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Revista Psicopedagogia

versão impressa ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.29 no.88 São Paulo  2012

 

RELATO DE EXPERIÊNCIA

 

Parceria colaborativa entre fonoaudiólogo e professor: análise dos diários reflexivos

 

Collaborative partnership between speech therapist and teachers: analysis of reflective journals

 

 

Suzelei Faria BelloI; Andrea Carla MachadoII; Maria Amélia AlmeidaIII

IDoutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Especial (PPGGEs) - Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Bolsista CNPq, São Carlos, SP, Brasil
IIDoutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Especial (PPGGEs) - Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); Bolsista FAPESP, São Carlos, SP, Brasil
IIIProfessora Doutora do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial (PPGGEs) - Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, SP, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: A consultoria colaborativa é uma proposta de atuação entre educadores e especialistas, ou seja, entre dois ou mais parceiros que trabalham em conjunto na tomada de decisões, em busca de um objetivo comum. Essa colaboração acopla habilidades desses atores, na tentativa de promover atitudes profissionais independentes, pautadas no desenvolvimento de habilidades para resolução de problema, apoio mútuo e compartilhamento de responsabilidades. Nessa dinâmica, este trabalho partiu de um relato de experiência vivenciada no âmbito da pós-graduação em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos - PPGEEs/UFSCar, em uma disciplina denominada de "Estudos Avançados", no ano de 2009.
OBJETIVO: Descrever e demonstrar, por meio dos diários reflexivos elaborados pela professora, o trabalho em parceria entre um especialista - a Fonoaudióloga - e o professor da escola regular, diante do processo inclusivo de uma criança com necessidades educacionais especiais.
MÉTODO: O trabalho foi desenvolvido numa escola privada do interior de São Paulo, os dados foram coletados do diário reflexivo da professora, durante três meses de encontros quinzenais, e as análises foram qualitativas.
RESULTADOS: Os dados revelados pelos diários reflexivos da professora pontuam que a parceria, para o trabalho com crianças com necessidades especiais, torna-se uma valiosa perspectiva para auxiliar e colaborar com o professor da escola regular frente às dificuldades de linguagem e comunicação.
CONCLUSÃO: A parceria pode ocorrer de forma facilitadora, ao visar às dificuldades de comunicação, linguagem e fala, demonstrando que a consultoria colaborativa pode potencializar a ação da professora e envolver todo o contexto educacional.

Descritores: Fonoaudiologia. Comportamento cooperativo. Educação especial. Linguagem.


SUMMARY

INTRODUCTION: A collaborative consultation is a proposal of action between educators and specialists, or between two or more partners that work together in making decisions, seeking a common goal, being able to engage skills of these actors, in an attempt to promote independent professional attitudes, guided the development of skills for problem solving, mutual support and shared responsibility. In this dynamic, this study came from an account of lived experience within the graduate Special Education, Federal University of Sao Carlos - PPGEEs / UFSCar in a course called "Advanced Studies", in 2009.
OBJECTIVE: To describe and demonstrate, through the reflexive diaries prepared by the teacher, working in partnership between a specialist teacher, speech therapist and the regular school, before the inclusive process of a child with special educational needs.
METHODS: The study was conducted in a private school in the interior of Sao Paulo, the data were collected from the teacher's reflective diary for three months of biweekly meetings and analyzes were qualitative.
RESULTS: Data revealed by the teacher's reflective journals punctuate the partnership to work with children with special needs, it becomes a valuable perspective to assist and cooperate with the regular school teacher facing the difficulties of language and communication.
CONCLUSION: The partnership may occur facilitator, by targeting the difficulties of communication, language and speech, demonstrating that collaborative consultation may potentiate the action of the teacher and involve the whole educational context.

Keywords: Speech, Language and Hearing Sciences. Cooperative behavior. Special education. Language.


