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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.54 no.100 São Paulo jan./jun. 2021

 

TEMA: O QUE FAZEMOS COM O SEXUAL?

 

Desaquendando o humor na pista de batalha: convites promovidos por travestis de baixa renda

 

Unleashing humor on the battlefield: invitations promoted by low-income transvestites

 

Desaquendando el humor en el campo de batalla: invitaciones promovidas por travestis de bajos ingresos

 

Dévoiler l'humour sur le champ de bataille : invitations faites par des travestis à faible revenu

 

 

Ana Paula Leivar Brancaleoni

Pós-doutora em Psicologia pelo IPUSP/USP, docente da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP). Membro do Laboratório de Pesquisas e Intervenções em Psicanálise (PSIA), Membro do Grupo Brasileiro de Pesquisas Sándor Ferenczi. Ribeirão Preto / ana.brancaleoni@unesp.br

 

 


RESUMO

Propõe-se analisar, por meio de percurso etnográfico, o humor de um grupo de travestis do interior de São Paulo, tendo por aporte teórico a psicanálise. Tem-se como objetivo específico compreender: o uso do pajubá, dialeto partilhado pelo grupo, no humor produzido por essas pessoas; as funções do humor nas relações estabelecidas com a heteronormatividade. Dialogaremos com excertos de entrevistas e situações observadas ao longo de trabalho de campo. A partir de análise temática, identificaram-se várias dimensões do humor criado entre elas, a saber: constituição de modos de sociabilidade, despatologização das travestilidades, indicação do caráter performático do binarismo de gêneros, transformação da angústia em riso e celebração da vida.

Palavras-chave: humor, travestilidades, psicanálise, pajubá


ABSTRACT

The aim is to analyze the humor among a group of transvestites in the inland of São Paulo state with psychoanalysis through an ethnographic route as its theoretical support. The specific objectives are to understand: the use of pajubá, a dialect shared by the group, in the humor produced by these people and the functions of humor in the relations established with heteronormativity. We will dialogue with excerpts from interviews and situations observed during fieldwork. Based on thematic analysis, several dimensions of the humor produced among them were identified, namely: constitution of modes of sociability, depathologization of transvestites, indication of the performance character of gender binarism, transformation of anguish into laughter and celebration of life.

Keywords: humor, transvestites, psychoanalysis, pajubá


RESUMEN

Se propone analizar, a través de una investigación etnográfica, el humor de un grupo de travestis del interior de São Paulo, con el soporte teórico del psicoanálisis. Sus objetivos específicos son comprender: el uso del pajubá, un dialecto compartido por el grupo, en el humor que producen estas personas; las funciones del humor en las relaciones establecidas con la heteronormatividad. Dialogaremos con extractos de entrevistas y situaciones observadas durante el trabajo de campo. A partir del análisis temático, se identificaron varias dimensiones del humor producido, a saber: constitución de modos de sociabilidad, despatologización de la travestilidad, indicio del carácter de performance del binarismo de género, transformación de la angustia en risa y celebración de la vida.

Palabras clave: humor, travestilidad, psicoanálisis, pajubá


RÉSUMÉ

On se propose à analyser, à travers un parcours ethnographique, ayant comme base théorique la psychanalyse, l'humour d'un groupe de travestis habitant la province de l'État de São Paulo, au Brésil. Le but spécifique de cette étude est de comprendre: l'utilisation du pajubá, un dialecte partagé par le groupe, lors de la production de l'humour et les fonctions de l'humour dans les relations établies avec l'hétéronormativité. On discute des extraits d'entretiens et des situations repérées lors du travail de terrain réalisé. À partir de l'analyse thematique, ont été identifiées plusieurs dimensions de l'humour créé par les travestis à l'intérieur de leur groupe, à savoir: la constitution de modes de sociabilité, la dépathologisation du travestissement, l'indication de la nature performative du binarisme de genres, la transformation de l'angoisse en rire et la célébration de la vie.

Mots-clés : humour, travestissement, psychanalyse, pajubá


 

 

Introdução

Pra lá
Do que é muito
Tem mais mundo
Mais que um.

(Dante Ozzetti)

As questões que me disponho a tratar foram despertadas quando, ao desejar iniciar trabalho de promoção de saúde com travestis que vivenciam condições de alta vulnerabilidade, deparei-me com uma situação.

Encontrava-me em uma chácara onde travestis moravam e trabalhavam. Nesse momento, ainda não sabiam que eu era psicóloga. Estava acompanhada de agentes de saúde do município, que atuavam no Programa de Redução de Danos e já possuíam legitimidade com o grupo. Ao entrar no local, observei que algumas estavam reunidas em um dos espaços e riam efusivamente. Ao me aproximar, pude ouvir a conversa. Entre elas havia uma transexual que gostaria de realizar a hormonioterapia e transformações corporais cirúrgicas com acompanhamento médico. Diziam: "Você precisa provar que é louca (gargalhavam). Você tem que dizer que tem nojo do seu pênis, que não consegue nem lavar, que sempre brincou com coisas de menina, que sonhava ser a 'Barbie', que quer cortar fora."

