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Revista Psicopedagogia

versão impressa ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.24 no.73 São Paulo  2007

 

PONTO DE VISTA

 

A Epistemologia da Psicopedagogia: reconhecendo seu fundamento, seu valor social e seu campo de ação. Comemorando os 15 anos da ABPp - Paraná Sul, 2006

 

The Epistemology of Psychopedagogy: acknowledging its fundaments, social value and scope of action. Celebrating ABPp - Paraná Sul's 15th Anniversary, 2006

 

 

Laura Monte Serrat Barbosa

Pedagoga, psicopedagoga, especialista e mestre em educação. Membro do conselho da ABPp, Seção Paraná Sul

Correspondência

 

 


RESUMO

Este é um estudo que buscou reflexões a partir das produções científicas divulgadas em alguns exemplares da Revista Psicopedagogia - nos últimos seis anos - dos temas propostos nos últimos três congressos brasileiros da ABPp, dos boletins informativos de algumas das Seções da ABPp e da experiência psicopedagógica discutida por um grupo de psicopedagogas de Curitiba, o qual se reuniu, em 2003, para pensar sobre o tema Epistemologia da Psicopedagogia. Apesar da Psicopedagogia ainda não possuir estatuto de ciência, pensar sobre a sua epistemologia é possível se considerarmos que esta refere-se ao estudo dos fundamentos, do valor social e do campo de ação de uma área do conhecimento. Os fundamentos mostrados no texto propõem ao leitor uma reflexão sobre o paradigma de conjunção que a filosofia atual coloca; sobre as pesquisas científicas que mostram um caminho na direção da despatologização da aprendizagem; sobre as práticas diferenciadas nas quais se busca a realização dos novos discursos. Termina-se o texto com questionamentos importantes à classe profissional dos psicopedagogos, no sentido de realizar uma crítica construtiva à práxis psicopedagógica atual.

Unitermos: Epistemologia. Psicopedagogia.Conhecimento.


SUMMARY

The purpose of this study was to find views in scientific texts that were published in the Revista Psicopedagogia over the last six years of themes that were introduced in the three last ABPp Brazilian congresses, bulletins of some ABPp Chapters and the psychopedagogical experience discussed by a group of psychopedagogues in Curitiba, who met in 2003 to review the Epistemology of Psychopedagogy. Despite lacking the stature of an established science, it is possible to ponder on the epistemology of Psychopedagogy as such, given that epistemology is the study of fundaments, of the social value and scope of action of a given area of knowledge. Fundaments presented in the text are conducive for the reader to reflect on the model of understanding of the world, by which many areas of knowledge must be embraced (referred to as the paradigm of conjunction) in the light of present philosophy; on scientific research which point towards approaching the difficulties inherent to the learning process as a natural occurrence rather than a pathology; on differentiated practices in which new discourses are sought. At the conclusion, important issues are raised for psychopedagogues to consider when making a constructive critique of current psychopedagogical praxis.

Key words: Epistemology. Psychopedagogy. Knowledge.


 

 

INTRODUÇÃO

Vivemos em uma época rica em numerosas mudanças que marcam o fim de um período. Este fim desdobra-se em três componentes: o das certezas, o das ilusões e o dos determinismos (Raux)

Em tempos de grandes mudanças, precisamos, de quando em quando, revisitar nossa práxis na busca de esclarecimentos e aperfeiçoamento acerca de sua função social. A reflexão sobre a epistemologia é uma das paradas que precisamos fazer para criticarmos a construção que estamos erigindo. A palavra "epistemologia" está significada, no dicionário1, como sendo "a teoria das ciências"; o estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências.

Rolando Garcia2 diz que foi esclarecido pelo dicionário que a palavra epistemologia vem do francês para designar o estudo crítico das ciências, dirigido a determinar seu valor na sociedade, seu fundamento lógico e seu campo de ação, diferenciando-o do termo "teoria do conhecimento", utilizado pela filosofia.

Embora a Psicopedagogia não tenha estatuto de ciência, podemos arriscar e buscar seu fundamento, seu valor para a sociedade, e definir seu campo de ação, fazendo uma investigação crítica dessa área de estudo e de ação. Para que isso seja possível, é necessário estabelecermos o que será entendido por Psicopedagogia, apontando principalmente seu objeto de estudo, analisado a partir de eixos temáticos escolhidos para congressos nacionais e encontros regionais da ABPp, de títulos de artigos publicados e da práxis discutida por um grupo de psicopedagogas de Curitiba.

