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Jornal de Psicanálise

Print version ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.53 no.98 São Paulo Jan./June 2020

 

CHRONOS/KAIRÓS

 

Uma análise do eu em tempos de virtualidade e isolamento: reflexões psicanalíticas

 

An analysis of the self in times of virtuality and isolation: psychoanalytic reflections

 

Un análisis del yo en tiempos de virtualidad y aislamiento: reflexiones psicoanalíticas

 

Une analyse de moi en temps de virtualité et d'isolement: réflexions psychanalytiques

 

 

William Selau AlvesI; Eliana Rigotto LazzariniII

IPsicólogo (IESB), Especialista em Teoria Psicanalítica (UNICEUB) e Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e Cultura – 2018-2020 (UNB) / Brasília / wsarba@gmail.com
IIDoutora e Professora Adjunta do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (PSICC/UNB) / Brasília / elianalazzarini@gmail.com

 

 


RESUMO

Extraído de uma pesquisa de Mestrado em curso, esse trabalho examina a concepção do eu em psicanálise com suporte na teoria do narcisismo, demarcando a participação das tecnologias virtuais nos processos de comunicação e nas trocas subjetivas na atualidade. Baseados na visão psicanalítica do eu enquanto uma unidade constantemente atualizável, consideramos que a relação com as tecnologias virtuais fomenta uma revisita aos ideais primários, especialmente pela valorização de atitudes regulares de exposição da intimidade. Por fim, demonstramos o comparecimento desses fenômenos na cultura e na clínica psicanalítica, com recortes que ilustram exigências da realidade que aludem ao desamparo, como a enfatizada pelo isolamento social em vista da pandemia de coronavírus.

Palavras-chave: narcisismo, eu, tecnologia, desamparo, isolamento


ABSTRACT

Extracted from an ongoing Master's research, this paper examines the concept of the self in psychoanalysis based on the theory of narcissism, marking the participation of virtual technologies in the processes of communication and subjective exchanges today. Based on the psychoanalytic view of the self as a unit that is constantly updated, we consider that the relationship with virtual technologies encourages a return to primary ideals, especially by valuing regular attitudes of exposure of intimacy. Finally, we demonstrate the presence of these phenomena in the culture and in the psychoanalytic clinic, with clippings that illustrate demands of reality that allude to helplessness, such as what is emphasized by social isolation in view of the coronavirus pandemic.

Keywords: narcissism, self, technology, helplessness, isolation


RESUMEN

Extraído de una investigación de Maestría en curso, este artículo examina el concepto del yo en el psicoanálisis basado en la teoría del narcisismo, demarcando la participación de tecnologías virtuales en los procesos de comunicación e intercambios subjetivos de hoy. Basado en la visión psicoanalítica del yo como una unidad que se actualiza constantemente, consideramos que la relación con las tecnologías virtuales estimula el retorno a los ideales primarios, especialmente al valorar las actitudes regulares de exposición a la intimidad. Finalmente, demostramos la presencia de estos fenómenos en la cultura y en la clínica psicoanalítica, con recortes que ilustran demandas de la realidad que aluden a lo desamparo, como la enfatizada por el aislamiento social en vista de la pandemia del coronavirus.

Palabras clave: narcisismo, yo, tecnología, desamparo, aislamiento


RÉSUMÉ

Extrait d'une recherche en cours de maîtrise, cet article examine le concept de moi en psychanalyse basé sur la théorie du narcissisme, délimitant la participation des technologies virtuelles dans les processus de communication et les échanges subjectifs d'aujourd'hui. Sur la base de la vision psychanalytique de moi en tant qu'unité constamment mise à jour, nous considérons que la relation avec les technologies virtuelles encourage un retour aux idéaux primaires, notamment en valorisant les attitudes régulières d'exposition à l'intimité. Enfin, nous démontrons la présence de ces phénomènes dans la culture et dans la clinique psychanalytique, avec des coupures qui illustrent les exigences de la réalité qui font allusion à l'impuissance, comme celle accentuée par l'isolement social face à la pandémie de coronavirus.

