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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.53 no.99 São Paulo jul./dez. 2020

 

OS VEIOS DE OURO DA FORMAÇÃO PSICANALÍTICA

 

Um lugar para pensar: uma hipótese sobre o enquadre interno do psicanalista1

 

A location for psychoanalytical thinking: a hypothesis about the internal setting

 

El lugar del pensamiento: una hipótesis sobre el encuadre interno del psicoanalista

 

Un lieu pour la pensée : une hypothèse sur le cadre interne du psychanalyste

 

 

Wilson de Albuquerque Cavalcanti FrancoI; Daniel KupermannII

IInstituto Sedes Sapientiae. São Paulo / wilsondeacfranco@gmail.com
IIDepartamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (PSC/IP-USP). São Paulo / danielkupermann@gmail.com

 

 


RESUMO

Pretendemos contribuir para os debates acerca da formação do psicanalista - mais especificamente, sobre a forma como se constitui, na trajetória de um psicanalista, o modo de pensar que caracteriza essa práxis. Situamos essa proposta como uma alterativa às investigações que se pautam nos dispositivos institucionais voltados à formação, acreditando que a ênfase no processo vivido pelo psicanalista em formação oferece subsídios mais claros em relação àquilo que uma formação, quando bem-sucedida, promove. Nesse contexto salientamos o lugar peculiar que cabe à teoria e à imago dos autores canônicos, tentando sugerir formas de evitar que sejam promotores de paralisia e submissão, mas sim promotores de rigor e criatividade.

Palavras-chave: psicanálise, clínica psicanalítica, formação em psicanálise, S. Ferenczi


ABSTRACT

Considering the multiplicity of institutions and theoretical frameworks dealing with the process for psychoanalytical formation, we propose in this essay a perspective by which such issues might be approached in a renewed and (luckily) inspiring way: focusing not on the social and institutional challenges themselves, but rather on the psychical developments through which a candidate comes about to consider oneself, lastly, a psychoanalyst. Such development assuredly encompasses theory, personal analysis and supervised practice, and it requires some sort of a sense of belonging within a psychoanalytical community (institutionalized or not); our focus here, nevertheless, will rest on the development of what André Green termed "internal setting" - it is our hypothesis that it is the development of such internal setting that is at stake through psychoanalytical training. Having established the basis for such hypothesis, we discuss lastly how it might contribute to ongoing debates within the psychoanalytical community regarding training and the basic capacities required for psychoanalytical thinking.

Keywords: psychoanalysis, psychoanalytical clinical practice, psychoanalytical training, S. Ferenczi


RESUMEN

Pretendemos contribuir para los debates acerca de la formación del psicoanalista - sobre cómo se constituye, en la trayectoria de un psicoanalista, la manera de pensar que caracteriza su praxis. Se propone esta discusión como una alternativa a las investigaciones que insisten en el análisis de dispositivos institucionales dedicados a la formación, apostando que el estudio del proceso vivido por el analista en formación nos ofrece recursos más eficientes para comprender lo que una formación efectivamente promueve. Conferimos destaque al lugar peculiar que cabe a la teoría y a la imago de los autores canónicos, sugiriendo formas para que no sean mecanismos de parálisis y sumisión, sino promotores de rigor y creatividad de pensamiento.

Palabras-clave: psicoanálisis, clínica psicoanalítica, formación en psicoanálisis, S. Ferenczi


RÉSUMÉ

Nous avons l'intention de contribuer aux débats concernant la formation du psychanalyste - notamment sur la façon dont se constitue, dans la trajectoire d'un psychanalyste, la manière de penser qui caractérise cette praxis. Nous considérons cette proposition comme une option aux recherches qui suivent les dispositifs institutionnels visant la formation, car nous pensons que l'accent mis sur le processus vécu par le psychanalyste en formation fournit des apports plus clairs en ce qui concerne ce que procure une formation, si elle est réussie. Dans ce contexte, nous insistons sur la place particulière qui revient à la théorie et à l'imago des auteurs canoniques, en essayant de suggérer des manières d'éviter qu'elles provoquent paralysie et soumission, afin qu'elles soient, au contraire, inspiratrices de rigueur et de créativité.