A Psicopedagogia nasceu como uma área que possuía a missão de superar a "compartimentalização" do aprendiz, da sua forma de lidar com as facilidades e dificuldades para aprender e do conhecimento a ser aprendido. No seu trajeto, no entanto, não conseguiu evitar a contaminação pelo que já estava posto, pelas ciências que já possuíam seu estatuto estabelecido como tal, como a medicina, por exemplo. Como um irmão menor, chegando em uma família, a Psicopedagogia passou a fazer suas inserções usando instrumentos construídos por outras áreas do conhecimento, mas regidos pelo paradigma da disjunção, aquele que deveria ser superado na história humana, no momento de seu surgimento.

Inicialmente, a Psicopedagogia teve como objeto de estudo a Dificuldade de Aprendizagem, vista como doença do aprendiz; a seguir, seu objeto passou a ser a Dificuldade de Aprendizagem como parte do processo de aprender, cujas causas poderiam estar fora ou dentro do sujeito; posteriormente, seu objeto começou a ficar mais delineado e passou a ser caracterizado como a Aprendizagem e os Transtornos que podem ocorrer em seu processo. Somente na década de 1990, o objeto de estudo da Psicopedagogia começa a perder a doença, a dificuldade e os transtornos como foco principal, passando a ser caracterizado como o Sujeito capaz de conhecer e aprender, assim como seu processo de aprender. Atualmente, o objeto de estudo da Psicopedagogia é colocado como um sujeito, que Maria Cecília Silva3 descreveu e chamou de Ser Cognoscente.

Portanto, a Psicopedagogia pode ser definida como a área do conhecimento que se propõe estudar o ser cognoscente e seu processo de aprender, compreendendo-o como um ser constituído de três grandes dimensões: a Racional, a Relacional e a Desiderativa e do funcionamento decorrente das relações dessas três dimensões, que acontecem num corpo físico e biológico, bem como num contexto cultural próprio.

 

PESQUISANDO A REALIDADE PARA ENCONTRAR O FUNDAMENTO

Pretendemos fazer um estudo crítico da Psicopedagogia no Brasil, com atenção aos seus fundamentos, ao valor que representa para a sociedade e ao seu campo de intervenção. Para tal, escolhemos uma mostra da Psicopedagogia vivida no Brasil, nos últimos seis anos, por meio dos temas dos congressos da ABPp, dos encontros regionais das Seções e das publicações na Revista Psicopedagogia e nos Boletins de algumas Seções.

No que se refere aos congressos nacionais, aconteceram três. Em 2000, Ampliando a Psicopedagogia: Avanços Teóricos e Práticos. Escola, Família, Aprendizagem, coordenado pela presidente Nívea Maria de Carvalho Fabrício. Em 2003, Psicopedagogia: O Portal para Inserção Social - o Sujeito como Autor, o Social como Contexto, o Aprendizado como Processo, coordenado pela presidente Maria Cecília de Castro Gasparian. Em 2006, Desafios da Psicopedagogia no Século XXI. Aprendizagem: Tramas do Conhecimento, do Saber e da Subjetividade, coordenado pela presidente Maria Irene Maluf.

Desde 2000, na ABPp, tem existido um esforço para ampliar conceitos, agregar a diversidade, compreender a aprendizagem com um paradigma de conjunção, entendendo-a como algo complexo (trama), que envolve não somente o conhecimento a ser aprendido, mas o sujeito cognoscente constituído pelas dimensões racional, relacional e desiderativa, ligada à subjetividade, e pelo contexto histórico e geográfico no qual se encontra.

Aleatoriamente, em Boletins das várias Seções, buscamos perceber se os representantes regionais seguem a tendência explicitada pela ABPp em seus eixos temáticos. O que encontramos, como uma pequena mostra, foi o seguinte:

  • Em 2000 - VII Encontro de Psicopedagogia da Seção Curitiba: Psicopedagogia - Lendo o Mundo e Reescrevendo Histórias. Um Estudo de Leitura e Escrita;
  • Em 2001 - I Seminário Mineiro da ABPp MG: O Adolescente e a Psicopedagogia; Fórum Psicopedagógico, São Paulo: Debate Nacional sobre Avaliação na Aprendizagem; Pequenos Eventos, Grandes Idéias, Curitiba: A Psicopedagogia Frente à Tecnologia; XI Encontro Regional de Psicopedagogia de Goiás: Escola: (por) uma Educação com Alma; Pequenos Eventos, Grandes Idéias, Curitiba: Intervenção Psicopedagógica - O que Caracteriza esta Prática; I Encontro de Psicopedagogia do Maranhão: Aprendizagem e Prazer; I Encontro Carioca de Psicopedagogia: Autoria: Poder Desfrutar do Pensar, do Jogar, do Criar, do Escrever... Acervo Psicopedagógico; VIII Encontro da ABPp Curitiba: Aprendendo a Incluir e Incluindo para Aprender;
  • Em 2002 - XII Encontro Regional de Psicopedagogia de Goiás: Escola: Desafio à Prática Reflexiva; V Encontro Goiano de Psicopedagogos: Fracasso Escolar: um Olhar Psicopedagógico; XI Encontro Estadual de Psicopedagogos, RS: Família e Aprendizagem: Socializando Afeto e Conhecimento; Pequenos Eventos, Grandes Idéias, Curitiba: Contribuições da Neuropsicolingüística para o Processo de Aprendizagem da Leitura e Escrita; Reunião Científica, Salvador: Conhecimento do Eu: Ponto de Partida para o Encontro do Nós;
  • Em 2003 - I Encontro Paranaense de Psicopedagogia, Maringá: Trilhando Novos Caminhos para a Inserção Social do Aprendiz e do Profissional;
  • Em 2004 - XIV Encontro Regional de Psicopedagogia, Seção Goiás: Escola: Novos Tempos, Muitos Desafios;
  • Em 2006 - II Encontro Sul-brasileiro de Psicopedagogia: Os Tempos de Aprender e o Aprender Através dos Tempos; Pequenos Eventos, Grandes Idéias, Curitiba: Educação de Crianças Pequenas; Pequenos Eventos, Grandes Idéias, Curitiba: Panlexia; Café da Manhã com Psicopedagogia, Curitiba: A Sociedade da Informação e a Psicopedagogia (este encontro originou um texto produzido em parceria pelos participantes, via Internet).

Os temas regionais citados, exceto alguns poucos, estão voltados para questões ligadas a um paradigma de conjunção, buscando-se perceber questões mais amplas da aprendizagem, do aprendiz e do seu contexto, assim como se caracteriza a tendência da ABPp, responsável pela organização dos encontros nacionais.

Para completar e dar mais consistência ao trabalho de buscar a fundamentação da Psicopedagogia no Brasil, escolhemos três exemplares da Revista Psicopedagogia, dos anos em que os congressos citados ocorreram, para buscar a coerência entre os temas propostos pelos congressos e as produções científicas selecionadas para publicação.

No número 524, 2000, podemos ver um encaminhamento para a ampliação de olhar e de campo de ação, conforme proposto pelo congresso, por meio dos artigos:

  • Facilitando a Experiência de Aprendizagem na Internet - Esboço de uma Sala de Aula Virtual;
  • Os 20 Anos da Associação Brasileira de Psicopedagogia;
  • A Aprendizagem e sua Relação com a Organização do Real;
  • Considerações sobre a Revisão Curricular no Contexto da Sociedade Atual;
  • Repensando o Educador à Luz do Modelo Sistêmico;
  • A Psicopedagogia Clínica como Instrumento de Ação Social;
  • O Processo de Socialização;
  • Transfer... o Processo de Transferência em Psicopedagogia;
  • Estágio Supervisionado: uma Atividade na Preparação do Exercício na Escola;
  • Para que Mundo Educa(r)mos?

Embora os textos abordem mais os avanços práticos do que os teóricos, a teoria referenciada já aparece como um fundamento balizado por um paradigma ligado à complexidade, à visão sistêmica e à integração da realidade ao desejo, assim como uma necessidade de possuir uma prática que tenha uma abrangência social, significativa.

No número 625, 2003, há relatos de pesquisa e artigos. Nas pesquisas, principalmente, a relação com a inserção social ainda aparece limitada às necessidades educativas especiais. Os artigos produzidos no Brasil podem revelar uma contradição entre o que o congresso buscava e o que se produzia, podendo justificar a escolha do tema do congresso como uma necessidade de ampliar a visão psicopedagógica em nosso país:

  • Lingüística e Surdez: Compreendendo a Singularidade da Produção Escrita de Sujeitos;
  • A Deficiência Redescoberta: a Orientação de Pais de Crianças com Deficiência Visual;
  • A Aplicação de Teorias Psicológicas no Planejamento e na Avaliação do Processo de Ensino-aprendizagem;
  • Psicopedagogia e Eqüidade Social: o Contexto como Protagonista, a Diversidade como Norma;
  • Complexidade e Sistema na Psicopedagogia;
  • Aspectos da Formação de Leitores nas Quatro Séries Iniciais do Primeiro Grau.