Mots-clés : narcissisme, moi, technologie, impuissance, isolement


 

 

Introdução

O telefone celular é o equipamento mais utilizado para conexão com a internet em domicílios no Brasil, país em que 74,9% das residências possui acesso à rede (IBGE, 2017). A previsão para o ano de 2019 era de 235 milhões de smartphones ativos, o que representa mais de 1 aparelho por habitante (FGV, 2019). Dentre suas várias funções, esse dispositivo tecnológico possibilita acessar, em poucos toques, informações compartilhadas por diferentes pessoas em diversas localidades. Desde a Modernidade, o desenvolvimento dos mecanismos de comunicação impulsiona transformações nos limites de tempo e espaço, nos âmbitos público e privado e na própria ascensão da noção de eu (Sennett, 1988, Hall, 2006, Sibilia, 2008). Na sociedade pós-moderna demonstramos algumas ilustrações culturais de tais fenômenos e como essas chegam até a clínica psicanalítica.

Em uma leitura sociológica, Hall (2006) descreve que o avanço da globalização tornou as fronteiras mais flexíveis, o que permite conectar as pessoas em novas combinações temporais e espaciais, podendo levar a um descentramento do sujeito. Para o autor, isso indica que essa configuração do contexto atual pode influenciar na perda da estabilidade de um sentido de si e na fragmentação dos códigos culturais. Nessa mesma direção, Sibilia (2008) discute que vivemos em uma época marcada pela evolução tecnológica e mudanças nos processos de comunicação, o que impulsiona determinadas maneiras de ser e estar no mundo, provocando modificações na subjetividade e transformações na própria definição do eu.

Pierre Lévy expressa seu otimismo ao desenvolver essas ideias em seu livro Cibercultura. O filósofo e pesquisador em ciência da informação demonstra que a evolução tecnológica não se revela numa noção de substituição do velho pelo novo, do natural pelo técnico, do virtual pelo real, e sim, a partir de uma mudança no panorama da complexidade. Para exemplificar seu argumento, Lévy (1997) relata que com a invenção da fotografia, as artes visuais ganharam outras ramificações, fornecendo novos contornos às imagens, como o cinema, imagens interativas e realidades virtuais. Entretanto, o filósofo reconhece que o desenvolvimento tecnológico provoca novos planos de existência nos modos de relação entre as pessoas, nas formas de aquisição de conhecimento e nos processos de aprendizagem e pensamento.

Anterior a esses pensadores, Freud (1930/2010) já apontava indicações acerca de sua concepção sobre a evolução tecnológica e sua função para humanidade. Em "O mal-estar na civilização", o autor reflete que o desenvolvimento técnico e científico, representado pela otimização dos instrumentos, é realizado com o objetivo de aperfeiçoamento dos órgãos do sentido e de outras faculdades mentais. Ele afirma que o homem, por meio de sua ciência e técnica, se aproximou consideravelmente de um ideal que antes fora depositado em figuras divinas. Para Lipovetsky (2009), a sofisticação das novas tecnologias é um índice correlato a um indivíduo estimulado à busca de performances profissionais, sociais e corporais que flertam com a perfeição.

Nosso estudo parte da noção psicanalítica do eu enquanto uma unidade concebida pela relação com outras pessoas que fornecem instâncias ideais ao indivíduo (Freud, 1923/2011). Entretanto, uma unidade versátil mediante trocas subjetivas, estando sua estabilidade sujeita à oscilações (Freud, 1921/2011). É com base na formação desse eu, ficcional e instável, que discutimos acerca do seu encontro com o fascínio do mundo virtual, lugar onde trocas subjetivas acontecem em torno de prováveis promessas de completude e da realização totalizante das fantasias narcísicas.

É importante ressaltar que, na investigação psicanalítica a tentativa de elucidação do conhecimento não se dá por esgotada em um único estudo, pois a metodologia utilizada possui a intenção de expandir a compreensão a partir da construção de um método que lhe é próprio (J. J. Silva & Rocha, 2017). Por estudarmos o inconsciente, na pesquisa em psicanálise não procuramos revelar uma verdade absoluta, e sim, investigar outras facetas que são contextualizadas e relativas (D. Q. Silva, 2013). Para isso, utilizamos vinhetas clínicas e expressões artísticas culturais que acreditamos corroborar com a investigação da temática aqui apresentada.

 

O narcisismo e a constituição do eu

Fascinado pela sua própria imagem, o belo jovem Narciso se vê torturado por um desejo impossível. Após repelir diferentes pretendentes, é a sua imagem refletida em águas transparentes que desperta em si um encanto apaixonado. Percebendo a impossibilidade de se relacionar com esse objeto de amor, o jovem tenta se separar da própria pessoa, o que o leva a ferir-se fatalmente. É esse investimento por si mesmo que designa o termo narcisismo, o qual ganhou espaço conceitual na teoria psicanalítica (Roudinesco & Plon, 1998).