 

 

INTRODUÇÃO

A escola pode ser considerada o lócus primordial para o desenvolvimento cognitivo, linguístico, social e cultural de um sujeito. Por ela transita uma tarefa desafiadora de compreender a diversidade e proporcionar planos de ação adequados, que visem atender o aluno em suas peculiaridades, no intuito de estabelecer um processo de ensino-aprendizagem cada vez mais adequado.

A palavra "colaboração" pode ser definida, de acordo com dicionário da Língua Portuguesa, como "Ato ou efeito de colaborar; ajudar, auxiliar: trabalhar em colaboração". Percebe-se que o conceito é amplo, contudo não há como negar que a colaboração, por excelência, é um processo social e de interação, que pode ser desencadeado por diversos motivos e de diferentes formas1.

A "consultoria colaborativa" é um estilo de interação entre dois ou mais parceiros que trabalham em conjunto na tomada de decisões, em busca de um objetivo comum2. Essa colaboração acopla habilidades de educadores e especialistas, na tentativa de promover atitudes profissionais independentes, pautadas no desenvolvimento de habilidades para resolução de problema, apoio mútuo e compartilhamento de responsabilidades2.

Várias pesquisas nacionais e internacionais relatam que a consultoria colaborativa é uma proposta significativa para o trabalho de um especialista junto com professor e crianças com necessidades especiais dentro do contexto escolar3-6.

A consultoria colaborativa deve ser desenvolvida em etapas, tais como: encaminhamento: o professor encaminhará o aluno que considera necessitar de auxílio, assim o consultor poderá explorar os aspectos a serem trabalhados; discussão inicial com o professor; observação da classe, com o propósito de auxiliar o trabalho conjunto na busca de soluções dos problemas de comportamento e ou aprendizagem, e dos pontos positivos e negativos utilizados pelo professor, para estabelecer as interações necessárias entre especialista e professor e, posteriormente, entre professor e aluno; avaliação e encaminhamento dos estudantes; plano de intervenção, neste ponto, o consultor deve rever todos os outros encaminhamentos: a fala com o professor; a observação da criança e da classe; as possibilidades de discussões entre os envolvidos no processo; a avaliação funcional; os problemas e os possíveis passos para as soluções. Com bases nessas informações, e com um plano estratégico estabelecido para o aluno-alvo, pode-se desenvolver um plano para intervenção; monitorar a intervenção, a avaliação deverá ser formativa e acumulativa, ou seja, baseada no processo para determinar as metas da consultoria6.

Sendo assim, para efetivação do processo, torna-se importante a relação de colaboração, destacada por seis categorias que podem influenciar as relações de cooperação, como demonstra o Quadro 17.

No âmbito escolar, todos esses aspectos podem ser potencializados, no entanto, torna-se essencial que ocorra a existência de um objetivo comum; a equivalência entre os pares; a participação de todos no processo; e o compartilhamento de responsabilidades e recursos e o caráter fundamentalmente voluntário.

No Brasil, algumas pesquisas foram desenvolvidas com o enfoque da consultoria colaborativa; uma delas8 envolveu crianças do ensino fundamental de 1ª a 4ª série e alunos com deficiência intelectual, compreendeu apoio sistemático às professoras no que se refere a planejamento, reflexões sobre as práticas educativas, reuniões com as famílias, reuniões com os demais membros constituintes da escola e estudos dirigidos. O estudo possibilitou o desenvolvimento pessoal e profissional dos professores.

Outro estudo envolveu o apoio psicopedagógico nas práticas de leituras, focando um aluno com hemiparesia espástica, obteve resultado satisfatório nas escolhas das estratégias de leitura para estimular a cognição e as habilidades linguística do sujeito9.

Com o enfoque nas habilidades comunicativas e de linguagem, cabe apresentar um estudo internacional10, que expõe o envolvimento de fonoaudiólogos utilizando a consultoria colaborativa para trabalhar conjuntamente com os professores nas escolas regulares frente às dificuldades linguagem, articulação, fluência e voz. A Associação Americana de Fala, Linguagem e Audição (ASHA), em 1997, recomendou o trabalho com a consultoria colaborativa, dentro das escolas regulares, para atender os alunos em seus programas individualizados de ensino.

