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Jornal de Psicanálise

versión impresa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.54 no.100 São Paulo ene./jun. 2021

 

TEMA: O QUE FAZEMOS COM O SEXUAL?

 

"Serás-hétero-ou-não-serás": a lesbianidade nas Atas da Sociedade Psicanalítica de Viena1

 

"You-will-be-straight-or-you-will-not-be": the lesbianity in the Minutes of the Vienna Psychoanalytic Society

 

"Tú-serás-heterosexual-o-no-serás": la lesbianidad en las Actas de la Sociedad Psicoanalítica de Viena

 

« Tu seras hétérosexuel(le) ou tu ne seras pas » : la lesbianité dans les Minutes de la Société psychanalytique de Vienne

 

 

Flávia Ripoli Martins

Psicóloga e Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Psicanalista em formação pelo Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae. São Paulo / flaviamripoli@gmail.com

 

 


RESUMO

Este artigo objetiva estudar os discursos dos primeiros psicanalistas sobre a lesbianidade, a partir de uma análise teórico-documental das Atas da Sociedade Psicanalítica de Viena. Investigando a problemática do desejo lésbico, buscamos contribuir com o reconhecimento dos limites e potencialidades das teorias psicanalíticas sobre o sexual. Para tanto, foram examinadas as duas principais hipóteses sobre o desejo lésbico desenvolvidas nas reuniões da Sociedade Psicanalítica de Viena e discutiu-se a origem das relações entre lesbianidade e masculinidade do ponto de vista psicanalítico, assinalando algumas questões que a lesbianidade pode formular sobre as relações entre a psicanálise e o patriarcado.

Palavras-chave: história da psicanálise, lesbianidade, Atas da Sociedade Psicanalítica de Viena, sexualidade feminina


ABSTRACT

The present work aims to research the speeches of the first psychoanalysts on lesbianity, through a theoretical and documentary research of the Minutes of the Vienna Psychoanalytic Society. Investigating the question of the lesbian desire, the article intends to contribute with the acknowledgment of the limits and potentialities of the psychoanalytic sexual theories. To this end, the two main hypotheses about the lesbian desire developed at the meetings of the Vienna Psychoanalytic Society were examined and the origin of the associations between lesbianity and masculinity in the psychoanalytic point of view was discussed, pointing out some questions that lesbianity can formulate about the relations between psychoanalysis and patriarchy.

Keywords: history of psychoanalysis, lesbianity, Minutes of the Vienna Psychoanalytical Society, female sexuality


RESUMEN

El presente trabajo objetiva estudiar los discursos de los primeros psicoanalistas sobre la lesbianidad, a través de un análisis teórico y documental de los registros de las Actas de la Sociedad Psicoanalítica de Viena. Investigando el problema del deseo lesbiano, buscamos contribuir con el reconocimiento de los límites y potencialidades de la teoría sexual. Con este fin, se examinaron las dos principales hipótesis sobre el deseo lesbiano desarrolladas en las reuniones de la Sociedad Psicoanalítica de Viena y se discutió el origen de las relaciones entre la lesbianidad y la masculinidad desde el punto de vista psicoanalítico, señalando algunas preguntas que la lesbianidad puede formular sobre las relaciones entre el psicoanálisis y el patriarcado.

Palabras clave: historia del psicoanálisis, lesbianidad, Actas de la Sociedad Psicoanalítica de Viena, sexualidad femenina


RÉSUMÉ

Cet article étude les discours des premiers psychanalystes sur la lesbianité, à travers d'une analyse théorique et documentaire des Minutes de la Société psychanalytique de Vienne. En enquêtent sur le problème du désir lesbien, ce travail cherche à contribuer à la reconnaissance des limites et des potentialités de la théorie sexuelle. Pour ce faire, on a examiné les deux hypothèses sur le désir lesbien développées lors des réunions de la Société psychanalytique de Vienne et on a discuté sur l'origine des associations entre lesbianité et masculinité du point de vue psychanalytique, soulignant des questions que la lesbianité peut formuler sur les relations entre psychanalyse et patriarcat.

