SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.53 número98Bacurau, "bacurando-me", "bacurando-se"O inefável sujeito do ser em nós índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.53 no.98 São Paulo jan./jun. 2020

 

TEMAS LIVRES

 

Transformações do/no analista: assombrações e assombros1

 

Transformations of/in the analyst

 

Transformaciones del/en el analista

 

Transformations de/chez l'analyste

 

 

Ana Maria Stucchi Vannucchi

Membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). São Paulo / anavannucchi@gmail.com

 

 


RESUMO

Neste trabalho a autora procura pensar a experiência clínica com dois pacientes, com os quais surgiram vivências estranhas e ameaçadoras, que ela nomeia de início como assombrações. Suas reflexões sugerem que as transformações que o analista pode fazer dessas assombrações - suas intuições, seu pensamento onírico e funcionamento alfa - podem trazer desenvolvimentos úteis à dupla analítica, como o surgimento de novos vértices, a ampliação do espaço mental e a possibilidade de digerir e elaborar fortes emoções, movimentos mais ligados à noção de assombro, pensado como propiciador do conhecer e do ser. O trabalho aborda também as transformações vividas pelo analista em sua formação, as transformações propiciadas pela escrita analítica, bem como as transformações existenciais durante a vida do analista, que podem dificultar sua função analítica, necessitando constantes cuidados e reanálises.

Palavras-chave: assombração, assombro, conhecer, ser uno com (at-one-ment), formação analítica


ABSTRACT

In this article the author seeks to reflect on the clinical experience with two patients who lived through strange and threatening episodes, which, right from the very start, the author named as hauntings. Her considerations suggest that these hauntings may be transformed – through the analyst's intuition, oneiric thought and alpha function – and the result of these transformations may bring useful unfoldings to the analytical pair, such as the springing of new vertex, the amplification of the mental space and the possibility to digest and elaborate strong emotions, movements closer to the notion of haunt regarded as a sponsor for knowledge and for being. This article also approaches the transformations experienced by the analyst in their formation, the transformations the analytical writing may provide, as well as existential transformations in the analyst's own life, which may hamper the analytical activity, demanding constant care and reanalyses.

Keywords: haunting, haunt, know, at-one-ment (atonement), analytical training


RESUMEN

En el presente trabajo, la autora plantea la experiencia clínica con dos pacientes, en la que surgen experiencias extrañas y amenazantes, que inicialmente denomina apariciones. Sus reflexiones sugieren que las transformaciones de estas experiencias que el analista puede llevar a cabo (sus intuiciones, su pensamiento onírico y su funcionamiento alfa) pueden aportar desarrollos útiles al dúo analítico, como la aparición de nuevos vértices, la expansión del espacio mental y la posibilidad de digerir y elaborar emociones fuertes, movimientos más vinculados a la noción de asombro, pensado como propiciador del saber y del ser. El trabajo también aborda las transformaciones experimentadas por el analista en su formación, las transformaciones proporcionadas por la escritura analítica, así como las transformaciones existenciales durante la vida del analista, que pueden obstaculizar su función analítica, lo que requiere un cuidado constante y reanálisis.

Palabras clave: aparición, asombro, conocer, ser uno con (at-one-ment), formación analítica


RÉSUMÉ

Dans ce travail, l'auteur essaie de réfléchir l'expérience clinique avec deux patients, où des expériences étranges et menaçantes ont émergé, qu'elle nomme d'abord comme des hantises. Ses réflexions suggèrent que les transformations que l'analyste peut faire de ces hantises – ses intuitions, sa pensée onirique et son fonctionnement alpha – peuvent apporter des développements utiles au duo analytique, tels que l'émergence de nouveaux sommets, l'expansion de l'espace mental et la possibilité de digérer et élaborer des émotions fortes, des mouvements plus liés à la notion d'étonnement, pensé comme apportant de la connaissance et de l'être. Le travail aborde également les transformations vécues par l'analyste dans sa formation, les transformations apportées par l'écriture analytique, ainsi que les transformations existentielles au cours de la vie de l'analyste, qui peuvent entraver sa fonction analytique, nécessitant des soins constants et réanalyses.

Mots-clés: hantise, étonnement, savoir, être un avec (at-one-ment), formation analytique


 

 

Ao refletir sobre as transformações operadas na mente do analista, voltei-me para minha própria experiência com meus analisandos, de onde privilegiei as vivências estranhas e assombrosas que tenho tido em meu trabalho como psicanalista. Denominei-as como assombrações e assombros. O que elas poderiam indicar? Poderia confiar nelas? Ou seria melhor desconfiar? Seria possível transformá-las? Com base nestas perguntas iniciais, decidi começar minha reflexão pela noção de estranheza, que se relaciona de perto com ambas.

