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Revista Psicopedagogia

Print version ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.28 no.85 São Paulo  2011

 

ARTIGO DE REVISÃO

 

Avaliação da produção sobre leitura crítica no PsychINFO

 

Evaluation of production about critical reading in the PsychINFO

 

 

Carmen Lúcia Hussein

Doutora em Psicologia do Escolar no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil

Correspondência

 

 


RESUMO

Trata-se de meta-análise sobre o ensino de Leitura Crítica, tema de 34 trabalhos arrolados no PsychINFO (2002/2008). A análise do material demonstrou que os títulos estão de acordo com as regras do discurso científico; há predomínio de trabalhos teóricos com relação ao de pesquisas; é uma subárea carente de pesquisa, havendo dispersão de dados em relação a tipo de participantes, temas e tipos de pesquisa.

Unitermos: Bibliometria. Leitura. Comunicação e Divulgação Científica.


SUMMARY

The issue is a meta-analysis of the teaching of critical reading, content of 34 papers of the bases PsychINFO (2002/2008). The analysis of the material shows: the titles are in accord with the rules of the scientific discourse; there are more theoretical papers than applied research; clearly requiring further inquiry into the: several kinds of subjects, themes and type of research.

Key words: Bibliometrics. Reading. Scientific Communication and Diffusion.


 

 

INTRODUÇÃO

Educadores endossaram o que Dewey1 descreveu como o objetivo central de aprendizagem, o pensamento. Assim, propôs a necessidade de se desenvolverem habilidades complexas dos alunos na educação, como a de pensamento crítico, para formar o cidadão e atender ao mundo do trabalho2.

Nos últimos quarenta anos, o trabalho de psicologia cognitiva e seu desenvolvimento têm ajudado a clarificar o modo como o homem pensa e como o seu pensamento se desenvolve2.

O conceito de Tierney et al.3 e Gray4 é que a Leitura Crítica possibilita julgar as bases do pensamento ou, como afirma Dewey1, manter o estado de dúvida ou inquérito sistemático e prolongado.

Wade5 e Allegretti & Frederick6 apontam algumas habilidades envolvidas no pensamento crítico: a) formular questões, b) avaliar os argumentos, c) examinar evidências, d) analisar pressupostos e vieses, e) evitar super-simplificação e falácias.

Alguns autores, usando as categorias de Bloom7 definem a Leitura Crítica como focalizada no nível cognitivo de avaliação. Já Gray4 define o pensamento crítico em face de textos como a habilidade de avaliar os argumentos do texto pelos alunos.

Outros autores8,9, usando as categorias de Bloom7, definem a Leitura Crítica como uma aplicação do pensamento crítico ou como aproximadamente relacionada ao pensamento crítico.

Assim, a leitura crítica tem sido classificada em vários estudos como aplicação do pensamento crítico em face de textos. Além disso, as habilidades de pensamento crítico descritas nos textos dessa área são semelhantes às habilidades em textos de Leitura Crítica10-13. Dessa forma, no presente estudo, considerou-se o pensamento crítico em face de textos e Leitura Crítica como sinônimos.

Hussein14 define a Leitura Crítica como a habilidade da criança em verificar a adequação dos "fatos imaginativos" apresentados pelo texto em relação ao seu repertório de experiências passadas. Essa autora utilizou o Teste de Criticidade Textual com as seguintes categorias: Justificativa Textual, Justificativa baseada nas experiências e Elaboração.

Assim, encontram-se na literatura de área alguns trabalhos como os de Al´Shara´h e Mohammad12 e de Okibayashi13, que verificaram o efeito do treino de Leitura Crítica nessa habilidade. Em nosso meio, acham-se pesquisas de Hussein14, com crianças de 5ª série; os de Hussein15-17 e Sampaio18, com alunos universitários e de pós-graduandos, usando questões e audiência da professora demonstrando a eficiência do treino de Leitura Crítica.

Fehring & Green19 afirmam que leitura crítica, como tal, emergiu no final dos anos oitenta do século passado, mas já no começo da década seguinte teve grande expansão, sendo que novas dimensões e práticas têm surgido. Para desenvolver a leitura crítica deve-se cuidar deste aspecto desde o início da aquisição deste comportamento. Há hoje uma ampla variedade de tecnologias, estratégias e materiais para desenvolver esta competência. Todavia, há ainda carência de evidências. Além disso, mesmo contando com evidências em outros países, é preciso pesquisar e reavaliar a eficiência no meio brasileiro.