Em suas primeiras anotações, o narcisismo é citado por Freud (1911/1996) na análise do caso de Schreber ao descrever sobre os mecanismos da paranoia. Localizado entre o autoerotismo e o amor objetal, o narcisismo é destacado como um estágio no desenvolvimento da libido, momento em que o próprio eu é libidinalmente investido, tornando-se o primeiro objeto de amor. Mais tarde, no texto "Introdução ao Narcisismo", Freud (1914/2010) irá desenvolver conceitualmente o processo de constituição do eu, afirmando que esta unidade egóica não está presente no indivíduo desde o começo, e que só será desenvolvida posteriormente.

Em "O Eu e o Id" Freud aponta que o eu é sobretudo corporal, destacando a participação das sensações primordiais, como a dor, na formação de uma tenra ideia do corpo. O toque nesse corpo também pode provocar no indivíduo percepções internas e externas simultaneamente, fomentando novos conjuntos de representações ao arcaico eu. Outro apontamento freudiano deve ser acrescentado, o de que o olhar e o tocar podem se apresentar como equivalentes, pois o primeiro é derivado do segundo, podendo substituí-lo (Freud, 1905/2016, 1905/2017). Assim, temos que a primeira forma unificada do eu provém da imagem corporal a partir da relação com o outro e consigo mesmo.

Este contorno dado ao corpo manifesta-se numa dinâmica alienante, conferindo ao eu uma imagem a partir do outro. É o que desenvolve Lacan (1949/1998) sobre o estádio do espelho, momento em que a impotência motora está em processo de maturação e o indivíduo pode começar a se colocar em pé. O corpo parte de um estado de fragmentação para uma unificação, o que provoca uma transformação ao assumir uma imagem. O autor afirma que essa primeira forma do eu se situa "numa linha de ficção" (p. 98), designada pelo eu ideal e que estabelece "uma relação do organismo com sua realidade" (p. 100), ou seja, do seu mundo interno com o ambiente externo.

Dolto (1984) apresenta que "a imagem do corpo é a síntese viva de nossas experiências emocionais" (p. 14), sendo sempre do campo inconsciente a partir da relação estabelecida com o outro, anterior à capacidade do indivíduo dirigir-se a si mesmo pelo pronome pessoal Eu. Dessa forma, compreende-se que a constituição dessa imagem precede a formação de uma unidade do eu, ao mesmo tempo que fará parte fundamental desse conjunto unificado. Dolto acrescenta que a imagem possui a característica de atualização constante a partir do que é vivido pelo sujeito em termos relacionais, "pois é na imagem do corpo, suporte do narcisismo, que o tempo se cruza com o espaço, e que o passado inconsciente ressoa na relação presente" (p. 15).

Nas relações primordiais os pais investem narcisicamente no bebê recém-chegado, revisitando suas próprias fantasias narcísicas. Ocupando um lugar de privilégio no mundo, a criança poderá usufruir de uma superes-timação por parte de seus cuidadores, que a revogam todos os infortúnios da vida (Freud, 1914/2010). São essas expressões e declarações de preferências, e até mesmo de rejeições, que somadas à imagem corporal, fornecem ao indivíduo uma imagem idealizada do eu - o eu ideal.

A instância do eu ideal se traduz como um conjunto de representações do campo de fantasias narcísicas que procuram responder aos investimentos e expectativas dos objetos primários. Momento este que também alude a uma fantasia de total satisfação pulsional. Garcia-Roza (2004) reconhece que essa instância não se ausenta no adulto, quando afirma que "é importante manter presente que o eu ideal não é uma fase inicial do eu superada e substituída por uma outra que é a ideal do eu, e que uma vez superada desaparece" (p.57). Nesse sentido, podemos refletir que há no adulto a possibilidade de operação de um eu ideal que remete a uma posição narcísica frente às demandas do objeto, lugar em que o olhar do outro se constitui como suporte para o gerenciamento do amor-próprio - do sentimento de si.

Selbstgefühl é o termo original em alemão que foi traduzido para o português como amor-próprio. Entretanto, uma nota de rodapé na edição da Companhia das Letras aponta que a tradução literal do termo é "sentimento de si" (Freud, 1914/2010, p. 45). Essa concepção refere-se a uma expressão da grandeza do eu, articulado com o sentimento rudimentar de onipotência. A diferença principal entre Selbstgefühl e o eu, é que no segundo temos o princípio de uma unidade, um composto, um conjunto unificado a partir da formação da imagem. Já o sentimento de si é relativo "à vida de relação do indivíduo e sua auto conservação" (Garcia-Roza, 2004, p. 53).

