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Jornal de Psicanálise

Print version ISSN 0103-5835

J. psicanal. vol.54 no.101 São Paulo July/Dec. 2021

 

A POTÊNCIA DA DIFERENÇA

 

Fazer análise em língua estrangeira?

 

Psychoanalysis in a foreign language?

 

¿Psicoanálisis en lengua extranjera?

 

L'analyse en langue étrangère ?

 

 

Lisette Weissmann

Doutora em Psicologia Social pela USP, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP, especialista em psicanálise de casais e famílias pela Asociación Uruguaya de las Configuraciones Vinculares (AUPCV). Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, professora do CEP. Consultora intercultural para expatriados. São Paulo / lisettewbr@gmail.com

 

 


RESUMO

Este artigo discute a questão da língua escolhida para fazer análise. O trabalho parte dos entraves no trabalho psicanalítico na língua materna de um analisando para pensar clínica e teoricamente a escolha de uma língua estrangeira como potente para expressar e se aprofundar na vida emocional dos sujeitos. O objetivo é problematizar os casos de pessoas polilíngues, bilíngues e as que só falam a língua materna, pensando a língua como um meio de manifestação da vida psíquica em psicanálise. Por meio de casos clínicos discutimos o uso da língua materna e de uma língua estrangeira para fazer análise, os mal-entendidos vinculares em casais interculturais e entre os migrantes no processo de elaboração do luto pela terra abandonada e a insegurança quanto à nova língua a ser aprendida no país de acolhimento.

Palavras-chave: psicanálise na língua materna, psicanálise em língua estrangeira, casais interculturais, mal-entendidos, migração


ABSTRACT

This article discusses the language chosen for analysis. Beginning from the obstacles in psychoanalysis in the mother tongue of an analysand, analizing clinically and theoretically, the choice of a foreign language as a powerful way to express and deepen the peoples' emotional life. The objective of this paper is to examine cases of polylingual, bilingual and those who only speak their mother tongue, in which language is used as a means of expression of psychic life in psychoanalysis. Clinical cases are used to discuss subjects as: the usage of the mother tongue and a foreign language for analysis, the misunderstandings in intercultural couples, and migrants in the process of mourning the abandoned country as well as coping with the insecurities that arise from the need of learning a new language in the host country.

Keywords: mother tongue, foreign language, intercultural couples, misunderstandings, migration


RESUMEN

Este artículo discute el tema del idioma elegido para el análisis. El trabajo parte de los obstáculos en el trabajo psicoanalítico en la lengua materna de un analizando, para pensar clínica y teóricamente, la elección de una lengua extranjera como una forma poderosa de expresar y profundizar sobre la vida emocional de los sujetos. El objetivo es problematizar los casos de personas polilingües, bilingües y aquellos que solo hablan su lengua materna, pensando en el idioma como un medio de manifestación de la vida psíquica en psicoanálisis. A través de casos clínicos se discute el uso de la lengua materna y la lengua extranjera para el análisis, los malentendidos entre parejas interculturales y los migrantes en proceso de duelo por la tierra abandonada y la inseguridad sobre la nueva lengua a aprender en el país de acogida.

Palabras clave: lengua materna, lengua extranjera, parejas interculturales, malentendidos, migración


RÉSUMÉ

Cet article aborde la question du langage choisi pour l'analyse. Cet ouvrage part des obstacles dans le travail psychanalytique dans la langue maternelle d'un analysant à penser cliniquement et théoriquement, le choix d'une langue étrangère comme moyen puissant d'exprimer et d'approfondir la vie émotionnelle des sujets. L'objectif est de problématiser les cas des polylingues, des bilingues et de ceux qui ne parlent que leur langue maternelle, en pensant le langage comme moyen de manifestation de la vie psychique en psychanalyse. À travers des cas cliniques, nous discutons de l'utilisation de la langue maternelle et d'une langue étrangère pour l'analyse, des incompréhensions entre couples interculturels et migrants en train de faire le deuil de la terre abandonnée et de l'insécurité face à la nouvelle langue à apprendre dans le pays d'accueil.

Mots-clés: langue maternelle, langue étrangère, couples interculturels, incompréhensions, migration


 

 

Uma palavra converte-se em outra, uma coisa transforma-se em outra distinta. Desta mesma forma, diz-se, funciona a memória. Imagine o interior de uma imensa Torre de Babel e um texto que se traduz a si mesmo em uma infinidade de línguas distintas; mil idiomas que gritam ao mesmo tempo em seu interior, com um clamor que ressoa em um labirinto de cômodos, corredores e escadas, centenas de andares mais acima. Repita-se. No labirinto da memória, tudo é o que é e, ao mesmo tempo, algo a mais.
(Auster, 1994, pp. 193-194)