Mots-clés : histoire de la psychanalyse, lesbianité, Minutes de la Société psychanalytique de Vienne, sexualité féminine


 

 

"Elas dizem: a partir de agora, recuso-me a falar essa linguagem, recuso-me a murmurar como eles as palavras de falta, falta de pênis falta de dinheiro falta de signo falta de nome", escreve a ativista e teórica feminista Monique Wittig (1969/2019, p. 98) em As guerrilheiras. Publicado na França após os eventos de maio de 1968, o romance de Wittig narra a história de mulheres que inventam um novo vocabulário, subvertendo o binarismo de gênero e a heterossexualidade compulsória, o que fez dessa obra ficcional um instrumento de crítica às disciplinas do conhecimento que se fundavam na linguagem patriarcal, inclusive a psicanálise francesa. Quase meio século mais tarde, em novembro de 2019, a França foi novamente palco de duras críticas dirigidas aos psicanalistas, dessa vez por Paul B. Preciado, que, em uma intervenção na XLIX Jornada da École de la Cause Freudienne, intitulada "Mulheres na psicanálise", questionou:

Vocês organizam um encontro para falar das "mulheres na psicanálise" em 2019 como se nós ainda estivéssemos em 1917 [burburinho], e como se esse tipo particular de animal - que vocês chamam, de forma condescendente e naturalizada, de "mulher" - ainda não tivesse um reconhecimento pleno enquanto sujeito político; como se ela fosse um anexo ou uma notinha de rodapé, uma criatura estranha e exótica entre as flores [risos], sobre a qual é preciso refletir, de quando em quando [aplausos], num colóquio em mesa-redonda. (Preciado, 2019, p. 12)

A despeito da distância temporal que separa os trechos acima recortados, as críticas que Wittig e Preciado endereçam aos psicanalistas provocam o pensar sobre a relação entre a psicanálise e o regime patriarcal-heterossexual. Há algumas décadas, essa questão é endereçada aos psicanalistas pela literatura feminista, pelo ativismo queer, pelo pensamento lésbico e pelas teorias de gênero, e, atualmente, com a politização das identidades e suas consequentes conquistas no campo das sexualidades e do gênero, a psicanálise se vê convocada a responder às críticas dos campos vizinhos, dedicando-se a questionar os limites e potencialidades da teoria sexual.

Neste artigo, buscaremos apresentar as questões que a lesbianidade - termo com que me referirei ao desejo e à subjetividade lésbica - pode formular para a teoria e a história da psicanálise, considerando, como diz Vyrgioti (2020), que esta é uma problemática que elucida os enredamentos entre a literatura freudiana e o patriarcado. A esse respeito, faz-se necessário ressaltar que, um século após a publicação de "Sobre a psicogênese de um caso de homossexualidade feminina" (Freud, 1920/2011), a psicanálise persevera tendo dificuldade de discorrer sobre as subjetividades lésbicas de forma positivada e não heteronormativa (O'Connor & Ryan, 1995; Worthington, 2011), perpetuando a lesbianidade como um indizível para a teoria, termo que a poeta, ensaísta e feminista Adrienne Rich (1979) evoca para se referir a tudo que não é dito, nomeado, representado ou transmitido sobre as relações entre mulheres.

Considerando, conforme analisa Lesser (1999), o ensaio publicado por Freud (1920/2011) em 1920 como um texto chave para compreender o desenvolvimento das teorias psicanalíticas sobre a lesbianidade e as vicissitudes que alguns pontos de vista tendenciosos tomaram na literatura psicanalítica, neste trabalho nos dedicaremos ao período que antecede essa publicação. Assim, este artigo tem como objetivo estudar os discursos dos primeiros psicanalistas sobre a lesbianidade registrados nas Atas da Sociedade Psicanalítica de Viena. Partindo de uma leitura desconstrutiva e contextualizante do material, buscaremos elucidar as teorias desenvolvidas pelos homens das quartas-feiras a respeito da subjetividade lésbica, contribuindo, a partir da discussão sobre o desejo lésbico, com o reconhecimento de algumas questões que a lesbianidade pode revelar sobre os limites da escuta psicanalítica do sexual.