Freud (1919/2010b) investigou o fenômeno do estranho/inquietante e ao mesmo tempo familiar (unheimlich), relacionando-o com a expressão de aspectos inconscientes reprimidos, e associando-o ao campo da estética e das artes, com suas interessantíssimas reflexões sobre o Homem de Areia, de Hoffmann, e a estranheza de Olímpia, ao mesmo tempo boneca e filha do prof. Spalanzani, por quem Nataniel se apaixona. Freud esclarece nesse lindo ensaio a proximidade existente entre os fenômenos estranhos e os processos inconscientes, que para mim se associam também à noção de assombro.

Na área da Educação, foi Catherine L'Ecuyer (2017)2 quem alertou para a questão do assombro, enfatizando a importância da beleza, do mistério e da liberdade interior no processo educativo, elementos que ela contrapõe a uma superestimulação, como a que vivemos hoje em dia. Destaca o espanto como motor do conhecimento, considerando-o como uma capacidade inata do ser humano que, no entanto, pode ser perdida e inibida.

Nos últimos tempos tenho observado que os termos "assombro" e "espanto" têm surgido no trabalho de alguns colegas (Junqueira, 2014; Perrini, 2018 e Nosek, 2017), e de certa forma se aproximam, embora com grandes diferenças, da noção de estranho iluminada por Freud. Cada um deles toma a noção de assombro com base em um determinado vértice (Bion, 1970/2007), mas sempre considerando a utilidade e necessidade do assombro, para que se possa alcançar uma experiência psicanalítica valiosa e significativa para a dupla analítica.

Tomo a liberdade de retomar a noção de assombro, propondo um vértice que, do meu ponto de vista, ajuda a iluminar a clínica psicanalítica. Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, assombro é admiração estranha, espanto, maravilha, terror. O termo "espanto", no mesmo dicionário, está definido como assombro, pasmo, admiração, sobressalto, susto, medo, terror, pavor, ou mesmo admiração, maravilha, imprevisto, surpresa. Ainda segundo esse dicionário, assombração é o terror proveniente de causa inexplicável, pavor motivado pelo encontro ou aparição imaginária de coisas sobrenaturais, alma do outro mundo, fantasma. Fiquei pensando se seria possível transformar uma assombração em assombro, e de que forma tornar o assombro útil e confiável para nosso trabalho. Posso também conjecturar a possibilidade de transformar um assombro em assombração, numa situação vivida como uma mudança catastrófica, em que uma evolução possível oferecida pelo assombro fica comprometida e paralisada. Mas vou aqui me deter no primeiro movimento.

Como os termos "assombro" e "espanto" têm significados muito próximos, eu me permiti seguir pela via do espanto. Tomando o termo "espanto" em consideração, encontrei a respeito várias reflexões, muito interessantes!, do professor Franklin Leopoldo e Silva (2016). Ele esclarece que o espanto se liga a algo incompreensível, engendrando uma tentativa de compreensão. Neste sentido, o espanto estaria na origem do saber ou do conhecimento humano, envolvendo perplexidade, admiração, encantamento, e também terror, constituindo-se em um fenômeno complexo. O autor esclarece que a familiaridade esgota o espanto, diminuindo o trabalho psíquico de conviver com o desconhecido. Assim sendo, traz novamente uma aproximação entre o espanto e o desconhecido, e entre o desconhecido e a busca do conhecimento, já nossa "conhecida" e tantas vezes enfatizada por Bion (1970/2007), e nomeada como capacidade negativa por Keats.

As opiniões consolidadas, os preconceitos, impedem o espanto e o conhecimento, e a maiêutica socrática pode ser vista como uma tentativa de libertar a pessoa de opiniões solidificadas, por meio de indagações. Leopoldo e Silva aproxima também os termos "espanto" e "arte", propondo que o espanto causado pela obra de arte oferece acesso a algo novo que o artista percebeu e quer comunicar. Surge então uma aproximação entre o espanto e a estética, a apreensão do belo, que foi proposta por muitos psicanalistas, especialmente Meltzer e Williams (1994) e Bion (1965/2004b), além de outros autores. Podemos considerar que o espanto não envolve apenas nossa relação com os fenômenos naturais, mas também os éticos e políticos, como condutas humanas, modos de convivência e diferenças humanas, trazendo outra maneira de olhar o humano. Podemos conjecturar que, na contemporaneidade, a razão pode anular o espanto e trazer o desencantamento do mundo! Tudo depende da forma de nos relacionarmos com a experiência: como alcançar autonomia e liberdade para acolher a experiência vivida? Como lidar com ela e transformá-la, sem ser engolfado e submetido por ela? Como nos permitir ser profundamente tocados pela experiência? (Frochtengarten, 2018). Procuro refletir sobre essas questões neste trabalho.

Leopoldo e Silva (2016) localiza o espanto na origem da filosofia, e conta-nos uma linda anedota:

Diz-se que uma menina da Trácia viu o filósofo Tales de Mileto andando e olhando o céu muito encantado, provavelmente investigando muitas questões cosmológicas e filosóficas, quando caiu num buraco!!! A menina considerou isso um disparate, conjecturando que a consequência do espanto seria muito negativa!

