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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.54 no.100 São Paulo jan./jun. 2021

 

TEMA: O QUE FAZEMOS COM O SEXUAL?

 

Atendimento online e sexualidade

 

Online psychoanalysis and sexuality

 

Atendimiento online y sexualidad

 

Psychanalyse en ligne et sexualité

 

 

Julio Hirschhorn Gheller

Membro efetivo e analista didata da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). São Paulo / juliohg@uol.com.br

 

 


RESUMO

Os analistas têm sido afetados pelos reflexos da pandemia que surgiu em 2020. A crise sanitária invade os consultórios como tema aparente ou subjacente. Coube-nos preservar os processos analíticos em circunstâncias bastante desfavoráveis. A necessidade de isolamento social provocou maciça migração para os atendimentos remotos. Estes têm sido surpreendentemente eficazes, até mesmo com pacientes se dispondo a um maior aprofundamento em questões da ordem do sexual. A distância, em alguns casos, contribuiu para dissolver resistências e explicitar questões transferenciais.

Palavras-chave: après-coup, desejo, excesso, inconsciente encravado, situação antropológica fundamental


ABSTRACT

Psychoanalysts have been affected by the consequences of the 2020 pandemic. The health crisis has invaded offices as an either apparent or subjacent theme. It became necessary to sustain analytical processes under very unfavorable circumstances. The need for social distancing led to massive migration towards remote sessions. These have been surprisingly effective, even with patients open to more profound explorations around questions regarding the sexual realm. The distance has, in some cases, helped to dissolute resistances and reveal transferential questions.

Keywords: après-coup, desire, excess, enclosed unconscious, fundamental anthropological situation


RESUMEN

Los analistas se han visto afectados por los reflejos de la pandemia surgida en 2020. La crisis sanitaria invade los consultorios como tema aparente o subyacente. Depende de nosotros preservar los procesos analíticos en circunstancias muy desfavorables. La necesidad de aislamiento social provocó una migración masiva a servicios remotos. Estos están demostrando ser sorprendentemente efectivos, incluso con pacientes dispuestos a profundizar en cuestiones de orden sexual. La distancia, en algunos casos, contribuyó a disolver resistencias y hacer explícitas cuestiones transferenciales.

Palabras clave: après-coup, deseo, exceso, inconsciente enclavado, situación antropológica fundamental


RÉSUMÉ

Les psychanalystes ont été affectés par les reflets de la pandémie de 2020. La crise sanitaire envahit les cabinets de consultation comme thème soit apparent, soit sous-jacent. Il nous reste à maintenir les processus analytiques sous des circonstances assez défavorables. La nécessité de distanciation physique a géré une massive migration envers les consultations en ligne. Celles-ci se montrent - de manière surprenante - plutôt efficaces, même avec les patients ouverts à des explorations plus profondes par rapport à des questions de l'ordre du sexuel. La distance, dans quelques cas, a contribué pour dissoudre des résistances et expliciter des questions transférentielles.

Mots-clés : après-coup, désire, excès, inconscient enclavé, situation anthropologique fondamentale


 

 

Sobre os atendimentos remotos

No complexo cenário da pandemia, analistas e analisandos compartilham o mesmo ambiente tóxico e recorrem ao trabalho à distância. As análises online geraram muita descrença, desde seu início, por alterarem o dispositivo tradicional, em que sempre se privilegiou o atendimento presencial, além da desejável, embora nem sempre viável, alta frequência.

O encontro presencial oferece elementos valiosos para o analista, tais como a possibilidade de observar a linguagem corporal dos pacientes, variações de ritmo respiratório, a maneira como nos aguardam e entram para a sessão, além de detalhes de gestos sutis, sugestivos de ansiedade. Também permite a captação de sensações transmitidas nos intervalos de silêncio e, ao final, no trajeto de saída do consultório. Apesar disso, a alta frequência e o divã, ícone do método psicanalítico, não são - por si sós - fatores suficientes para garantir que um trabalho seja, efetivamente, psicanalítico.

Inovações nas tecnologias de comunicação já vinham sendo utilizadas por nós. A própria International Psychoanalytical Association (IPA) já havia legitimado o método remoto para análises de formação em países onde não existem analistas didatas.