Mots-clés: psychanalyse, clinique psychanalytique, formation psychanalytique, S. Ferenczi


 

 

Apresentação da proposta

Propomo-nos, no presente artigo, a apresentar uma hipótese compreensiva acerca de como se desenvolve o que chamamos (seguindo Green, 2008) de "enquadre interno" do analista, e de sua influência no pensamento clínico psicanalítico e no exercício da práxis clínica. Estaremos preocupados acima de tudo com a singularidade da práxis no horizonte da clínica de cada psicanalista, mas não tomaremos "casos" como baliza, optando, alternativamente, com a proposição de um "caso-tipo" ou protótipo para o desenvolvimento desse "enquadre interno". Nosso propósito, ao avançar nessa hipótese, certamente não é o de oferecer uma "grade" ou uma "receita de bolo" para se compreender o desenvolvimento do pensamento clínico psicanalítico, mas sim contextualizar elementos determinantes na trajetória de formação que são recorrentes na experiência individual de psicanalistas, e permitir circunstanciar papéis que cabem a cada elemento. Retomamos, assim, o tipo de questão que, no fim das contas, já habita o campo psicanalítico desde muito cedo, em torno do que Ferenczi intitulava como o "tato" do analista,2 o que Freud divisava no contexto do "ponto cego do analista" e, de forma mais abrangente, ao longo de toda a história dos imbróglios em formação psicanalítica, sempre que algum psicanalista buscou compreender o que estava indo bem e o que não estava indo bem no processo de formação avançado por esta ou aquela instituição.

 

O tato e a padronização da técnica

A formação de um analista depende da articulação entre a experiência de análise pessoal, estudos teóricos sistemáticos e consolidação de repertório clínico a partir da prática supervisionada; no entanto, parece claro que esses três "pés" do tripé da formação não incidem de maneira pura, criando o psicanalista a partir do barro - é notória a importância de fatores afetivos (transferenciais), circunstanciais, fatores que modulam e particularizam a incidência desses três pilares da formação.

Esses fatores são tão importantes quanto os pilares em si, se não o forem mais; o único problema com eles é que são menos controláveis e previsíveis.3 Por conta disso, considerar a composição desses fatores vai, evidentemente, trazer complicações e surpresas. Ferenczi, talvez o primeiro psicanalista a se dedicar intensamente e por escrito à consideração acerca de como se poderia dar a formação adequada dos psicanalistas, assumiu a respeito disso uma postura curiosa, em que se compõem de forma surpreendente a valorização de algo tão singular e imprevisível como o "tato" e a sustentação de uma fé impressionante na superação das idiossincrasias e o consequente estabelecimento de uma psicanálise "pura". De fato, Ferenczi chegou a dizer em 1928 que "após a introdução da segunda regra fundamental [a análise do analista ], as diferenças de técnica analítica estão prestes a desaparecer" (1928/1992b, pp. 26-27).

A colocação de Ferenczi surpreende por conta da confiança que transpira quanto ao potencial resolutivo da análise do analista - como se uma boa análise pessoal garantisse não só a formação de um bom analista, mas de um analista ideal: se as diferenças quanto à técnica desapareceriam sob a luz de análises pessoais bem conduzidas, isso só poderia ser porque elas garantiriam o acesso a um regime de compreensão pura. O que surpreende, então, é que Ferenczi parece se dedicar ao estudo dos aspectos incontroláveis da prática psicanalítica ao mesmo tempo em que sustenta a convicção em uma sistematização total da práxis.

Esse tipo de proposição iluminista por parte de Ferenczi, a bem da verdade, não era novidade em 1928 - muito antes disso, já em 1910, o psicanalista húngaro havia declarado uma confiança equivalente no que diz respeito à capacidade de os psicanalistas agirem com civilidade e razoabilidade acima da média humana no seio das instituições que criassem: "os membros que receberam uma formação psicanalítica seriam os mais capacitados para fundar uma associação que reunisse as vantagens da organização familiar e o máximo de liberdade individual" (Ferenczi, 1911/2001, p. 150) - para ele, o fato de terem sido analisados a contento faria com que tivessem condição de evitar os mecanismos sintomáticos que assolam as instituições (suposição que o tempo revelou incorreta).

