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Revista Psicopedagogia

Print version ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.27 no.82 São Paulo  2010

 

RESENHA

 

A escrita ortográfica na escola e na clínica: teoria, avaliação e tratamento

 

 

Resenha: Maria Célia Malta CamposI; Rosa Maria Junqueira ScicchitanoII

IDoutora em Psicologia Escolar pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Psicopedagoga clínica, assessora escolar para metodologia de ensino e dificuldades de aprendizagem. Pesquisa e atua na formação docente em oficinas de jogos
IIPsicopedagoga. Especialização em Educação Especial, Universidade Católica de Louvain, Bélgica; Mestrado em Edu-cação Especial, W.C.U., Carolina do Norte, U.S.A; Doutorado em Psicologia, Universidade de São Paulo; Professora da Universidade Estadual de Londrina

Resenha do livro: Moojen SMP. A escrita ortográfica na escola e na clínica: teoria, avaliação e tratamento. São Paulo:Casa do Psicólogo;2009.

Correspondência

 

 

Sonia Moojen é fonoaudióloga e psicopedagoga, colaboradora bastante ativa na seção Rio Grande do Sul, desde a sua fundação, como também muito tem contribuído como conselheira na ABPp Nacional. Agora ela nos oferece uma obra que expressa sua longa e profícua dedicação ao tema da aprendizagem da leitura-escrita. Desde 1982, Moojen dedica-se a essa área de aprendizagem, sendo que, em 1985, já publicava pesquisa sobre o delineamento do perfil ortográfico individual e coletivo de escolares com base no teste do Ditado Balanceado, por ela formulado.

Em um momento em que as mais variadas formas e instâncias de avaliação das aprendizagens dos alunos são realizadas no país, sendo valorizadas como essenciais para a melhoria da qualidade do ensino, Moojen traz a público a construção desse instrumento de avaliação da ortografia, cuidadosamente elaborado e normatizado para nosso país, tão carente de testes próprios, particularmente de testes de linguagem.

Além de poder usar um bom instrumento de medida, fazer a análise dos erros de escrita é imprescindível para o entendimento dos processos linguísticos subjacentes e para o planejamento de estratégias de trabalho. Porém como proceder? Quais seriam os obstáculos a serem vencidos a cada etapa da escolaridade, no campo da escrita ortográfica? Quais erros mereceriam atenção prioritária, sob quais critérios? Tendo em vista sua compreensão de que essas referências de trabalho são muito importantes para professores e psicopedagogos, Sonia Moojen organizou um modelo de classificação dos erros na escrita que tivesse aplicabilidade e agilidade tanto no trabalho clínico como no trabalho em sala de aula.

Composta por 12 capítulos, a obra encontra-se organizada em torno de três eixos, como indica o seu título e, por isso, poderá servir a vários interesses. Os quatro primeiros capítulos apresentam teorias sobre a linguagem escrita e, neles, os leitores que procuram conhecimentos teóricos sobre aprendizagem da linguagem escrita, sua avaliação e ensino, terão contato com os modelos mais atuais, tendo como ponto central e integrador a caracterização do que seja erro ortográfico, numa visão de processo e de evolução da aprendizagem da ortografia. De fato, as considerações sobre o erro, particularmente sobre o erro ortográfico, no capítulo 2, mobilizam no leitor importantes reflexões sobre o ensino da ortografia na escola. O capítulo 3 - Classificação dos erros na escrita - traduz a experiência pessoal e profissional da autora, no trabalho clínico e no trabalho docente com professores, psicopedagogos e fonoaudiólogos.

Aqueles que procuram meios seguros e cientificamente comprovados para efetuar a avaliação das aquisições dos alunos em ortografia serão gratificados, no capitulo 5, com extensa e detalhada explanação do instrumento avaliativo criado e normatizado pela autora. O estudo de Moojen permite comparar os resultados coletivos e/ou individuais com os grupos normativos extraídos da população escolar de escolas públicas e privadas da cidade de Porto Alegre. Desse modo, é possível aferir-se o grau de discrepância dos resultados com relação ao esperado, de acordo com série escolar e classe social e, assim, identificar com maior segurança os casos que realmente configuram um problema de aprendizagem e merecem atenção mais intensa e específica.