A leitura crítica é uma área relativamente recente de pesquisa científica e que tem merecido a atenção de vários especialistas de várias ciências: psicólogos, pedagogos, matemáticos e filósofos20. Como as demais áreas de conhecimento, é preciso analisar a produção gerada nessa subárea.

São relevantes estudos sobre produção científica, porque dão um mapeamento das contribuições, necessidades e déficits nas diversas áreas de conhecimento. São os textos os produtos que apresentam maior relevância para o evoluir do conhecimento. A pesquisa de metaciência, especialmente em áreas relevantes e de grande interesse para o evoluir do próprio conhecimento, se faz necessária21.

É pela análise metacientífica desta produção que se pode avaliar a profundidade e a amplitude do conhecimento disponível, ter uma perspectiva das tendências, do que precisa ser pesquisado, do como, do que, do quem, do porque e outras questões similares abrangendo o saber-fazer-poder ciência enfocando a leitura crítica.

A avaliação científica em Leitura Crítica em estudos de metaciência é importante e necessária. Apesar de essa área ser enfatizada pelos educadores, ela é carente de pesquisas e também requer uma avaliação científica de sua produção nas bases de dados.

Assim, o presente trabalho avalia esta temática: a produção científica relacionada à leitura crítica em todos os níveis de ensino. Seus objetivos específicos foram: a) analisar os títulos dos trabalhos apresentados, b) a tipologia dos participantes c) tipos de trabalho, d) temática enfocada nos trabalhos e e) descrição das pesquisas localizadas.

 

MÉTODO

Material

Os acervos pesquisados foram as bases de dados: o PsychINFO, que é uma base e o levantamento na base de dados recorreu às palavras-chave "Teaching and Learning Critical Reading". Também foi definido o intervalo de tempo de 7 (sete) anos, ou seja, artigos, livros e teses arrolados na base nos anos de 2002 a 2008.

Procedimento

Considerando-se os objetivos da pesquisa, foram definidas as categorias de resposta quanto à tipologia dos participantes e temáticas enfocadas nos trabalhos.

Para as categorias mais objetivas, que implicavam em simples contagem, utilizou-se a avaliação feita por um único juiz, com avaliação e reavaliação até a obtenção de 100% de acordo, em relação a todos os trabalhos. Quanto às categorias mais complexas, utilizou-se o mesmo procedimento acima em relação também a todos os estudos, até a obtenção de 75% de acordo.

A definição de categorias mais objetivas está apoiada em trabalhos de Witter22-24.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O levantamento no banco de dados evidenciou um total de 170 trabalhos. Porém, muitos trabalhos foram eliminados pelo uso do pensamento crítico como elemento acidental e não essencial do trabalho. Portanto, apenas 20% dos trabalhos foram selecionados, sendo o total de 34 trabalhos. Este levantamento evidenciou artigos teóricos, pesquisas, livros e teses quanto às palavras chave utilizadas.

Ao escrever um documento, o título é um dos aspectos que devem ser focalizados pelo autor. O título demonstra ao leitor a apreensão da organização e a importância de um texto, segundo o manual de publicação da APA. O título resume a ideia principal do trabalho, apresentando as variáveis ou contexto teórico da investigação de maneira simples (APA). A base de dados da CAPES tem recomendado para um bom título, o número de 210 bits, duas linhas ou aproximadamente 12 vocábulos, como uma boa amplitude.

Um bom título deve ser uma síntese do texto, um hiper-resumo, que deve reproduzir semanticamente o que há de mais importante no trabalho, sem recorrer a expressões fantasia22.

As características dos títulos foram analisadas sob dois aspectos: número de vocábulos e de linhas. Houve grande variação entre o número de vocábulos do título, sendo que o maior foi composto por 23 vocábulos e o menor por cinco vocábulos.