Dentre os artigos escolhidos para publicação, parece que apenas dois estão relacionados à Psicopedagogia como um possível portal para a inserção social. Os títulos não citados são escritos por estrangeiros, dispensáveis para o objetivo desse artigo.

O último exemplar analisado, número 696, foi distribuído no início de 2006, embora tenha sido publicado em 2005. Os títulos das pesquisas e artigos estão muito próximos ao eixo temático do congresso, até porque o tema é amplo e sugere uma fundamentação na complexidade, nas tramas, na diversidade, nos estudos da subjetividade do ser cognoscente:

  • Educação Sexual para Estudantes Surdos;
  • Diagnóstico Inicial: Violência Doméstica, Motivo de Consulta e de Indicação de Tratamento Psicopedagógico;
  • Contextualizando a Vida: Estudo sob o Enfoque Psicopedagógico com Crianças e Adolescentes Pacientes de Doenças Hemato-oncológicas;
  • O Brincar e a Aprendizagem: Concepções de Professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental;
  • Psicopedagogia e Transtornos Psiquiátricos;
  • Dificuldade de Aprendizagem: Dislexia e Disgrafia na Era da Informação;
  • Sobre a Possibilidade do Jogo como Mediador da Aprendizagem do Adulto.

Os títulos revelam desafios para o novo século, como educação sexual, violência, crianças que portam doenças, transtornos psiquiátricos e dificuldades de aprendizagem na era da informação; porém, ainda há a presença de termos ligados mais à doença e menos à aprendizagem: tratamento, pacientes, transtornos, diagnóstico, dislexia, disgrafia e outros.

Partindo desse pequeno levantamento de temas que vêm sendo foco de discussão e de reflexão, podemos dizer que a Psicopedagogia no Brasil possui como fundamento filosófico um paradigma de conjunção, proposto por Edgar Morin7, quando discute os problemas de uma epistemologia complexa, no livro O Problema Epistemológico da Complexidade.

Os temas das conferências propostos no último congresso também apontam para a mesma direção. Das 36 conferências proferidas, apenas cinco trazem, em seus títulos, termos ligados a dificuldades, transtornos, distúrbios e apenas um título especifica o nome de uma doença. Todos os outros apontam para a compreensão do processo de aprender no momento histórico atual e para o aprendiz contextualizado. Nas mesas-redondas e cursos, percebemos que ainda existe uma tendência da Psicopedagogia atual de prender-se às dificuldades e não às possibilidades do aprendiz. De 18 títulos, entre mesas-redondas, oficinas e cursos, aparecem oito termos que remetem a dificuldades, transtornos e distúrbios, originados no nosso parentesco com a medicina.

 

A PROPOSTA DE UM GRUPO DE PSICOPEDAGOGAS DE CURITIBA

Um grupo de psicopedagogas de Curitiba reuniu-se para discutir sobre a Epistemologia da Psicopedagogia, com o objetivo de contribuir com a Psicopedagogia brasileira. No VI Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, em julho de 2003, este tema foi discutido em um dos espaços científicos.

Após a especificação da tarefa, o grupo colocou a necessidade de pensar em aspectos comuns às práticas que remetessem a linhas gerais de reflexão. Antes, porém, decidiu discutir o objeto de conhecimento da Psicopedagogia, tema considerado como base para a ampliação da discussão. Segue, pois, a síntese dessa reflexão.

O objeto da Psicopedagogia vai muito além de um "processo de aprendizagem"; refere-se a um sujeito que aprende, sendo este muito mais do que um aprendiz, um ser capaz de conhecer sobre si e sobre o ambiente do qual é parte constituinte. Para se conhecer este ser que conhece e que produz conhecimento, foram definidos três níveis de discussão: um filosófico ou metacientífico, um científico e um técnico.

O primeiro plano, metacientífico, corresponde ao campo da filosofia das ciências que, segundo Jorge Visca8, tem por objetivo analisar criticamente o seu próprio objeto de estudo; neste caso, o objeto de estudo da Psicopedagogia. O segundo nível, científico, descreve e explica o objeto de estudo da Psicopedagogia à luz dos conhecimentos científicos. O terceiro, técnico, é aquele no qual se estudam as práticas, as várias abordagens deste ser que conhece e produz conhe-cimento, ao qual Silva3 chamou de "ser cognoscente".

Embora as psicopedagogas desse grupo desenvolvam práticas distintas, apoiadas em conhecimentos científicos ora semelhantes, ora diferentes, sustentam sua ação psicopedagógica numa concepção de ser humano, de sociedade, de mundo, de vida, de conhecimento que vê o ser cognoscente como um sujeito inteiro e dimensionado, integrado e transgressor, temporal, sistêmico, que é parte de um todo coeso, no qual habita a contradição.