Nada, porém, alterou a concepção predominante de que o ouro puro da psicanálise acontece somente quando ela é conduzida ao vivo. Ultimamente, tudo foi revirado de cabeça para baixo com o advento do flagelo que nos aflige e, dessa maneira, o assunto merece reavaliação. O fato é que persistem ainda muitas dúvidas quanto à patogenia e tratamento dos quadros clínicos de covid-19. O vírus tem alto poder de mutação e novas variantes surgem, complicando os esquemas terapêuticos. Ao que tudo indica, vamos conviver ainda por um bom tempo com o novo coronavírus. É provável, consequentemente, que o atendimento à distância continue sendo uma alternativa importante para a nossa prática, especialmente entre os analistas que pertencem aos grupos de risco.

 

O momento atual e as dificuldades de representação e simbolização

Na clínica contemporânea, já nos deparávamos com pacientes que apresentavam sinais indicativos de espaços psíquicos vazios, cuja característica é a ausência de sentido. Na base desse fenômeno existe todo um conjunto de mecanismos de defesa, englobados na denominação de trabalho do negativo (Green, 2002/2008). Refiro-me aos aspectos resultantes de negação, recalcamento, recusa e forclusão. Estes dois últimos mecanismos podem produzir áreas mentais carentes de significado em qualquer paciente, neurótico ou não neurótico.

A incidência das patologias do vazio e de dificuldades de representação cresce na proporção direta da violência das situações traumáticas do entorno. Medos de doença, morte, perda de renda e ruína alcançam a todos. O isolamento físico dificulta o contato entre pais, filhos, irmãos e amigos próximos. A liberdade de ir e vir está restringida, especialmente em viagens para o exterior, impedindo reencontros com familiares residentes em outros países. O clima de incerteza fomenta picos de ansiedade. As pessoas estão mais sujeitas a sofrer crises de angústia, às vezes beirando o pânico, situação em que é ultrapassada a capacidade de processamento dos estímulos que atingem o indivíduo. O transtorno do pânico, muito debatido pelos psiquiatras, consiste em uma crise aguda de angústia, de tal modo intensa que o paciente é tomado pelo pavor iminente de morte ou descontrole/loucura. O quadro é agravado pela vigência de sintomas físicos como tontura, falta de ar, náuseas e taquicardia. O desamparo perante o excesso de moções pulsionais e a falência momentânea da faculdade de representação configuram a necessidade de holding e continência. O excesso, fundamento do mal-estar contemporâneo - ao promover a hiperatividade -, é a condição para manifestações de agressividade, violência, destrutividade e compulsão. O psíquico procura se livrar do que é demasiado pela ação. Diante de obstáculos para a descarga sob forma de ação, o psiquismo apela para a passagem ao corpo, resultando em estresse, pânico e perturbações psicossomáticas (Birman, 2014).

Guardadas as devidas proporções, faço uma analogia entre os efeitos deletérios do presente momento e os períodos de turbulência do princípio de vida da criança, quando ela ainda é desprovida de aparelho psíquico capaz de lidar com o acúmulo de impressões violentas. Traumas infantis precoces precisarão de auxílio psicanalítico no futuro. Hoje em dia, verificamos os efeitos dos excessos traumáticos atuais que chegam aos consultórios com demanda crescente.

 

Novos tempos, novas circunstâncias

O atendimento online acarreta a mudança de setting. Usualmente, considera-se que o setting presencial, o dispositivo com o divã para estimular a regressão, a alta frequência das sessões, a ênfase na livre associação de ideias, o enunciado de interpretações transferenciais e a reserva do analista constituem um conjunto de elementos imprescindíveis para especificar os processos psicanalíticos.

Entendo, contudo, que sempre coube aos psicanalistas encontrar a sua forma singular de analisar, sem se apegar rigidamente aos cânones estipulados pelas escolas tradicionais.

Saliento a importância de que uma análise contemple a investigação dos elementos pulsionais, a observação do funcionamento das relações de objeto e a apreensão da experiência emocional na interação do par analítico. É ponto pacífico que a realidade psíquica e a transferência devam ser captadas e examinadas. Penso que todos esses objetivos podem ser alcançados no trabalho remoto. Em períodos tão complicados, todavia, fica difícil privilegiar exclusivamente a relação bipessoal, o mundo interno e a questão transferencial. Seria insano não levar em conta o impacto das múltiplas faces da crise que se instalou por conta da pandemia.

