfeito estado de funcionamento teria sido entregue ao inimigo, abandonado sob minhas ordens pela tripulação.

Eu não pude alcançá-lo; quando tropecei e tentei correr para a porta, caí. Então, misericordiosamente, a bomba o atingiu, perfurou e estourou. O tanque parou, chamas jorrando por toda parte. Em um momento, foi um desastre total. (Bion, 1982, p. 262)

Argumenta-se que as experiências apocalípticas de Bion como o jovem comandante de tanques deram-lhe esse insight demolidor sobre a medida pela qual a mente é inter-mente, o self é inter-self. Assim, o texto autobiográfico de Bion tem a qualidade de insight do sobrevivente: "Eu só escapei sozinho para lhes contar", segundo está em Jó 1:14-19 (Souter, 2009, p. 3), como evidencia sua descrição recorrente de fatos do dia em que "morreu", 8 de agosto de 1918. Seus insights sobre a natureza das paixões elementares de amor, ódio e desmentalização nasceram das suas vivências no campo de batalha, e se cristalizaram de maneira requintada em suas investigações repetidas do encontro com um soldado moribundo" (Livro Anual de Psicanálise, v. 25, pp. 262-263, 2011).

A qualidade desses textos reside na distinção preconizada por Bion entre evolução e memória: evolução seriam "aquelas experiências de onde algum tipo de ideia ou impressão teórica inesperada, como um todo, baseada em experiências que não teriam uma base sensorial, podem ser expressas em termos derivados de experiências sensoriais flutuando dentro da mente", ao passo que "memória, [é] a intenção consciente e deliberada de recordar algo", segundo López Corvo (2008, p. 154 e p. 383).

"O comportamento da memória onírica é com certeza de grande interesse para qualquer memória em geral" (Aristóteles)

 

Da memória onírica

As provações de soldados estariam ligadas às nostalgias infantis, graças a uma vinculação profunda entre sonho e memória sonho? Ou, ainda, fatos psíquicos da "infância primeva", sempre presentes, foram substituídos pelas lembranças da guerra, assim como acontece com a maioria de nossas lembranças? "Recordar, repetir e elaborar" e War memoirs teriam alguma relação, epistêmica: tratando de algo extremamente singular, experiências ocorridas nos primeiríssimos tempos da infância, das quais nenhuma lembrança conseguia ser despertada... Bion, não obstante, estabelecerá outra atribuição à memória do sonho, além do efeito mnemônico, da recordação, ou da transferência infantil. Será mais que o infantil recalcado, será relativo ao conhecimento real e verdadeiro, algo nunca ocorrido, mas que estará sempre presente.

Lendo Bion, percebemos a memória sonho em sua ansiedade precoce de natureza paranoide, processos depressivos característicos da primeira infância, impulsos destrutivos partindo contra objetos, expressando-se como ataques, inicialmente contra o seio, depois generalizando-se em verdadeiras batalhas épicas contra o corpo da mãe, conforme os primeiros escritos de Melanie Klein. Assim como, saindo do interior do Cavalo em Troia, esses atacantes cindirão objetos, afastarão emoções, envenenando e matando, são temores persecutórios intensos que foram elaborados por meio da escrita, por Bion.

Bion valeu-se da guerra para estender a memória sonho? Talvez tivesse aproveitado os intensos temores persecutórios das batalhas, associando-os com os sonhos infantis, mesmo que essa visão que se complementa perturbasse a tradicional maneira de compreender da psicanálise. Por meio desses saltos, o autor explorou o paradoxal, tocou no irrecorrível da infância para prosseguir.