Este ser cognoscente é capaz de aprender e, com sua aprendizagem, pode se tornar um conhecedor de si mesmo, da sociedade e das relações que se dão no seu interior, da sua e de outras culturas, do ambiente no qual habita a biodiversidade e do universo no qual este ambiente (planeta) está mergulhado.

O ser cognoscente, como sujeito inteiro, é constituído por distintas dimensões: biológica, afetiva, desiderativa, relacional e racional, que interagem entre si, com o ambiente natural e sociocultural e possibilitam o advento do conhecer e do conhecer-se. Como sujeito integrado, é parte e, ao mesmo tempo, todo, que integra suas dimensões e as desintegra, que se integra ao ambiente e desintegra-se, que se integra à comunidade humana e desintegra-se. Como sujeito temporal, é histórico, vive em um tempo, carrega consigo o conhecimento de outros tempos e projeta para o futuro o que conheceu, o que conhece e o que pode produzir de conhecimento a partir de sua experiência e de todos que fazem parte do conhecimento do qual conseguiu se apropriar. Como sujeito sistêmico, faz parte de uma teia de relações existente no universo. É subsistema de um sistema maior, ao mesmo tempo em que se constitui como um sistema objetivo e subjetivo.

Este ser cognoscente é um ser que nasce incompleto, que não possui todos os seus comportamentos determinados biologicamente. Para sobreviver, necessita relacionar-se com sua cultura, apropriar-se das ferramentas sociais, desejar viver, conviver, aprender e conhecer, respeitando o ambiente do qual faz parte constitutiva, os conhecimentos já produzidos ao longo da história, nas diferentes culturas, a ética de ser humano e sujeito universal.

A Psicopedagogia é uma área de estudos preocupada em conhecer o ser que conhece e que produz conhecimento e, para tal, necessita superar a visão clássica que, segundo Morin7, separa o objeto do seu meio, separa o físico do biológico, separa o biológico do humano, separa as categorias, as disciplinas etc. Essa visão reduz o complexo ao simples e não permite perceber a unidade na diversidade, nem a diversidade na unidade.

Nesse sentido, a Psicopedagogia, que possui como objeto de conhecimento um ser cognoscente, composto de várias dimensões, extremamente complexo, possui uma origem que é determinada por um paradigma de conjunção que admite e necessita de uma comunicação entre as teorias que explicam diferentes aspectos deste ser.

Tal conjunção de conhecimentos para explicar um determinado objeto de conhecimento é que está na origem da noção de interdisciplinaridade, de transdisciplinaridade, de interciência, de convergência, de holismo, de teia de relações de sistemas, cuja base filosófica iniciou-se com Bachelard que, segundo Morin7, é o principal precursor da teoria da complexidade.

A Epistemologia da Psicopedagogia, considerando-se a complexidade da vida, do ambiente e do ser cognoscente, pode estar na relação dos opostos que compõem um todo coeso e que produzem, nesse todo, a contradição. O ser que conhece, o conhecimento e a produção do conhecimento necessitam ser vistos com um olhar objetivo-subjetivo, capaz de fazer comunicar instâncias separadas, sem simplesmente justapor conhecimentos, mas sim construir o que Morin7 chamou de circuito e Visca8 chamou de convergência.

A epistemologia contemporânea, segundo Morin7, reconhece que há "não-cientificidade" no seio das teorias científicas e que os elementos constitutivos do conhecimento científico possuem raízes na cultura produzida pela sociedade e raízes no modo de organizar as idéias, no que ele chamou de "espírito-cérebro". Essa característica da epistemologia contemporânea do conhecimento exige o estudo da dimensão cognitiva e do ato subjetivo; portanto, o estudo do ser que vai apreender este conhecimento também implica nesta compreensão.

Visca8 foi um dos primeiros psicopedagogos que se preocupou com a Epistemologia da Psicopedagogia e propôs estudos fundamentados no que chamou de Epistemologia Convergente, que é resultado da assimilação recíproca de conhecimentos fundamentados no construtivismo, no estruturalismo construtivista e no interacionismo.

Essas contribuições influenciaram a Psicopedagogia brasileira, assim como outras que propõem o estudo do ser cognoscente à luz de teorias que abordam desenvolvimento cognitivo, afetivo, social, relacional e biológico, bem como seu papel no ato de aprender e conhecer.

Essa influência diferencia-se dependendo da região e, atualmente, temos ainda questões: Qual é a Epistemologia da Psicopedagogia brasileira? Quais os pontos comuns da prática, dos conhecimentos científicos que a embasam e da concepção nos planos filosófico, científico e técnico?