Mostravam também como posicionar seus ombros e olhar, de forma a "convencer os profissionais sobre o que dizia". Assim, organizavam uma espécie de role playing em que algumas travestis interpretavam o papel dos profissionais e outras demonstravam como a garota transexual deveria responder verbal e corporalmente. A encenação era regada a muitos risos. Entre uma cena e outra, a garota perguntou se elas sentiam e tinham vivido tal qual ensinavam para que encenasse e, rindo, respondiam que não, mas que médicos e psicólogos tinham certeza de que era assim e que para conseguir o que queria tinha que se comportar conforme esperavam. Uma delas completou: "E daí é essa paspalhada, acham que sabem sobre nós e a gente finge que eles sabem." Presenciar o tal teatro e o riso coletivo desconcertante fez com que compreendesse, já de início, a potência da vivência em campo no questionamento dos saberes instituídos. Eu, amapô,1 entre as travestis, teria muito a aprender sobre aquele ethos e a desconstruir teorias e preconceitos.

Barreto, Sales e Peres (2018) destacam o potencial disruptivo de existências dissidentes, dos "corpos que vibram" como os das travestis, promovendo possibilidades de fissuras e novas formas de sociabilidade em espaços familiares e institucionais. O encontro com elas fez com que me deparasse com olhares heteronormativos que nem sequer me dava conta. Conforme Berlant e Warner, heteronormatividade trata-se de um conjunto de: "instituições, estruturas de compreensão e orientações práticas que fazem não só que a heterossexualidade pareça coerente - isto é, organizada como sexualidade - como também que seja privilegiada" (2002, p. 230). Institui-se a heterossexualidade - assumindo-se como natural a relação entre genital de nascimento, gênero e orientação do desejo - como o ditame organizador de nossa sociedade. Assim, as sexualidades dissidentes do modelo heteronormativo são perseguidas e patologizadas.

As travestis brasileiras, guardadas suas especificidades, também podem ser compreendidas como uma paródia da noção de uma identidade de gênero originária, natural ou primária. Dessa forma, desvelam o caráter artificial e performativo do gênero, falsamente naturalizado por meio de uma "ficção reguladora da coerência heterossexual" (Butler, 2002, p. 196). O humor entre as travestis, conforme desenvolveremos adiante, denuncia os processos de abjeção e posiciona a potência de suas existências.

Tomamos abjeção no sentido apresentado por Butler (2002), ainda que em seu escrito a autora não se refira especificamente à condição hegemônica das travestis brasileiras. Segundo ela: "o 'abjeto' significa aquilo que foi expelido do corpo, descartado como excremento, tornado literalmente 'Outro'. Parece uma expulsão de elementos estranhos, mas é precisamente através dessa expulsão que o estranho se estabelece" (Butler, 2002, p. 191).

A abjeção se expressa, inclusive, em números. O Brasil segue como país do mundo com mais assassinatos de travestis e transexuais, respondendo, em 2018, por 47% do total notificado (Benevides & Nogueira, 2019). Além disso, tem-se negação de direitos, que resulta em vulnerabilidade social.

Ousamos uma aproximação das reflexões acerca das paródias de gênero às considerações de Kupermann sobre o humor. Segundo o autor, o humor opera a "'destituição do sujeito do suposto saber' que resta como sintoma na cultura" (Kupermann, 2003, p. 360), dessacraliza autoridades, rituais, insígnias institucionais, gerando como resultado dessa operação um saldo humano e erótico.

Diante das inquietações, propus-me investigar o humor em um grupo de travestis do interior de São Paulo, tendo por aporte teórico a psicanálise. Assumiu-se como objetivos específicos compreender: o uso do pajubá no humor produzido e as funções do humor nas relações estabelecidas com a heteronormatividade.

Destacamos que Freud posiciona o humor em grau mais elevado na comparação com o cômico e o chiste, o que se deve ao triunfo do narcisismo, "na afirmação vitoriosa, da invulnerabilidade do ego" (1927/1996b, p. 166), que se recusa a ser compelido a sofrer. Como já afirmara Freud (1905/1996a), trata-se de meio de obtenção do prazer que se sustenta apesar dos afetos dolorosos que comparecem em dadas situações. Assim, o mundo externo e suas vicissitudes convertem-se em ocasiões para obter prazer, fato que configura o humor como "rebelde" não resignado à crueldade das circunstâncias reais.