Alguns analisandos parecem necessitar mais da presença física do analista para sentir-se devidamente acolhidos, acompanhados e amparados. Como exemplo, comento, a seguir, as reações de um paciente antigo da minha clínica, que relutou em aceitar o trabalho à distância, mas acabou aceitando o limite colocado.

 

Mudança do setting: relato de uma experiência

O senhor P. está na meia-idade e é analisado há vários anos. Aceitou o divã por pouco tempo e logo passou a ser atendido frente a frente. Precisava enxergar meu rosto - necessidade renovada agora via Zoom - para controlar as minhas expressões faciais e se certificar de minha atenção. Comumente, queixava-se de familiares, amigos e colegas de trabalho, convencido de que todos lhe davam pouco retorno afetivo e o criticavam injustamente. Parecia acreditar piamente que o mundo deveria compensá-lo por inúmeras frustrações. Apesar das constantes queixas, apegava-se aos amigos, fazendo questão de conservá-los, independentemente de julgá-los insuficientes, pois temia a solidão. Quando jovem - na época do exame vestibular e aconselhado pela mãe -, abriu mão de seu interesse pela área de humanas e optou por uma profissão tradicional do campo das ciências exatas. Não demorou muito para a escolha demonstrar-se equivocada. Passou a se lamentar pelo tipo de trabalho, que considerava aborrecido e pouco gratificante. No campo dos afetos, jamais conseguiu estabelecer um relacionamento amoroso duradouro. Se alguém se aproximava, esboçando uma possibilidade de relação, sentia-se sufocado e dava um jeito de afastar a pessoa. Na análise, era difícil "acertar" as intervenções com ele: um passo à frente poderia significar invasão e um passo atrás poderia ser interpretado como abandono. Exibia muita insegurança, hesitando em tomar decisões com vistas a modificar situações insatisfatórias, mesmo quando suas ideias a respeito eram sensatas e claras. E assim seguia com sua ladainha lamurienta ano após ano, sempre infeliz. Raramente expressava comentários positivos em relação ao processo analítico, não demonstrando sinais de gratidão. Tal como conceituado por Klein (1957/1991), a ausência de gratidão sugere a presença da inveja. De fato, aspectos invejosos - em relação a pessoas conhecidas que considerava bem-sucedidas - vazavam no discurso de P. Não era difícil deduzir que suas queixas e a falta de reconhecimento do nosso trabalho representavam aspectos derivados de componentes invejosos e vorazes. Interpretações transferenciais não funcionavam bem, de vez que ele costumava passar ao largo de sentimentos para comigo, tendendo a me colocar na posição de um mero prestador de serviços, isto é, alguém neutro, que sequer suscitaria emoções. Talvez este fosse, em sua opinião, o comportamento mais "adequado" para os pacientes: jamais manifestar-se diretamente a respeito do analista. As reiteradas reclamações por ocasião dos reajustes de valor das sessões eram outro sintoma típico de insatisfação. Em todo caso, é interessante ressaltar que nunca deixava de comparecer aos nossos encontros. Seu comportamento ávido por opiniões e soluções me provocava, não raro, a sensação de ser realmente insuficiente para ajudá-lo, provável efeito de identificação projetiva.

Retorno ao presente, assinalando que P. tem ficado extremamente angustiado, imerso no desamparo, em vários momentos da quarentena sugerida pelas autoridades sanitárias. Em parte, trata-se de uma recusa dos limites que a realidade impõe, como se pensasse da seguinte forma: "Eu sei que o vírus é perigoso, mas mesmo assim...". A conhecida formulação de Mannoni (1969) na frase "Eu sei, mas mesmo assim..." foi utilizada por Figueiredo (2003) para desenvolver a noção da Verleugnung como desautorização do processo perceptivo. No caso, uma percepção é esvaziada de sua eficácia transitiva e, dessa maneira, as conclusões dela decorrentes são inutilizadas, não integrando o pensamento do sujeito. Por conseguinte, o medo - tão frequente em inúmeras situações na vida de P. - fica relativizado e recusado no que tange à exposição ao coronavírus. Mora sozinho, apenas com a companhia de um casal de gatos, na velha casa - "caindo aos pedaços", comenta ele sobre o estado da casa - que era de seus pais. Tem ficado cada vez mais sedento por contatos presenciais. No entanto, seus amigos e amigas, conscientes da necessidade de isolamento, frequentemente frustram as suas expectativas. Sofre com a perspectiva do envelhecimento inexorável e da solidão de quem não dispõe de vínculos afetivos firmes. Lamenta não ter conseguido uma parceria amorosa estável e admite - percepção oscilante, por vezes negada - que isso possa ter sido o resultado de suas escolhas e de falta de iniciativa.