Em alguns exemplos, Freud (1914/2010) enfatiza que o rebaixamento do sentimento de si pode estar relacionado com uma percepção de impotência do indivíduo, expressado por sua dificuldade para amar. Uma possibilidade apontada pelo autor é da dependência do objeto de amor, situação em que o efeito rebaixador aparece. Temos assim, que o sentimento acerca de si mesmo, que aponta para a grandeza do eu, está intimamente ligado com as relações estabelecidas com o objeto e ao cumprimento dos ideais.

Entretanto, Freud (1923/2011) aponta que uma parte significativa do eu é inconsciente, o que faz essa instância estar à serviço do Id, contrabalanceando constantemente as exigências do princípio de prazer. Há assim um grande esforço do eu ao tentar se proteger, atender e se satisfazer das demandas do mundo interno e externo, paralelamente. Não à toa, sua versatilidade é prevista e sua estabilidade está exposta à abalos (Freud, 1921/2011). Sua unidade ficcional é constantemente revisitada à medida em que avança em sua história de relações e trocas subjetivas. Os ideais impostos ao eu no processo de constituição e ao longo da vida do indivíduo influenciam a maneira como este irá se relacionar com outras pessoas, modificando o sentimento acerca de si e do próprio núcleo narcísico.

 

Os ideais na cibercultura

Tendo revisitado a teoria psicanalítica no que concerne ao processo de constituição do eu a partir do narcisismo, é possível agora examinar o comparecimento desses fenômenos na pós-modernidade. Vimos que, tendo como base o narcisismo, construímos uma noção de nós mesmos mediante experiências que se representam em uma imagem constantemente atualizá-vel. Dessa forma, torna-se possível levantar articulações do uso das novas formas de comunicação e interação social, via internet, mediadas por atitudes públicas carregadas de ideais, e sua participação nas formas contemporâneas de subjetivação.

Como detalha historicamente Sibilia (2008), o que marca o surgimento da Modernidade é a delimitação mais clara do espaço público e privado, mediante mudanças no interior das cidades e da própria cultura. A autora descreve que, no ocidente, entre os séculos XVII e XVIII, começam a aparecer ambientes mais confortáveis e silenciosos que permitiam o exercício da intimidade: os quartos privados. Nesse recinto pessoal e entre quatro paredes, apartado do âmbito público, torna-se possível o desenvolvimento de um eu resguardado, onde é concedida a permissão de autenticidade. Estar sozinho se revelou como um novo objeto de desejo, o que proporcionou aos indivíduos uma blindagem aos olhares alheios. Esse período se tornou fértil para a produção da escrita de si, estilo marcado pela característica confessional e intimista.

Atualmente podemos considerar que vivenciamos um período de mudanças significativas no tocante ao âmbito público e privado, o que provavelmente modifica a relação do sujeito com sua própria noção de eu. Sibilia (2008) afirma que no espaço cibernético as novas versões da escrita de si possuem um estatuto ambíguo, pois ao mesmo tempo que podem carregar a característica de uma prática solitária, exigem uma conduta de publicidade total e instantânea. Com o advento da internet, com suas mudanças na percepção de tempo e espaço, podemos conjecturar que a escrita de si se transformou em uma prática de produção e publicação da imagem de si, possibilitada pelo avanço das ferramentas de comunicação.

Em sua reflexão sobre os meios de comunicação em massa, Lasch (1983) elabora sobre o culto narcisista da fama e glória que permeia a vida do homem comum, como consequência do encantamento proporcionado pela sétima arte. Ele afirma que a mídia proporciona elementos de identificação com a vida das celebridades, o que dificulta a aceitação de um cotidiano de existência banal. Todavia, pode-se pensar que a tecnologia tem proporcionado uma transformação dessa lógica proposta por Lasch. A vida cotidiana se tornou um cenário do espetáculo narcísico, tendo o eu como protagonista.

Concordamos com Sibilia quando ela afirma que a "exibição pública da intimidade não é uma miudeza que mereça ser menosprezada" (2008, p. 58). Ela reconhece que a prática da escrita de diários íntimos foi convertida em publicações de imagens, vídeos e mensagens instantâneas via internet, o que aponta para uma prática cultural já existente, mas com o sentido alterado. A autora afirma que o objetivo principal da "estilização do eu consiste precisamente em conquistar a visibilidade" (p. 75), sendo o anonimato pouco desejável. A cultura da publicação da intimidade do eu parece acomodar configurações rudimentares da constituição da imagem ideal proveniente de investimentos narcísicos primordiais.