Vou propor neste trabalho a ideia oposta, de que talvez, em nosso ofício, valha a pena cair no buraco, e, como Alice, penetrar na toca do coelho branco que a transporta para um outro mundo; um lugar fantástico, povoado por criaturas e objetos peculiares (o rato falante, um lago de lágrimas, a lagarta azul, os bolos que aumentam e diminuem, o sapo-lacaio, o gato de Cheshire, a Duquesa, o chapeleiro louco, a lebre de março, o tempo paralisado), até que enfim ela consegue entrar no tal jardim maravilhoso! Neste reino-jardim, Alice encontra o rei e a rainha de copas, reinando ali uma lógica que parece absurda, e ameaças muito assustadoras: "Cortem-lhe a cabeça!" Tudo se assemelha ao mundo dos sonhos... E realmente, ao final, Alice é acordada por sua irmã.

Não seria essa a proposta de Bion (1976/1981), ao formular a ideia de uma mente multidimensional, encarecendo a necessidade de o analista desenvolver uma mente capaz de atravessar cesuras? Podemos conjecturar as cesuras que ao mesmo tempo separam, mas também comunicam as diferentes dimensões? Poderiamos considerar essa capacidade de atravessar cesuras, associada ao binômio observação e intuição, psicanaliticamente desenvolvida. Como isso se relaciona com a "eterna" formação do analista? Todas essas questões estão na origem e no desenvolvimento de meu dia a dia psicanalítico, bem como das reflexões que apresento aqui.

Como ilustração, trago dois fragmentos clínicos:

O primeiro se refere a um paciente antigo, que, tendo ficado um longo período em análise, decide interromper o trabalho, sentindo-se satisfeito com sua vida, e acreditando ter atenuado sua onipotência, arrogância e fantasias de superioridade, e sua negação dos vínculos afetivos, que para ele significavam dependência. Depois de 10 anos retorna pedindo para conversar, pois tinha sido acometido por uma doença crônica, que, segundo o médico, deveria paralisá-lo gradualmente, sendo, portanto, fatal. Logo na primeira sessão do retorno, quando o paciente se levanta para sair, me vem à mente a imagem dele precipitando-se e jogando-se pela janela de minha sala. Eu realmente vi essa assombração! Aterrorizo-me com essa imagem, e em um primeiro momento me paraliso, e me pergunto se ela seria uma alucinação, e se eu teria condições de atendê-lo por estar muito tocada e perturbada com essa visão e com sua situação emocional.

Depois, outras ideias e perguntas surgiram: deveria encaminhá-lo ao psiquiatra? Ou eu mesma estaria precisando de um psiquiatra? Deveria entrar em contato com a família para evitar uma tragédia? Mas a tragédia já estava anunciada... Aos poucos, com as sessões sucessivas, e a ampliação de minha continência e funcionamento alfa (Bion, 1962/1980), fui considerando que essa visão poderia conter elementos intuitivos importantes vividos por mim na relação com o paciente. Poderia ser um sonho? Poderia trazer a esperança de que uma conversa profunda e verdadeira talvez fosse possível? Estaria a assombração se transformando em assombro? O espantalho inicial, dando lugar ao espanto? Muitas perguntas surgiram, até mesmo a lembrança dos pensamentos/emoções selvagens, que eu poderia acolher em minha mente, ou numa caixa/boxe (Bion, 1977/2016, p. 40), para que, aos poucos, pudesse verificar as possibilidades de sua utilização.

Iniciamos o trabalho de análise novamente. Claudio, como decido chamá-lo, me conta várias providências que tem tomado para ir aos poucos deixando o trabalho, em que tem o compromisso de ficar até o final do ano. Conta que comprou um terreno no Nordeste, numa praia, onde pretende morar com a mulher, quando fizer "esta ruptura na vida". Quando vão para lá, pensa em ficar, não voltar. Esteve até mesmo numa escola, oferecendo-se para ler histórias para as crianças, já que, segundo o médico, a fala seria sua última capacidade a ser perdida. Mas depois se desespera: "Eu tenho que parar", mas será que vou aguentar esta nova vida? Eu sempre fui ativo, fiz tantas coisas, dava conta de tudo, liderava. Outro dia me procurou um jornalista para eu dar entrevista sobre o que fiz na universidade no período da ditadura. mas eu não quis falar. O que me adianta ficar lembrando o passado, se agora não consigo fazer nada? Nem andar direito consigo, estou providenciando cadeira de rodas. O que estou fazendo da minha vida?

Digo:

A - Acho que o ponto é o que você pode fazer com o que a vida está trazendo pra você... muito sofrimento imposto pelas limitações enormes, vontade de viver... Vontade de sumir...

C - Então, eu sinto desolação, desilusão, desânimo, doença. Sempre fui lutador, mas, agora, o que posso fazer? Contar histórias na escola do bairro enquanto tenho voz?