Nesse cenário, tem comparecido - assiduamente, como de hábito - às sessões. Continua queixoso, mas vem dando mostras de movimento mental em relação a convicções anteriores, fortemente arraigadas. Vinha, aos poucos, procurando ampliar a consciência de que ainda haveria tempo para modificar comportamentos e atitudes que o fizeram estacionar na vida. Assuntos antigos da análise voltaram a ser trabalhados. Recordamos - em linguagem de uso corrente - o efeito de uma estrutura psíquica marcada pelo fenômeno da recusa, que se revelava em crenças singulares a respeito da própria sexualidade, com as quais pretendia renegar a realidade de seu desejo. P. nunca teve atração por mulheres, embora tenha tentado, sem êxito, encetar um namoro com uma amiga. O relacionamento sexual com ela não era prazeroso, funcionava mais como um teste para avaliar seu desempenho na cama. Desde a adolescência, sentia vergonha de um pênis pequeno e entendia que sua ereção era deficitária. A experiência frustrada com a candidata a namorada ratificava a noção de que sua preferência era outra. Paradoxalmente, tinha mais facilidade de fazer amizade com mulheres, o que podia ser explicado pela repressão. Após algumas experiências pouco felizes, passou a fugir dos homens, que despertavam sua excitação libidinal e tornavam evidente uma inclinação que ele censurava como errada e condenável.

Jamais teve coragem de revelar sua orientação homossexual para os familiares, convicto de que não a aceitariam. Na verdade, ele mesmo é que não se aceitava, tomando a homossexualidade como uma fatalidade que se abatera sobre sua pessoa, um destino cruel, uma verdadeira maldição, que o condenava a ser infeliz para sempre. Por anos, adotou a estratégia de anestesiar e minimizar suas tendências, forçando uma argumentação pouco consistente, pela qual se declarava assexuado. Essa teoria estava a serviço de atenuar o incômodo com a intensidade de suas fantasias e enfatizar a crença em uma suposta incompetência para o exercício do ato sexual. Devo reconhecer que teve relativo êxito nessa empreitada para sabotar a si mesmo. Evitava problematizar e questionar sua tática defensiva de desmentida, optando por concentrar-se em seus problemas profissionais. Dessa maneira, pretendia poupar-se das dores e desencontros, inevitáveis na vida amorosa de qualquer ser humano.

Nos últimos anos a repressão sexual vem cedendo, de modo que criou coragem para abandonar as defesas paralisantes e se aventurar em busca de relacionamentos. Conseguiu alguns encontros, expectativas foram levantadas, chegou a apaixonar-se, teve prazeres efêmeros, mas todas essas situações acabaram não dando certo, culminando em mais desapontamentos. Uma frase de Lacan cabe perfeitamente no contexto: "Le désir de l'homme, c'est le désir de l'Autre" (Lacan, 2004/2005). Isto é, o desejo do homem é o desejo do Outro por ele. Na prática, P. anseia ser desejado, sentir-se querido e importante para alguém, mas se lastima por nunca ter podido experimentar essa sensação tão almejada. Permanece com sua demanda de amor à espera de ser correspondida. Um dado relevante é a descrença na sua capacidade de gerar genuíno afeto em outra pessoa. Nesse ponto, vale salientar que sua mãe teve um importante episódio depressivo, subsequente ao parto do segundo filho. Com 4 anos de idade, P. perdeu a primazia de ser filho único. Além disso, ao menos por algum tempo, teria ficado sem o olhar da mãe, mergulhada em retraimento narcísico. Essa situação me levou a postular a existência de elementos análogos ao complexo da mãe morta, descrito por Green (1983/1988). Nessa condição, P. deve ter se sentido perdido em uma espécie de vácuo emocional e afetivo, sem poder recorrer àquela que era o alvo de sua paixão de menino e o seu referencial maior de acolhimento e amparo. Em conjunto, construímos a conjectura de que a incerteza e perplexidade em relação à repentina mudança da atitude materna teriam inscrito a marca da insegurança em sua mente. Para a sorte de P., a sua mãe se recuperou após alguns meses e voltou a ser a figura central do lar.