O trabalho escrito por Hansen e Hem25 intitulado por "An important book on forty-two selected frameworks for thinking and learning: review of frameworks for thinking. A handbook for teaching and learning" é o de maior número de vocábulos. Os autores apresentaram uma excelente contribuição para o conhecimento do leitor e quadros de diferentes referências e complementares ao pensamento. De acordo com os autores, o livro pode ser um instrumento valioso para uma audiência diversa, incluindo alunos que necessitam compreender diferentes formas de pensamento, sendo também útil para professores, técnicos que desenvolvem currículos, pesquisadores e para aqueles que realizam política educacional.

O trabalho de menor número de vocábulos no título foi "Creative drama in the classroom"26, que sugere que o drama é um modo de aprendizagem que promove um sentido de sequência de estória e sua caracterização e que incentiva os alunos a se envolverem com pensamento abstrato e linguagem. Este artigo também trata a questão de que o drama pode melhorar a leitura e habilidades de pensamento crítico textual.

A média de vocábulos nos títulos foi de 11,3 e o número de vocábulos foi categorizado na Tabela 1.

 

 

Foi realizado o teste de homogeneidade entre as categorias de número de vocábulos, tendo por Ho : X2 = 0 e Ha : X2 0, estabelecido o nível de significância de 0,05. Assim, obteve-se X2o = 1,25, (X2c = 7,82), demonstrando que não houve diferenças significantes entre as categorias. Houve predominância dos títulos entre 8 e 10 vocábulos (32,4%). A segunda categoria com maior frequência foi a que incluía títulos de 14 ou mais vocábulos (26,5%), seguido da categoria de 11 a 13 vocábulos (23,5).

Para saber se houve diferença estatisticamente significante entre os títulos que estiveram dentro do número de vocábulos recomendado e os que não estiveram, foi realizado o teste do qui-quadrado entre a soma das frequências ocorridas nas categorias 5-7, 8-10 e 11-13 e o total da categoria 14 ou mais vocábulos. O teste do qui-quadrado resultou em X2o = 4,64, como X2c = 3,84 (ngl = 1, p < 0,05), concluiu-se que tem significância estatística a maior concentração em títulos dos padrões recomendados.

No presente estudo, o número médio foi de 11,3, portanto, dentro do padrão esperado. Este resultado confirma os estudos de Witter27 sobre o ensino da leitura e o comportamento de ler na Universidade; e de outro trabalho de Witter22, na área de compreensão de Leitura, e também o de Carelli28, nas dissertações e teses de leitura arroladas no Dissertation Abstracts International. Essa mesma tendência ocorre no estudo de Hussein de metaciência sobre o ensino de Leitura Criativa levantados no PsychINFO17.

Quanto ao número de linhas, todos os trabalhos ocorreram na categoria uma/duas linhas, portanto, dentro do desejável27.

Pode-se concluir que, de modo geral, os títulos apresentaram as características esperadas em termos de comunicação científica.

Os dados foram analisados quanto aos tipos de participantes a que os trabalhos se referiam. Foram definidas seis categorias levando-se em consideração a combinação idade-escolaridade.

Um exemplo da categoria Não Cabe é o trabalho de Hopkins29, apresentando um estudo de ensino e aprendizagem sobre poesia multicultural em estudantes. O seu objetivo foi investigar as interpretações cognitivas e afetivas e reinterpretação de poesia multicultural em um ambiente de apoio ambiental, para incentivar o significado desta na consciência das pessoas.

Para ilustrar a categoria de Criança-primeiro grau pode ser citado o trabalho de Al-Shara'h e Mohammad12, que estudaram o efeito do treino de Leitura Crítica sobre o desempenho na escrita em 140 crianças distribuídas em grupo experimental e de controle. Os resultados favoreceram o grupo experimental.

Um estudo que contou com Adolescente-2º grau é o de Hamilton30, que planejou um estudo quasi-experimental para estudar o efeito dos treinos de Leitura (centrado no estudante e modelo tradicional) sobre o desempenho em compreensão literal e habilidades de pensamento crítico. O grupo experimental consistiu de 48 alunos, e o de controle, de 53. Os resultados não apresentaram diferenças significantes entre os modelos instrucionais sobre o desempenho em compreensão literal e pensamento crítico.

Os dados da Tabela 2 evidenciam que as categorias com maior frequência foram Criança-1º grau, que teve frequência sete (20,6%) e vale notar que Não Cabe ficou com 12 registros (35,3%). Não foi feita análise estatística devido ao predomínio de caselas com N < 5.