 

Clausewitz ⇔ Bion

uma dupla de soldados ingleses escoltando uma meia dúzia de prisioneiros que carregavam duas macas com feridos. Harrison, sem qualquer aviso, teve um ataque em meio à tensão; ele tinha visto os alemães. Seus canalhas sangrentos, ele gritou. Seus filhos da puta, vocês mataram meu irmão. Ele havia puxado seu revólver e estava descarregando no pessoal da maca. Por sorte, O'Toole e eu conseguimos desarmá-lo, ainda lutando violentamente. Nós o derrubamos... (Bion, 1997, cap. 8)

Relataremos agora, a outra guerra propriamente dita, entre o leitor de Bion e ele próprio. Esta leitura ocupará o pensamento, mente, e o leitor tentará resistir, não conseguindo reivindicar suas próprias ideias, antes exclusivas a ele mesmo, pois uma situação nova foi criada, não redutível ao leitor. A batalha a que nos referimos é o combate com a própria identidade - ou o próprio self -, até então estática ou imóvel.

O leitor foi vencido e ocupado, passa a vivenciar as descrições do autor, que agora se tornaram suas, surge uma tensão que une a ambos por meio de uma nova experiência sentida. O confronto está no texto, entre partes dissociadas da personalidade; War memoirs provoca uma batalha intrassubjetiva. Um terceiro sujeito é criado na experiência da leitura de War memoirs, uma entidade a-histórica ensinará, apesar de protestos de que temos um outro inconsciente. Esse confronto na leitura não dará trégua, haverá então uma percepção de "que não nos deixará prosseguirmos naquilo que éramos, e não poderemos descansar até termos aceitado seu ataque ao que fôramos antes de sermos interrompidos por ela" (Ogden, 1996, p. 3). O leitor vivenciará seu próprio passado vivo, criado interpsiquicamente nesse ponto. Vivenciará a leitura como algo criado pelo leitor-autor.

Carl von Clausewitz (1790-1831) foi um militar prussiano, autor do mais famoso tratado sobre o tema da guerra no Ocidente. Depois de estudar a mais impressionante batalha das guerras modernas - a de Valmy, ocorrida em 1792 - em sua violência total, e as proporções estratégicas das guerras napoleônicas, Clausewitz teve a compreensão da transformação do conceito de guerra com base na integração do conceito de política na formação do Exército nacional de Napoleão; um exército sem aristocratas ou mercenários, mas composto de cidadãos, que vence o inimigo. Sua compreensão da violenta essência da guerra pôs por terra a falácia da honra aristocrática, que perdurava até então. Portanto, a partir de Clausewitz, o conceito de guerra e seus princípios se modificaram.

A guerra é um camaleão que modifica um pouco a sua natureza em cada caso concreto, mas é também como fenômeno de conjunto e relativamente às tendências que nela predominam, uma surpreendente trindade em que se encontra, antes de mais nada, a violência original de seu elemento, o ódio e a animosidade, que é preciso considerar como um cego impulso natural ... (Clausewiitz, 2010, p. 152)

A trindade "violência, ódio e animosidade" apontada pelo autor soa familiar, remetendo-nos à consciência moral primitiva de Bion, o que nos faz pensar no funcionamento mental na guerra no contexto de uma dimensão da mente primordial. (Mattos & Braga, 2009)

Clausewitz criticou as antigas teorias sobre estratégia e tática por desconsideração dos efeitos psicológicos do combate armado e a teoria da estratégia com base somente na análise de elementos matemáticos e geográficos. A nova teoria de Clausewitz elencou outros elementos possíveis para a teoria. Em sua visão, a guerra era mais que cálculos de probabilidades, em que um outro jogo criava suas próprias possibilidades, pondo abaixo o prisma da imutabilidade de forças científicas e matemáticas desse fenômeno de grupo.

Por meio da descrição de fatos da guerra Bion definirá o paradigma da psicanálise centralizado na atividade onírica. O sonhar é a forma mais profunda de pensar as experiências vividas, e desta maneira Bion expandirá radicalmente a compreensão já intuída por Freud sobre o sonhar. O sonhar é o modo de criarmos significados pessoais para que possamos nos tornar nós mesmos. Após determinado ponto, porém, fica insuportável sonharmos todas as nossas experiências, sendo necessário convocar uma outra mente, que, envolvendo-se conosco, sonhará conosco o insonhável.