Percebe-se que os estudiosos que fundamentam as práticas são vários, mas que é possível categorizá-los entre cientistas da Psicogenética, da Psicanálise, da Psicologia Social e da Neurociência. Existem áreas de estudo que podem explicar a aprendizagem nas várias dimensões do sujeito psicológico apresentado por Jean Marie Dolle9: dimensão afetiva, dimensão cognitiva, dimensão social e biológica, caracterizando o plano científico.

Nesse grupo, encontramos modelos de explicação do fenômeno do desenvolvimento e da aprendizagem humanos que revelam diferentes circuitos: Psicanálise e Psicogenética; Psicologia Analítica e Psicogenética; Psicanálise, Psicogenética e Psicologia Social; Psicanálise, Psicogenética e Psicologia Sociohistórica; Psicodrama, Psicogenética e Psicologia Social. Além disso, apresentam-se fundamentos da Arte-terapia, da Neurociência e da Psicomotricidade.

Os estudiosos citados como referência científica e ou prática foram: Sigmund Freud, Jacques Lacan, Carl Jung, Arminda Aberastury, Enrique Pichon-Rivière, André Lapierre, Jean Piaget, Lev Vygotsky, Reuven Feurstein, Simone Ramain, Jorge Visca, Sara Pain, Victor da Fonseca, Henry Wallon, Jacob Moreno, Fritjof Capra, Donald Winnicott, Emília Ferreiro e Ana Teberosky.

As práticas desenvolvidas, que podem acontecer nos diversos âmbitos da realidade, são: caixa de trabalho, projeto de trabalho, material disparador, estimulação horizontal, caixa de areia e miniaturas, PEI, jogos, grupo operativo, oficinas, além de práticas que se conjugam às práticas psicomotoras, psicodramáticas, artísticas e outras. Apesar da diferença na ação, apresenta-se como ponto comum uma visão complexa de ser humano e de mundo, que necessita da assimilação recíproca de alguns conhecimentos que dêem conta desta complexidade.

 

Quadro

 

Portanto, num primeiro momento, acredita-se que a Epistemologia da Psicopedagogia apóia-se na complexidade. A discussão sobre a construção desta Epistemologia, do corpo científico e da organização da prática auxilia na compreensão de que a Psicopedagogia é uma só e revela-se em diferentes âmbitos: do indivíduo, do grupo, da instituição e da comunidade, como prevê Visca10. Nesses âmbitos, a intervenção na realidade pode ser de caráter terapêutico e preventivo, assim como de otimização do processo de ensinar/aprender. Por isso, é preciso ter cuidado a respeito da divisão da Psicopedagogia em Clínica e Institucional, pois tal divisão pode enfraquecer o núcleo de pontos comuns que caracterizam uma Epistemologia da Psicopedagogia.

 

A EPISTEMOLOGIA DA PSICOPEDAGOGIA

Conhecendo um pouco do que aconteceu na Psicopedagogia no Brasil, nos últimos seis anos, podemos fazer um estudo crítico, buscando seus fundamentos, seu valor social e seu campo de ação. Percebemos que a Psicopedagogia está partindo, pelo menos no discurso, para uma visão complexa sobre o aprendiz e sua aprendizagem, para discussões de como trabalhar com a aprendizagem em termos amplos, ligada ao aprender de quem ensina, e não mais a técnicas de intervenção para problemas específicos; estes estão sendo entendidos como decorrências de uma gama complexa de interações, e não mais como um mal instalado nos aprendizes.

Completando o quadro construído pelo grupo de psicopedagogas de Curitiba, podemos dizer que, em relação ao fundamento da Psicopedagogia, num plano filosófico, o paradigma que lhe dá sustentação é, de fato, o paradigma de conjunção; segundo Morin7, é aquele que faz comunicar instâncias separadas e necessita de um esforço coletivo de todos aqueles que pesquisam na área, para que possa existir a articulação dos conhecimentos produzidos por nós, entre nós e com outras áreas do conhecimento. Um paradigma de disjunção levaria apenas à possibilidade de redução, a uma unificação abstrata que exclui a diversidade, procurando organizar catálogos de exercícios não ligados entre si e nem contextualizados com as problemáticas específicas.

Pelo que podemos compreender dos títulos de artigos que apontam para a natureza da discussão dos psicopedagogos no Brasil, entendemos que o desejo, ainda que a prática não o revele totalmente, é pelo paradigma de conjunção.