Conforme Kupermann (2010), pela via do humor pode-se viver o luto da perda de um objeto que fora absoluto, assumindo a orfandade. Este é um processo distinto daquele que se dá na identificação narcísica com o objeto perdido, que segue idealizado, em que a sombra dele recai sobre o ego e resulta em quadros melancólicos e masoquistas.

O humorista ao rir de si mesmo é "simultaneamente a criança aflita e o adulto 'superior' em relação a essa mesma criança" (Freud, 1927/1996b, p. 204). Isso se daria graças a um deslocamento da ênfase psíquica do ego para o superego, que expressaria: "Olhem! Aqui está o mundo, não parece tão perigoso! Não passa de um jogo de crianças, digno apenas de que sobre ele se faça uma pilhéria" (Freud, 1927/1996b, p. 206). Conforme Kupermann, tem-se no trabalho humorístico de desidealização o "avesso do incremento do potencial mortífero do superego" (2010, p. 202).

Kupermann (2010), dialogando com a obra de Bakhtin (2013) e suas compreensões sobre o realismo grotesco e a percepção carnavalesca do mundo, destaca nessa carnavalização a possibilidade de subversão de fronteiras estabelecidas pelo ethos oficial, assim de hierarquias. Cabem, na "festa", a ambivalência, a metamorfose, a aproximação da vida e da morte, a presença do sentido material e corporal, sendo a própria agressividade componente do movimento de regeneração. Cogita-se, então, a possibilidade de uma comunidade em que o humor pode vir a ser um meio para evitar idealizações, totalitárias por excelência, possibilitando que "os órfãos" partilhem o reconhecimento de sua orfandade, por meio de processo em que a lucidez e o ludismo fazem-se enredados (Kupermann, 2008).

 

Um trabalho que também transita

Empreendeu-se percurso de cunho etnográfico, desenvolvido ao longo de um ano, em que se considera o "pesquisador como principal instrumento de investigação e a necessidade de contato prolongado com o campo" (Mazzotti, 1991, p. 54). As observações, registradas em diário de campo, foram realizadas nas ruas e em casas/pensão, administradas por uma cafetina/cafetão, onde moram e trabalham como profissionais do sexo. Costuma ser nesse espaço que chegam como "gayzinhos"2 e aprendem na relação com as veteranas e madrinhas sobre a rua, os códigos, valores e relações com o corpo. Destaca-se a complexa relação estabelecida com a rua ou pista de batalha que, enquanto território da prostituição, possui repartições e esquadrinhamentos delimitados. Há sinalizações que indicam e estabelecem hierarquias e refletem "os valores vigentes entre as travestis do pedaço" (Pelúcio, 2015, p. 64).

Também foram realizadas entrevistas semiestruturadas com oito travestis, apresentadas neste trabalho com nomes fictícios. Destaca-se que, aos poucos, a multiplicidade dessas pessoas passou a ser percebida por minhas retinas, já mais aptas ao reconhecimento de outras cores e gradientes. Nessa multiplicidade, o sentido que atribuía ao termo "travestis" foi mostrando-se insuficiente. Isso porque estrangulava a compreensão de suas singularidades, através de uma pretensa homogeneização categorial. Homogeneidade esta frontalmente questionada pela diversidade encontrada em campo, onde se tem desde Lúcia, que empreendeu várias mudanças corporais, tendo bombado3 silicone industrial e feito hormonização; até Janaína, que diante de nosso primeiro encontro nos indagamos se aquele senhor seria cliente. Janaína não possuía transformações corporais promovidas por meio de aplicação de silicone, ou fazia hormonização, mas identificava-se como travesti. Montava-se para a pista de batalha. Sempre entre risos dizia: "passando na rua X, à noite, a loira sou eu. Quando ponho a picumã,4 tô na batalha". Frente a isso, adota-se neste trabalho o conceito de travestilidades. Como afirma Pelúcio (2015), esse termo em seu plural é mais legítimo, pois evidencia a diversidade de formas de se entender e se constituir, enquanto sujeito, nessa expressão de gênero. Mesmo porque as travestis têm se referenciado em múltiplas imagens de ser homem/mulher, nas diversas relações sociais que compõem. A partir dessas considerações, ao longo do trabalho sigo utilizando o termo travesti por conveniência de escrita. Contudo, ele deve ser lido a partir da perspectiva das travestilidades. Pretende-se, dessa forma, que nele estejam representadas as singularidades, assim como os processos sociais comuns que as atravessam (Pelúcio, 2015).

Conforme Hammersley e Atikinson (1992), para o método etnográfico, a coleta e análise dos dados se dá de forma simultânea. Utilizando a análise temática, na fase preliminar, o problema pesquisado foi sendo delimitado e os dados analisados indicaram o caminho a seguir. Na fase final, chegou-se à organização dos dados em duas categorias: ethos e humor; afrontamentos da heteronormatividade e saberes instituídos.