Apesar dos insucessos amorosos dos anos recentes, P. continuou disposto a tentar buscar um parceiro, sem retroceder para as posições de negação. No entanto, a pandemia o apanhou no contrapé, praticamente inviabilizando novos encontros. A angústia prossegue, então, como sua companheira constante.

Durante essa análise notei um padrão de história familiar muito bem estudado por Joyce McDougall (1978/1991). Com base em extensa experiência clínica, ela descreve uma configuração comum a alguns analisandos(as) homossexuais. Assinala com espanto que esses indivíduos, quando crianças, acreditaram por muito tempo que eram os queridos(as) "companheirinhos(as) da mamãe", a ponto, inclusive, de fantasiar alguma possibilidade de relações sexuais com a genitora. Em geral, essa crença subsistia até que um fato concreto - como o nascimento de um irmão - viesse a desbaratar a ilusão tão acalentada, comprovando que havia uma ligação - até então recusada - da mãe com o pai. Por vezes, a derrocada da ilusão implicava a elaboração de roteiros específicos para futuros rituais sexuais, enredos que viriam a representar a obtenção de triunfo e revanche pela frustração do passado. O pai desse tipo de criança presta-se a ser excluído no triângulo edipiano. Os relatos familiares desses analisandos descrevem como elemento preponderante uma mãe idealizada, dominadora, dotada de talentos e virtudes admiráveis, que contribui para a depreciação da figura paterna. O pai é descrito como bruto, grosseiro e violento, ou distante, frio e omisso. Ele aparece nas recordações como inapto para servir de imagem de identificação para o menino e incapaz de ser objeto de desejo para a menina. O quadro desenhado é de um pai sem condições para a função paterna e de uma mãe "excessiva", muito mais do que suficiente para cumprir o seu papel materno. P. realmente adorava a mãe e reportava um pai ríspido, ensimesmado, desinteressado e desinteressante, sempre alheio aos acontecimentos em volta. Em ocasional vislumbre do inconsciente, contou-me - candidamente - uma antiga teoria infantil sua, pela qual acreditava que seus pais teriam feito sexo apenas duas vezes: uma para ele nascer e a outra, posteriormente, para lhe dar a companhia de um irmãozinho. A fantasia pretendia abolir a vida íntima do casal parental em favor de P., que assim buscava se assegurar da posição de favorito inconteste da mãe.

Concluo que uma análise longa e de percurso complicado continua produzindo efeitos, promovendo insights e associações, apesar da queixa de P. por estar privado do contato presencial. Ele teve que constatar novamente o fato de que os outros sempre serão relativos e falhos, não existindo o objeto ideal, aquele que satisfaria todas as suas demandas de ajuda, afeto, carinho, cuidado, atenção e sexo. E, além disso, começa a perceber, se bem que com flutuações, que vale a pena aproveitar aquilo que se apresenta como possível, inclusive na análise. Essa percepção mais realista se alterna com momentos de hostilidade em que ataca o analista e recua para uma posição predominantemente ressentida, fator que se torna sério obstáculo aos avanços do trabalho.

O analista o frustra por vários aspectos. Por exemplo, não pode provê-lo da condição de atrair alguém que se apaixone por ele e releve suas facetas mais egocêntricas e rancorosas. Facetas, aliás, que ele ainda reluta em reconhecer, quando se fixa numa posição regredida, persecutória e maniqueísta, em que todo o mal se situa fora. Persiste à espera de alguém que consiga enxergar seu anseio por amar e ser amado. Assim ele poderá vir a sepultar as lembranças de antigas dores. Obviamente, não há intervenção que possa soar muito otimista e animadora no contexto atual de restrições, de modo que ele se deprime e reclama de falta de estímulo. Nesse ponto, ele fica próximo de colocar a análise em xeque. Cabe-lhe, em última instância, discernir se as elaborações psicanalíticas ainda servem para seu crescimento mental.