 

 

Pode-se concluir do trabalho aqui relatado que os pesquisadores dessa área têm usado mais Crianças -1º grau em seus trabalhos. Essa ocorrência foi encontrada em Compreensão de Leitura, no trabalho de Witter22 e em Leitura Criativa no estudo de Hussein17.

Em face da relevância e valor para Ciências de contar com dados decorrentes de pesquisas, foi feita uma análise classificando os trabalhos em duas categorias Teóricos e Pesquisa. No primeiro caso, foram incluídos os trabalhos sobre um determinado tema que foi tratado sem apresentação de dados pelo autor, ou seja, explanações teóricas foram feitas pelo autor, reflexões sobre o assunto e comentários sobre a matéria.

Exemplo de trabalho Teórico é o de Richards31, o qual afirma que professores de escola média reconheceram a importância da literatura histórica com uma perspectiva crítica sobre a leitura de estudantes. Também afirma que os professores apóiam as habilidades de alfabetização crítica sobre os estudantes e oferecem todas as dimensões de um programa de arte e linguagem padrão. Encorajam ainda os alunos a reconhecerem conexões entre sua vida e a vida dos personagens da estória real ou imaginária. Ao mesmo tempo, os professores ajudam os alunos a explorarem o texto, a fim de descobrirem vieses possíveis do autor e refletirem sobre como realizar mais ação social para criar um mundo mais solidário. A estratégia descrita neste artigo ajuda os alunos a incluírem questões de justiça social e desigualdade, mas não há apresentação de dados.

Outro trabalho categorizado como Teórico é o de Israel et al.32, que afirmam que a leitura pode incorporar pensamento de alto nível que promove aquisição acadêmica para aprendizes talentosos. Para isso, os professores devem fornecer instrumentos para criar alfabetização colaborativa, em que os alunos podem gerar ideias de modo independente, discuti-las e então desenvolver novos conceitos. Aos professores cabe ajudar o aluno a desenvolver e a enriquecer a leitura, a escrita, a fala e a ter experiências de pensamento para todos os aprendizes. Portanto, espera-se que estimulem a criatividade para aumentar o pensamento crítico e desenvolver uma compreensão mais rica.

Em Pesquisa foram considerados os artigos com dados para responderem a questões ou objetivos de pesquisa.

Um exemplo de Pesquisa foi o trabalho de Okibayashi13, que é um estudo experimental que teve como objetivo examinar se a orientação fornecida seguida de discussão em grupo melhoraria a habilidade de Leitura Crítica de artigos de Psicologia entre universitários. Na situação 1, a orientação dada foi fornecida a 40 universitários, enquanto que, na situação 2, combinou a orientação e a discussão em grupo de 44 alunos. Os resultados sugerem que a habilidade de Leitura Crítica é melhor desenvolvida quando a orientação é combinada com a discussão de grupo.

Outro exemplo de Pesquisa é o trabalho de Richards33, que encontrou diferenças nos tipos de instrução de Leitura fornecidos aos leitores talentosos quando comparados aos leitores médios. Um questionário foi aplicado a 416 professores de escola pública e particular no ensino fundamental. Os resultados indicaram que os professores usaram diferentes práticas de instrução com escolares talentosos e médios. Os dados também evidenciaram que alguns professores forneciam aos leitores talentosos mais experiências diferenciadas de Leitura Crítica com mais frequência do que aos leitores médios.

Os dados apontados na Tabela 3 indicam que em Pesquisa foram feitos 10 registros e em trabalhos Teóricos, 24. Para verificar se os tipos de pesquisas tiveram diferença significante, recorreu-se ao teste de X2, tendo por Ho : H2o=zero e Ha : X 2 0, com nível de significância de 0,05, obtendo-se o X2o = 5,76, X2c = 3,84, ou seja, é significante a diferença ocorrida entre as categorias trabalhos Teóricos (70,6%) e Pesquisas (29,4%), estando os autores privilegiando na sua produção textos que não incluem a apresentação de dados decorrentes de pesquisa.

 

 

A pesquisa de Witer24 apresenta resultados semelhantes ao trabalho ora relatado nas análises dos periódicos da área de educação no Brasil e na Venezuela, demonstrando o predomínio de trabalhos teóricos ao invés de pesquisas.