Posições como essas não nos permitem concluir que Ferenczi não estivesse atento às dificuldades que grassam no caminho em direção ao domínio da práxis clínica psicanalítica - muito pelo contrário, por sinal: ele parece ter sido um psicanalista particularmente preocupado com as limitações e imperfeições na formação psicanalítica e nos riscos pelo caminho de suas instituições. O texto "Confusão de língua entre os adultos e a criança", publicado em 1928, nos chega ainda hoje como um texto corajoso e arrojado na profundidade da análise crítica relativa a esse ponto: Ferenczi avalia ali que a hipocrisia e a indisponibilidade afetiva dos analistas (fruto das falhas na implementação da segunda regra fundamental, ou seja, na análise pessoal insuficiente dos analistas) geram as maiores dificuldades, e risco de iatrogenia grave na prática clínica psicanalítica.

O contraste entre o aparente otimismo ingênuo e a crítica contumaz proferidos por Ferenczi aponta para esse desafio fundamental das instituições psicanalíticas: como garantir boa formação aos psicanalistas? Como fazer com que o psicanalista tenha podido criar em si condições para desempenhar esse impossível ofício?

A discussão entre Freud e Ferenczi acerca do lugar atribuído ao tato é ilustrativa da dificuldade de encaminhar essa questão: ainda que Freud estivesse disposto a reconhecer que o tato é algo importante na clínica psicanalítica, preocupava-se em manter o aspecto sem grande ênfase por saber que era algo avesso à sistematização e pensamento técnico; assim, atribuir grande papel ao tato significaria reconhecer que o ofício clínico psicanalítico depende de uma sensibilidade idiossincrática, e isso atrapalharia os avanços estratégicos da psicanálise enquanto movimento e instituição. Ferenczi, de sua parte, acreditava que todo elemento clínico que pudesse contribuir para uma maior eficácia ou qualidade da práxis clínica deveria ser perseguido, independente dos problemas institucionais ou metodológicos que carreasse, e por isso achava crucial que se falasse sobre o tato e a formação psicanalítica, doendo a quem doesse.

O ponto em pauta se mostraria longevo na história do movimento psicanalítico: algo na formação dos psicanalistas parece não se adequar aos programas de formação em sua apresentação institucional, e o enfrentamento disso aponta para hipóteses especulativas genéricas (a singularidade, o tato, o "gênio"). As formações psicanalíticas, em suas apresentações institucionais, não conseguem endereçar esse ponto, tendo que escolher entre uma abertura ao singular que arriscaria abrir as portas à "autorização" de profissionais "fracos" ou "ruins", por um lado, e um controle mais rigoroso que tenderia a esterilizar a formação e promover a "autorização" de profissionais "burocráticos" em suas concepções e práticas clínicas.

Essas ameaças afetam ainda hoje o campo psicanalítico. São indicativos de que a aposta de Ferenczi no poder exaustivamente regulador das "análises de formação", para bem ou para mal, não resolveu a questão - e é seguro dizer que não há análise pessoal, supervisão ou formação teórica que "garanta" a formação de um psicanalista clínico "bom" (nem sabemos ao certo o que isso significaria exatamente, por sinal).

Chegamos, assim, à perspectiva que propomos neste artigo, focada na singularidade do psicanalista e de sua trajetória. A questão, posta por esse ângulo, não seria "como garantir uma boa formação psicanalítica", mas sim "o que teve de acontecer para que alguém pudesse pensar psicanaliticamente?", ou "o que está acontecendo quando alguém pensa psicanaliticamente?". Essas questões permitem abordar a questão de como um psicanalista pensa em sua práxis clínica, e a partir daí iluminam, retroativamente, as questões ligadas à formação psicanalítica de que estivemos falando. É disso que trataremos a partir daqui.

 

A topografia do enquadre interno: considerações preliminares

"Como um psicanalista pensa quando está trabalhando?" - no fim das contas, essa parece ser a pergunta disparadora da perspectiva que queremos propor. Uma primeira resposta será encontrada, clara e simplesmente, em Freud: um psicanalista pensa nos termos do que se convencionou chamar de atenção flutuante - o que significa que ele prestará atenção ao conteúdo estrito das comunicações, mas também às modulações de fala, aos lapsos e manifestações do inconsciente, e habitará todas as dimensões com que se ocupa de forma flutuante, não diretiva (a expressão original alemã gleichschwebende Aufmerksamkeit aponta para uma impressionabilidade equitativamente flutuante). Um dos pontos cruciais em jogo aqui, evidentemente, diz respeito à necessidade de o clínico suspender um modo de pensamento excessivamente racional e racionalizante, necessidade intrínseca ao fato de que aquilo de que se trata na clínica psicanalítica não é racional.