Priorizando o sonhar, o inconsciente torna-se a base da função psica-nalítica da personalidade, e, para se fazer o trabalho psicanalítico, é preciso tornar o consciente inconsciente, isto é, tornar a experiência consciente vivida disponível para que o inconsciente possa sonhá-la, e pensar. É uma nova visão sobre o assunto, como Clausewitz fez com o conceito da guerra.

 

No War memoirs: quando o trauma foi tão intenso, quando os combatentes aboliram a memória

Walter Benjamin (1933/1996, p. 3) relatou que os soldados voltavam mudos do front. Estavam tão aterrorizados, tão empobrecidos, que nada narravam; havia uma relação entre narrativa e trauma, o traumático não dependia apenas da intensidade sofrida, e sim de uma relação entre aquilo que foi vivido e a impossibilidade de uma elaboração pela representação do traumático. No War memoirs: quando o trauma foi tão intenso, quando os combatentes aboliram a memória...

Aqui eu costumava deitar, cansado depois da noite, em uma espécie de estupor, que servia em vez de dormir. Era um negócio estranho - o calor, e os pesadelos nos quais você começava de repente em uma espécie de horror, ao encontrar o suor escorrendo pelo rosto. Era quase impossível distinguir sonho de realidade. O tat-tat-tat das metralhadoras alemãs tocava meu sonho com um efeito estranho, era como se, quando você acordava, se se perguntasse se estava sonhando. A metralhadora fazia você pensar que tudo era genuíno, e só aos poucos você se recuperava para cair no sono inquieto novamente.

Não demorou muito para o interesse na vida desaparecer. Logo me vi quase sem esperança. Eu costumava deitar de costas e encarar o teto baixo. Às vezes, olhava por horas um pequeno pedaço de lama que pendia do telhado por uma grama e tremia com a explosão das bombas. (Bion, 1997, p. 94)

Paul Nash (1889-1946), artista plástico que esteve no front, relatou que, embora tenhamos uma vaga noção dos terrores das batalhas, registro algum pode transmitir o cenário, "somente o mal e o demônio encarnados podem ser os senhores dessa guerra ... mutilando e enlouquecendo, afundando no túmulo que é a terra; e, sobre eles, os pobres mortos." (Amendola, 2020, p. 6).

Na tentativa de pensar/sonhar sua Guerra, Bion escreve e reescreve seu Diário várias vezes, uma delas em Oxford, logo depois de ser desmobilizado, e o faz como um jovem daquele período, enfatizando o impacto da experiência no relato minucioso e no exagero do tudo-ou-nada dos very, absolutely, beastly (Francesca, 1997).

Outra versão ele escreveu no final de sua vida. Estas tentativas de sonhar o não sonhável, sua autoanálise, sua autobiografia, não o abandonam jamais. Percebemos nesse esforço da narrativa o impacto da experiência emocional, a possibilidade e a impossibilidade de vivê-la na oscilação do funcionamento mental entre animado e inanimado, imaterial e material. A guerra é um "fato indigesto, ela não é sonhada, não foi transformada por alfa, e o mesmo valeu para a experiência emocional" (Bion, 2000, p. 73).

The fact that the patient uses an equipment suited for contact with the inanimate to establish contact with himself helps to explain the confusion produced by the patient's awareness that he is in fact alive. (Bion, 1962, p. 12)

Carole Tarantelli (2011) focaliza a investigação da parte psicótica da personalidade no pensamento bioniano por meio da descrição das batalhas em suas autobiografias como relatos do trauma catastrófico. Nele se dá o total engolfamento pelo terror primordial, medo subtalâmico, um terror tão intenso, que formulações verbais são inadequadas para fazer-lhe justiça (Bion, 1997, p. 204).