Nos capítulos 6, 7 e 8, a autora oferece estudos de caso, nos quais demonstra como analisa os resultados da aplicação do teste e como define o perfil ortográfico de uma turma ou de um aluno em particular. Inclui a discussão de um caso de dislexia, sendo de grande valor sua discussão acerca desse transtorno, tão divulgado e frequentemente mal compreendido. O acompanhamento dos progressos dos grupos de alunos e dos casos individuais também é descrito com base nesses casos concretos.

Por último, o leitor que está à procura de recursos para promover as aprendizagens na ortografia também encontrará respostas, na terceira parte da obra. Os capítulos 9, 10 e 11 são dedicados a exemplificar estratégias de trabalho específicas, de acordo com os tipos de erros ortográficos, os quais a autora agrupa em três categorias: dificuldades derivadas da conversão fonema-grafema, problemas oriundos das regras contextuais da escrita e aqueles derivados das irregularidades da língua.

Na dimensão do tratamento das dificuldades ortográficas oriundas da conversão fonema-grafema, Moojen pondera que as relações e correspondências entre fonemas e grafemas constituem as bases de qualquer escrita alfabética e, por isso, têm grande relevância para a consciência ortográfica. Essa importância justifica maior atenção para essas aquisições, mediante maior estímulo da oralidade, com uso de brincadeiras e experimentações com a linguagem oral. Apesar de reconhecer a relevância do aspecto fonológico, a autora ressalta que não advoga a adoção de um método de alfabetização essencialmente fônico, tendo em vista a contribuição de outros aspectos linguísticos para a aprendizagem da escrita.

Com amplos fundamentos teóricos e sólido enraizamento na prática, Moojen aborda, de modo equilibrado e judicioso, questões suscetíveis a intensas divergências em meios acadêmicos e educacionais. Uma delas, e talvez a mais sensível, diz respeito aos princípios metodológicos derivados da abordagem psicogenética ou da abordagem fonológica. Não encarando a questão como dilema ou como uma dicotomia (como querem as facções pró e contra essas abordagens), a autora propõe a existência de uma interação entre a consciência fonológica, como aspecto básico da linguagem e da escrita alfabética, e a construção das hipóteses sobre a escrita. Tal posição é fundamentada em uma ampla pesquisa, coordenada por Moojen e realizada por uma equipe multidisciplinar, no ano de 2000. Os objetivos, a metodologia e seus resultados encontram-se detalhados no capítulo final da obra e permitem compreender a mútua determinação entre habilidades derivadas da consciência fonológica e dos níveis de hipóteses da escrita. Moojen classifica as tarefas mais fáceis e as mais difíceis no nível do fonema e da sílaba e identifica que o progressivo domínio da escrita alfabética influi no conhecimento metafonológico e, ao mesmo tempo, é beneficiado por ele.

A compreensão essencial que se apreende da leitura de seu livro é que a aprendizagem da escrita ortográfica é um processo evolutivo que integra diversos fatores interdependentes, desde a base neurológica e a consciência fonológica até os fatores ambientais, como classe social e metodologia de ensino, onde o erro ortográfico assinala a existência de etapas no domínio da norma.

É importante destacar a grande contribuição do trabalho de Sonia Moojen para o Diagnóstico Psicopedagógico e, de modo especial, para o diagnóstico diferencial entre Dificuldades de Ortografia, Disortografia e Transtornos Severos de Aprendizagem da Leitura e da Escrita ou Dislexia.

Certamente, é um livro para quem quer fundamentar e enriquecer sua prática pedagógica ou psicopedagógica.

 

 

Correspondência:
Maria Célia Rabello Malta Campos
E-mail: mcmalta@usp.br

Artigo recebido: 3/4/2010
Aprovado: 29/4/2010

 

 

Resenha realizada no Consultório particular das autoras

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