 

Ethos e humor

Neste tópico discutem-se os valores organizadores das relações estabelecidas especialmente na noite, na rua e na casa/pensão. Na "noite", compreendida como uma categoria temporal e espacial abstrata, legitima-se a transgressão de comportamentos, o que é malvisto ou inadmissível durante o dia (Pelúcio, 2015). A mobilidade, a fluidez, as tecnologias do corpo e valores morais pactuados no grupo norteiam seus movimentos nos territórios, compondo seu ethos. Laurence nos diz:

Quando a gente sai de casa e vai pra rua, porque a família expulsa, né? Na rua são outras regras, não vou dizer que é só mil maravilhas... não é não, mas é na rua que a gente se faz desse jeito, como a gente é mesmo, sabe?

A rua, as casas/pensão, os terreiros compõem as intensas redes de sociabilidade do grupo em questão. A interligação dos pontos dessa rede dá-se também pela presença do pajubá. Logo no início das idas a campo, recebi o aviso, por parte de Kauana, travesti que trabalhava como agente de saúde vinculada a uma organização não governamental (ong): "Quer trabalhar mesmo com travesti, vai ter que aprender pajubá." Entre risos, pronunciava um conjunto de palavras e expressões por mim desconhecidas: "Se você ouve 'ai, Mona, alibã'5... Faz o quê? Fica olhando embasbacada de susto... (risos)... tem que aprendê pajubá... que nem alfabetizar..."

Kauana ria de minhas expressões de interrogação e desconhecimento. Posicionava, de forma bem-humorada, que apesar da "boa vontade" em trabalhar com o grupo, eu teria um longo caminho para compreender o ethos e os sentidos partilhados.

Diante desse sonoro convite empreendido por ela, apresentaremos o dialeto. O pajubá é formado por termos que têm sua origem em algumas línguas africanas, sendo o iorubá-nagô a principal delas, sobre a base fonológica e gramatical do português. Destaca-se, ainda, a significativa presença de termos metonímicos, além de palavras estrangeiras foneticamente adaptadas ao português (Borba, 2010).

Jimenez e Adorno (2009) discutem as compreensões da antropóloga nigeriana Oyeronke Oyewumi, que afirma que o iorubá não apresenta pronomes que indicam gênero, mas sim apontam quem é mais velho ou mais novo. Isso se deve ao fato de que, na cultura iorubá, o organizador mais potente é a idade relativa e não o gênero. Como afirma Oliveira acerca do pajubá: "formas de vidas que escapam a estreiteza da hegemonia heterossexual, o produziram como um modo de estabelecer comunicações e de produzir laços de comunidade" (2016, p. 335). O encontro com as línguas africanas, na composição do pajubá, se deu por meio da vivência de travestis em terreiros de umbanda e candomblé, em que a homossexualidade e a travestilidade são compreendidas como expressões da sexualidade e do gênero também próprias do ser humano, tanto quanto aquelas que atendem à heteronormatividade.

Tomando ainda o iorubá e sua gramática, esta possibilita a coexistência de corpos híbridos e sexos instáveis. Isso porque é bastante flexível em relação à dualidade sexo/gênero, especialmente aliando-se à religiosidade afro-brasileira em que há orixás que transitam entre os gêneros. Possibilita-se, assim, a existência discursiva da travesti, na medida em que lhe confere o status de naturalidade, promovendo referenciais de identificação valorizados (Jimenez & Adorno, 2009).

Ao longo do trabalho de campo, as travestis frequentemente usavam o pajubá na promoção do riso sobre elas e entre elas. Dessa forma expressavam e partilhavam vivências difíceis, como também se promovia laço e sentimento de pertença. Como diz Sofia:

É... já é uma risada... o jeito que eu escolho pra falar em si. Entre a gente, a gente fala no pajubá... já dá um tom, né? Com outras pessoas que são minhas amigas, mas não são entendidas, né? Elas já sabem, né? Comecei a conversa com pajubá, vem risada. Nem sempre o babado é bom. Mas rir melhora, né? Rindo a gente fica menos sozinha.

Ainda pensando o pajubá na relação com o humor, destaca-se a fala de Karina, que sempre ria quando uma agente de saúde usava Neosoro®, um descongestionante nasal: "Isso mesmo, Soraya, cada um tem seu padê,6 com a diferença que tem padê que pode usar na frente de todo mundo e outros que não (risos)."