Iniciaremos esse percurso discorrendo sobre a reunião de 17 de fevereiro de 1909 (ata 69), ocasião em que foram discutidas as duas principais hipóteses sobre a lesbianidade desenvolvidas pelos primeiros psicanalistas. Nessa data, ao apresentar a conferência "Das memórias de uma jovem garota", Isidor Sadger trouxe para o debate o caso de uma paciente de 23 anos de idade, que sofria de uma histeria grave, cujos sintomas eram ataques de vômito e náusea. Conforme relatado pelo orador, a jovem pertencia a uma família com muitos casos de adoecimento psíquico e "os vômitos haviam começado por razões de homossexualidade" (Nunberg & Federn, 1980, p. 148, tradução nossa), quando a analisanda, que era telefonista, se apaixonou por uma colega de trabalho. Constatando que a paciente havia tido inúmeras aventuras e relações amorosas homo e heterossexuais, Sadger centrou sua interpretação na relação da jovem com a sua figura materna. De acordo com o conferencista, os vômitos da paciente teriam origem na imitação ou no recalque de sua mãe, cujo amor a jovem não pôde voltar a encontrar com nenhum parceiro ou parceira, o que faria todas as suas relações amorosas malograrem (Nunberg & Federn, 1980).

Esse caso também foi discutido por Sadger (1908) no artigo "Fragmento da psicanálise de um homossexual", em que o autor ressalta que a analisanda teria fortes características femininas e que mesmo os especialistas não encontraram "nada nas formas corporais ou nas expressões de caráter que se aproximava do tipo masculino" (1908, p. 343, tradução nossa). A despeito disso, o autor afirma que a análise revelou que a garota "era basicamente muito mais um homem e sempre se sentiu assim" (1908, p. 343, tradução nossa), sem definir ou justificar teoricamente a que se referia essa expressão, assunto que retomaremos posteriormente.

Durante o debate na Sociedade Psicanalítica de Viena, Paul Federn também comentou a conferência, pontuando que:

A paciente ... havia sido incapaz de passar da etapa da masturbação masculina do clitóris para a excitabilidade vaginal. Outro feito notável é que a paciente, apesar de ter praticado toda a espécie de jogos sexuais com seu irmão ... não demonstrou quase nenhum interesse pelo pênis. (Nunberg & Federn, 1980, p. 150, tradução nossa)

Eduard Hitschmann, por sua vez, reiterou essa consideração, afirmando que o fato de a analisanda demonstrar tão pouco interesse pelo pênis lhe causava estranheza. Na ocasião, Freud também teceu um longo comentário, considerando que a paciente "com toda justificativa poderia ser qualificada de perverso-polimorfa" (Nunberg & Federn, 1980, p. 152, tradução nossa) e que ela apresentaria uma "tendência infantil generalizada" (1980, p. 152, tradução nossa), representada em suas reflexões posteriores pela fusão entre o autoerotismo da primeira infância e o amor objetal. O restante do debate trabalhou aspectos da vida sexual masculina. No que se refere à lesbianidade, duas hipóteses foram discutidas nessa reunião: a primeira, centrada na relação entre a escolha de objeto e a fixação infantil na figura materna, mencionada por Sadger; e a segunda, que concebe a lesbianidade como uma manifestação imatura e infantil da sexualidade, correlata à ausência de interesse pelo pênis, conforme apontado por Federn, Hitschmann e Freud. Analisaremos, agora, cada uma das duas teses sobre a lesbianidade desenvolvidas pelos primeiros psicanalistas.

A hipótese que relaciona a lesbianidade a uma fixação infantil na figura materna é uma transposição das hipóteses sadgerianas2 sobre a gênese da homossexualidade, realizada por Otto Rank (1911/2016) no artigo "Uma contribuição sobre o narcisismo". Objetivando demonstrar como o narcisismo feminino pode estar na base de uma paixão pelo próprio corpo - cuja consequência seria a vaidade - e de uma tendência à "inversão na mulher", manifesta ou latente, o autor apresenta o relato da análise de uma jovem que "não pode ser considerada como particularmente neurótica ou manifestamente invertida" (1911/2016, p. 2), mas cuja interpretação de um sonho pôde demonstrar a sua tendência homossexual latente.