Lembro-me várias vezes da visão do primeiro dia, anunciando que ele talvez não aguentasse a vida desse jeito, preferisse a morte, mas que ainda estava vivo. Nesse clima emocional procuro encontrar uma forma de comunicar a observação de que o paciente estava vivo, bem como a dor e a alegria vivenciadas nessa experiência comigo.

Digo algo assim:

A - Eu penso que você se sente morto-vivo assim tão limitado, mas sua voz e suas emoções me mostram que você está bem vivo aqui comigo, me falando dos seus projetos, e da vontade de realizá-los.

C - Outro dia meu filho veio ler um conto da Clarice Lispector para mim: "Legião estrangeira"! Você conhece? Você acha que a menina Ofélia matou o pintinho por querer ou sem querer? Eu acho que foi sem querer, mas meu filho acha que não, acha que foi por querer!!

Nesse momento uma poderosa penumbra de associações toma minha mente: são ainda imagens, e algumas palavras, cheias de poesia, que no meu entender falam do funcionamento alfa de minha mente, em busca de um salto para o psíquico, tal como Bion define a função alfa (1962/1980). Podemos também pensar nos processos de figurabilidade e busca da simbo-lização, como mais tarde nomeiam Botella e Botella (2003).

Lembro que Clarice usa o termo "tortuoso amor" para se referir a um amor tão violento, que pode matar:

Oh, não se assuste muito! Às vezes a gente mata por amor, mas juro que um dia a gente esquece, juro! A gente não ama bem, mas, repeti como se pudesse alcançá-la antes que, desistindo de servir ao verdadeiro, ela fosse altivamente servir ao nada. [referindo-se a Ofélia] (Lispector, 1964, p. 110)

Poderia Claudio decidir servir ao nada? Seria servir ao nada jogar-se pela janela e sumir da vida? Ou servir ao nada poderia ser levar uma vida inútil, de morto-vivo? Uma profunda dor me invadia, um sofrimento que me aproximava de Claudio, de seus sentimentos e de seu desespero. Essa aproximação, no entanto, não era de fusão ou confusão: eu podia discriminar-me dele, sentir grande dor, mas percebendo-me separada. Ele estava caindo no abismo e pedia para segurar as minhas mãos. Poderia eu seguradas sem prendê-lo? Ou mesmo sem ser arrastada por ele? A todos esses movimentos mentais eu nomeio transformações do analista, vivenciadas por mim, em meu funcionamento mental, em minha realidade psíquica, no instante desse encontro.

Outras se seguiram como numa pororoca...

Lembro-me do filme A escolha de Sofia (Pakula, 1982), que evidencia a complexidade e o insuportável sofrimento da mãe que precisa escolher, entre os dois filhos, qual pode viver, qual deve morrer, escolha imposta por um soldado nazista num campo de concentração. O filme mostra como essa escolha perpassa o coração e a vida de Sofia, constituindo-se até na expressão idiomática "escolha de Sofia", que significa ver-se forçado a optar entre duas alternativas igualmente insuportáveis.

Lembro-me ainda do condor andino, ave mítica e imponente, capaz de voar a 7.000 metros de altura, considerado pelos incas como intermediário entre os deuses e os homens. Apesar de toda essa imponência, quando se sente velho e fraco, sem utilidade, opta por suicidar-se, voando muito alto e em seguida se lançando sobre as rochas de uma montanha.

Nesse momento vem novamente à minha mente a imagem dele saltando pela janela. Depois de todos esses movimentos mentais, encontro algumas palavras, certamente insuficientes, mas ainda assim capazes de expressar de alguma maneira as vivências de Claudio.

Digo:

A - Mas que escolha difícil essa que você está vivendo! Querer viver, mas ao mesmo tempo querer morrer, deixar-se morrer, você está sofrendo muito nessa situação...

C - Ana, eu sei que tenho um braço forte, mas o outro é muito fininho... Às vezes eu penso em cortar o braço forte pra ele não me atrapalhar em vez de ajudar... Vou cortando aos pedaços, até sumir do mapa...

A - Cortando aos pedaços...

C - Cortando o braço...

A - Você acha que esse braço forte só pode te atrapalhar?

Claudio acolhe minha pergunta e fica em silêncio... Em seguida diz: Ana, agora sei por que preciso vir aqui conversar com você: esta ideia de dar fim à vida passou agora na minha cabeça... Não sei quantas vezes passou, mas agora percebi nitidamente!

A - Você ficou animado me contando isso agora, falando da morte se sentiu vivo...

C - Eu não posso falar disso com ninguém, ainda bem que te achei depois de tanto tempo!

A - Assim podemos ficar de braço dado... Um se apoia no braço do outro pelo caminho difícil...

Claudio se comove profundamente e fica em silêncio.

Percebo que essa comoção também é minha.