A questão da língua é uma temática que tem estado presente desde tempos imemoriais, estimulada por migrações, exílios e refúgios de seres humanos ocorrendo em todos os continentes. Quando a Torre de Babel é mencionada, faz-se alusão a uma fase de indiscriminação das diversas línguas, a partir da qual elas vão se diferenciando e se estabelecendo como códigos a serem usados pelos diversos povos no globo terrestre. Essa situação também atinge os atendimentos psicanalíticos dirigidos a pacientes estrangeiros ou que falam várias línguas. Tanto os pacientes multilíngues solicitantes de atendimento quanto os analistas defrontam-se com uma grande incógnita na hora de escolher a língua na qual preferem expressar-se e a língua na qual sentem que serão mais bem entendidos. Como todo problema dentro da psicanálise, para cada pergunta, temos tantas respostas quantas pessoas que tentem desvendá-la; não temos, portanto, uma resposta única. Caso a caso, teremos que pensar tanto na língua de escolha do paciente, quanto na língua que cada analista escolheu para escutar a quem o solicita. Apresenta-se a grande pergunta das possibilidades e empecilhos que a língua materna traz consigo, assim como os prós e contras de cada sujeito ser atendido em uma segunda ou terceira língua que o afaste daquela primordial língua aprendida. Não em vão chama-se a língua do país de origem de "língua materna".

Gerome é um jovem adulto de origem belga, sua língua materna é o francês; ele é expatriado em São Paulo e solicita atendimento psicanalítico nessa cidade. Eu, analista uruguaia cuja língua materna é o espanhol, lhe pergunto em que língua gostaria de ser atendido. Nós dois falamos inglês como segunda língua, mas, a pedido dele, combinamos que iríamos nos comunicar em português, língua do país da atual moradia tanto do analisando quanto da analista. A língua portuguesa é a terceira língua aprendida pela dupla.

Vélikovsky diz que "uma língua aprendida na idade adulta pode realmente integrar-se numa rede simbólica fértil e polivalente, mesmo em nível inconsciente" (Amanti-Mehler, Argentieri & Canestri, 1990, p. 75). Pensamos, além do mais, que essa língua será o veículo que habilitará a compreensão e o trabalho analítico da dupla.

A escolha da língua a ser usada no consultório psicanalítico, língua na qual o paciente será escutado e em que vai expressar-se, assim como a língua na qual o analista escutará e interpretará, traz muitos entraves a serem levados em conta. Trata-se de uma escolha que norteia o trabalho psicanalítico tanto para o paciente quanto para o analista. Questionamo-nos: é uma escolha que só cabe ao paciente? Deve ser parte do trabalho analítico decidir e discutir essa escolha entre os dois? Será que o analista deve impor ao paciente determinada língua, considerando sua maior compreensão em tal língua? Muitas variáveis a ponderar se abrem nessa situação psicanalítica.

Primeiro teríamos que estabelecer a diferença entre um sujeito polilíngue e um poliglota. Édouard Pichon na edição francesa da obra de Vélikovsky sublinha a diferença "entre polilíngue (uma pessoa que aprendeu mais de uma língua desde a primeira infância) e poliglota (aquele que aprendeu outras línguas estrangeiras em uma idade em que já há um sistema de pensamento linguoespeculativo plenamente formado)" (Pichon, citado em Vélikovsky, 1938, p. 75). Essa diferença é fundamental para pensar a conformação do psiquismo. Na situação do polilinguismo, as línguas são aprendidas na primeira infância, porém, poderíamos denominá-las línguas do id, já que a criança não interporá exigências superegoicas na hora de se expressar e se permitirá uma forma de expressão criativa e sem resistência, procurando somente fazer que esta cumpra uma função de expressão e intercâmbio com as pessoas e o meio ambiente. Já na posição do poliglota, aparece a instância superegoica, que vai exigir uma correta aprendizagem da língua, apontando para punições se ocorrerem erros na expressão da segunda ou terceira língua para se comunicar.

Vélikovsky chega à conclusão de que o pensamento dos novos imigrantes efetivamente se desenvolve [na língua do país de acolhida], inclusive em nível inconsciente, e que as formas ideativas do pensamento inconsciente não são condicionadas pela memória hereditária. ... uma língua aprendida na idade adulta pode realmente integrar-se na rede simbólica fértil e polivalente, mesmo em nível inconsciente. (Amanti-Mehler, Argentieri e Canestri, 1990, pp. 74- 75)

Os autores diferem muito nas posições sobre o tema. Os psicanalistas que passaram pela experiência de migração e atendimento em uma língua diferente da materna apontam o fato de que é impossível subtrair-se à experiência vivida na expressão e compreensão das diversas línguas.

Édouard Pichon critica a obra de Vélikovsky dizendo que nenhum autor, partindo de Freud, assinalou que o pensamento inconsciente se desenvolve em uma língua específica, porém, essa afirmação entra em confronto com suas ideias.