Acontece que, ainda que se compreenda o que significa dispor-se em atenção flutuante, resta sem resposta o enigma quanto à implementação desse modo de atenção no exercício da práxis clínica (ou seja: como se faz para conseguir sustentar uma atenção flutuante compatível com o exercício da práxis analítica?). É nesse contexto que surgirão conceitos eminentemente técnicos, como escuta da transferência, teorização flutuante (Aulagnier, 1989), encarnação da teoria (Minerbo, 2016), presença implicada e reservada (Figueiredo, 2008) - todos eles dedicados a fornecer elementos que permitam compreender como, afinal de contas, o analista se põe em situação, como ele se coloca a trabalho, como ele pensa; nesse contexto, compor-se-ão campos de conceitos com "potenciais" específicos, enfatizando por vezes o lugar da teoria (como Fédida, 1978, Munhoz, 2015 e Pavanelli, 2007), por vezes a dinâmica intrínseca ao pensamento clínico (como Aulagnier, 1989, Kupermann, 2017 e Minerbo, 2016) ou qualquer outro ângulo, mas dificilmente dispondo um campo compreensivo abrangente o suficiente para dar notícia de um modo de pensamentodentro do qual a teoria, a técnica e o processo de cura ocupam seus lugares.

Daí o valor que associamos à proposta que avançamos: em vez de compor uma rede conceitual ligada à teoria da técnica, propomos uma perspectiva compreensiva para a fenomenologia da autorização, relato que viria dar notícia da metapsicologia da formação do analista do ponto de vista de sua composição genética (sua gênese, literalmente) e iluminando, por conseguinte, a dinâmica e a tópica que se organizam ao longo e ao cabo desse processo.

Um caminho que nos parece particularmente fértil para prosseguirmos nesses termos se nos oferece a partir do conceito de "enquadre interno" formulado por André Green (2000, 2008). A ideia de Green é que a clínica psicanalítica depende de um enquadre que acolhe e condiciona a implementação do método fundamental - que seria a articulação da associação livre do paciente à atenção flutuante do analista; o enquadre, segundo metáfora sugerida por Green, é o estojo que acomoda a joia (a joia é a regra fundamental). Green, em sua discussão da proposta, sinaliza que em muitos casos a clínica psicanalítica será possível por conta da interiorizaçãodo enquadre por parte do analista: o analista porta consigo o enquadre, encarna o enquadre, e sustenta o processo psicanalítico ainda que este não esteja inscrito nos parâmetros formais de um tratamento psicanalítico clássico (em termos de duração e frequência das sessões, sustentação da abstinência etc.).

O que propomos aqui é uma extrapolação no uso do conceito: em nosso entendimento, a interiorização do enquadre é um elemento crucial, não só em algumas situações e casos, mas em toda e qualquer clínica psicanalítica, independente da sustentação ou não do enquadre "externo". Mais especificamente: propomos que a formação psicanalítica tem como objetivo e meta a promoção de um enquadre interno - o que significa dizer que o tripé analítico promove justamente a consolidação do enquadre interno. É nesses termos que podemos responder à questão que nos baliza: Como pensa um psicanalista no contexto da práxis clínica? Resposta: Ele pensa habitando o enquadre interno.

 

A constituição do enquadre interno

Sabemos que Freud compreendia a psicanálise como uma teoria sobre o psiquismo humano, um método de tratamento e uma forma de investigação e pesquisa; sabemos também que para ele essa tríplice determinação da psicanálise era indissociável, no sentido de que só quando se articulavam essas três dimensões se estaria trabalhando em psicanálise. É justamente por isso que nunca se pôde supor que o mero estudo da teoria psicanalítica bastasse para formar um psicanalista - afinal, a pessoa precisava ter "vivido" o inconsciente em suas experiências clínicas, e precisava encontrar o tipo de convicção no processo e em sua efetividade que só a experiência de análise poderia portar consigo.

Pois bem, nossa proposição acerca da interiorização do enquadre é que o sujeito interioriza não só a teoria (como na ideia de uma teoria encarnada sugerida por Minerbo, 2016), mas todo um enquadre, composto a partir de elementos imaginários e afetivos que ele recolhe em suas experiências de análise, de supervisão, de leitura, de circulação institucional e de atendimento clínico supervisionado; é essa interiorização, compondo todas essas experiências em um único complexo (um nó), que oferece ao clínico as condições de trabalho psicanalítico.