Este estudo apresentado ressalta a defasagem do conhecimento científico na subárea de Leitura Crítica, uma vez que, já em 1999, Witter22, ao analisar a produção em compreensão de leitura, encontrou o predomínio em pesquisa e que o delineamento é significantemente mais sofisticado (experimento). Isto se justifica por ser a criticidade textual uma subárea de conhecimento muito recente e a de compreensão textual uma subárea mais antiga e desenvolvida. Também essa mesma autora encontrou, em 2005, na análise da produção científica sobre Leitura no Reading Research Quarterly (2000-2002), a ausência de diferenças entre trabalhos teóricos e de pesquisa, parecendo ser a pesquisa não tão relevante em relação ao total dos trabalhos achados. Essa última tendência foi encontrada por Hussein17 em seu estudo de meta-análise em Leitura Criativa.

Os trabalhos também foram tabulados quanto ao tema que enfocaram. Inicialmente, a tabulação de temas resultou em 19 categorias. Porém, várias categorias tinham ocorrência muito baixa, o que implicou na necessidade de agrupá-las. O resultado está apresentado na Tabela 4.

 

 

Como exemplo de Treino e desenvolvimento de Leitura Crítica, temos a pesquisa de Hsu34, que demonstrou que o ensino de conferência dá aos alunos um ganho de conhecimento por meio de aprendizagem transformativa e fornece um fórum para discussão e elaboração de pensamento crítico. Observadores olharam as atividades de interação entre professores e alunos em conferências clínicas. Os achados da pesquisa indicaram que das seis questões de taxionomia, as questões de baixo nível foram as mais perguntadas pelos professores de faculdade no ensino de conferência.

Como exemplo da categoria Leitura Crítica e Aprendizagem de Linguagem, tem-se o estudo de Nunez-Mendez35, que investigou como as relações sociais e questões de poder são importantes para desenvolver a educação de linguagem crítica. Essa autora combina os elementos de aprendizagem da linguagem com vários aspectos da consciência social, incluindo multiculturalismo, questões de gênero, poder institucional e raça. O texto tenta avaliar, explicar e melhorar as práticas educacionais correntes em vários ambientes de aprendizagem sobre o mundo.

Outro exemplo é o de Varnhagem & Digdon36 sobre o tema Diversos, que verificaram se o módulo de aprendizagem por computador ajuda a compreender e a criticar as pesquisas. Os resultados demonstraram que os estudantes têm atitudes positivas para o módulo e acreditam na melhoria de sua aprendizagem. Também apontaram que o uso do módulo foi correlacionado com a melhor aprendizagem de avaliações de pesquisas empíricas.

Outro exemplo é o de Linder et al.37 sobre o tema Leitura Crítica e Escrita, que descreveram o resultado de uma intervenção em sala de aula em 2 salas de quarto ano, onde os estudantes trabalharam em pares, no período de 2 semanas, na pesquisa. O objetivo foi demonstrar o poder da escrita colaborativa e informacional sobre a escrita de estudantes. Os achados apontaram que eles aprenderam como escrever prosa de notas e que seu engajamento no processo de escrita foi alto.

Pode-se citar como exemplo da categoria Consciência Crítica Multicultural o estudo de Armstrong & dale38 que propõem desenvolver a pedagogia de alfabetização coerente e apresentam a definição do pensamento crítico de Paulo Freire. De uma perspectiva teórica-crítica, os autores acreditam que é mais necessário ajudar os aprendizes adultos a se tornarem auto-suficientes em uma economia moderna e dinâmica. Pensamento crítico é definido por Freire, juntamente com a educação vocacional, como o permitir aos indivíduos desenvolverem seus direitos ontológicos e a se tornarem conscientes das forças sociais e históricas.

O tema mais focalizado foi Treino e Desenvolvimento de Leitura Crítica (30,7%), seguido de Leitura Crítica e Aprendizagem de linguagem, que apresentou a mesma ocorrência da categoria Diversos (17,9%) e, em terceiro lugar, Leitura Crítica e Escrita (12,8%) e as demais tiveram pouca frequência.