Amanti-Mehler, Argentieri e Canestri relatam que:

uma das mais radicais controvérsias da teoria psicanalítica, entre aqueles que dizem que o inconsciente se estrutura como linguagem e aqueles que dizem que a linguagem é condescendente com as operações do inconsciente. Ou ainda, entre aqueles que atribuem ao inconsciente uma natureza não-verbal ou pré-verbal e aqueles que concluem que as operações inconscientes se desenvolvem em um nível infralinguístico ou supralinguístico. (Amanti-Mehler, Argentieri e Canestri, 1990, p. 75)

Vemos como nos defrontamos com diversas hipóteses dentro do pensamento psicanalítico sobre o tema da língua e a constituição do psiquismo. A clínica, porém, sempre nos oferece um vasto espectro de temáticas entre as quais podemos escolher aquela com que pretendemos trabalhar sem nos atrelar a definições fechadas, e sim nos habilitando a pensar caso a caso.

Gerome nasce na região de Bruxelas, que é oficialmente bilíngue. Naquela parte do país a população é francófona e flamenga ao mesmo tempo. Em sua infância ele fala e é educado nas duas línguas, tal como as pessoas que habitam essa região. Na idade adulta é transferido para fora da Bélgica por causa de seu trabalho, já tendo morado em diversos países. O Brasil e a língua portuguesa parecem constituir para ele um espaço intermediário entre a terra e a língua natal e a terra e a língua estrangeira. Por vezes podemos pensar que só a língua materna habilitaria a expressar-se subjetivamente, já que uma segunda ou terceira língua é aprendida quando a instância superegoica já opera no psiquismo conjuntamente com as inibições e a repressão. Mas a língua por si mesma se utiliza na análise para expressar e pôr em palavras o indizível referente aos tempos primevos, exercício esse difícil de enfrentar. O movimento regressivo de checar aquelas lembranças em análise e formulá-las verbalmente traz junto uma certa dor, já que aproxima a representação do vivenciado das emoções vividas, e isso oferece ao analisando a experiência do insight como forma de apropriar-se de sua história de vida. Estabelece-se na análise em uma língua estrangeira um enlace entre as lembranças e os afetos, que, por ser expresso em uma língua diferente da materna, permite uma distância das exigências e proibições superegoicas habilitando-o como sujeito dono de sua própria história.

Em certo momento da análise o paciente diz: "acho que não poderia criticar meus pais se estivesse falando em francês, talvez o fato de falar em português me deixe mais à vontade para fazê-lo". Essa revelação traduziu em palavras aquela função de intermediário que a língua estrangeira estaria habilitando-o para desenvolver na análise, e talvez a distância da língua possibilitasse um afastamento egoico seguro para poder assim fazer as ligações entre os afetos e as representações ao desvelar sua história.

A língua estrangeira no lugar de objeto intermediário pareceria permitir que se formulasse verbalmente o que é proibido de ser dito e escutado em sua língua materna, atrelada a seu país de origem, assim como a seus objetos primários. Como vemos aqui a distância entre a língua materna e a língua estrangeira pareceria assegurá-lo da punição superegoica. Também a escolha de uma terceira língua seria habilitadora para fazer o percurso analítico que lhe possibilitaria posicionar-se em um lugar ativo na avaliação do vivido na infância, e assim sair do lugar de submissão que a infância impõe às crianças diante dos pais. Krapf menciona o fato de que:

nos casos clínicos que tratou, o uso de uma segunda língua representa uma forma de defesa para garantir certo grau de afastamento emocional e de controle no confronto com vicissitudes pulsionais infantis. (Amanti-Mehler, Argentieri e Canestri, 1990, p. 81)

A língua estrangeira, ao burlar os rigores do superego, parece afastá-lo, permitindo a aproximação aos conteúdos inconscientes. O que é proibido talvez ficasse atrelado a uma instância que só seria falada na língua materna. Podemos pensar que a nova língua ajude o paciente em análise a se aproximar do proibido, e esses conteúdos emergem auxiliados por uma instância menos punitiva em seu psiquismo. Gerome sente-se, manifestando-se em uma língua estrangeira, com a possibilidade de recriar sua própria história à luz de suas próprias avaliações e julgamentos. A respeito, o psicanalista John Clare nos diz que:

as velhas dores podem ser experimentadas de maneira diferente em outra cultura e expressadas de forma renovada na língua daquela cultura. Talvez o levantamento das inibições aconteça quando é possível escapar à sensibilidade materna. (Clare, 2004, p. 14)

Essas novas hipóteses trazem a possibilidade de utilizar a migração e seus obstáculos como um périplo libertador e de apropriação da subjetividade pessoal de Gerome. Não mais atrelado à infância e à autoridade parental, e sim fazendo-se dono subjetivamente de seu lugar de autonomia e constituição pessoal.