Considerar e pôr em destaque a dimensão afetiva da relação do sujeito com a psicanálise ao longo de sua trajetória formativa é fundamental para compreendermos como se dá esse processo. Entendemos que os elementos de um primeiro investimento afetivo por parte da pessoa em direção ao projeto de tornar-se psicanalista serão endereçados aos captadores materiais e imagéticos desse investimento: o analista que ele procura, os autores que ele passa a ler, as aulas a que começa a assistir etc. Ali ele começa a formar os primeiros traços de imagos, depositários das idealizações que inevitavelmente medeiam seu primeiro "encanto" pela psicanálise: esse ideal irá se depositar não só nos traços mais óbvios de uma transferência (ao autor, aos textos, ao analista, ao professor), mas também em todo o enquadramento dessas relações inicias, como os trejeitos de seu analista, o mobiliário de seu consultório, irá se associar à imago afetiva dos primeiros textos que ele lê, ao próprio espaço físico da instituição que frequenta, e daí por diante.

Nesse primeiro momento, no entanto, a relação dessa pessoa com esses elementos e com o investimento afetivo depositado neles é mediada pela consciência e pelos processos secundários. Se tudo se mantivesse desse jeito, num entendimento racional, consciente e lógico, não se trataria de internalização do enquadre, mas sim da memorização de um conjunto de protocolos e disposições, da mentalização de um repertório e de uma mimesis que defende aquela pessoa de tudo o que a psicanálise poderia promover. Esse contexto de uma vivência apenas racional e consciente da psicanálise está, portanto, desligado da instalação psicossomática (a encarnação) de que a psicanálise depende para existir (mesmo que ligada a um processo de análise pessoal e de um exercício clínico, se estes eventualmente forem articulados a esse modo consciente e racional de habitação dessas experiências). Se o sujeito em formação não consegue superar esse primeiro momento de investimento encantado em relação à psicanálise, destituindo a idealização de sua dimensão paralisadora, ele simplesmente não consegue operar a partir do enquadre interno - opera, isso sim, a partir de um ideal que ele transmite como um pedagogo ou um profeta (dos mais desinteressantes, claro - bons pedagogos, por exemplo, jamais trabalhariam dessa forma).

Há uma diferença crucial, então, entre a mentalização do enquadre, ou a construção mental de uma imago de psicanálise, e a interiorização do enquadre. Para que se trate efetivamente de uma interiorização do enquadre será necessário que haja a superação das grades compreensivas conscientes, ou seja, será necessário que o contato com as dimensões da psicanálise (na teoria, na análise pessoal, na práxis clínica supervisionada) mobilize no sujeito as angústias que tornarão necessário o luto das imagos idealizadas - estanques e mortificantes -, e ao cabo desse luto poder-se-á supor que houve, aí sim, interiorização encarnada de um enquadre. É claro que a internalização do enquadre recorre e se beneficia da construção mental e racional de uma relação afetiva com a psicanálise, que essa relação consciente não é um entrave em si - o que é um entrave é quando essa construção consciente se enrijece e passa a ser sustentada como se fosse suficiente. Em alguma medida, portanto, a constituição do enquadre interno depende de (pelo menos) um momento de crise na relação afetiva do sujeito com a psicanálise.

 

Caso-tipo de internalização do enquadre: considerações de ordem genética

Passaremos, neste item, a alguns apontamentos de ordem genética sobre a constituição desse espaço (ou seja: apontamentos que remetem à gênese desses fenômenos na trajetória singular de um analista). Esses apontamentos se organizarão como o relato de uma trajetória típica, um genérico-exemplar. É possível imaginar variantes desviando do caso-tipo que apresentaremos aqui em pontos diversos da narrativa; a dispersão dessas variações, contudo, consiste de derivações lógicas, impondo apenas ajustes secundários em relação aos pontos principais do esquema geral.