A Complexidade, responsável pela organização de um circuito no qual as diferentes contribuições vão se articular, está na base de nossos estudos e pesquisas. A ela, acrescento mais dois conceitos: o de Modularidade, que concebe a capacidade de integrar contribuições diferentes, fragmentadas em elementos menores (módulos), independentes, para serem agrupados posteriormente; o de Granularidade que, segundo Litto11, remete-se à colheita de informações em fontes diversas e que, combinadas, podem resultar na constituição de um conhecimento diferente.

Segundo Valle12, embora uma disciplina, por exemplo, possa ser a mesma, dependendo da colheita de cada professor, o resultado a ser aprendido pode se diferenciar. Para a autora, os projetos desenvolvidos por meio da Internet apresentam característica de granularidade: cada membro contribui com a sua habilidade, motivação e disponibilidade, e a combinação de um trabalho colaborativo tem como resultado uma combinação de granularidades.

Essas bases estão relacionadas (não podemos nos enganar) ao que Pierre Lévy13 chamou de paradigma informático: a cultura identifica-se com o tipo particular de processamento e transmissão do conhecimento e da informação. Na época da transmissão oral, a escuta, a memória e a repetição moldaram o estilo específico das produções culturais; com a chegada da escrita, inaugurou-se um novo tempo, o tempo da autoria, da durabilidade, do registro histórico. Hoje, a informática recodifica os conteúdos culturais e coloca-os em novos circuitos de processamento de comunicação; ela é concebida em redes, possui uma linguagem que é regida pelo cálculo, e não mais pela experiência vivida, e possibilita a modularidade. Na era da informática, um livro pode ser a combinação de vários módulos, que podem ser combinados e recombinados por serem independentes, resultando em uma unidade constituída por várias contribuições granulares, sem necessitar de um proprietário, um autor ou um registro que permaneça para sempre.

Ao mesmo tempo em que essa nova forma de produzir bens culturais parece ser mais democrática e igualitária, ela pode ameaçar a historicidade do ser humano: recortes vão descaracterizando o texto de origem e podem culminar em algo que nada tem a ver com a idéia inicial. Num dia, pode estar contido em um site; no outro, pode ser "deletado", sem a menor preocupação e o menor sentimento de perda.

A complexidade, a modularidade e a granularidade possuem sua origem na capacidade de agrupar os diferentes; nas ciências humanas, isso traz uma esperança em relação à igualdade das pessoas como seres humanos, à possibilidade de acesso aos mesmos conhecimentos, ao mesmo tempo em que ameaça a diversidade cultural e a nossa capacidade de sermos históricos, pertencermos e identificarmo-nos.

Ainda complementando o estudo do grupo curitibano, diríamos que, além dos conhecimentos citados no plano científico, é necessário introduzir o estudo da visão holográfica, da linguagem da informática e de seus avanços tecnológicos. No plano da prática, precisamos rever nossas ações.

Como a Epistemologia vai além da análise crítica, preocupa-se com o valor social, perguntamos: Qual o valor da Psicopedagogia para a sociedade?

Para que o paradigma informático não diga respeito apenas a máquinas, é preciso que nos preocupemos com o ser humano; uma das áreas a se preocupar com tal aspecto é, por certo, a Psicopedagogia. Sua importância está em valorizar o ser pensante, o ser que sente, que age e interage num contexto histórico e geográfico; um ser que pode ser autônomo, mas interdependente; que pode ser indivíduo, mas parte de um grupo; que pode reproduzir e criar, sem que isso o desestabilize; que pode usufruir a convergência dos conhecimentos, agrupados em módulos, combinando experiências, vivências e saberes, ao mesmo tempo em que pode convergir como parte de grupos humanos.

O valor da Psicopedagogia, portanto, está na preocupação em trabalhar com o aprendiz humano, com um sujeito que é movido pelo desejo e pelo respeito. O campo de ação da Psicopedagogia encontra-se diante de si, onde se encontram os aprendizes: na escola, nas casas, nas empresas, nas organizações ou mesmo na rua. A Psicopedagogia é substantiva e não precisa de um adjetivo para qualificá-la.

 

POR TUDO ISSO, PERGUNTAMOS...