Reforçando a hipótese anterior, Caterina Koltai nos diz que os migrantes descrevem a língua materna como um território, e "falam de rupturas e travessias, da passagem do Heimlich, a língua perdida, para o unheimlich, esse alhures ainda estrangeiro" (Koltai, 2018, p. 70). E acrescenta:

a escritora vietnamita Anna Moi dizia ter precisado de uma outra língua, que não a materna, para poder ser iconoclasta e dizer o indizível; enquanto o escritor italiano Carlo Iansiti insistia no fato de que escrever em francês foi a maneira que encontrou para inventar a própria vida. (Koltai, 2018, p. 71)

Geralmente se pensa a migração como um processo necessário de luto a ser atravessado, apresentando casos nos quais os sujeitos não conseguem elaborar esse luto pela terra e pela língua e ficam vivendo em eterna saudade de sua terra natal. Mas aqui, diferentemente, estamos traçando uma hipótese que marca aquilo que a migração traz de habilitador e propulsor de atos de criação nas diferentes etapas da vida. Uma vez elaborado o luto pela língua e a terra natal, pode-se passar por momentos de apropriação de uma nova experiência de vida a ser assimilada, produzindo desse modo novidade e crescimento.

Amanti-Mehler, Argentieri e Canestri dizem a respeito que:

com a aquisição de uma nova língua, de fato, não se verifica apenas um enriquecimento do património léxico e sintático, mas cria-se uma pequena revolução interna; por reflexo, também a primeira língua é modificada no vasto "sistema" de relações e conexões que passam a existir. (Amanti-Mehler, Argentieri e Canestri, 1990, p. 150)

O aprendizado de uma nova língua e, por sua vez, a realização de análise nessa nova língua trazem ao sujeito uma ampliação da riqueza psíquica, a criação de novas vias associativas, maior permeabilidade psíquica, assim como uma apropriação da própria história do sujeito.

Amanti-Mehler, Argentieri e Canestri são da opinião de que "a própria organização mental que se realiza no multilíngue pode às vezes favorecer a riqueza, a plasticidade e a potencialização da rede simbólica" (Amanti-Mehler, Argentieri e Canestri, 1990, p. 151). Na possibilidade de ampliação da riqueza interna através da nova língua também se gera uma ampliação das significações.

 

Migração e construção de subjetividade intercultural no casal

Na migração, a grande perda remete aos referentes do contexto e da cultura que dão sustentação e apoio àqueles que fazem parte do social. Estamos, porém, nos referindo a um processo de luto necessário para cada migrante que percorre essa experiência migratória na sua subjetividade. O migrante, ao perder essas indicações dos padrões de sua formação, começa um longo périplo de busca entre a cultura, a língua e os parâmetros do lugar de origem e a novidade dos novos apoios sociais que a migração oferece, sem que isso seja garantia de que ele conseguirá estruturar-se como um sujeito intercultural inserido e atravessado pelas diversas culturas que o marcaram. Só com a possibilidade de prosseguir na elaboração interna do abandono da cultura de origem é que o migrante se autoriza a construir em si mesmo um espaço vazio que vai permitir-lhe acolher e receber as marcas da nova cultura do país de acolhida.

Pensamos em um processo contínuo, que possibilite construir uma identidade intercultural, para a qual os sujeitos deverão realizar um constante movimento de pêndulo entre a cultura de origem e a cultura do país que os recebe. E já temos constatado como os migrantes às vezes constroem com os indivíduos próximos, por vezes, culturas híbridas, que incluem caraterísticas das duas culturas originárias, e línguas híbridas, circulando entre a língua de origem e a nova língua a ser apreendida. Podemos citar como exemplo a língua que na gíria é chamada de "portunhol", limítrofe entre o português e o espanhol, que os migrantes do continente sul-americano desenvolvem. Mas seria importante discriminar as duas línguas, provenientes do latim, chamadas de línguas latinas, não deixando que se anulem as diferenças que têm entre si.

Podemos trazer à tona um encontro que terminou gerando um mal-entendido intercultural entre um brasileiro e uma uruguaia no aeroporto. Os dois acreditavam que podiam entender-se, porque falavam línguas latinas, mas, por causa dessa falta de aceitação da diferença entre as línguas, ocorreu o equívoco. O brasileiro tentava ser cordial e perguntava à uruguaia "se ela estava com fome". A uruguaia, fazendo internamente uma tradução literal, desconhecendo as diferenças entre as línguas, entendia que ele perguntava "se ela estava conforme", ao que ela respondia que sim. Quando o brasileiro mostrava os restaurantes que havia no aeroporto, ela negava o convite para escolher um restaurante. Por causa do mal-entendido, alguém que conhecesse ambas as línguas poderia distinguir entre o pedido de um e a aceitação da outra pessoa. Essa necessidade de discriminar as línguas é fundamental para dar conta das diferenças e atingir uma compreensão adequada e bem definida das mensagens recebidas. Essas situações geram grandes problemas nos relacionamentos de sujeitos que pertencem a culturas diferentes.

M. Piattelli-Palmarini (1977, citado em Amanti-Mehler, Argentieri e Canestri, 1990, p. 157) diz que a "pessoa polilíngue estaria em vantagem no processo de aprendizado exatamente porque as múltiplas associações podem facilitar as conexões que promovem o significado". Mas, na língua híbrida, o portunhol, estamos encontrando resistência dos sujeitos a produzir elaborações discriminatórias entre ambas as línguas.