Outro trabalho, desse mesmo autor, demonstrou que a parceira entre fonoaudiólogos e professores de escolas regulares na identificação de problemas e desenvolvimento de intervenções voltadas aos aspectos de linguagem e comunicação no ambiente natural do aluno pode favorecer a competência comunicativa e promover sucesso10.

A fonoaudiologia e sua relação com a escola balizam relações históricas demarcadas, que estabelecem o marco fono-escola, estreitamente ligado ao processo educacional entre os anos 1920 e 1940. Berberian11 relata que este encontro histórico, entre a Educação e a Fonoaudiologia, deu-se numa época de controle sistemático da língua pátria, nos bancos escolares, para neutralizar a influência advinda dos imigrantes.

Ramos e Alves12 expõem contribuição do fonoaudiólogo na educação voltada para as pessoas com necessidades especiais, alegando que essa parceria pode ser intensificada a partir da criação de condições favoráveis e eficazes para que as capacidades de cada aluno possam ser otimizadas. Neste contexto de interrelações, a comunicação assume grande importância, uma vez que, quanto mais efetiva, maiores são as chances de inserção do aluno com necessidades especiais no contexto escolar. Desse modo, o aumento da capacidade de comunicação pode ampliar a chance de interação dentro da sala de aula.

Considerando a diversidade dos bancos escolares, torna-se fundamental que parcerias ocorram, na tentativa de proporcionar um processo de ensino-aprendizagem cada vez mais dinâmico e que atenda às demandas de cada criança.

Vale lembrar que os problemas de fala e linguagem são comuns dentro dos contextos escolares, ressaltados em um estudo transversal realizado em uma amostra aleatória de 1.810 escolares de ambos os sexos, matriculados na primeira série de ensino público do estado do Rio Grande do Sul. Nesse estudo, os autores observaram que a prevalência de alteração de fala por volta dos cinco anos de idade foi de 57% e, entre oito e dez anos, 42%13.

Com isso, a fonoaudiologia se insere nesse contexto, envolvendo as questões de linguagem oral e escrita atrelada às ações do educador, que ao planejar suas estratégias de ensino contemple, de forma consciente, as relações necessárias de fala e linguagem.

Vale lembrar que as interações entre sujeito e o meio são cruciais para o desenvolvimento cognitivo e aquisição de um novo conhecimento e, sobretudo, aprender implica sumariamente adquirir conhecimento a partir das relações intra e interpessoais, dentro de um processo de mediação, que pode ser potencializado pela ação do educador.

Assim, por essa perspectiva Vigotiskiana, este trabalho objetiva descrever e demonstrar, por meio dos diários reflexivos elaborados pela professora, o trabalho em parceria entre um especialista - fonoaudióloga - e o professor da escola regular, diante do processo inclusivo de uma criança com necessidades educacionais especiais.

 

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Este trabalho pode ser considerado um relato de experiência com a utilização de estratégias da pesquisa-ação, por meio do diário reflexivo produzido pela professora, como campo norteador das análises.

A pesquisa-ação permite que o sujeito participante se envolva nas transformações, que vão ocorrendo ao longo do processo, de forma crítica-reflexiva, revendo e amadurecendo os processos de escolhas das práticas escolares14.

O campo de coleta configura-se nos diários reflexivos da professora do ensino fundamental de uma escola privada do interior do estado de São Paulo, e suas reflexões frente ao trabalho colaborativo, durante três meses, com um aluno-alvo que apresentava dificuldades de linguagem e comunicação.

