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Jornal de Psicanálise

versão impressa ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.54 no.100 São Paulo jan./jun. 2021

 

HISTÓRIA DA PSICANÁLISE

 

Nota da CDM sobre o artigo "identidade de sexo e estruturação do ego", de Durval Marcondes

 

 

Mônica J. Fischbach Saliby

Membro filiado ao Instituto de Psicanálise "Durval Marcondes" da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP). São Paulo / monicajfs@uol.com.br

 

 

Em congruência com o título deste número do Jornal de Psicanálise, "O que fazemos com o sexual?", o Centro de Documentação e Memória (CDM) fez um levantamento dos artigos relacionados ao assunto escritos por nossos primeiros analistas. Deparamos com uma série de textos do final dos anos 1960 que fizeram parte de um momento de expansão e trocas entre as diversas Sociedades Brasileiras de Psicanálise culminando na Jornada e no Congresso Brasileiro de Psicanálise. Em 1967 acontece a Primeira Jornada Brasileira de Psicanálise, cujo tema, "Acting out", suscita discussões relacionadas ao "Sexual". Vale a pena citar Virginia L. Bicudo, em um curioso parágrafo de seu relatório sobre a Jornada:

As formas de expressão de Acting Out mencionadas nos trabalhos apresentados na Primeira Jornada de Psicanálise referiram-se a: ligação sexual com amante, relações sexuais perversas com a esposa e com prostitutas (felácio, exibicionismo e voyeurismo); impotência, frigidez, relação homossexual, ejaculação precoce, amenorreia, bulimia, diarreia, constipação, vômito gravídico, aborto, obesidade periódica, empanturramento, enurese noturna, falta de atenção, atitudes de desprezo, falar continuamente, fumar, rejeição de interpretações, oposição a situação analítica, falta às sessões ... (Revista Brasileira de Psicanálise, vol. 1, n. 2, p. 163)

Dois anos depois, em 1969, o "Sexual" é retomado, agora como protagonista, pelo tema "Identidade de sexo e seus distúrbios, aspectos teóricos e clínicos" no Primeiro Congresso Brasileiro de Psicanálise, organizado pela Sociedade Brasileira de Porto Alegre, com o auxílio da SBPSP e das duas Sociedades do Rio de Janeiro. O segundo tema é "Aspectos técnicos no tratamento psicanalítico da depressão".

À época, a expressão "Identidade de sexo" substituía a expressão "Identidade de gênero" em razão de uma posição teórica, sintetizada com clareza em uma nota de rodapé de um dos trabalhos disparadores desse Congresso, escrito por Fabio Leite Lobo e Oswaldo Domingues de Moraes (SPRJ):

Sem maiores discussões terminológicas, diremos que preferimos chamar de "autoidentidade sexual" ou "sentimento de identidade sexual" aos aspectos endopsíquicos e sentimentos que o indivíduo experimenta em relação à sua estrutura sexual bioanatômica; de sexo psicológico ao resultado de sua evolução psicossexual, inclusive o objeto de atração erótica; e de sexo outorgado ao sexo com que, baseado no aspecto da genitália externa ao nascimento, é ele inscrito no registro civil. Stoller, em seus trabalhos, usa estes três conceitos, implícita ou explicitamente, como "gender identity". Convém distingui-los, pois, se bem estejam coaptados e sejam irrelevantes suas diferenças nos indivíduos normais, esses três elementos se apresentam dissociados nos casos patológicos e na vasta franja de fronteira entre o normal e o patológico, do ponto de vista sexual. (Revista Brasileira de Psicanálise, vol. 3, n. 1-2)

No ano anterior 1968, Elza Barra havia publicado um artigo questionando o conceito de normal e patológico nas condutas sexuais, considerando a normalidade uma classificação mutável dependente do contexto sociocultural de cada época e da organização social de cada povo. Esse artigo aparece em meio às discussões vigentes como uma voz solitária, que pouco ressoou.

Os textos escritos nesse período expõem em seu conjunto a maneira como "o Sexual" era abordado, as expressões utilizadas, as concepções de normal e patológico, enfim, questões que ocupam uma posição importante nas preocupações psicanalíticas e sociais da atualidade.

Para ilustração, escolhemos um artigo de Durval Marcondes que relaciona a "identidade sexual" com a cena primária. Pareceu-nos um bom exemplo do tom e dos conteúdos debatidos então.

 

 

Recebido em: 14/4/2021
Aceito em: 14/4/2021

 

 

Centro de Documentação e Memória da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo
Coordenadora: Regina Lacorte Gianesi

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