Segundo Rank, o amor objetal da analisanda teria como modelo uma constelação infantil, em que a "condição para o amor [Liebesbedingung]" (1911/2016, p. 2) seria superar a mãe em beleza, desbancando-a diante do pai. Essa constatação desdobra-se na hipótese de que o triunfo sobre a rival é a condição de um tipo de escolha objetal para as mulheres,3 que as predispõe ao narcisismo na medida em que é frustrada (Padovan & Müller, 2016). No caso da jovem analisanda, Rank (1911/2016, p. 2) considera que a libido "desapontada em suas esperanças, recorre a si mesma" obtendo satisfação substitutiva por vias narcísicas, o que leva o autor a postular a existência de uma dependência entre interesses homossexuais e narcisistas, que para a jovem transpareceria em seu costume de ver retratos de mulheres, comparando-as consigo. A partir dessas considerações, o autor interpreta o caso afirmando que a jovem passara por um período intenso, ainda que breve, de fixação em sua mãe, que fora posteriormente reprimido. Estabelecendo-se permanentemente no inconsciente, após o despertar de interesses heterossexuais manifestos, a fixação na figura materna retornaria na forma de narcisismo e "havendo uma mescla de elementos narcisistas e homossexuais, seu desejo seria reorientado em direção a pessoas que apresentassem uma imagem de si e que, ao mesmo tempo, evocassem a intensa relação vivida junto da mãe" (Padovan & Müller, 2016, p. 2).

A partir dessa afirmação, Rank (1911/2016, p. 2) avança uma tese geral sobre a lesbianidade, que transcreveremos:

Partindo então de nosso caso de homossexualidade latente, assim como de outros casos análogos e oriundos da literatura, teríamos enfim as condições para comprovar [belegen] a existência de um grupo de uranianas [Urninden] caracterizado pela fixação da tendência à inversão [Fixierung der Inversionsneigung] e pela sua escolha primária de objeto amoroso, esta marcada pelo intenso recalque de uma forte fixação primária na mãe e pela identificação com ela estabelecida. Levando em conta a tendência narcísica (rejuvenescimento), tal fixação resultaria na escolha de objetos sexuais que teriam a própria mãe como modelo, revelando assim exatamente o mesmo mecanismo reconhecido por Freud e por Sadger em um determinado grupo de homens invertidos.

Em outras palavras, de acordo com Rank (1911/2016), a lesbianidade teria sua gênese no recalque de uma forte fixação primária da menina à figura materna, a qual precipitaria a identificação e resultaria na escolha por um objeto amoroso segundo o modelo da mãe.

Ainda que a tese de Rank - elaborada em um momento anterior às formulações sobre o apego pré-edipiano (Freud, 1933/2010a) - não chegue a problematizar o fato de que, geralmente, o primeiro objeto de amor da menina é uma mulher, suas hipóteses são de primeira importância para o tema deste artigo, por apresentarem uma teoria sobre a gênese da lesbianidade que teve grande relevância para os primeiros psicanalistas e foi posteriormente desenvolvida por Freud (1920/2011, 1933/2010a).

A segunda hipótese sobre a lesbianidade discutida pela Sociedade Psicanalítica de Viena foi introduzida por Federn em 27 de novembro de 1907 (ata 31), durante a discussão da conferência "Dois casos de histeria de angústia", proferida por Wilhelm Stekel. Na ocasião, foi apresentado o relato da análise de uma célebre cantora de concertos que, repentinamente, perdera sua voz. Embora a apresentação transcrita na ata seja breve, os comentários do debate indicam que a cantora disputava um amado (P.) com sua rival (Oda); que ela afirmava ter sentimentos maternais com os homens; e que a analisanda teria relações heterossexuais, mas sua libido seria restrita.

Ao comentar a conferência, Federn afirmou reconhecer "imediatamente que a paciente é lésbica em sua fantasia segundo a qual já teria sido um rapaz" (Checchia et al., 2015, p. 371), utilizando-se de um caso profundamente analisado por ele4 para avançar a hipótese de que "as lésbicas tiveram, em sua infância, uma experiência repulsiva do pênis" (2015, p. 371). Sadger, por sua vez, considerou que "[p]or trás do seu amor pelo músico P. está seu amor homossexual: ela o chama de mãe; com ele, ela pode fazer o papel de homem", e interpretou seu medo de entrar em lugares frequentados por mulheres como "uma tendência (respectivamente uma aversão) homossexual" (2015, pp. 370-371). Discutiremos posteriormente a associação entre lesbianidade e masculinidade, mas antes recuperaremos as reuniões em que Federn se referiu a sua hipótese.