 

Surpresas no atendimento virtual

Na presente conjuntura, atender remotamente foi a alternativa utilizada para não interromper os processos em andamento. Os recursos tecnológicos requerem elasticidade da técnica para a adaptação às novas circunstâncias. Trata-se de uma questão de realismo e bom senso. Não é tão tranquila a situação de analista e analisando tentando conservar a prudente distância, usando máscaras, uma vez que a eventual transmissão do vírus ocorre via partículas expelidas na fala, tosse e expiração. Acrescente-se a preocupação de higienizar o ambiente entre uma sessão e a seguinte, procedimento recomendável na atual conjuntura. Essas providências de caráter essencialmente profilático podem dificultar a passagem para os estados de reverie e atenção flutuante do analista, bem como a fluência de associações livres por parte do paciente.

A maioria dos meus analisandos aceitou de bom grado a mudança para o esquema online. Alguns poucos não se adaptaram à novidade e interromperam a análise, supostamente à espera da volta das condições normais. Creio que resistências preexistentes influíram nessa decisão.

Surpreendentemente, outros analisandos, em função de características próprias do novo setting, passaram a se envolver até mais do que antes. A percepção concreta da distância física propiciou maior liberdade para a exposição de sonhos e fantasias íntimas, abarcando inclusive conteúdos transferenciais persecutórios, eróticos e amorosos. Isso porque diminuíram os receios com a proximidade, o julgamento, a reprovação e os riscos de sedução ou invasão pelo psicanalista. A emergência desse tipo de material proporcionou elaborações sobre aspectos menos analisados até então. É notório que o analista funciona como depositário de projeções provenientes de componentes sexuais do universo mental dos analisandos. O próprio sr. P., pouco afeito ao relato de sonhos, permitiu-se falar de forma bem mais explícita e fluente de seus devaneios sexuais. No relato de seus encontros mais recentes notava-se um certo gozo exibicionista, tipo um deboche do analista, que ele concebe como um indivíduo conservador, casado, com vida sexual monótona e sem graça. O analista, enfim, estaria longe de conhecer os prazeres intensos que P., na sua fase mais liberada, começou a desfrutar.

A questão de uma distância que protege contra a sedução, deixando alguns pacientes mais à vontade para se expor, me remeteu ao tema da dissimetria analítica. Mais precisamente, ao contexto em que o analisando revive a situação antropológica fundamental, postulada por Laplanche em sua teoria da sedução generalizada (2002/2015a). Trata-se da relação adulto-infans dos primórdios, em que a criança recebe estímulos e mensagens enigmáticas - que ela não tem como traduzir - do adulto. Essas mensagens são inevitavelmente impregnadas e comprometidas pelo inconsciente sexual do adulto cuidador, com seus resíduos do infantil de caráter perverso-polimorfo. O essencial dessa relação é o fato de que as mensagens enviadas pelos adultos são constituídas de significados inconscientes, desconhecidos pelos próprios emissores (Tarelho, 1999/2019). Aquilo que não pode ser entendido pela criança fica inscrito no inconsciente encravado (Laplanche, 2003/2015c) - conceito que me parece equivalente à noção de inconsciente não recalcado -, um lugar de estagnação e de espera por uma possibilidade tradutiva no futuro. A análise oferece a chance de compreensão a posteriori (nachträglichkeit) dessas marcas implantadas e não significadas. Ressalte-se, todavia, que as mensagens enigmáticas adquirem força traumática somente num segundo tempo. No primeiro tempo, o da implantação desses significantes no seu eu-corpo, a criança sofre passivamente a inscrição dessas marcas, sem a possibilidade de compreendê-las. Apenas mais tarde, no après-coup, quando outras mensagens terão o poder de reativá-los, os significantes inscritos vão adquirir um nível traumático "eficaz" (Tarelho, 1999/2019). Tais marcas, oriundas de um passado precoce, produzem efeitos - como espanto, excitação, desejo, medo e repulsa - que reaparecem em situações de intimidade sexual e amorosa, podendo ser revividas e ressignificadas na relação analítica.

Dessa maneira, devemos atentar para os traços inconscientes do sexual infantil do analista como potencialmente capazes de suscitar a reativação de elementos inscritos no inconsciente encravado, não recalcado, do analisando. É uma linha de raciocínio a ser ampliada, concedendo a devida importância ao componente sexual, inevitavelmente presente na interação do par analítico.