Inicialmente a psicanálise, travestida em seus autores e teorias e motivos e imagos, se oferecerá ao sujeito como objeto de estudo consciente, sistemático, analítico. O progresso de seus estudos, de seu treinamento, levará à consolidação de imagos, organizadas em geral em torno de autores e de representantes ou porta-vozes desses autores (professores, em geral). Nesse caso, a imago autoral canônica (de Winnicott, ou Lacan, ou quem for) organiza um complexo de remissões ideativas do sujeito à psicanálise: os textos do autor canônico e de seus comentadores se associam aos professores que o ensinam, às experiências de saber que ele vive no contexto do contato com esse campo e do prazer derivado da idealização dos elementos articulados ao redor da imago. Esse complexo poderá assumir, então, um papel defensivo: o sujeito entende que já entendeu o que a psicanálise é, entendeu que já sabe o que precisa saber, entendeu que o saber passa simplesmente por investir aquele complexo. Essa disposição depende, como sempre, de elementos inconscientes, como a idealização e a repetição de protótipos de investimento pregressos, e isso seguirá sendo assim sempre que se tratar de investimento afetivo da psicanálise - a marca distintiva desse momento é o fato de que o contato com a psicanálise enquanto conjunto de experiências e saberes terá como centro de gravidade a aquisição de conhecimento e controle, e nessa medida ocupará uma função primariamente defensiva. Para que se possa falar em interiorização do enquadre, será necessário que a relação desse sujeito com a psicanálise ganhe mobilidade psíquica, libertando-se da adesão estrita e constritiva aos modelos imaginários.

Essa liberdade é ganha apenas se esse complexo entra em crise; para isso é provável que a análise pessoal ou a práxis clínica ocupem um lugar pronunciado, já que a clínica é pródiga em produzir crises. A eclosão de uma crise nesse sistema de saber será ocasião para o reconhecimento do não saber em sua dimensão psiquicamente efetiva (não só como conceito - o conceito de inconsciente e o de não saber eficiente podem muito bem ser compreendidos conscientemente, sem crise ou transformação alguma).

A experiência dessa crise por parte desse sujeito remete inexoravelmente ao campo do estranho, conforme definido por Freud (1919/1996a). O caráter inexorável dessa crise se deve ao fato de que o complexo associado à imago é construído como uma idealização - não necessariamente porque o autor canônico é tomado como o Super-homem ou como Deus, mas porque o complexo é considerado como um todo, como um sistema robusto e consistente, dando conta de lastrear de forma segura e suficiente o pensamento da pessoa. Acontece que, ainda que isso seja verdade, é necessário que isso seja verdade a partir de uma outra forma de integrá-lo - o sistema organizado ao redor do autor pode até ser um condutor do pensamento, mas ele precisa falhar para que seja possível pensar através dele (do contrário, o que se passa não é pensamento, mas um uso do sistema como uma forma de não pensar).

Considerando que a idealização do autor de referência atualiza justamente uma relação narcísica do sujeito consigo mesmo, com seu eu ideal, e funciona nessa medida como plataforma para uma relação regressiva, pode-se compreender por que ela é condição necessária (para o investimento afetivo da relação ao pensar, ao saber e ao fazer psicanalíticos), e também por que é imprescindível que ela, enquanto idealização, caia. Afinal, para que esse complexo deixe de ser um impedimento à capacidade de pensar criativamente, será necessário que ele seja desestabilizado pela percepção de elementos estranhos que possam habitar essa dimensão da vida do sujeito e desestabilizar a aparente integridade do conjunto; essa abertura para o estranho (na definição freudiana do termo) é o que faz com que a atenção flutuante entre em relação criativa com os processos e fenômenos vividos na práxis clínica.

Vê-se ainda como, a partir de um outro ângulo, o trabalho de luto na relação do sujeito com a psicanálise entra em jogo neste mesmo ponto. O luto estará aqui associado à imago articulada de forma idealizada - afinal, como se sabe, o luto diz respeito a um trabalho do sujeito com o representante mental do objeto perdido, e nesse caso o que entra em processo de luto é a relação do sujeito com a imago idealizada, que é justamente o que é perdido. O que queremos dizer com isso é que o luto não implica um abandono do objeto, nem um esquecimento do objeto - fazer o luto da imago autoral de Winnicott, por exemplo, não implica deixar de se referir à obra e à imago de Winnicott, mas elaborar a vivência de que a imago autoral canônica "Winnicott" é não toda: ela não responde tudo, ela não é toda, ela não é minha... e é preciso passar por esse processo para que ela seja, em algum lugar, minha.