Dentro dessa lógica, é possível refletir que o olhar e o tocar se articulam numa dinâmica metapsicológica e tecnológica. Pela função touchscreen, presente na maioria dos aparelhos smartphones, é possível tocar, olhar e saber do outro em sua intimidade, conferindo aos usuários um lugar simultâneo de exibicionismo e voyeurismo. Como formula Freud (1915/2010), a forma ativa e passiva do prazer de ver coexiste com a fase preliminar auto-erótica, o que indica a ambivalência presente desde o início na formação do eu a partir do narcisismo. Na contemporaneidade, este eu pode ser tocado e olhado continuamente pelo outro, o que possibilita um reencontro dos ideais a partir das trocas narcísicas estabelecidas com objetos na esfera relacional.

Lemma (2015) confere ao ciberespaço um lugar onde as pessoas podem se sentir totalmente em controle, pois tudo o que querem está a um clique de distância. Ela acredita que o virtual é mais do que o encontro de mentes conectadas, afirmando que o corpo também participa dessa interação, mesmo que mediada pela tecnologia. Assim, embora conectados, ainda estamos personificados. A autora reflete sobre em que medida as atividades online participam das experiências offline de construção do senso de identidade. Como exemplo, ela cita os jogos digitais em que o usuário pode criar um avatar pessoal. A identidade que alguns indivíduos criam para os personagens demonstra que o ciberespaço é um ambiente onde eles podem personificar os próprios ideais. Entretanto, ela adverte:

Discrepâncias muito grandes entre a imagem corporal offline e o personagem podem levar alguns indivíduos a preferirem ou até se fixarem no próprio avatar, resultando numa dominância psíquica do virtual sobre o não-virtual, o que pode resultar em indivíduos que passam mais tempo em um estado onde o sentimento de si é percebido como aprimorado. (Lemma, 2015, p. 577, tradução e grifo nosso)

A autora sustenta que essa experiência aponta para um estado narcí-sico de completa onipotência, onde as leis do princípio de realidade não se aplicam. Sendo o sentimento de si uma expressão da grandeza da unidade do eu, observamos que nesse exemplo ele é exaltado, pois fornece ao eu uma amplitude típica de satisfação das fantasias de atendimento aos ideais narcísicos.

Ilustrativo a essa questão, o filme Her, que estreou no Brasil em 2014 e foi vencedor de diversos prêmios, incluindo o Oscar de melhor roteiro original, apresenta a história do escritor Theodore e o seu relacionamento com um sistema operacional. Após um difícil rompimento amoroso, o homem começa a interagir com uma nova ferramenta de inteligência artificial que se auto denomina Samantha. Reconhecendo toda sua rotina e atendendo aos seus pedidos, Samantha age como uma secretária virtual que marca suas reuniões, lê seus e-mails, toca suas músicas favoritas e inclusive fornece uma escuta dedicada em momentos em que o escritor se sente triste. A tecnologia possui a capacidade de evoluir à medida que conhece melhor o seu usuário e, assim, Samantha torna-se afetivamente próxima de Theodore. Não demora muito para que ele se apaixone por esse ideal de companheira que reconhece suas necessidades vitais e suas fantasias sexuais, podendo prontamente atendê-las.

De acordo com Freud, na incapacidade de cumprir seu ideal do eu, após investir frustradamente em um objeto perdido, o indivíduo pode retornar ao narcisismo, elegendo um novo objeto com o qual deposita um ideal sexual de acordo com o tipo narcísico - movimento esse que parece ser representado nas vivências do personagem Theodore. Freud salienta que, quando a satisfação narcísica enfrenta obstáculos reais, "a pessoa ama em conformidade com o tipo de escolha narcísica de objeto, aquilo que já foi e que perdeu, ou o que possui os méritos que jamais teve" (1914/2010, p. 49).

Samantha é isenta de imperfeições, permitindo uma fantasia de completude a Theodore, com quem passa se relacionar afetiva e sexualmente.