Nesse sentido, vale abordar instigantes comentários de Ogden (2012/2014) a respeito do artigo de Searles, "Amor edípico na contratransferência". Searles foi um autor especialmente dotado da condição de colocar em palavras aquilo que observava como sua reação emocional ao que se passava no encontro analítico. No aludido artigo, Searles relata uma experiência do início de carreira, em que se percebeu com fortes desejos de se casar com uma paciente em seu último ano de análise. Tratava-se de paciente esquizofrênica, que todos percebiam como pouco atraente e bastante doente. De início, ficou assustado com a fantasia que, de acordo com os ensinamentos de seus mestres, seria totalmente censurável e incompatível com o exercício psicanalítico. Com a prática, suas ideias foram se desenvolvendo e o levaram a interpretar que o ocorrido representara uma situação análoga ao amor que um menino sente pela mãe, com o desejo de tê-la para sempre como a melhor amiga, a esposa amada, aquela que o amaria para sempre. Significava reviver os sentimentos infantis por uma mulher adulta e proibida, que nunca poderia ser dele. No decorrer do tempo, Searles experimentou envolvimentos semelhantes com outros pacientes, homens e mulheres. Prosseguindo no seu amadurecimento, Searles foi postulando o amor edípico na transferência-contratransferência como parte fundamental do trabalho analítico. O desenvolvimento de suas elaborações o levou a supor que os pacientes - ao notar que são capazes de produzir esse tipo de desejo afetuoso nos analistas - passam a reconhecer que o seu amor pode ser devidamente valorizado, com incremento sensível da autoestima.

A ideia central do artigo, segundo Ogden, é de que, para a análise do complexo de Édipo ser bem-sucedida, o analista deveria se apaixonar pelo paciente. Sublinhava, porém, que isso se daria com plena noção de que esse desejo não poderia jamais ser realizado. Analogamente, o Édipo bem elaborado na infância necessitaria que o genitor edípico se apaixonasse profundamente pela criança edípica, mantendo, simultaneamente, a clara consciência de que os seus sentimentos não deveriam se concretizar. A noção da diferença de gerações deveria ser compreendida, mantida e respeitada. Entendia ele que o reconhecimento do paciente/filho quanto ao amor que lhe dedica o analista/genitor resultaria na consolidação de um self que confia em sua capacidade de ser amado. Neste item particular, relembro as conversas com P., que, tristemente, duvidava da probabilidade de ser amado.

O artigo vai evoluindo até a menção de Searles a respeito de sua experiência como pai. Em relação à filha de 8 anos, revelava ter tido fantasias de amor romântico, complementares ao comportamento romanticamente sedutor da menina, manifestado desde que era pequena, aos 2 anos de idade. Considerava que a afinidade entre ele e a filha seria benéfica para a personalidade dela. Acreditava que se uma menininha não pudesse se sentir capaz de conquistar o coração de seu pai, então seria difícil ir adquirindo confiança no poder de seus encantos e de sua feminilidade, fundamental para a futura jovem mulher. Desenvolveu raciocínio similar em relação ao amor de sua esposa para com seu filho homem. Ogden salienta que a interpretação de Searles para o complexo de Édipo indica que a criança deveria vivenciar o sentimento de que seu amor é aceito, valorizado e correspondido, paralelamente ao reconhecimento da "realidade limitante maior", que engloba o tabu do genitor-rival e o amor do genitor edípico pelo seu cônjuge. A ênfase seria diferente daquela de Freud, com foco no amor por um dos pais e intensa rivalidade, ciúme e desejos agressivos dirigidos ao outro. A renúncia amedrontada e culpada da criança - diante da ameaça de castração - aos desejos sexuais e amorosos pelos pais deixa de ter a mesma relevância nesse enfoque de Searles.

Suas ideias polêmicas sofreram críticas, mas contêm elementos que nos permitem pensar e tirar proveito de suas observações, especialmente no que se refere ao ingrediente do sexual - no sentido posteriormente desenvolvido por Laplanche - existente na história pessoal dos analisandos e de seus vestígios, que se repetem na interação analítica.

A maior facilidade de exposição em alguns casos do atendimento remoto merece reflexão. Não se pode desprezar a vergonha como promotora de resistências nas sessões presenciais. A questão a se levar em conta é que, desde que a transferência se instala, o analista vai sendo colocado na posição de causa do desejo do analisando, ou seja, a posição do Outro da demanda, para quem são dirigidas as demandas de amor (Fink, 1995/1998). Assim, o analisando vai, inconscientemente, esperar que o desejo do analista reproduza o desejo do Outro, tal como foi sendo introjetado e interpretado em contato com as figuras parentais no começo da vida (Fink, 1999/2018).