Em 12 de fevereiro de 1908 (ata 40), durante a "Discussão sobre a anestesia sexual", o autor mencionou que "os fortes impulsos sádicos ou lésbicos também podem causar anestesia" (Checchia et al., 2015, p. 447), na época compreendida como um sintoma da evitação da relação sexual, que muitas vezes era associada à permanência da excitabilidade do clitóris após a puberdade. Em 17 de fevereiro de 1909 (ata 69), como vimos, o analista afirmara que a paciente de Sadger "não demonstrou quase nenhum interesse pelo pênis" (Nunberg & Federn, 1980, p. 150, tradução nossa), comentando também que ela não passara "da etapa da masturbação masculina do clitóris para a excitabilidade vaginal" (1980, p. 150, tradução nossa), hipótese reiterada por Hitschmann e por Freud.

A hipótese de que a lesbianidade teria relação com a ausência de interesse pelo pênis e seria a manifestação de uma sexualidade imatura ou infantil encontrou ressonâncias teóricas em Freud (1920/2011). Para que possamos explorar essa construção, cabe retomar que na literatura freudiana (Freud, 1931/2010b, 1933/2010a) o processo de desenvolvimento da menina depende da transferência da excitabilidade da zona erógena do clitóris - diretriz da sexualidade infantil feminina - para a vagina, da superação da inveja do pênis - com eventual substituição do desejo de ter um pênis pelo desejo de ter um filho ou de usufruir do pênis no coito - e da substituição do apego pré-edipiano com a figura materna pelo amor edípico com a figura paterna.

Nos trechos citados das Atas, podemos ver como, para os primeiros psicanalistas, o desejo lésbico - na fantasia ou não - era predominantemente correlacionado a uma experiência de repúdio ou desinteresse pelo pênis e a um certo infantilismo geral da sexualidade - representado pela ausência de excitabilidade vaginal. Em outras palavras, as discussões sobre a lesbianidade privilegiavam tratar do repúdio ao homem e ao pênis - definido por O'Connor e Ryan (1995) como declínio, recusa ou afastamento - do que do interesse afetivo-sexual pela mulher. A consequência desse raciocínio é que:

a possibilidade de uma mulher escolher outra mulher como objeto de amor, sem repudiar o homem, a feminilidade e a maternidade, é excluída e somos deixados com a homossexualidade feminina, inevitavelmente, como uma escolha negativa e reativa, baseada na exclusão do homem. (O'Connor & Ryan, 1995, p. 42, tradução nossa)

Assim, desejar uma mulher era, para os primeiros psicanalistas, diretamente atrelado a recusar o homem, a se manter ligado à figura materna, a repulsar o pênis ou a não migrar o erotismo clitoriano para a vagina, ou seja, a apresentar dificuldades na efetivação do que, naqueles tempos, a psicanálise entendia como desenvolvimento psicossexual da feminilidade, de maneira que, para a teoria psicanalítica nascente, tornar-se mulher equivaleria a tornar-se uma mulher heterossexual. A consequência desse raciocínio é, justamente, considerar a sexualidade lésbica como uma sexualidade imatura, o que não apenas impedia o pensar sobre a multiplicidade e a singularidade dos fenômenos pertencentes ao campo sexual, como inviabilizava a positivação das experiências lésbicas (O'Connor & Ryan, 1995), que dificilmente ultrapassavam as discussões falocêntricas, em torno do homem ou do pênis, enquanto objetos de repúdio. Em outras palavras, podemos afirmar que para os primeiros psicanalistas imperava o que Wittig nomeia como "o caráter obrigatório do 'serás-hétero-ou-não-serás'" (1992, p. 28), enquanto lógica que faz perseverar a instituição da heterossexualidade, ao não conferir representação ou lugar teórico para o desejo entre mulheres.

Se as lésbicas, em seu desenvolvimento psicossexual, eram consideradas mulheres de sexualidade imatura, seus trejeitos, aparências e comportamentos eram objeto de atenção dos primeiros psicanalistas. Nas conferências comentadas previamente, pudemos observar como o desejo lésbico era predominantemente remetido ao homem, o que levou os primeiros psicanalistas à assimilação entre lesbianidade e masculinidade, fosse na interpretação da fantasia lésbica como o desejo de ser um rapaz, mencionado por Federn em 27 de novembro de 1907, fosse por via da ideia de que a mulher, ao posicionar-se de determinada maneira perante o objeto masculino, poderia "fazer o papel de homem" (Checchia et al., 2015, p. 372), como afirmara Sadger na mesma ocasião.