Encontro aqui um momento de at-one-ment, uma vivência de encontro verdadeiro com o paciente. Seria um O comum no dizer de Bion (1970/2007)? Bion nos alerta que quando surge um sentimento em um dos componentes da dupla analitica estamos nos aproximando de um fato psíquico. Lembro-me com Sandler (2010) da profunda relação entre o pensamento de Bion e a poesia, entendendo aqui como poesia as transformações estéticas vividas na dupla analítica tal como as menciono neste trabalho. Pode a dupla analítica transformar esse sentimento vivido em poesia? Penso que se trata de transformações na dupla analítica, e não apenas no analista, embora tenhamos acesso às transformações na mente do analista, tal como tento mostrar aqui. Bion procura descrever esse processo com precisão em Transformações (1965/2004b), utilizando símbolos para as transformações intermediárias e finais, tanto no analista como no analisando.

Nossa caminhada continua, e tem sido possível viver em dupla momentos muito desoladores e outros esperançosos. Essa experiência tem sido profundamente útil e rica para mim no trabalho analítico. Percebo como a visão inicial do paciente jogando-se pela janela funcionou como uma brasa que pode ser soprada, transformando-se em uma chama capaz de iluminar minha capacidade de observar e pensar as sessões com Claudio, abrindo veredas para o assombro/espanto de ser ele mesmo. "A ideia não é informá-las, mas sim habilitá-las a entrever os tipos de veredas do pensamento que se estenderão diante de nós, provavelmente por muito tempo, se algum de nós ainda estiver presente para enxergar" (Bion, 1977/2016, p. 48).

Lembro novamente Clarice: "Mas às vezes acordo do longo sono e volto-me com docilidade para o delicado abismo da desordem" (1964, p. 95). E que desordem! Talvez seja dela que possa brotar o mais verdadeiro de nós mesmos. Seria essa uma apreensão possível para as vivências que nos habitam, e que Bion nos convida a reservar e utilizar como um poderoso alimento a ser lentamente digerido e assimilado no trabalho analítico?

O segundo fragmento clínico é de um trabalho psicanalítico com um jovem de 15 anos, que me procurou a pedido dos pais, que não se achavam em condições de suportar sua rebeldia: "estava indo muito mal na escola, repetiu o ano, tinha amigos mal-encarados, estava bebendo muito e fumando muita maconha".

Luis veio para uma entrevista, e aceitou começar um trabalho comigo: sentia-se pressionado pelos pais, culpado pelas brigas constantes com eles, com a culpa infundida pelo "sentimento de não gostar deles". Sentia-se também muito desvalorizado por eles e por si próprio, o que lhe trazia muito sofrimento e a ideia de que "viver assim não valia a pena"... Parecia muito deprimido e sozinho. Tinha uma irmã caçula, pequena, de quem não se aproximava afetivamente.

Deitou-se no divã antes mesmo de ser convidado a fazê-lo, o que me deu a impressão inicial de disponibilidade para o trabalho analítico. Nos primeiros tempos, passava as sessões queixando-se dos pais, especialmente da mãe, que muitas vezes explodia e o agredia por ocasião das brigas e discussões. Queria ser respeitado como adulto, mas ainda era muitas vezes tratado como criança, como sua irmã menor. Às vezes surgiam brigas com amigos, e ele se sentia traído e desprezado. Algumas vezes falou das meninas e do seu medo de se aproximar delas.

Em uma determinada sessão chega com um corte de cabelo diferente, tendo uma risca marcada do lado, dizendo que esta era a marca da sua turma, cinco amigos da pesada...

L - Vamos marcar uma briga com a outra turma, do cara que me ameaçou. Agora o líder do meu grupo é um cara super-respeitado, tem grana, ele é quase um traficante... É do meu bairro, mas frequenta as bocas... Outro dia ele falou: vamos na festa do 17?

L - Você sabe o que é essa festa, Ana?

Eu disse que não sabia. Então Luis me explicou:

L - Em Paraisópolis tinha duas festas quentes, e uma delas era a do 17; no fim de semana, meus pais viajaram e me deixaram ficar aqui. O "chefe" deu a ideia, e a gente foi na festa. Você precisa ver que incrível, cheio de cara armado, não sei se era metralhadora, ou outra arma... Eles ficavam policiando a festa, andando em volta. A gente entrou, comprou uma cerva, e ficou olhando pra ver se dava pra chegar em alguma "mina"...

Nesse momento senti minhas pernas tremerem, e a impressão de desmaiar de medo. Olhei para o Luis estendido no divã e o "vi" todo baleado e sangrando...

Que cena terrível! Fiquei paralisada de horror.

Em seguida me lembrei de um amigo que perdeu o filho baleado numa boca de fumo, onde tinha ido comprar maconha. Estava apavorada. Acho que novamente fui visitada por uma assombração! Tive vontade de perguntar: Você não tem medo? Ou de dizer: É uma loucura ir nessas festas, vocês não têm ideia de onde estão se metendo... Seus pais têm razão de te controlar e estabelecer horários pra você voltar! Isso que vocês fazem é uma maluquice total! Vocês podem ser assassinados nessas festas de favela!