Em uma análise sobre a cultura vigente, Oliveira e Ceccarelli (2015) afirmam que as pessoas estão sempre diante de uma realidade psíquica, independentemente das relações serem virtuais ou presenciais. Os autores também citam o filme Her para demonstrar que as experiências digitais podem ser entendidas como uma nova roupagem para suporte das fantasias narcísicas. Em um momento da trama, ao se deparar com a ausência de Samantha, pois o sistema estava fora do ar, Theodore revela reações de abandono ao lidar com essa falta. O homem deixa o trabalho, corre pela rua sem destino com esperança de encontrá-la, chegando a tropeçar e a cair. Diante disso, Oliveira e Ceccarelli refletem se estaríamos perante uma reatu-alização de estratégias no trato de experiências de desamparo frente à conflitos narcísicos. Os autores afirmam que, pelo viés da economia libidinal, as relações virtuais possuem aspectos semelhantes com a lógica inconsciente, portanto, entende-se que nessas vivências as repetições e atuações não são improváveis.

Contudo, Lemma defende que, mesmo que se atribua ao ciberespaço um lugar propício para atuações, a psicanálise deve considerar a possibilidade de o virtual também representar um recurso analítico, tendo em vista que a tecnologia tem participado do cotidiano das pessoas e também comparece ao setting. Ela conclui dizendo que o mundo do ciberespaço é um ambiente que pode influir na elaboração psíquica, desde que o analista faça um bom uso dessa ferramenta a partir das elaborações do analisante, possibilitando que este se aproprie do que está sendo apresentado e vivenciado dentro de um determinado espaço virtual.

 

A clínica do narcisismo diante do isolamento

Conforme Castells (2003), um novo padrão de sociabilidade baseado no individualismo tende a surgir com a influência da internet sobre as relações sociais. O autor avalia que o uso da internet não incita uma sociabilidade declinante, pelo contrário, o uso pode aumentar a interação social tanto online quanto offline. Para Lévy (2010), a cibercultura estabelece a possibilidade de uma civilização interconectada, constituindo continuamente contatos humanos com fronteiras cada vez mais dissipadas. A construção do laço social possibilitada pela cibercultura se expressa em torno dos processos abertos de colaboração, dos interesses em comum, do compartilhamento de ideias e saberes.

Avaliando esse cenário, Sibilia expressa que "a profusão de telas multiplica ao infinito as possibilidades de se exibir diante dos olhares alheios e, desse modo, tornar-se um eu visível" (2008, p. 111, grifo da autora). Numa cultura em que as aparências, o espetáculo e a visibilidade são valorizadas, a construção da subjetividade não é mediada pelo trato com o espaço interior e com os próprios conflitos psíquicos e, sim, por tendências exibicionistas que objetivam o reconhecimento do outro, numa lógica em que é preciso aparecer para ser.

Na clínica psicanalítica contemporânea muito se tem discutido a respeito das expressões de sofrimento de ordem narcísica. Lazzarini e Viana mostram que o sujeito de hoje encontra um destino de retorno a si mesmo como uma marca da constituição narcísica, fruto da simbiose com o objeto primordial. Na clínica, comparecem sujeitos que se queixam de um mal estar difuso, que comumente se traduz como um sentimento de vazio interior, remetendo a algo da ordem do desamparo primordial. As autoras elaboram que esses casos se referem a uma constituição narcísica relativa à eleição de objeto com suporte na imagem do próprio eu, o qual é convertido em seu ideal. Dessa forma, "o indivíduo na sociedade atual tem sido convocado para a busca do perfeito: corpo, status, trabalho, eficiência, estilo e modo de vida" (2010, p. 271).

Santos reconhece que a clínica atual está localizada em um cenário pouco simbólico. Alguns analisantes se deparam com um desafio ao associar livremente, pois "aparecem silenciosos, apáticos, quase não conseguindo descrever suas queixas e muito menos ainda expressar algum tipo de demanda" (2019, p. 70). Em sua reflexão sobre a psicanálise na pós-modernidade, a autora elabora que vivemos em um tempo de difícil conexão com nossa própria história, tendo como uma das marcas a noção de instantaneidade proporcionada pelo avanço tecnológico. O que o sujeito contemporâneo recebe do mundo virtual atinge sua "organização pulsio-nal que solicita sempre mais do prazer oferecido, criando uma relação de excessos pulsionais que esbarram na adicção" (2019, p. 70). A oferta e a demanda podem se tornar incompatíveis, o que leva o sujeito a enfrentar como obstáculo a possibilidade de separação do objeto de prazer e o confronto com a realidade - características emblemáticas de uma organização narcísica primitiva.