Derrida (1989) e Gaston (2006) colaboram para compreendermos esse ponto ao levantar a questão do "luto impossível": a questão de Derrida seria que o "sucesso" do trabalho de luto leva à interiorização do objeto, à sua desidealização e ao seu esquecimento, quando sabemos que o movimento em direção ao objeto perdido tende a cristalizar, em maior ou menor grau, um certo ideário que é afetivamente sustentado e resguardado pelo enlutado, uma insistência em não esquecer, uma insistência em manter o outro enquanto outro, em si, como parte de si, para que se possa respeitá-lo, lembrar dele. Isso significa que nenhum luto se completa, porque o sucesso do luto significa o esquecimento e a canibalização do objeto perdido; pensaríamos então que num bom luto os objetos não se perdem, o luto nunca se completa, o objeto está o tempo todo convocando a uma retomada do luto, e com isso o luto deixa de ser um trabalho de luto, passando a ser, isso sim, uma certa forma de cultivo de alteridade no seio de si.

O ponto mais difícil no contexto do luto do complexo autoral canônico idealizado é que há uma dimensão infindável inevitável articulada a ele - algo que Derrida provocativamente trata como a dimensão melancólica necessariamente ligada ao luto. Essa melancolização incontornável do objeto perdido se dá, para Derrida, justamente porque não é possível finalizar o luto, e a reativação do complexo em causa no processo de luto implica um engajamento ativo do sujeito em sua sustentação que é, no fim das contas, a base teórica no seio da qual Freud inscreve a diferença entre luto e melancolia. Afinal, para Freud (1917/1996b), a grande diferença entre o luto e a melancolia é o "recaimento da sombra do objeto sobre o eu" no caso da melancolia, e esse tipo de recaimento é inevitável na apropriação e idealização de um complexo autoral por parte de um sujeito em processo de formação enquanto psicanalista. Se o sujeito está estudando Lacan, tentando entender Lacan, acompanhando aulas (seminários) que versam sobre Lacan, circulando por uma instituição lacaniana, se está fazendo uma análise com um psicanalista de orientação lacaniana, se tudo isso está acontecendo, então é inevitável que aquele complexo autoral canônico (lacaniano) se torne um espaço privilegiado de habitação identitária por parte do sujeito; é inevitável que ele se torne lacaniano, se identifique a Lacan - é quase inevitável, como sabemos, passar por alguma "-ização" na própria trajetória psicanalítica.

Fédida aponta para essa mesma percepção de um lugar de destaque ocupado pelo luto na consolidação de um modo de pensamento psicanalítico. O que ele indica é que

a análise pessoal procederá necessariamente ao questionamento do lugar da teoria na vida afetiva do sujeito, e por isso qualquer projeto teórico que anteceda e persista à análise pode ser compreendido como modo de resistência e como formação substitutiva, como depósito substitutivo de reservas onipotentes enraizadas no narcisismo primário. (1978, pp. 263-264, grifo nosso)

A única diferença notável entre a perspectiva apresentada nessa passagem e a que estamos avançando aqui é que não nos parece imprescindível que a crise que leva ao questionamento emerja da análise pessoal - entendemos que ela deve vir de qualquer ponto do tripé, contanto que venha. Há uma sinergia notável, entretanto, entre as considerações de Fédida a respeito do "depósito substitutivo de reservas onipotentes" e nossa consideração a respeito do núcleo melancólico incontornável associado à consolidação do complexo imaginário que pauta a relação do sujeito com a psicanálise. Não nos parece possível que o sujeito "finalize" o luto de sua adesão identitária a uma ou outra manifestação cultural da psicanálise enquanto complexo objetal - mas é necessário que haja um luto, que permanecerá incompleto, mas que terá sido deflagrado e terá instalado condições de trabalho com o não saber, não saber inscrito no horizonte da relação do sujeito com a psicanálise. Essa relação com o não saber será a guarida do processo de formação do psicanalista e, no contexto da práxis, será o ponto de referência para a atenção flutuante (que deve se pautar, como sabemos, mais pelo não saber que pelo saber).

Esse é, portanto, o processo a partir do qual se constitui em uma dada pessoa o que chamamos de enquadre interno, ou seja, o espaço de pensamento psicanalítico, espaço de pensamento que ela habitará no contexto de sua práxis clínica.