Tive, entretanto, a possibilidade de ampliar minha mente continente e evitar juízos morais de senso comum, que apenas multiplicariam as falas paternas. Pude transformar essa assombração em assombro! Quando Luis ficou em silêncio, me recuperei daquela "enxurrada de tiros", vi a sala, o divã, o jovem vivo e, ainda com alguma indignação, digo:

A - Você fica fodão e fortão nessa festa com esse amigo!!

Ele me olha espantado e boquiaberto.

Eu continuo:

A - Você acredita que ter medo é coisa de gente fraca, desprezível... Então, me matando de medo, você faz o seu medo desaparecer como num passe de mágica... Sabe quando a gente assiste filme de terror pra dar risada e afastar o medo?

Neste momento penso que algum medo é necessário para manter a sobrevivência, diferentemente do pavor que nos paralisa, ou da negação do medo que nos deixa poderosos.

Digo:

A - Os seres vivos têm medo, eu também tenho, às vezes temos medo de morrer, outras temos medo de viver...

Luis continua em silêncio, me escutando.

Depois de um tempo, olho para ele e "vejo" um lindo rapaz moreno, vivo e esbanjando beleza e sensualidade. Num passe de mágica os buracos dos tiros e o sangue escorrendo desapareceram...

Ele continua em silêncio. Eu digo:

A - Agora saímos da festa do 17, e eu lembrei da Laura... (uma menina de que ele gosta, mas de quem tem medo de se aproximar).

Luis se mexe no divã e diz:

L - Eu não sei... Eu queria namorar ela, mas daí tem que dizer não pros amigos, vai ser complicado... Eu também tenho muito ciúme, e ela também... Não sei.

A - Então, precisa ter uma puta coragem pra namorar a Laura...

Luis fica em silêncio um tempo e diz:

L - Coragem de dentro!! Não é essa coragem de fora que eu estava falando antes!

Comove-se muito e diz:

L - Que lindo, dava um cartão de Natal!

Um cartão de Natal que você mesmo que fez!

Neste fragmento percebo novamente como a possibilidade de cair no buraco da assombração permitiu-nos entrar na profundidade do mundo psíquico de Luis, e encontrá-lo enfrentando-se com a coragem e o medo de ser homem humano, de existir, de amar, podendo até mesmo vivenciar esse medo e comover-se. Um momento em que o movimento da dupla se fez, no meu modo de ver, do conhecer para o ser, o tornar-se (Bion, 1965/2004b). No lugar da assombração, surgiram um homem e uma mulher que podiam conversar. Um verdadeiro assombro!

Penso, portanto, que as transformações vividas pela dupla analítica são propiciadas pela interação das duas pessoas, analista e analisando. No entanto, quero aqui enfatizar a responsabilidade do analista nesse convívio, pessoa com mais experiência de análise e talvez de vida, no sentido de permitir-se ser tocado pelas experiências vividas. Volto então a considerar a interminável formação do analista, suas análises e reanálises, e sua constante busca de nutrição psíquica, por meio da arte, da literatura, da poesia, capaz de engendrar pensamento onírico, imagens poéticas e palavras que possam abrir novos caminhos e trazer outros sentidos, ampliando o espaço mental e adentrando a dimensões arcaicas, ainda não nascidas. Estou aqui destacando as transformações no analista, devidas à sua interminável formação, e propondo que se possam manter os assombros do constante contato com a mente humana, sem que, no entanto, se transformem em assombrações.

Ao iniciarmos a formação, temos que desconstruir os mitos e teorias anteriores sobre a vida, sobre nós mesmos, sobre os cursos de formação básica, em meu caso, a Psicologia. Mitos explicativos da mente humana, conhecimentos adquiridos, crenças, erudição e cultura. Tudo isso será desconstruído e transformado sob o vértice psicanalítico ao longo de uma análise tão profunda quanto possível, e de uma imersão em seminários teóricos, supervisões e seminários clínicos. Penso que a análise do analista é o pilar central de sua formação, pois só assim será possível uma aproximação com seu funcionamento mental e, por conseguinte, com o funcionamento mental do outro.

Falo em aproximação porque são estados fluidos e transitórios, primordiais e primitivos, que vão se apresentando em uma análise, e que podem ou não ser transformados e pensados. Falo em aproximação porque acredito que o contato com nossa essência humana a cada momento é sempre incompleto e transitório (Bion, 1970/2007), assim como complexo; envolvendo a busca da verdade daquela experiência emocional vivida na dupla analítica, que pode produzir um saber transformador, um "sendo" no contato de um com o outro. Momentos raros e preciosos numa experiência analítica, que nos põem em contato profundo conosco mesmos! Falo em aproximação porque entendo que o processo psicanalítico implica o contato com o objeto psicanalítico (Bion, 1963/2004a) em sua complexidade, sempre alcançado e sempre perdido, "de forma que o ponto de chegada é sempre um ponto de partida", e que "o inconsciente sem designações sempre vai estar muito além do que podemos alcançar" (Chuster, 2018, p. 41).