Renunciar a fruição, restringir o prazer, enfrentar uma doença ou a própria morte são infortúnios revogados ao indivíduo em sua constituição narcísica primária. Situação essa que se estende à vida adulta, quando os pais revivem o seu próprio narcisismo refugiando-se na criança, a qual asseguram sua imortalidade do eu (Freud, 1914/2010). Ademais, "no inconsciente cada um de nós está convencido de sua imortalidade" (Freud, 1915/2010, p 230) e, dessa forma, tendemos a tratar a morte como algo apenas casual, frente a um acidente, doença, infecção ou idade avançada. Freud elabora tais reflexões em face ao cenário da primeira guerra mundial, demonstrando em que medida situações extremas podem afrontar a soberania do eu. O autor dá pistas de como enfrentamos determinada conjuntura, quando buscamos no entretenimento, em especial aqueles do mundo da ficção, um substituto para encarar as possíveis perdas da vida.

Mais de um século depois do referido texto freudiano, o mundo viria a enfrentar outra situação extrema com a descoberta de um novo coronaví-rus, a qual marcou a passagem para o ano de 2020. Declarada como uma pandemia1, a doença impôs o isolamento social como uma estratégia global para redução do contágio e da transmissão comunitária do vírus. Na clínica psicanalítica, relatos sobre o enfrentamento de tal situação variavam, perpassando o medo da contaminação ao risco de morte, assim como, estratégias de negação de tal realidade. Contudo, é em torno das queixas relacionadas ao estar só e do estabelecimento de um provável ideal acerca da constante conexão virtual com o outro, que ilustramos nossa análise.

Do incômodo de uma analisante que diz estar angustiada por estar trabalhando em casa por condições da quarentena, manifesta-se uma queixa quanto a ausência de validação do outro acerca das produções da sua atividade laboral. No uso da ferramenta de e-mail, busca constantemente evidenciar sua produtividade à chefia e, dessa forma, se protege do risco que o ócio oferece por estar no conforto de sua casa, preservando, fantasiosamente, a imagem de uma profissional competente. Outro analisante encontra no entretenimento a garantia de manutenção da produtividade, buscando ficar a maior parte do seu tempo ocupado com sua atividade favorita. Dançando em frente ao celular, acompanha e interage com profissionais e professores de dança em diferentes países que transmitem aulas ao vivo a partir das redes sociais. Este considera fundamental manter sua rotina preenchida com atividades que estimulem o aprendizado e interação social constantes.

Em vista das possibilidades de sociabilidade viabilizadas pela internet em escala global, outrossim, da importância destinada a atitudes de publicidade da intimidade e do reconhecimento subjetivo a partir do olhar do outro, a clínica psicanalítica contemporânea se depara com indivíduos que podem enfrentar como um obstáculo situações diversas que aludem ao desamparo, como esta provocada pelo isolamento social. Lançar mão dos recursos virtuais revela-se como uma estratégia encontrada para moderação de possíveis ameaças ao narcisismo. Se por um lado, a evolução da tecnologia permitiu que algumas pessoas em isolamento tivessem a oportunidade de continuar o exercício de atividades profissionais e de lazer em casa, por outro, anunciou a necessidade de uma incessante estimulação e reconhecimento advindo do outro, bem como, a recusa em suportar a experiência de solidão.

A capacidade de estar sozinho, nos diz Winnicott (1958), está relacionada intimamente com a maturidade emocional do indivíduo e com o estabelecimento de uma integração do eu. Fazendo uma análise do desenvolvimento infantil, o autor nos demonstra que a necessidade da presença do outro remete ao estágio anterior ao Édipo, ou seja, ao período narcísico da constituição, momento em que o eu ainda carece de uma unidade. Na experiência de estar só, mesmo na presença de alguém, o indivíduo tem o potencial de descobrir sua vida pessoal própria, tornando possível o estabelecimento do seu mundo interno. Numa alternativa contrária a essa, um indivíduo pode fundamentar falsamente sua vida respondendo a não mais que aos estímulos externos. Contemporâneo ao nosso estudo, Winnicott reitera que "a pessoa pode estar num confinamento solitário, e ainda assim não ser capaz de ficar só" (1958, p. 32), podendo sofrer quando assim o precisa.