Vejamos outra vinheta clínica, de um casal intercultural, ele, argentino e ela, brasileira. Os dois estão no segundo casamento. Combinam no cotidiano de seu relacionamento morarem durante a semana em São Paulo, no apartamento dela, e nos finais de semana, no sítio dele. Começam a discutir sobre a interferência da filha dele, que entra no apartamento de São Paulo sem pedir permissão à esposa, o que a irrita. Ela enuncia "Eu sou a dona da casa, e ela teria que me perguntar se pode vir". O esposo argentino fez uma tradução literal da frase. Em espanhol, quando se fala da dona da casa, está se fazendo referência a quem é o proprietário legal desta. Isso gerou um grande mal-estar por causa do mal-entendido. Ele sentia que ela discutia sobre a posse do apartamento, e ela sobre o respeito, como esposa e dona de casa, que deveriam ter com ela os membros da família anterior do marido. Ele se sente muito ofendido pelas palavras dela. Isso a fez compreender que havia algum mal-entendido de linguagem entre eles. Em espanhol, dona de casa significa que o apartamento está em nome dela, como se fosse um adjetivo indicando posse ou domínio do bem. Mas, em português, ao dizer "dona de casa", simplesmente se designa a mulher que comanda as tarefas domésticas cotidianas, traduzindo-se essa condição em espanhol como ama de casa. Temos aqui, apresentada uma fonte do mal-entendido, no formato de uma tradução literal que afasta a língua de seu valor simbólico, como se a versão tivesse sido feita pelo Google Tradutor.

Esses mal-entendidos trazem muito desconforto para os casais interculturais, que vão ter de considerar constantemente o fato de que eles provêm de culturas diferentes e falam originariamente línguas distintas. Vemos aqui como as línguas, conforme a interpretação que se dê a elas, geram diferentes sentidos e significados aos sujeitos que trocam essas mensagens. Os casais de diferentes culturas deverão fazer um trabalho subjetivo constante de compreensão de um ao outro, de sua língua e sua cultura e de aceitação de sua condição de vínculo1 intercultural.

 

Na construção da identidade intercultural

Descrevi no livro Interculturalidade e os vínculos familiares (2019) a necessidade de que os migrantes gerem internamente o que chamei de identidade intercultural. Esse processo de construção da interculturalidade implica que os sujeitos carreguem uma grande flexibilidade interna, que os auxilie na hora de fazer escolhas, consciente e inconscientemente, entre aqueles elementos culturais a conservar, aqueles a abandonar e os novos que escolhem do cotidiano cultural atual. Assinalamos, assim, um movimento constante de construção ativa, ao longo do tempo, que vai conformando a interculturalidade, como uma colcha de retalhos de marcas culturais atuais e passadas, mas escolhidas pelos sujeitos que passam por várias culturas e terras de moradia. Descrevemos esse processo interno de construção subjetiva como intrapsíquico, ao mesmo tempo que intersubjetivo e social.

Elisa vinha à análise, feita em sua língua materna para deixar clara sua resistência à mudança de país. Ela dizia: "Odeio São Paulo, odeio o Brasil". E se estendia na quantidade de palavrões que usava para adjetivar o que sentia pela cidade para a qual tinha migrado. "É espantoso morar nessa cidade, falar português também é horrível, mas tem uma palavra que me encanta pelo som que ela tem, é a palavra 'saudade'". A palavra da língua portuguesa escolhida por ela justamente trazia como significado o que ela sentia e mostrava como sua resistência em "adotar" a nova cultura, de sua cidade de migração, talvez encobrisse o temor de sentir aquilo que a palavra descrevia tão lindamente para ela: saudade.

No processo de elaboração da migração impõe-se ao sujeito um constante trabalho dialético entre o ser estrangeiro e sentir-se em casa e a aceitação das diferenças, o que implica um trabalho jamais acabado que o habilita a inserir-se nesse lugar de eterno estrangeiro, nas experiências da vida toda. A poeta argentina Silvia Baron Supervielle, radicada em Paris, descreve-se a si mesma dizendo: "Eu pertenço ao ausente". Falando desse lugar estrangeiro no qual os sujeitos não são nem daqui nem dali e ficam em um local "ausente", que mostra não um lugar, como espaço único a ocupar, e sim um conjunto de lugares pertencentes a várias culturas, como a colcha de retalhos que havíamos descrito anteriormente.

Para a construção dessa identidade intercultural, citamos a metáfora que Freud traz quando tenta desenhar o processo de separação da mãe que toda criança deve desenvolver. Ele cita a brincadeira do fort-da, ou jogo do carretel, como algo que permite à criança figurar um ir e voltar interno do objeto perdido ao novo objeto presente, da mãe da qual deve separar-se para um espaço de independência, gerando assim uma discriminação entre dentro e fora, e entre eu e não eu. O jogo do fort-da possibilita à criança uma elaboração da situação de perda daquilo que lhe oferecia segurança e tranquilidade.