Para aprofundar essa discussão, faz-se necessário explorarmos brevemente alguns aspectos históricos, que nos ajudam a compreender o que a masculinidade poderia representar para as mulheres burguesas que chegavam aos consultórios dos primeiros psicanalistas. O fato é que, desde o final dos anos 1800, as mulheres da burguesia e da classe média vienense, incomodadas com seu lugar de opressão na estrutura social, passaram a desejar se emancipar da autoridade masculina, unindo-se ao movimento sufragista para reivindicar o acesso à educação, a integração ao mercado de trabalho e o direito ao voto e à participação política (Bertin, 1990). No início dos anos 1900, quando o feminismo sufragista começou a alcançar suas primeiras conquistas, o discurso antifeminista também se fortaleceu, valendo-se do saber médico-psiquiátrico para deslegitimar a luta das mulheres (Faderman & Eriksson, 1980).

Historicamente, desde a segunda metade do século XIX, a psiquiatria havia voltado sua atenção para o estudo dos desvios e anomalias do instinto sexual, passando a compreender as orientações sexuais dissidentes - entre as quais e lesbianidade e a homossexualidade - como estados patológicos, cuja origem poderia ser traçada na infância e na família. Embora neste artigo não nos caiba explorar as teorias etiológicas produzidas pela psiquiatria oitocentista - com destaque para Krafft-Ebing, Havelock Ellis e Albert Moll -, faz-se necessário ressaltar que esses autores se dedicavam prioritariamente aos estudos de caso desenvolvidos a partir de anamneses ou autobiografias, baseando-se em características fenomenológicas para fundamentar os diagnósticos psicopatológicos de inversão sexual ou lesbianismo.

Dedicando-se a estudar os trejeitos, aspectos corporais, hábitos e comportamentos das mulheres que não se conformavam com seus papéis sociais ou não performavam feminilidade, os psiquiatras do século XIX se amparavam em estereótipos de gênero para identificar sinais de anomalia e degeneração, frequentemente aplicando os diagnósticos de lesbianismo e inversão sexual a mulheres que não se relacionavam afetivo-sexualmente com outras mulheres. Nesse contexto, os antifeministas se apropriaram dos diagnósticos e das descrições da psiquiatria para afirmar que apenas as mulheres masculinas queriam educação e emprego, considerando que essas reinvindicações só poderiam ser uma perversão do papel natural feminino derivada de um estado patológico, consequentemente assimilando as feministas e as lésbicas (Faderman & Eriksson, 1980). Devido a esse contexto, podemos afirmar que a associação entre lesbianidade e masculinidade não se originou no campo psicanalítico, mas teve ressonâncias na dimensão interna da teoria, como discutiremos a seguir.

Na reunião de 19 de outubro de 1910 (ata 115), Alfred Adler proferiu a conferência "Uma pequena contribuição ao tema da mentira histérica", apresentando o caso clínico de uma garota de 20 anos de idade, encaminhada para a análise por enurese e pelo hábito de se lambuzar nas próprias fezes. Segundo a descrição, "todas as categorias do protesto masculino estavam inteiramente presentes" (Nunberg & Federn, 1974, p. 18, tradução nossa) na analisanda e se revelavam em um sonho recorrente, em que ela estaria tendo uma relação sexual com um homem deitado embaixo dela. O sonho, considerado típico de uma atitude masculina, expressaria, do ponto de vista adleriano, a força motriz da vida da analisanda, ou seja, seu desejo de "estar por cima" (1974, p. 18, tradução nossa), e a enurese foi interpretada como símbolo da tendência masculina, que apareceria justamente quando a jovem se sentiria rebaixada. O debate abordou as formulações de Adler sobre o protesto masculino,5 sem que se especificasse o que ele queria dizer ao se referir a uma tendência ou atitude masculina em sua analisanda. Stekel considerou que este se tratava de "um caso de infantilismo: ela queria ser limpa pela mãe, como era em sua infância, e sua teimosia denuncia, apenas, seu enorme amor pela mãe" (1974, p. 22, tradução nossa), e Freud afirmou que na jovem "a perversão histérica está misturada com um caráter malformado" (1974, p. 22, tradução nossa).