Se a Psicopedagogia apresenta-se no panorama da aprendizagem com a missão de superar a "compartimentalização" do sujeito pelas disciplinas que tratam de suas dificuldades de aprendizagem; se ela surgiu com um caráter interdisciplinar para conjugar a diferença e ter uma visão mais ampla do que seja aprender e apresentar dificuldades; se ela considerou-se transdisciplinar, como uma área de estudo e de ação que deveria transcender às disciplinas isoladas e olhar para o sujeito que aprende sem focar no seu não saber; se ela critica as instituições por classificarem seus alunos ao utilizarem provas e notas; se ela critica a escola por dar aulas desconectadas umas das outras, sem articulá-las em seminários ou outras possibilidades; se ela possui a semente do inteiro, e da incompletude, perguntamos:

  • Por que insistimos em dividir a Psicopedagogia em clínica, institucional, empresarial, organizacional, hospitalar, confundindo a disciplina com o local que lhe acolhe e reproduzindo o paradigma de disjunção que deveria superar?
  • Por que, nas práticas que exercemos nas várias instâncias, insistimos em diagnosticar, classificar, encaminhar, reproduzindo o paradigma médico existente na época do nascimento da Psicopedagogia?
  • Por que continuamos escondendo aprendizes atrás de rótulos como hiperatividade, TDAH, Dislexia, Disgrafia, Dispraxia, Síndromes e outros?
  • Por que insistimos em utilizar termos médicos e, inclusive, apoiamos a publicidade de medicamentos em nosso encontro científico nacional?
  • Por que não vemos o aprendiz na relação com seu entorno e, por isso, continuamos focando nele a propriedade de todos os males que possui?

Se a Psicopedagogia é a área do conhecimento que se propõe estudar o ser cognoscente e seu processo de aprender, compreendendo-o como um ser constituído de três grandes dimensões: a Racional, a Relacional e a Desiderativa e do funcionamento decorrente das relações dessas três dimensões, que acontecem num corpo físico e biológico, bem como num contexto cultural próprio, perguntamos: Por que nós, psicopedagogos, temos, por vezes, dificuldades para realizar essa Psicopedagogia?

Se fosse para classificar crianças, adolescentes e adultos aprendizes, aplicar testes, fazer treinamentos descontextualizados, dar diagnósticos, a Psicopedagogia não precisaria ser inventada, pois já existiam muitas disciplinas empenhadas em criar testes e programas de treinamento para toda a sorte de dificuldades de aprendizagem.

Se fosse para criticar o desempenho da escola, para encontrar formas de classificar professores, direções e alunos, a Psicopedagogia não precisaria ser inventada, pois já existem muitos profissionais dando a sua opinião de como a escola deve fazer.

Os aprendizes precisam aprender, precisam ser compreendidos no seu não-aprender e precisam ser desculpabilizados diante do não-saber. Os aprendizes precisam aprender, e nós, da Psicopedagogia, somos especialistas em aprendizes e aprendizagem. As organizações necessitam de parceiros e não de mágicos que apontam o que é para ser feito. As organizações precisam aprender sobre sua aprendizagem, e nós, da Psicopedagogia, somos especialistas em aprendizagem...

Diante de tudo isso, perguntamos:

  • Por quê e para quê veio a Psicopedagogia?
  • Como é a Psicopedagogia que você, psicopedagogo, realiza?
  • O que estamos propondo a fazer, juntos, no espaço real e virtual?

Como já disse o poeta, "todos juntos somos fortes!"

 

REFERÊNCIAS

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Correspondência:
Laura Monte Serrat Barbosa
Av. Agostinho Leão Júnior, 37
Curitiba - PR - 80030-110
Tel.: (41) 3015-4178
E-mail: lauraserrat@bol.com.br

Artigo recebido: 24/10/2006
Aprovado: 06/02/2007
Esse trabalho é apoiado na experiência da autora, em Psicopedagogia clínica, supervisão e consultoria a instituições e indivíduos, realizada na Síntese - Centro de Estudos, Aperfeiçoamento e Desenvolvimento da Aprendizagem, em Curitiba, PR.

 

 

A proposta de um grupo de psicopedagogas de Curitiba. Um grupo de psicopedagogas de Curitiba. O grupo de psicopedagogas foi formado por: Ana Paula Morva, Angélica Auxiliadora Luiz, Arlete Zagonel Serafini, Beatrice Mora, Cíntia B. Marinoni Veiga, Cleonice de Sales Forastiero, Daisi Maria Mora Ayoub, Eliane Mara Alves Chaves, Isabel Cristina Hierro Parolin, Jacqueline Andréa Glaser, Laura Monte Serrat Barbosa, Lígia Beatriz Ragnini de Paula, Loriane de Fátima Ferreira, Luciana Sampaio Ferraz Coelho, Maria Luiza da Silva, Regina Bonat Pianovski, Rita de Cássia Uhle, Simone Carlberg, Sonia Maria Gomes de Sá Küster. O pensamento organizado pelo grupo foi complementado com as reflexões de Laura Monte Serrat Barbosa.

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