Passo agora para outra constatação. A ansiedade tem acarretado expectativas exigentes em relação ao analista. Trata-se do efeito de um fator que reforça a premência por interlocução. Vivemos uma situação que implica risco de vida, o que significa que cada encontro analítico pode, em tese, vir a ser o último, dado que contribui para revestir os processos analíticos de um certo senso de urgência. Não é raro acessar fantasias e preocupações relativas à saúde do analista. E isso abrange nuances distintas, em função das peculiaridades próprias da relação em cada caso. Assim, fica reforçada a noção de que a transferência está decididamente presente nos processos online.

 

Sobre variações da talking cure

Freud, em "A questão da análise leiga" (1926/1975), afirma que a formação psicanalítica deveria abranger ramos da cultura distantes da medicina, como história da civilização, mitologia, psicologia da religião e literatura. Os mais variados conhecimentos vão constituir o nosso acervo pessoal e serão úteis a qualquer instante.

O repertório variado facilita uma forma de trabalhar que Ogden (2007) chama de conversando-como-sonhando. Trata-se de uma conversa sobre qualquer assunto, que de início pode parecer despretensiosa, mas evolui para um clima de expansão de ideias. Daí então, brotam associações livres da dupla. Na sequência, o analisando pode encontrar uma brecha para aprofundar algo que o toca emocionalmente. Trata-se de uma conversa espontânea, talvez mais reveladora do que muitas das interações habituais. Difere do diálogo que, não raro, parece programado pelo paciente para uma espécie de apresentação de caso ao analista, como que visando persuadi-lo a acatar as peculiares teorias explicativas de seu funcionamento mental. A espontaneidade da fala propicia a dissolução de resistências, favorecendo o aparecimento de lapsos, atos falhos ou outras possíveis entradas para conteúdos recalcados. Este é o material de análise propriamente dita, uma vez que resulta da dissociação e decomposição daquilo que constitui uma narrativa defensiva, inconscientemente preferida pelo paciente como estratégia a serviço da resistência. Esse tipo de narrativa reflete as defesas que são construídas e sedimentadas ao longo da vida.

Laplanche acredita que o psicanalista trabalha em uma pequena parte do tempo com o que ele chama de "analisar" - atos psicanalíticos são os que apontam para a brusca irrupção do recalcado - e, na maior parte do tempo, com psicoterapia (2006/2015b). "Analisar", segundo ele, é promover o desligamento e desmonte de verdades cristalizadas, viável a partir daquilo que surge como repentina fresta para o inconsciente. A função psicoterápica, por outro lado, consiste em ajudar o paciente a criar e construir novas narrativas, reescrever a história do sujeito a partir do material que surge no contexto analítico.

Para alguns pacientes o isolamento proporciona um maior interesse por livros, filmes e cursos via internet, ampliando o leque de assuntos trazidos às sessões. Em consequência, as interações analíticas são estimuladas, aumentando a chance de criação de novas janelas para o inconsciente.

 

Conclusão

É mister admitir que as ferramentas tecnológicas promoveram uma necessária adaptação ao novo e, como tal, causaram a rediscussão e flexibilização de antigas regras e concepções mais rígidas. Novas interrogações se apresentam e nos convocam a pensar. O fato de que analisandos vinculados já há um bom tempo passam a abrir mais as portas do seu inconsciente nas sessões por vídeo é auspicioso. Uma antiga observação minha vem se reafirmando. Sempre notei que alguns pacientes me recebiam com toda a gentileza na sala de visitas de suas casas mentais, mas impediam a entrada em certos aposentos secretos, que permaneciam trancados nos porões do psiquismo. A novidade desses tempos de pandemia é que alguns analisandos se sentem encorajados para permitir o acesso aos subterrâneos até então interditados. Desde que mantido o setting interno do analista - com as capacidades de holding e continência colocadas a serviço de ser interpelado pelo sofrimento do outro -, o processo analítico se instala e evolui, independentemente da falta de contato presencial.

 

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Recebido em: 19/2/2021
Aceito em: 16/4/2021

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