Trazemos também Lídia ironizando homens machistas, "pais de família", que as procuram querendo "passivo":

Daí você vê lá a maricona7 fazendo pose de quem tem neca odara. Que nada... a maricona te procura pra quê? Porque quer dar o edi8 mesmo... é isso, meu amor... na hora do vamo vê... no fundo o que ele quer é que a gente tenha uma neca odara... (risos)

Como se observa, através do riso provocativo, com o uso do pajubá, questiona-se a distância entre os vícios, entre o que é socialmente aceito e o que não é, além da hipocrisia frente à sexualidade. As travestis estudadas seguem, tantas vezes, com seu dialeto, mostrando o mundo ordinário a contrapelo, por meio da promoção de riso que escarnece. Indica-se, assim, a possibilidade de uma comunidade em que o humor é um meio para evitar as idealizações totalitárias. Dessa forma, podem partilhar o reconhecimento da orfandade, por meio de processo em que se tem imbricadas lucidez e ludicidade (Kupermann, 2008). Como afirma Kupermann (2003), apoiado em Ferenczi, a benevolência da instância ideal e o reconhecimento das alteridades presentes no humor favorecem o bendizer da vida e a possibilidade de um laço afetivo não traumatizante com o outro.

O uso do pajubá e outras gírias de seus cotidianos se dava como forma de constituir proximidades e constituir laços, mas também para delimitar o distanciamento desejado. Ao longo dos encontros uma palavra era de uso recorrente, mas não se compreendia claramente o seu sentido. Referiam em várias situações que eram "brocadas". Diziam frases como: "A sociedade broca a gente."; "Assim você me broca."; "Somos brocadas." Frente à pergunta do que era "brocado", respondiam com outra questão: "O que você acha que é?". Construí e partilhei com elas várias hipóteses; brocado seria fixado ao chão, impedido de se movimentar? Seria perfurado, esvaziado, carcomido? Ao final de cada tentativa, frequentemente um riso partilhado entre elas, seguido de um "Pode ser também." A partir do meu enunciado, prosseguiam falando desse "novo brocado", aquele que eu acabava de lhes dizer. Contudo, tratava-se de um limite que não encerrava ou impedia a conversa. Constituía-se ao longo dos encontros um divertido jogo de adivinha, em que o sentido mais exato não era revelado, mas prosseguiam-se diálogos a partir de novos sentidos atribuídos por mim, alguém "de fora", à expressão conhecida e manejada por elas.

Jimenez e Adorno (2009) destacam o uso do pajubá na produção de aproximações e afastamentos. Relatam momentos em que o uso do dialeto e de gírias incompreensíveis se dá justamente com a função de demonstrar o domínio sobre o território, assim como a pouca disponibilidade para qualquer tipo de aproximação.

Em outros momentos, contudo, contava com a disposição das travestis para traduzir expressões e palavras de seu universo e que eu desconhecia. Diferentemente da relação estabelecida com a palavra "brocado", quando outras expressões também não eram compreendidas inicialmente pelos "não entendidos", estavam dispostas a explicar. Frequentemente usavam expressões e palavras em pajubá que eram traduzidas frente a uma incompreensão do seu sentido. Como em uma conversa em que diziam da necessidade de "aquendá a neca".9 No momento da tradução o riso conjunto: "Você não sabe o que é aquendá a neca? Nem pode, você não tem neca." Frente ao dito, o riso era partilhado entre todos - os "de dentro" e os "de fora".

Assim, permitiam a aproximação, como também constituíam diferenciações mediadas pelo riso que promovia o laço social. Como afirma Minois com referência ao trabalho Os chistes e sua relação com o incons ciente, de Freud: "Nem todo mundo tem esse espírito; isso requer aptidões particulares, ligadas à necessidade de comunicar. Aliás, a palavra espirituosa exige a cumplicidade do outro; trata-se de um gesto social, do qual uma das qualidades essenciais é a concisão" (2003, p. 526).

De forma concisa e precisa, estabeleciam-se limites entre "entendidos" e "não entendidos" reafirmando a existência de sua linguagem, seus sentidos e formas de relação com o gênero e com o corpo. Como afirmam Borba e Ostermann: "A corporificação é o que habilita os/as transgêneros a construir performances de gênero que contrastam com suas determinações biológicas através do uso de seus corpos e linguagem" (2008, p. 410).

Lumena afirma que se diverte vendo a cara de pessoas que a discriminam, quando nessas situações começa a usar termos do pajubá. Relatou:

Precisava vê a cara... ficou me encarando feio, olhando de cima em baixo na fila. Daí eu disse: ah amapô vai perdê picumã... a cara que ela fez...! Ela não entedia... fiquei rindo... Aloka10...

Bakhtin (2013) refere-se também ao vocabulário e a gestos da praça pública na cultura popular da Idade Média, promovendo a constituição de uma linguagem carnavalesca típica. Isso porque não se respeitam restrições, liberam-se os sujeitos das normas instituídas de coerência, decência e etiqueta, assim como das relações hierárquicas, efetivando-se uma forma de comunicação peculiar. Destarte, constitui-se uma linguagem para além da linguagem oficial com o potencial de desestabilizar o instituído. Não se pretende levianamente igualar o pajubá ao vocabulário da praça pública, mas sim destacar que, também entre travestis, existe um dialeto que se configura para além da linguagem oficial, guardando importante potencial desestabilizador.