Falo em aproximação porque penso que a psicanálise se dá numa relação entre duas pessoas, buscando, por meio da intuição psicanaliticamente treinada e da observação de si próprio e do outro, a apreensão da experiência emocional vivida, das emoções e sentimentos presentes, que nos facultam entrever, ampliar e ser nós mesmos naquele momento. Penso, no entanto, que essa possibilidade depende da paixão (Bion, 1963/2004a) com que mergulhamos nessa tarefa, bem como da fé que possamos ter na psicanálise, como possibilidade de encontrar algo genuíno e verdadeiro naquele momento (Bion, 1970/2007).

Em outra oportunidade (Vannucchi, 2013), escrevi sobre o medo e a paixão na formação analítica, esclarecendo que ambos, medo e paixão, precisam ser transformados em amor, paciência, ousadia e coragem, persistência e convicção, para que uma identidade psicanalítica possa nascer e se desenvolver. Assim sendo, aproximamo-nos do sentido de paixão proposto por Bion (1963/2004a), "com intensidade e calor, mas sem traço de violência" (p. 28). Também considero que, além do amor, temos seu corolário sempre presente, o ódio à psicanálise, que pode ser percebido e transformado, gerando compaixão com nossa ignorância e nossas limitações (Mion & Vannucchi, 2018).

Penso em trânsitos entre os diferentes estados mentais, aspectos de vida e de morte, infernais e celestiais, que constituem a mente humana. Como alcançar uma mente que possa fazer esses trânsitos, a não ser em busca constante, em uma análise pessoal profunda e longa? Ou ainda, como sugere Freud (1937/2018), em novas análises a cada cinco anos? Dimensões de todos os matizes que se estendem desde o corpo até a alma? Afinal, não seria esta uma possível leitura para o que descreve Dante em sua Divina comédia? As diferentes dimensões da alma humana, no inferno, no purgatório e no paraíso? Temos, no entanto, de considerar que, para poder mergulhar nessas diferentes dimensões, é necessário um companheiro experiente, que já tenha passado por isso! Quando Dante quis descer aos infernos, Beatriz fez questão de convencê-lo a ir na companhia de Virgílio, para que pudesse ter parceria nos bons e maus momentos. De fato, Virgílio é uma presença viva e encorajadora, embora em muitos momentos faça observações duras, e em alguns outros desanime e perca as forças, precisando ser fortalecido por Dante (Alighieri, 2008).

Uso esse modelo para ilustrar minha convicção sobre essa necessidade de retomar a análise pessoal em diferentes momentos da vida. Os analistas são seres humanos como os outros, e durante a vida sofrem muitos golpes que abalam sua saúde, sua personalidade, suas convicções, seu amor-próprio. A vida vai passando, e muitas perdas acontecem: perda da juventude, perda de pessoas queridas, perda da fé na psicanálise... Como podemos continuar atendendo nossos pacientes nessas condições mentais? Análise interminável tal como Freud propõe em 1937 não deve ser pensada apenas para os dois casos que ele descreve, em que os pacientes tiveram recaídas, mas para todos nós, humanos, que temos de enfrentar ao mesmo tempo as graças e os terrores da existência. Desse ponto de vista, portanto, as transformações do analista são intermináveis, como também sua formação.

Outro aspecto interessante das transformações do analista diz respeito à escrita psicanalítica. Considero-a uma parte importante da identidade psicanalítica, pois nos oferece a oportunidade de rever sonhos, fantasias, sentimentos e sofrimentos vividos com nossos pacientes e buscar movimentos de elaboração e transformação, que podem ampliar e aprofundar o trabalho clínico e nutrir nossas mentes. Minha experiência aponta assim para o aspecto transformador da escrita, e de seu potencial sublimatório, tal como enfatiza Green (2010). Lembro aqui, por exemplo, a transformação vivida pelo membro filiado, ao pôr no papel sua experiência clínica, e poder conversar sobre ela com colegas mais experientes. Tenho a impressão de que essa experiência de transformação, ampliação e aprofundamento se dá a cada trabalho escrito, apresentado e discutido com colegas, envolvendo muitas vezes críticas e frustrações, outras tantas satisfações e alegrias, mas quase sempre enriquecimento pessoal e desenvolvimento científico.

Sabemos todos da mudança vivida por Thomas Mann durante a escrita de A montanha mágica: partindo de uma posição nacionalista em que a guerra era vista como um mal necessário, o autor desenvolve durante a escrita uma postura muito crítica e severa com relação a ela: "É fruto de gestos prolongados de escrita e leitura, de autocrítica e de simpatia pedagógica em relação ao jovem Hans Castorp e sua geração" (2019, p. 842), menciona Soethe nos posfácio.