Isso implica também que "aprender a andar é concomitante com a aquisição da fala e, portanto, de toda uma organização espacial da separação do objeto primário e da experiência de afastar-se e da possibilidade de conjunção verbal com o objeto distante" (Amanti-Mehler, Argentieri e Canestri, 1990, p. 156). Fica descrito assim um processo conjunto de elaboração e separação dos objetos primários, ao mesmo tempo que se dá o aprendizado da fala como condição para se comunicar.

Esse processo de separação dos objetos primários e construção da fala assemelha-se à situação do migrante, já que na migração deve-se desenvolver a construção de um movimento subjetivo de ir e voltar internamente da cultura do país de origem à cultura do país de acolhida como processo de elaboração psíquica. Desenvolver essa metáfora interna através do brincar ativaria um processo interno de elaboração da experiência migratória vivida.

O migrante se vê diante da perda da língua, mas também da do contexto social e cultural que operava como uma membrana protetora, permitindo-lhe reconhecer o mundo circundante como assegurador e conhecido. Aquelas inscrições sociais, porém, também ficam alteradas, e, quando o migrante as procura, sente que os padrões culturais modificaram-se por causa da mudança, o que o faz encarar uma incompreensão dos parâmetros culturais da nova cultura.

John era inglês e tinha aceitado vir trabalhar como chefe de uma empresa no Brasil, e se perguntava "Por que os brasileiros da empresa faltam com respeito a mim? Marca-se uma reunião para as 10 h, os participantes chegam às 10h10, conversam sobre banalidades da vida, vão procurar um café ou uma água, e a reunião começa às 10h20". John expressa que "sente isso como uma falta de respeito para com ele, que é o chefe". Aqui vemos como as marcas culturais carregam significados comuns compartilhados com os outros sujeitos da mesma cultura. Na cultura inglesa a pontualidade é uma virtude esperada, já na cultura brasileira é importante criar um clima de cordialidade antes do começo do trabalho, para facilitar a produção que deve ocorrer naquele ambiente.

Cada uma das condutas traz implícitas significações inconscientes, que aquele sujeito não pertencente a essa cultura desconhece e das quais fica excluído. Somente se dando conta das mudanças culturais, com seus correspondentes padrões novos, é que os migrantes conseguirão inserir-se na cultura do país estrangeiro para o qual se mudaram. É importante assinalar que os significados não podem ser adjetivados como corretos ou errados, já que carregam sentidos sociais transmitidos de forma inconsciente por gerações a todos os sujeitos que compartilham essa cultura. É necessário que o migrante desenvolva um processo de aceitação da perda dos padrões culturais originais como parte do processo de mudança interna que lhe permitirá identificar e conhecer melhor as marcas sociais da nova cultura.

Pensamos a língua estrangeira como um espaço transicional de mútua criação com outros, mas ela também pode ser vista como um espaço passível de mal-entendidos e incompreensões vinculares.

A migração impõe aos sujeitos várias perdas, que eles precisam elaborar para construir internamente um espaço conhecido e de recomposição do perdido.

Diante da perda da terra de origem, da cultura e de seus estilos e costumes sociais dentro dos quais foi criado, incluindo a forma de estabelecer vínculos com os outros e a língua de origem, o migrante deve recompor essa malha de sustentação interna que todos esses elementos delineavam para ele. O aprendizado da língua do país de acolhida pode ser pensado como essa recomposição. Didier Anzieu (1988) descreve o eu-pele como um invólucro sonoro e como estrutura intermediária entre a mãe e o bebê; pensamos, porém, que a nova língua e cultura poderiam operar como uma segunda pele, que restabeleça a pele perdida na migração, agora restaurada. Essa nova língua aprendida pode gerar para o migrante um contexto conhecido que lhe possibilite sentir a segurança e o amparo perdidos na migração. Estamos descrevendo o processo de separação e abandono da língua do país de origem, processo que por vezes pode suscitar grandes resistências dos sujeitos diante da língua estrangeira, a ponto de alguns deles se negarem a seu aprendizado.

A necessidade de pertencimento ao social impõe aos migrantes uma certa quota de violência, como se fosse o preço que eles têm de pagar para ocupar um lugar no novo país. A perda da língua materna como meio de comunicação implica a perda do laço com a cultura de origem e a ruptura do marco conhecido. O choque cultural se dá quando o estrangeiro se enxerga a si mesmo participando de outra cultura, da qual desconhece a maioria dos códigos.

Para os sujeitos que desenvolvem essa resistência, a nova língua pode adquirir até significações com características traumáticas, na medida em que implica o abandono forçado da língua de origem. Diante dessas vivências traumáticas alguns migrantes constroem a seu redor um micromundo com pessoas de sua própria cultura, sem aprender a nova língua e se munindo de tradutores como intermediários no país de acolhimento.