Este estudo ora apresentado confirma o trabalho de Witter24, que encontrou nas análises dos periódicos da área de Educação no Brasil e Venezuela, uma grande dispersão de temas. Também ocorre isto no estudo de Witter & Feijiwara39, que acharam que os temas tratados em Ensino de Ciências ocorreu também essa tendência como também no trabalho de Hussein17 em Leitura Criativa. Isto parece ser indício da necessidade de um maior planejamento de pesquisas que explorem mais sistematicamente um dado tema e a necessidade de trabalhos continuados de um determinado tema nessa área.

Como em várias categorias, a ocorrência foi menor que cinco, também não ficou viável a análise estatística pelo qui-quadrado.

Foi feita a descrição sintética das 10 pesquisas localizadas, as quais se encontram apresentadas na Tabela 5.

Pode-se apontar por meio da Tabela 5 que a temática mais enfocada nas pesquisas foram Treino e Desenvolvimento de Leitura Crítica (30%) e Diversos (30%). Ainda pode-se concluir por meio dessa descrição que o tipo de delineamento mais usado foi o Experimental (40%) e Levantamento (30%). Quanto à análise de dados, foi usada a análise quantitativa em 60% e o restante foi análise qualitativa (40%). Em relação à tipologia dos participantes, encontrou-se como mais frequente as categorias Estudantes universitários (40%) e Adultos (20%).

Os dados aqui apresentados permitem concluir que, de um modo geral, esta subárea de pesquisa em leitura é carente de pesquisa, havendo dispersão de dados em relação a tipo de participante, temas e tipo de pesquisa.

Os dados apresentados acima confirmam os encontrados na avaliação da produção em Leitura Criativa realizado por Hussein17.

Os dados nessa pesquisa sugerem que a subárea Leitura Crítica, em que há o predomínio de trabalho Teórico, está menos avançada cientificamente do que a Leitura Criativa, em que não há diferenças entre trabalho Teórico e Pesquisa. Também os resultados indicam que a subárea Leitura Crítica está menos desenvolvida do ponto de vista da ciência do que a Compreensão de Leitura, em que há o predomínio de Pesquisa.

O que pode justificar esses resultados encontrados é que tanto a Leitura Crítica como a Leitura criativa são as habilidades mais complexas de Leitura. Supõe-se que o leitor primeiramente já tenha adquirido as habilidades de Compreensão Textual, seguida de Criticidade Textual. Assim, a Leitura Criativa é o mais alto nível de Leitura vindo após a Leitura Crítica14. Fazem-se necessárias mais pesquisas sobre esses comportamentos complexos de leitura para a obtenção de algum esclarecimentos para esses comportamentos15,17.

Também se fazem necessárias pesquisas com outras faixas de idade, além da Criança - 1º Grau, como de diferentes temas e tipo de trabalhos. Ainda precisa-se de trabalhos posteriores que investiguem mais sistematicamente e continuamente um dado tema.

Há muito por se conhecer nessa área e assim indicam que há muitos aspectos pouco conhecidos, necessitando, portanto, de pesquisas descritivas e mesmo qualitativas, para que posteriormente possam-se conduzir pesquisas experimentais e com análises quantitativas que permitam esclarecer as variáveis dessa área e que têm poder maior de generalização dos dados.

 

CONCLUSÕES

É possível concluir, mais especificamente que:

• Os títulos dos trabalhos estão dentro dos padrões cientificamente esperados;

• Os tipos de trabalho apontam o predomínio de trabalhos teóricos em relação a pesquisas;

• De um modo geral, o Ensino de Leitura Crítica é uma subárea carente de pesquisa, havendo dispersão de dados em relação a tipo de participantes, temas e tipos de trabalho.

Outros estudos de metaciência são necessários em Ensino de Leitura Crítica consultando-se outras bases de dados, outros periódicos e fazendo-se comparações de periódicos diferentes.

 

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Correspondência:
Carmen Lúcia Hussein
Av. Dr. Francisco de Paula Vicente de Azevedo, 1439
Parque Continental - São Paulo, SP, Brasil
CEP 05325-180
E-mail: chussen@gmail.com

Artigo recebido: 21/2/2011
Aprovado: 12/4/2011

 

 

Trabalho realizado na Universidade de Taubaté, Taubaté, SP, Brasil.

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