Lembro que Goethe (2007), ao terminar o Fausto II, com 82 anos, preferiu não publicá-lo, talvez por considerar a polêmica que possivelmente adviria. Nessa oportunidade, expressou a Humboldt, em carta de 17/3/1832, o desejo de continuar sua formação:

Doutrina desorientadora aliada a ação desorientadora é o que reina no mundo, e eu não tenho nada de mais imperioso a fazer do que intensificar aquilo que existe e restou em mim, e depurar as minhas particularidades - coisa que o senhor, meu digno amigo, também vai realizando em sua fortaleza. (p. 23)

Gosto muito desta ideia, e considero-a um belo exemplo para os psicanalistas!

 

Referências

Alighieri, D. (2008). Commedia. Zanichelli.         [ Links ]

Bion, W. R. (1980). Aprendiendo de la experiencia. Paidós. (Trabalho original publicado em 1962)        [ Links ]

Bion, W. R. (1981). Cesura. Revista Brasileira de Psicanálise, 15(2),123-136. (Trabalho original publicado em 1976)        [ Links ]

Bion, W. R. (2000). Cogitações. Imago.         [ Links ]

Bion, W. R. (2004a). Elementos de psicanálise. Imago. (Trabalho original publicado em 1963)        [ Links ]

Bion, W. R. (2004b). Transformações - do aprendizado ao crescimento. Imago. (Trabalho original publicado em 1965)        [ Links ]

Bion, W. R. (2007). Atenção e interpretação. Imago. (Trabalho original publicado em 1970)        [ Links ]

Bion, W. R. (2013). Los Angeles seminars and supervision. Karnac.         [ Links ]

Bion, W. R. (2016). Domesticando pensamentos selvagens. Blucher. (Trabalho original publicado em 1977)        [ Links ]

Botella, C. & Botella, S. (2003). La figurabilidad psíquica (Irene Agoff). Amorrortu.         [ Links ]

Carrol, L (2002). Alice no país das maravilhas. Arara Azul. (Trabalho original publicado em 1865)        [ Links ]

Chuster, A. (2018). Simetria e objeto psicanalítico - desafiando paradigmas com W. R. Bion. Tristudio.         [ Links ]

Ferreira, A. B. H. (1975). Novo dicionário da língua portuguesa. Nova Fronteira.         [ Links ]

Freud, S. (2010a). Deve-se ensinar a psicanálise nas universidades? In S. Freud, Obras completas (P. C. Souza, Trad., Vol. 14). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1919)        [ Links ]

Freud, S. (2010b). O inquietante. In S. Freud, Obras completas (P. C. Souza, Trad., Vol. 14). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1919)        [ Links ]

Freud, S (2018). Análise terminável e interminável. In S. Freud, Obras completas (P. C. Souza, Trad., Vol. 19). Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1937)        [ Links ]

Frochtengarten, J. (2018). Ainda e outra vez "O aprender com a experiência" (e outras coisinhas mais transformações em O e At-one-ment). Estímulo apresentado no grupo Conversas Psicanalíticas, 15/setembro.         [ Links ]

Goethe, J. W. (2007). Fausto - uma tragédia (segunda parte). Ed 34.         [ Links ]

Green, A. (2010). O trabalho do negativo. Artmed.         [ Links ]

Junqueira, L. C. (2014). Níveis clínicos de captação da organização emocional: lógico, psico-lógico, e meta-psico-lógico. Jornal de Psicanálise, 47(86),21-34.         [ Links ]

Leopoldo e Silva, F. (2016). Espanto na Filosofia. Entrevista no YouTube Univesp.         [ Links ]

Lispector, C. (1964). A legião estrangeira. Rocco.         [ Links ]

Mann, T. (2019). A montanha mágica. Schwarcz.         [ Links ]

Meltzer, D. & Williams, M. H. (1994). A apreensao do belo: o papel do conflito estético no desenvolvimento, na violência e na arte. Imago.         [ Links ]

Mion, C. & Vannucchi, A. M. S. (2018). Formação psicanalítica em um mundo em transformação. Jornal de Psicanálise, 51(94),175-185.         [ Links ]

Nosek, L. (2017). A disposição para o assombro. Perspectiva.         [ Links ]

Pakula, A. (1982). A escolha de Sofia - filme baseado no livro de Willian Styron, A escolha de Sofia, 1979.         [ Links ]

Perrini, E. A. L. (2018). Recordar, repetir e criar na clínica psicanalítica; do lero-lero à pancada do arrepio. Trabalho apresentado na SBPSP.         [ Links ]

Sandler, P. C. (2010). Bion e poesia. Jornal de Psicanálise, 43(78)151-172.         [ Links ]

Vannucchi, A. M. S. (2013). Medo e paixão na formação analítica: uma trajetória pessoal. Jornal de Psicanálise, 46(85),49-60.         [ Links ]

 

 

Recebido em: 21/5/2020
Aceito em: 21/6/2020

 

 

1 Este trabalho foi publicado na revista Multiverso, de Aracaju, 2020.
2 Entrevista ao blog Estado da Arte, de O Estado de S. Paulo, 11 de dezembro de 2017. Comunicação pessoal de Cicero Brasiliano.

Creative Commons License