Em seu último livro Rudi Vermote comenta esse esforço de aproximar às transcrições do Diário de guerra, uma escrita da experiência em suas qualidades psíquicas:

Essas passagens estão escritas em um dialeto que alguns de seus camaradas no tank podem ter falado, como mais um vértice. São algumas das passagens mais atraentes sobre seu sofrimento psíquico como soldado. Ele evoca a presença de lembranças dispersas em sua mente, soldados feridos, um de seus companheiros morrendo perto dele com a barriga despedaçada por uma bomba, confundindo soldados caminhando com árvores se movendo. Todas essas coisas se reúnem em um estado de espírito dissociado, enquanto ele olha para um pedaço de lama. Bion evoca essa experiência mental extraordinária e descreve como sua experiência traumática na guerra assume uma forma decorrente da camada alucinatória indiferenciada. A lembrança de esperar na frente por um carro para buscá-lo é misturada com as lembranças de sua infância (arf-arfer: our father; king dumb: kingdom) e o dialeto de seus companheiros soldados e a experiência traumática de soldados que se transfiguram em árvores. Mostra como os pensamentos emergem de experiências emocionais indiferenciadas, vozes, sensações. Ele descreve da mesma maneira o que aconteceu quando cruzaram as linhas alemãs no ataque de 8 de agosto em Amiens, do qual Bion disse que morreu naquele dia. Nesse dia, 30.000 soldados alemães e 8.800 das forças aliadas foram mortos...

(Vermote, 2019, p. 90)

 

Conclusão

Neste artigo descrevemos a contínua oscilação entre o trabalho onírico do War memoirs e um "No War memoirs", ou uma impossibilidade de sonhar. Como diz Freud em Interpretação dos sonhos: "durante muito tempo confundiram-se os sonhos com seu conteúdo manifesto. Agora é preciso que não os confundamos com os pensamentos latentes". Ou, como diria Bion,

o cerne do sonho não é o conteúdo manifesto, mas sim a experiência emocional", ou, ainda, "o indivíduo que relata um sonho é a expressão aberta da curiosidade. É expor uma hipótese - como Hume entenderia esse termo, a saber, uma asserção em que certas associações estão constantemente conjugadas - para ser testada pelo senso comum. (Bion, 2000, p. 241)

Sonhar é debruçar-se no desconhecimento.

O funcionamento mental em War memoirs também foi pensado, neste artigo, em termos do mito edípico se o olharmos relacionado ao Ulisses de Homero e ao de James Joyce. O Édipo pode ser vivido em sua guerra, e o indivíduo permanecer aprisionado nele, em sua narrativa concreta, paralisada, dando a responsabilidade por sua vida às circunstâncias fora dela, constituindo, portanto, um No War memoirs edípico.

Em War memoirs Bion não pretendeu trazer à memória os aspectos reais da guerra, mas suscitar uma experiência no leitor, mantendo-o expectante. Consequentemente, a guerra não foi de modo algum expressa conforme apareceu diante de seus olhos, ela foi recriada, reinventada. Assim, não se trata de chegar a ela, mas de partir dela: a psicanálise é uma invenção, não um continente...

The dead-trap: um tiro direto; a tripulação inteira pereceu. Quando cheguei, os corpos estavam calcinados, saindo pela porta do tanque, como entranhas de algum monstro misterioso, primitivo, que simplesmente tivesse perecido instantaneamente na conflagração que deve ter sido desencadeada pelo tiro direto.

Essa é uma experiência semelhante a outras que tive no passado. No entanto, a semelhança só se refere aos fatos conhecidos, não ao desconhecido.

(Bion, 2000, p. 379)

Diante do impacto poderoso da guerra, contudo, precisamos inventar um discurso articulado que possa aproximar-nos dessas realidades impossíveis ou, ao menos, criar uma linguagem que chame a atenção para o desconhecido, para a experiência emocional.

 

Referências

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Recebido em: 31/3/2020
Aceito em: 11/5/2020

 

 

1 Tradução livre dos autores de todas as citações de Bion.
2 Prestigiada condecoração reservada aos oficiais durante a Primeira Grande Guerra, a Military Cross é uma Distinguished Service Order (dso), uma das condecorações do Reino Unido.
3 Odisseia, canto 8, versos 490 a 494. A fala de Ulisses ao espectro de Aquiles no cantoll, versos 523 e 524, as corrobora

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