 

Considerações finais

Propusemos um modelo intelectivo para pensar a forma como se dá a formação do psicanalista, não no sentido protocolar, institucional-sociológico, mas no sentido fenomenológico, singular e clínico, voltado àquilo que precisa se passar para que um sujeito conquiste condições de pensar psicanaliticamente no contexto de sua práxis.

Acreditamos que seja necessário ao psicanalista em formação desidealizar os autores canônicos e - o que é mais difícil - desidealizar a própria psicanálise; isso não implica abandoná-los, mas implica poder pensar para além dos cânones organizados a partir das imagos desses autores e da psicanálise que se vaticina pautada por esses cânones. Isso significa dizer que um espaço de transmissão da psicanálise que inspira naqueles que recorrem a ela imagens idealizadas estará constrangendo essas pessoas em sua capacidade de pensar - e sabemos que essas defesas já são prováveis pelo próprio fato de que a relação ao não saber é angustiante, o contato com o inconsciente e o traumático é angustiante; as pessoas em formação já tenderão a constituir defesas, e por isso é necessário que haja recursos na comunidade psicanalítica que as inspirem a superar esses fechamentos defensivos, muito ao contrário do que se passa em diversos contextos em que o que se vê é um convite ao fechamento defensivo (adesão submissa a funcionamentos doutrinais, pertencimento exclusivo em campos canônicos absolutamente inertes onde se repetem infindavelmente os mesmos mantras dos mesmos gurus).

Isso não significa, obviamente, que nos opomos ao recurso a autores canônicos. Temos que supor que é possível, ao cabo de um processo de "derrocada formativa", que reste uma forma de pensamento que faça recurso privilegiado aos ditos e escritos de um dado autor sem se constranger por eles - casos em que o recurso retórico a um cânone autoral é veículo de pensamento criativo, e não índice de pensamento cativo; isso, por sua vez, implica dizer que é possível haver predileção ou fidelidade a um dado sistema de pensamento sem que isso implique "-ismo".4 É bom que fique claro, no entanto, que o recurso a um sistema autoral consolidado não pode funcionar como expediente de controle de qualidade na comunidade psicanalítica, ou seja, ainda que o recurso privilegiado a um campo autoral canônico estrito não seja, por si só, indiciário de estancamento defensivo na possibilidade de pensamento por parte do psicanalista, a mobilização de um questionamento sistemático acerca dessas adesões defensivas certamente pode auxiliar o(s) movimento(s) psicanalítico(s) a se manter(em) vivo(s) e em movimento.

Em "Transitoriedade", Freud diz que "a libido se apega a seus objetos e não renuncia àqueles que se perderam, mesmo quando um substituto se acha bem à mão" (1916/1996d, p. 318) - é assim que se organiza uma reação defensiva, uma recusa quanto à transitoriedade das coisas que nos cativam e com a qual interagimos. Diante desse problema, a proposta de Freud é que possamos viver o luto sem ceder a esse tipo de recusa, sem defender maniacamente o objeto precário; só assim

verificar-se-á que o alto conceito em que tínhamos as riquezas da civilização nada perdeu com a descoberta de sua fragilidade: reconstruiremos tudo que a guerra [a queda do objeto-psicanálise idealizado, em nosso caso ] destruiu, e talvez em terreno mais firme e de forma mais duradora do que antes. (Freud, 1916/1996d, p. 319)

Essa é nossa proposta, nossa aposta, a hipótese e a convicção que animam este nosso trabalho.

 

Referências

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Recebido em: 13/7/2020
Aceito em: 8/12/2020

 

 

1 Texto derivado de pesquisa de doutorado realizada pelo autor primário sob orientação do autor secundário. Os autores agradecem ao convênio Capes/Fapesp pelo apoio financeiro através do processo 2015/02520-7.
2 Ferenczi ficou notavelmente associado à problemática do tato, mas é importante lembrar que foi Freud quem publicou as primeiras considerações a respeito do tema, ainda em 1910.
3 Há um relato pormenorizado do debate entre Freud e Ferenczi acerca dessa dimensão não controlável da práxis clínica - ligada ao que ambos chamavam de "tato" - em Kupermann (2019).
4 Para uma discussão interessante acerca de nuances no identitarismo, vide Birman (1996), onde se propõe uma distinção entre fidelidade e submissão transferencial (em que a submissão transferencial seria a face "problemática" e a fidelidade a face salutar da vinculação transferencial).

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