O aluno-alvo era do sexo masculino, com 7 anos e 6 meses de idade, denominado para este trabalho como J., componente de uma sala de 25 alunos sem necessidades especiais de uma escola privada. O aluno em questão apresentava dificuldades de comunicação e de linguagem que foram evidenciadas por meio de avaliação com o instrumento Teste de Linguagem Infantil - ABFW, Fonologia, Vocabulário e Pragmática, para verificação dos aspectos fonéticos-fonológicos, de competência lexical do sujeito e dos aspectos funcionais da comunicação, respectivamente. Por essa perspectiva, foi possível observar dificuldade para iniciar e manter um diálogo com coerência; a fala com dificuldade nos sons surdos e sonoros; dificuldades para utilizar a linguagem como recurso comunicativo e de interação com os pares.

A professora da sala regular era formada em pedagogia, com 31 anos de idade e 5 anos de trabalho na mesma escola e com experiência em salas com crianças com necessidades especiais. Aceitou, voluntariamente, participar da proposta.

Primeiramente vale destacar que todos os cuidados éticos foram considerados, somente iniciando a coleta após a aprovação pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de São Carlos - Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, pelo protocolo CAAE 2003.0.000.135-09 e tendo, também, os termos de livre e esclarecimento devidamente assinados pelos responsáveis.

 

MÉTODO

Foi utilizada uma abordagem qualitativa, por meio do diário reflexivo15, como ponto fundamental de análise. Pode-se entender o diário reflexivo como um registro escrito em que a professora anota suas reflexões e questionamentos diante das atividades previamente planejadas com o enfoque no desenvolvimento das habilidades do aluno-alvo.

As etapas percorridas durante o processo en volveram um primeiro momento, em que a consultora/pesquisadora entrou em contato com a professora e explicou o teor da proposta de consultoria colaborativa. A professora se apresentou disposta e sem restrições para envolver-se no trabalho.

Na segunda etapa, foi estabelecido um roteiro de atividades, voltadas às necessidades especiais apresentadas pelo aluno-alvo previamente apontado pela professora. Nessa etapa, a finalidade era facilitar as observações e anotações pela professora para, posteriormente, refletir sobre sua prática.

A terceira etapa envolveu encontros, fora dos horários de aula, com frequência quinzenal, para planejamento e replanejamento das estratégias e atividades a serem realizadas com o aluno-alvo. Os encontros eram dialógicos, discutindo temas trazidos pela professora, ora diante de leituras e discussões de textos referenciais para a área, ora diante das atividades e conteúdos a serem trabalhados no âmbito de sala de aula.

As atividades organizadas envolveram a linguagem receptiva e a linguagem expressiva; problemas de segmentação fonética; problemas de integração e elaboração semântico-sintáxica, tais como atenção, memória e discriminação de sons e letras, além da interação por meio de reconto de história ou sequência lógica voltada para elaboração, planejamento e verbalização do relato.

Na última etapa, ocorreu a análise qualitativa das anotações feitas pela professora frente a cada etapa de atividades, momento em que a professora refletia sobre diversos pontos do trabalho realizado, tais como a necessidade de modificar a estratégia de atuação, as respostas apresentadas pelo aluno-alvo e as interações que ocorriam ao longo das atividades.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No início das interações, a díade professor/especialista realizou encontros pautados em textos para discussão da literatura, na intenção de fornecer um embasamento teórico metodológico para que a professora estivesse instrumentalizada para o desenvolvido do trabalho colaborativo.

Suas colocações dentro dessa etapa inicial foram:

"no início, me senti insegura com a proposta do trabalho conjunto, mas vi que a responsabilidade e a divisão de tarefas vai facilitar meu trabalho e poderei ajudar a desenvolver a fala do meu aluno e também envolver a sala inteira, o que vai até colaborar com outras crianças também."

Observa-se que, embora a professora se apresentasse insegura no primeiro momento, estava disposta a envolver-se no processo e compreendeu que a proposta era voluntária e o trabalho, conjunto. Embora a fonoaudiologia apresente seu enfoque clínico de intervenção, atuar em parceria dentro do contexto escolar traz a proposta do trabalho conjunto, participativo e colaborativo dentro do ambiente natural do sujeito e voltando-se aos aspectos de fala e linguagem10.