Lembro-me de uma família peruana cujos membros se surpreendiam muito quando visitavam o Peru e percebiam que lá eram entendidos por todos quando falavam espanhol. Eles estavam acostumados a não serem entendidos por ninguém no Brasil quando falavam. Dessa forma, excluíam os outros, fechando-se entre si. Daí a surpresa quando visitavam o Peru e ali verificarem uma reação diferente em seus contatos com as pessoas. A língua materna talvez operasse para essa família como uma membrana protetora do núcleo familiar, em que todos estavam associados em um código comum que os protegia e também os isolava do país e da língua estrangeira. Essa fala entre eles operava como defesa diante das angústias geradas pelo novo, desconhecido e estrangeiro, do país de acolhida.

 

Migração como processo de se reinscrever

Os termos de uma epistemologia do campo específico da psicanálise estão duplamente enquadrados por uma realidade corporal e uma realidade social e cultural, sobre as quais se apoiam as formações e os processos da realidade psíquica: em ruptura e em apoio, em modelo e em desprendimento. (Kaës, 1991, p. 50)

O psicanalista francês René Kaës revisa os conceitos de étayage (francês), Anlehnung (alemão), apuntalamiento (espanhol) e apoio (português) no artigo "Apoio e estruturação psíquica", em que descreve três tipos de apoio, partindo do conceito freudiano: apoio no próprio corpo, na mãe e seus vínculos e no social e cultural.

Descreve o conceito de apoio como

uma dimensão de perda e de transcrição ("re-prise") transformadora, através das quais inaugura-se a qualidade psíquica, que advém em um apoio, que poderia ser chamado de paradoxal, sobre um "objeto" cujo destino é ser ao mesmo tempo um não objeto sobre uma continuidade que se constitui como tal somente ao emergir na experiência do descontínuo. (Kaës, 1991, p. 46)

Freud identifica o apoio no corpo como constituidor do psiquismo do bebê ao nascer, na definição do conceito de pulsão. Kaës amplia esse apoio também para pensá-lo no social e na cultura. Descreve esse processo de apoio como um movimento conjunto de elaboração e ruptura, uma experiência de apoio, perda e apoio reencontrado, nomeando-o a "transcrição transformadora" que constitui o psiquismo.

Pensamos o conceito de apoio no social e na cultura como aquele que se quebra na migração. Diante da perda do contexto e do social do país de origem, o sujeito é destituído internamente daquele apoio que lhe permitia reconhecer tanto o ambiente, quanto as marcas internas que lhe possibilitavam situar-se dentro do contexto cultural. Na migração o migrante perde as referências que o norteavam e o situavam em um espaço comum, e deve desenvolver um processo interno que o habilite a reconstruir um espaço conhecido no qual se movimentar e se situar. Kaës nomeia esse périplo uma transcrição transformadora, espaço que constitui o psiquismo para o migrante quando encara essa nova transcrição do significado do sociocultural que o rodeia. Dessa forma, está descrevendo ao mesmo tempo a construção de uma continuidade interna paradoxal entre o não objeto e a experiência do descontínuo.

Visualizamos esse processo como uma possibilidade de elaboração da perda do social e cultural conhecido para se ressituar e construir internamente um espaço que o assegure e lhe permita reconhecer-se em um solo protegido para si. Talvez estejamos pensando em um processo que habilite o migrante a não se fixar nas perdas do conhecido, e sim em uma elaboração do luto para rearmar internamente um novo apoio, agora na terra e na cultura que o acolheram na migração.

Refletimos sobre a importância de pensar a migração também como uma possibilidade de afastar-se da questão da perda, para permitir assim a abertura a uma experiência de novidade e aprendizado diante do estranho e desconhecido. O conceito de apoio no social e cultural de Kaës possibilita visualizar esse processo na migração de outro ponto de vista. Cada sujeito elabora o vivido de sua forma particular, mas é importante que o migrante se disponha a avaliar, conjuntamente, os ganhos junto das perdas, na migração.

Lembro-me de uma colega chilena que me perguntava: quando você se decidiu a começar a atender em português? Quando você sentiu que estava pronta? Vemos como essa situação remete a uma autorização interna que cada migrante deve fazer para si próprio na habilitação interna para comunicar-se na língua estrangeira, integrando-a a sua própria bagagem de conhecimentos. Denota um processo de trânsito de uma constituição ancorada em uma monocultura a uma pluricultura, na conformação da identidade intercultural.

Julia Kristeva, psicanalista búlgaro-francesa, na conferência que nomeia L'amour de l'autre langue faz um paralelo entre o estrangeiro, o escritor e o tradutor e nos diz a esse respeito:

Mudar de língua equivale a perder certa naturalidade, a traí-la, ou pelo menos a traduzi-la. O estrangeiro é essencialmente um tradutor. Ele pode ser bem-sucedido e fundir-se perfeitamente na língua de acolhimento, sem esquecer a língua de origem ou esquecê-la parcialmente. A maioria das vezes, porém, ele é percebido como um estrangeiro precisamente porque sua tradução, por mais perfeita que seja, trai uma melodia ou uma mentalidade que não se ajusta à identidade de acolhimento (Kristeva, 2014, p. 3).2

Falar outra língua que não seja a língua materna implica uma traição àquela língua primeva, já que indiretamente implica o que Kristeva, mais à frente, nomeia como "matricídio". Mas, ao tentar expressar-se na língua estrangeira, traços inconscientes aparecem através da melodia da fala, melodia que carrega as marcas primárias e as sensações da primeira infância. Por isso, o estrangeiro vira tradutor em uma nova língua, mas carregando a música de sua língua natal. A fala deixa aparecer pelo sotaque aquilo que é impossível apagar: a língua na qual a pessoa foi aninhada e recebida no mundo. Kristeva descreve-os como "os ritmos arcaicos e as bases pulsionais de seu idioma natal" (2014, p. 4).