Outra questão que comparece com relevância é o manejo do gênero no uso do português. Uma observação realizada na casa/pensão de Telma merece destaque. Estávamos na sala quando Telma voltou a falar da situação de conflito que vive com um irmão. Notava-se que quando se referia a si na relação com os irmãos e com o pai, usava o gênero gramatical masculino. "Meu pai me disse: filho, cuida do seu irmão... que é um descabeçado, não deixa ele largado na sarjeta." Quando voltava a falar de situações do cotidiano de sua casa, na relação com "as outras meninas", referia a si no feminino.

Borba e Ostermann (2008) descrevem o manejo do masculino e feminino gramaticais por travestis. Segundo relatam, o masculino gramatical é utilizado em contextos e funções interacionais bastante específicas, tais como: relações familiares, demarcação de momentos de suas vidas anteriores às transformações corporais, referência a outras travestis com as quais não se identificam.

Identifica-se que o humor comparece como um instrumento de resgate da potência por parte do grupo, evitando sentimentos de autopiedade (Leite Jr., 2006). Afirmavam a dureza da "pista de batalha", referiam que a noite não era mais a mesma e traziam relatos de experiências muito doloridas no trabalho no mercado do sexo. Contudo, como uma delas textualmente afirmou: "A gente reinventa, se não ri, tá morta... pra enfrentar a dureza tem que fazer até a tristeza pular de alegria." Reporta-nos às considerações de Minois, discutindo Nietzsche. Segundo o autor, o sofrimento profundo do homem impele à necessidade de invenção do riso. Assim: "é porque temos consciência de nossa condição desesperada que podemos rir seriamente, e esse riso nos permite suportar essa condição" (Minois, 2003, p. 518).

Observa-se, assim, o movimento referido por Freud (1927/1996b), em que o autor aponta o humor como um instrumento que permite o prazer ainda que haja dores e dificuldades que seriam passíveis de perturbá-lo. Ele se coloca no lugar desses afetos penosos suplantando sua evolução, pois "se não ri, tá morta". Nesse contexto de produção do humor ocupam, conforme refere Freud (1927/1996b), concomitantemente a posição da criança e do adulto. Através da ação de um superego benevolente, podem olhar para a realidade como uma brincadeira infantil sobre a qual é possível uma piada. Assim, na presença do humor, e ao produzir o riso, a travesti/humorista pode usufruir do prazer não necessitando da partilha de um terceiro/externo. Constata-se, portanto, a presença das duas características do humor, a saber: a transformação da realidade desfavorável e a efetivação do princípio do prazer a fim de escapar da compulsão para sofrer. Como dito, reconhecer a tristeza e fazê-la "pular de alegria", em processo contínuo de reinvenção do corpo e de si. Minois refere-se acerca do status do humor entre as defesas psíquicas contra a dor enumeradas por Freud: "é a arma mais sublime porque, ao contrário de outras, mantém a saúde psíquica e o equilíbrio e é fonte de prazer (2003, p. 527).

 

Afrontamentos à heteronormatividade e saberes instituídos

Discute-se, neste tópico, o efeito disruptivo do humor entre as travestis estudadas frente à heteronormatividade e aos processos sociais de patologização de quem rompe com o binarismo de gênero, questionando os saberes legitimados.

Destaca-se uma das falas de Clara, exemplar do efeito disruptivo que se intenciona discutir. Chama-nos a atenção o tom desafiador do biopoder, tanto pelo conteúdo quanto por sua postura enquanto falava. Ria questionando a definição reducionista de seu gênero, a partir do genital de nascimento. Segundo ela:

Uai, ele diz que eu nasci homem, né? Aí eu falei que...! Eu nasci atriz... eu acho que quando o médico olhou e falou pra minha família: é um menino; eu olhei pra cara do médico e falei: ei, paspalho, o que é que você tá falando? Cuida da sua vida! Ele diz que eu nasci homem, onde tem homem aqui? Não tem, só o Chucky. Já comecei atuando na hora do meu parto mesmo (risos). Agora porque o médico viu errado eu pago o preço na vida.