Em 26 de janeiro de 1910 (ata 95), durante uma conferência de Hitschmann denominada "Apresentação de casos relacionados à neurose obsessiva", Maximilian Steiner afirmou que "não há dúvidas de que o desejo de ser um homem desempenha um papel em todas as mulheres. É também compreensível que certos homens experienciam um desejo análogo de mudar de sexo" (Nunberg & Federn, 1978, p. 401, tradução nossa). Essa ideia não foi desenvolvida na ocasião, mas a hipótese de que as mulheres desejariam ser homens foi retomada em algumas reuniões dos primeiros psicanalistas. Em 4 de dezembro de 1912 (ata 181), durante uma sessão de discussão de relatos clínicos, Federn apresentou o seguinte caso:

Uma menina que se sentia muito à vontade em seu papel feminino e em quem a inveja do pênis havia se formado de maneira autêntica. A criança, que em todos os outros aspectos está facilmente pronta para a renúncia, não se entrega a esse ponto e declara que ainda pode se tornar um menino. A inferioridade, no sentido de Adler, provavelmente tem algum significado, mas não é o aspecto primário. (Nunberg & Federn, 1978, p. 155, tradução nossa)

Raciocínio semelhante, no que se refere à relação da menina com o masculino, é empregado pelo autor em 18 de março de 1914 (ata 226), durante a segunda "Discussão sobre o complexo de Édipo infantil", em que ele relatou o caso de "uma menina que exprimia desde cedo o desejo de ser um menino [e que] fizera isso desde os dois anos de idade, quando viu os órgãos genitais de seu irmão" (Nunberg & Federn, 1983, p. 286, tradução nossa), mas que não tardou a "se reconciliar com seu papel feminino, quando sucedeu a identificação com a mãe grávida". (1983, p. 266, tradução nossa)

Ao abordar as ideias aqui mencionadas, os primeiros psicanalistas pareciam não conseguir se perguntar por que algumas meninas desejariam, de forma manifesta - como nos casos de Federn - ou latente - como com a analisanda de Adler -, ser um menino, ou desempenhar um papel masculino. Muito pelo contrário, o assunto era tratado de maneira naturalizada, e as questões em torno da definição do par masculinidade-atividade na literatura psicanalítica simultaneamente dificultavam o esclarecimento do que era a masculinidade a que se referiam os primeiros psicanalistas e fortaleciam a imprecisão de noções como "atitudes" ou "tendências" masculinas, consequentemente atrelando a lesbianidade a uma masculinidade, em última instância relacionada aos estereótipos de gênero, enquanto crenças sobre os comportamentos, papéis e atitudes das mulheres e homens.

Um exemplo importante, nesse sentido, pode ser encontrado na conferência de 08 de novembro de 1910 (ata 118), quando, em meio ao debate intitulado "Escolha profissional e neurose", Victor Tausk relatou ter conhecimento de "quatro estudantes do sexo feminino que são homossexuais e vieram para a medicina a fim de se manterem informadas sobre assuntos sexuais" (Nunberg & Federn, 1974, p. 54, tradução nossa). Diante desse comentário, Margarete Hilferding - a única psicanalista até então - interveio, contestando a argumentação ao apontar como as afirmações de Tausk eram problemáticas, justamente por não levarem em consideração o lugar que as mulheres ocupavam na sociedade vienense:

[Hilferding] gostaria de mencionar que atualmente nem se dedicar a uma profissão, nem a escolha específica de uma são livres, principalmente no caso das mulheres; para ela, de fato, apenas a medicina e a filosofia são possiblidades. Casos de homossexualidade tão numerosos como Tausk alegou parecem improváveis para ela. É mais provável que o observador abordou esse assunto com uma opinião preconcebida. (Nunberg & Federn, 1974, p. 56, tradução nossa)

Afirmações como a de Tausk são uma importante herança do contexto epistemológico e político em que os primeiros psicanalistas discutiam e publicavam, a qual dificultava a interpretação dos gestos de subversão ao lugar social da mulher, entendidos como indicativos de uma masculinidade psíquica. Assim, chama a atenção como tinha pouco de psicanalítico na forma como os supostos sinais de masculinidade eram identificados nas pacientes, na medida em que os vienenses eram excessivamente subjetivos, priorizando suas impressões, em detrimento da escuta das experiências que as analisandas tinham de si (O'Connor & Ryan, 1995). A investigação dos discursos sobre a lesbianidade nas Atas demonstra como os estereótipos de gênero e os ideais sobre a feminilidade atravessavam os trabalhos dos membros da Sociedade Psicanalítica de Viena, causando ruídos na escuta da dimensão inconsciente do sexual e da posição ocupada pelo sujeito desejante e levando a construções teóricas que tratavam características anatômicas, comportamento e escolha de objeto como elementos contingentes. A partir da década de 1920, essa articulação se desdobrou com a formulação do complexo de masculinidade (Freud 1920/2011; 1933/2010a) e, segundo Worthington (2011), a partir de então a lesbianidade passou a ser considerada uma realização extrema desse complexo, o que fez com que a associação entre masculinidade e lesbianidade, que era anterior ao surgimento da psicanálise, perseverasse de maneira consistente na maior parte das publicações psicanalíticas do século XX.