As palavras citadas anteriormente, da colega chilena perguntando sobre quando se dar permissão para fazer atendimentos na língua do país de acolhida, também sublinham um momento novo de criação, que Kristeva descreve como "renascimento: nova identidade e nova esperança" (2014, p. 4). A habilitação pessoal para fazer-se dono da língua do país de acolhimento pressupõe um novo espaço interno para essa língua e também o afastamento de sua língua materna, vista como unitária, para começar a reconhecer-se como multilíngue ou bilíngue, e dono de escrita em ambas as línguas, ou tradutor das duas para conseguir expressar suas sensações.

Pensamos que só nos vínculos é que se joga o processo de migração. Como mostra o exemplo anterior, no qual o outro confirma a migração no mesmo ato em que cada sujeito se inscreve como intercultural e pertencente a várias línguas e culturas. Os vínculos aparecem como um espaço de novidade e criação de vida ou de fratura e falha subjetiva, para transitar e viver a experiência. Há sujeitos que podem elaborar a migração para constituí-la dentro de si como uma novidade e outros que fracassam nisso, ficando em um eterno luto pela terra e a língua do país de origem. Esse processo vincular abrange sujeitos que elaboram essa experiência conjuntamente com outros. Descrevemos, assim, um processo de elaboração que só é possível ser feito intersubjetivamente.

Concluímos apontando a força que a potência da diferença traz à análise em várias línguas. Não poderíamos traçar um formato fixo de trabalho psicanalítico, e sim afirmar que só na intersubjetividade entre analista e analisando vai sendo construída uma trama que dê espaço à resposta à pergunta: em que língua fazer análise?

Eu via as coisas de forma diferente. Estava com medo da nova língua e suspeito que por isso escrevi poemas mais curtos... As palavras estavam longe. A desorientação me servia.

Eu amo Buenos Aires. Sinto falta do carinho das pessoas. Mas meu trabalho é realizado em Paris. Eu pertenço ao ausente...

Ser estrangeiro - e agora eu também o sou em todos os lugares - é também uma forma de ser livre. A não integração é uma liberdade. Não estou integrada em lugar nenhum.

(Baron Supervielle, 2013)

 

Referências

Amanti-Mehler, J., Argentieri, S. & Canestri, J. A Babel do inconsciente. Rio de Janeiro: Imago, 1990.         [ Links ]

Anzieu, D. O eu-pele. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1988.         [ Links ]

Auster, P. La invención de la soledad. Barcelona: Anagrama, 1994.         [ Links ]

Baron Supervielle, S. Ser un extranjero es también una manera de ser libre. Clarín, 31/08/2013.         [ Links ]

Clare, J. Introduction. In: J. Szekacs-Weisz & I. Ward, Lost childhood and the language of exile. London: Imago/MLPC/The Freud Museum, 2004.         [ Links ]

Kaës, R. Apuntalamiento y estructuración psíquica. Revista de Psicología y Psicoterapia de Grupo, XV, 23-51, 1991.         [ Links ]

Koltai, C. Pensamentos esparsos sobre escrita e língua materna através dos deslocamentos. Percurso, 60, 2018.         [ Links ]

Kristeva, J. L'amour de l'autre langue. Youtube Bibliothèque Nationale de France, 13/10/2014.         [ Links ]

Puget, J. El otro indispensable y conflictivo. In: R. Cabanzo de Ponce de León, Psicoanálisis vincular online: pareja, familia. Otra escena. Bogotá: Ecoe, 2020.         [ Links ]

Vélikovsky, E. Jeu de mots hébraiques. Une langue nouvellement acquise peut-elle devenir la langue de l'inconscient? Revue Française de Psychanalyse, 10, 1938.         [ Links ]

 

 

Recebido em em: 15/7/2021
Aceito em: 2/9/2021

 

 

1 O conceito de vínculo é pensado neste artigo com base na "definição de vínculo como entidade concebida como uma relação entre dois ou mais outros ajenos, separados por um espaço irredutível, o entre dois, do qual nasce a força vinculante, o que também é condição necessária para a vitalidade de quaisquer vínculos" (Puget, 2020, p. 4).
[Utilizamos ajeno em espanhol, já que não achamos um termo em português que descreva por completo o significado do termo, como diferente, alteridade, diverso.]
2 Tradução livre da autora.

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