Com base na concepção winnicottiana, avaliamos que indivíduos imaturos narcisicamente podem encarar a experiência de solidão como um grande obstáculo, o que possivelmente acusa uma necessidade do outro primordial, suporte básico para a existência do eu enquanto uma unidade minimamente integrada. No estudo de Winnicott (1958), a dificuldade de um indivíduo em estar só aparece vinculada com a dependência de estímulos externos, os quais possuem suas raízes nos cuidados primários. Como desenvolveu Freud (1914/2010), a mulher que nutre ou o homem que protege, se inserem no tipo de relação narcísica de apoio, a qual Winnicott (1985) faz referência. Tal relação narcísica pode remeter à valorização de um ideal dentro de si, o que favorece o empobrecimento do eu em detrimento ao objeto superestimado (Freud, 1914/2010).

Observando essas questões, refletimos que, diante de situações cotidianas que reportam ao sujeito sua condição inerente de desamparo, bem como de cenários extremos, como uma guerra ou uma pandemia, a constituição do eu em torno de uma estrutura narcísica pode revelar a urgência da participação e reconhecimento do outro como indispensável para a experiência subjetiva no confronto com as exigências da realidade. No cenário contemporâneo, o uso de recursos virtuais, a depender de sua qualidade, pode se apresentar como complemento ao enfrentamento de situações que demandam ao sujeito o trabalho psíquico de gerenciamento do sentimento de si, sobretudo quando sozinho.

A partir do estudo de Aulagnier (1990), é possível avaliar que estar sozinho permite ao sujeito a condição para poder pensar e se resguardar em sua intimidade. A possibilidade de criar pensamentos secretos, sem a exigência de constante comunicação destes, é uma necessidade para o funcionamento psíquico e a prova da autonomia conquistada pelo eu. Uma vez que a ilusão de fusionamento com o outro é abandonada, surge a possibilidade de distinguir que "separação não quer dizer isolamento" (p. 268). A dependência afetiva que cerca o eu aos poucos poderá caminhar para uma valorização do distanciamento para que, dessa forma, o eu possa desfrutar de momentos solitários como prazerosos, sem lançar-se à culpa de assim o fazer.

 

Considerações finais

Por fim, pensamos que a tarefa de considerar e estudar o comparecimento desses fenômenos na clínica e na cultura é ir ao encontro com a concepção de Freud (1921/2011) de que estaremos sempre nos referindo a psicologia individual ao falarmos da psicologia social. Consideramos que a experiência do mundo virtual se revela como mais uma possibilidade de expressão humana acerca de suas questões primordiais. Nessa direção, afirmamos que o uso da tecnologia não se anuncia como algo necessariamente deletério, da mesma maneira que não o reconhecemos como imparcial.

Não interessados em uma conclusão que encerre a discussão sobre o tema, acreditamos que o estudo fornece materiais para uma reflexão acerca da participação do mundo digital nas formas contemporâneas de subje-tivação e na atualização da instância do eu frente ao próprio narcisismo.

Partindo do conceito de narcisismo em psicanálise, foi possível explorar o processo de constituição do eu enquanto uma imagem que concede ao indivíduo uma forma unificada de seu corpo a partir das relações estabelecidas com os objetos. As instâncias ideais também marcam o indivíduo em sua subjetividade, pois conferem modelos para assistência do sentimento de si conforme os aspectos da cultura vigente.

Olhar e ser olhado se revela como uma dinâmica substancial ao indivíduo imerso em laços sociais exclusivamente mediados pela tecnologia e que desembocam em relações narcísicas de objeto. Novamente em frente ao espelho, é nas imagens virtuais que o eu revisita sua alienação primordial, o que faz ressoar seu passado inconsciente nas relações estabelecidas virtualmente em seu presente. O tempo em velocidade instantânea se cruza com um espaço de fronteiras tênues, demandando um complexo trabalho psíquico das exigências pulsionais de ordem narcísicas.

Salientamos que o eu, enquanto um conjunto de representações, é baseado nas relações primordiais, sendo passível de uma atualização no decorrer de sua história. Ao se deparar com um contexto que valoriza a divulgação da intimidade, a dimensão ficcional do eu é posta ao trabalho de revisão de seus ideais. Na clínica psicanalítica da pós-modernidade, marcada por expressões de sofrimento narcísico, é possível perceber a influência do espaço virtual no enfrentamento de experiências de desamparo, que convoca o sujeito a encarar o postulado de sua incompletude.

 

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Recebido em: 3/12/2019
Aceito em: 10/6/2020

 

 

1 Organização Mundial da Saúde declara pandemia de coronavírus em 11 de março de 2020: https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/events-as-they-happen

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