"Pagar o preço na vida" diz de sua condição de abjeção social que, por romper com o binarismo de gênero, é outorgada à não humanidade. Refletindo sobre a condição de abjeção, compreende-se que, na produção subjetiva do desejo, há uma imbricada relação entre as margens e o centro. Tomando o funcionamento psíquico como baliza, não seria possível uma divisão justificada entre humanos e abjetos; somos todos e todas humanas, marcados pelos conflitos inconscientes. Contudo, esse sentido que nos congrega como humanos não se mantém no que se refere à possibilidade de acessar os bens materiais e simbólicos. Assim, a cidadania e o reconhecimento da condição de humanidade mantêm-se como privilégio de alguns grupos. Destaca-se que, no sentido material, constituem-se aparatos que instituem e apartam os abjetos daquilo que é acessível e legítimo para quem são os considerados verdadeiramente humanos. Contudo, o humor transgride esse distanciamento social imposto, afronta e não se resigna ao apartheid social (Kupermann, 2003).

Merece comparecer uma conversa com Sandra, em que narrava histórias de sua vida. Disse a ela que deveria escrever um livro, pois eram muitas experiências que mereciam registro. Contou-me que um amigo havia dito isso a ela e que, na ocasião, se dispusera a ajudá-la a escrever, mas que naquele momento ele não poderia mais. Insisti que ela mesma poderia escrever suas memórias. Ao me ouvir, riu alto. Levantou-se e caminhou, ainda rindo, rumo à talha d'água. Permaneceu de pé, com o copo de água na mão, e, com um riso permanente no rosto, disse: "É que se eu fosse escrever livro de minhas histórias teria que ser uma 'encicropédia', que numa enciclopédia não dá, não cabe..." Repetiu a palavra "encicropédia" duas vezes rindo de si mesma. Sandra brincava com a palavra. Constata-se que Sandra tem ciência de sua condição de abjeção social, mas não se resigna a ela. Embrenha-se em um movimento lúdico de constituição de espaço para a criação e para o reconhecimento da legitimidade de outras formas de pensamento e sociabilidade que, como as dela, rompem com o estabelecido. Assim, são reconhecidas como válidas as histórias e vozes daqueles e daquelas que não cabem na "enciclopédia", mas que constituem "encicropédias" a serem lidas e compreendidas. Ria-se e debochava-se, portanto, do saber "enciclopédico" de caráter estático; exaltando sua vida "transViada" que não se amolda ou se submete ao mesmo, mas que compõe histórias para além do instituído.

Destacam-se vários momentos em que as travestis brincavam com sua condição corporal, tão rechaçada socialmente por romper com o binarismo de gênero, com frases jocosas como: "Aqui o cliente tem a versão completa.", "total flex", "Eles querem a Eva no corpo do Adão." Clara, por exemplo, contou-me sobre seu truque:11

E aí teve o truque da minha cirurgia. Que me fiz em laboratório.12 O cara me olhou assim e disse: você não é mulher? Eu disse: não, eu nasci com os dois. "Não acredito". E aí... esse cara da usp disse: "Gente, eu quero ver, deixa eu ver." Daí ele me levou no estacionamento da usp , porque tinha o selo da usp , onde trabalha e eu mostrei e ele falou "eu não acredito". Ele era da usp viu... professor... (risos)... Pensei: deu certo, que bom!

Remetemo-nos às considerações de Minois sobre o riso grotesco que "incide sobre a própria essência do real que perde sua consistência. É uma verdadeira desforra do diabo, uma vez que ele pulveriza a ontologia, desintegra a criação divina, reduzida ao estado de ilusão" (2003, p. 96). Dessa forma, ele constitui a constatação do "não lugar", movimento que reduz "o ser ao absurdo e à aparência".

Chamou-nos a atenção também a repetição enfática, entre risos, da informação de que a pessoa com a qual saíra e que ficara curiosa sobre sua genitália era "da usp". "Ser da usp", na cidade, é assumido como um diferencial que confere status e respeito. O movimento de Clara nos aproxima do princípio de rebaixamento que se apresenta como uma das faces da carnavalização, discutida por Bakhtin (2013). Questionam-se, assim, os lugares do poder e da hierarquia:

O riso ambivalente implica o rebaixamento, do mesmo modo que a agressividade é parte do movimento de regeneração, e não é difícil perceber o motivo pelo qual as figuras da autoridade, que detêm a função de proteção e de regulação da vida social, são seus alvos privilegiados. (Kupermann, 2010, p. 193)

Por meio do humor promoveu-se a desidentificação com o "lugar do subalterno". As travestis, por meio do riso, também promovem fissuras na condição social de abjeção, assumindo sua voz e denunciando hipocrisias da sociedade heteronormativa. Por esse movimento, o "poder da realeza do binarismo de gênero" é minorado, sendo expostas suas fragilidades. Para que isso seja possível é necessário romper com as idealizações e ser capaz de rir de si. Destaca-se, portanto, que esse humor é capaz de promover processos de identificação e constituição de laços entre elas, na medida em que o riso coletivo permite o reconhecimento da condição de abjeção que envolve a todas, por serem travestis. Como afirma Kupermann (2003), apoiando-se em Lipovetsky, o humor seduz e aproxima as pessoas. Nesse processo, há uma transgressão "autorizada" em que de certa maneira suspendem-se a repressão e o recalque, possibilitando certa satisfação pulsional, ao mesmo tempo que o laço social é ratificado.