Para que possamos tecer nossas últimas considerações, faz-se necessário afirmar que este artigo visou, acima de tudo, estimular o debate acerca do lugar da lesbianidade na teoria psicanalítica. Seja compreendendo a sexualidade lésbica como um espelho da homossexualidade masculina, como é o caso da teoria materno-infantil, seja concebendo-a como sinal de uma sexualidade imatura e associada à masculinidade, as discussões dos primeiros psicanalistas eram atravessadas pelo olhar e pelo referencial teórico masculino, que dificultavam a escuta das analisandas lésbicas, provocando o que Rich (1980/2012) chama de um apagamento da existência histórica das lésbicas e das experiências de identificações entre mulheres.

Ao discutir essa temática a partir das Atas da Sociedade Psicanalítica de Viena, não podemos ser anacrônicos, e faz-se necessário reiterar que, para os primeiros psicanalistas, que escreviam quando sequer as problemáticas sobre a sexualidade feminina haviam sido suficientemente abordadas pela literatura psicanalítica e as mulheres ainda conquistavam seus primeiros direitos civis e políticos, recorrer aos referenciais da época tanto dentro da psicanálise - por exemplo, as teorias sobre a homossexualidade -, quanto em outros campos de saber - com destaque para a literatura médico-psiquiátrica - era necessário. Contudo, o que devemos nos interrogar é por que, um século depois, muitas construções teóricas que datam dos primórdios da psicanálise perseveram.

Ainda que tenhamos avançado nessa discussão e a psicanálise tenha se aberto para as interrogações que lhe foram dirigidas pelos campos vizinhos, essa problemática se faz atual pela ausência de um lugar teórico para pensar as questões e a subjetividade lésbica, pelo tratamento da lesbianidade como um assunto intrínseco à homossexualidade, pelo ato de não nomear as figuras lésbicas que integram a história da psicanálise e pelo fato de que sequer foi conferida uma gramática para o desejo dessas mulheres que, para muitos psicanalistas, ainda hoje, integram a categoria datada de "homossexualidade feminina". Estas são todas marcas profundas do patriarcado na literatura psicanalítica, que perduram relegando a lesbianidade a um lugar indizível para a teoria e a história da psicanálise e, consequentemente, impedem que as experiências lésbicas sejam escutadas em sua singularidade, garantindo, ao adotar um referencial masculino e/ou heterossexual, a manutenção da lógica fálica e patriarcal que as relações lésbicas têm a potência de subverter.

 

Referências

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Recebido em: 1/3/2021
Aceito em: 22/4/2021

 

 

1 Este artigo é derivado da dissertação de Mestrado "Lesbianidade e homossexualidade nas Atas da Sociedade Psicanalítica de Viena: contribuições à historiografia da psicanálise", financiada pelo CNPq (São Paulo, SP). A autora agradece o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
2 De acordo com a hipótese sadgeriana, discutida nas atas n. 85, 86, 89 e 92, e desenvolvida por Freud (1910/2013), a homossexualidade masculina teria sua gênese no recalque do amor do menino pela figura materna, com quem ele se identificaria, procurando objetos de amor masculinos que possuíssem algum traço da mãe ou que representassem o próprio sujeito enquanto objeto de amor. A esse respeito, ver o artigo "Sobre a etiologia da sensibilidade sexual contrária", publicado por Sadger (1909/2020). O tema da lesbianidade foi discutido pelo autor, somente no artigo "Ein Fall von multipler Perversion mit hysterischen Absenzen" (1910).
3 Da mesma maneira que Freud (1910/2013b) elucidara para os homens em "Um tipo especial de escolha de objeto feita pelo homem [Contribuições à psicologia do amor]".
4 Federn não menciona nenhuma informação que nos permita identificar o caso.
5 Na época, já se acentuavam as divergências entre Freud e Adler, que o levaram a abandonar a Sociedade Psicanalítica de Viena em 1911.

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