Assim, o humor se mostra como um aliado possível na construção de outros campos de inteligibilidade no que se refere ao gênero. Entende-se que a aproximação e a busca de compreensão dessa parodística de gênero e saber/poder instituídos são ferramentas na construção de relações menos estereotipadas com aqueles que rompem com os ditames da heteronormatividade (Kupermann, 2017). Portanto, entende-se que o humor é capaz de promover alargamentos para a escuta e para o olhar no encontro efetivo com essas pessoas.

Destaca-se, assim, a aproximação possível com a carnavalização, conforme Bakhtin (2013), na medida em que ela não se configura em um esquema estático que se sobrepõe a conteúdos acabados. Diferentemente disso, trata-se de uma visão estética que permite a emergência do novo, do não conhecido, do inédito, do apartado, do invisibilizado. Isso porque o carnaval se constituiria no locus privilegiado da inversão, em que o centro simbólico é empossado pelo marginal e periférico, ocasionando uma dada explosão de alteridade. Nessa espetacularização da vida, em que não cabe palco nem divisões entre atores e direção, as hierarquias e fronteiras de toda ordem são derrubadas, quais sejam idade, status, gênero, sexo. Assim, libera-se, liberta-se, extravasa-se. O mundo pode se mostrar no seu avesso.

Ainda no sentido de escárnio à ordem vigente e de paródia da vida ordinária, cabe a fala de Suzana, que contou sobre "favores sexuais" solicitados por um pároco em troca da liberação de seu batistério, que queria como souvenir:

Ele queria que fizesse uma gravação13 em troca do batistério. Tá besta, o souvenir ficou foi muito caro... pra isso teria que pagar... se pagasse... (risos). Dizem que quem namora com padre vira mula sem cabeça, isso nem me importa porque não uso muito a cabeça de cima mesmo... (risos). Mas sua santidade, o padre, também paga (risos).

Assim, com seu tom festivo constitui-se um riso de caráter utópico que se erige contra todas as formas de autoridade, expressando e conservando a ambiguidade da condição humana.

 

Considerações finais

Compreende-se que o humor entre as travestis apresenta caráter disruptivo frente aos ordenamentos e saberes instituídos, desestabilizando processos de patologização de quem rompe com padrões heteronormativos. Denunciam reduções diagnósticas, satirizam aquilo que reconhecem como um teatro, como a assunção de personagens admitidos em cenário já predeterminado. Desafiam, com seus corpos continuamente transformados e sua linguagem, as ordens oficiais e naturalizadas.

Ao transgredir as fronteiras de impermeabilização pretendidas entre os "humanos" e "não humanos", nos damos conta da artificialidade delas, assim como dos dispositivos de poder que continuamente as instituem e mantêm. Reconhecem-se, assim, as repetições performativas que compõem o processo de naturalização daquilo que é histórico conjuntural. Assim, entende-se que é um universo rico que, ao ser estudado, traz elementos de estranheza e convida à ruptura com processos de abjeção e exclusão social, reintegrando à dimensão do humano o que foi outorgado como excremento, assim como colaborando para a ampliação de compreensões acerca do instituído socialmente sobre a sexualidade e o gênero.

 

Referências

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Recebido em: 28/2/2021
Aceito em: 23/3/2021

 

 

1 Mulher, em pajubá.
2 Forma como designam a primeira fase no transitar pelos gêneros (Pelúcio, 2015).
3 Procedimento de aplicação de silicone industrial, com o uso de agulhas de grosso calibre, realizado por travestis "bombadeiras" que se especializam nisso, de modo a produzir formas corporais "mais femininas".
4 Termo pajubá que significa peruca ou cabelo.
5 Alibã: polícia, em pajubá.
6 Cocaína, em pajubá.
7 Homem que se afirma heterossexual, mas não é.
8 Ânus, em pajubá.
9 Pênis, em pajubá.
10 Expressão para final de frases bem-humoradas.
11 Termo pajubá que indica engodo. Na situação em questão, o truque seria simular lábios vaginais. Clara contou que costuma usar um piercing nas sobras de pele do saco escrotal que restaram após a cirurgia. Fazia uma junção das dobras de pele, unindo-as com o piercing, buscando imitar lábios vaginais.
12 Diante da negativa do sistema público de saúde em fazer a retirada de suas gônadas, estudou e realizou o corte delas de forma que pudesse ser atendida e os médicos fossem obrigados a concluir o procedimento iniciado por ela, da forma como desejava.
13 Sexo oral, em pajubá.

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