De acordo com a professora, as áreas necessárias a serem trabalhadas com o aluno eram linguagem, comunicação e fala. A linguagem pode ser constituída como forma de expressão e permite relacionar-se com outras pessoas, pois envolve significado e conceitos de ideias, sentimentos ou experiências, que são expressos por meio de uma comunicação que tenha um símbolo estabelecido entre significado e significante16.

Assim, as estratégias foram elaboradas na perspectiva Vygotskiana, sociointeracionista, em que o mediador passa a ser o professor. Essa abordagem sociointeracionista concebe o desenvolvimento do sujeito por meio das relações com o outro, levando à internalização de um novo aprendizado a partir da troca e da interação social17. Para esse autor, as características e atitudes individuais estão impregnadas de trocas sociais, que mediadas podem levar ao desenvolvimento do pensamento e da linguagem. Diante disso, envolveu atividades que possibilitou explicitar a influência que o signo linguístico desempenha para a organização cognitiva das funções de atenção, memorização, percepção, regulação verbal. As estratégias simbólicas e coletivas foram privilegiadas nessa proposta de consultoria, pois nessa perspectiva pode ocorrer uma reprodução ou a criação de uma nova relação com a realidade e, por consequência, auxilia no desenvolvimento da linguagem.

Diante disso, o Quadro 2 expressa algumas atividades que foram exploradas em colaboração com a professora.

Observa-se que, em cada atividade, a professora apresentou uma ação reflexiva dentro da estratégia proposta para o aluno. Ao relatar:

"nessa atividade, nas primeiras vezes, o aluno precisou da minha ajuda, porém com a frequência da atividade no cotidiano, observei que ele melhorou e começou a utilizar a comunicação oral para explicar os fatos com mais palavras."

Destaca-se que, ao colocar a atividade rotineira no planejamento de sala de aula, a professora observou que o aluno-alvo começou a iniciar e manter diálogo com maior frequência. Cabe ressaltar que as alterações de fala, no processo fonológico, afetam a organização linguística do som, o que prejudica a compreensão do que está sendo dito e pode levar à inibição ou retração para os atos comunicativos, além de outras alterações voltadas aos aspectos da leitura e escrita18.

Outro ponto marcado nessa análise encontra-se no seguinte relato da professora:

"percebi que nessa atividade ficou clara a dificuldade de falar alguns sons, então vou modificar as figuras oferecendo a ele figuras de sons que ele não tem dificuldade, para depois colocar os mais difíceis."

Considerado como sendo uma das etapas da consultoria, o monitoramento das estratégias fica evidente no relato da professora, ao observar a mudança da estratégia na tentativa de atender a um desempenho melhor do aluno6. Nesse caso, ressalta-se que o aluno-alvo apresentava uma preferência assistemática por sons surdos, o que gera um padrão caracterizado fonológico desviante.

Alguns autores descrevem que, quando ocorre esse padrão desviante, em que palavras são produzidas da mesma maneira, mas com significados diferentes, o resultado é a inteligibilidade da fala. Portanto, a estratégia priorizada pelo trabalho colaborativo tornou-se viável, a fim de que o aluno obtivesse um incentivo para as interações comunicativas com seus pares19,20.

Além disso, a professora, como mediadora da atividade, teve a possibilidade de (re)formular e (re)ver a estratégia para aproximar o conceito desejado do aluno, demonstrando que, pela perspectiva sociointeracionista, a relação de desenvolvimento da aprendizagem e da linguagem está atrelada ao contexto social da sala e a resposta que o aluno fornece permite um novo olhar, desde que o professor esteja atento e reflita sobre sua atividade.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O fonoaudiólogo, no contexto escolar, pode desenvolver projetos de assessoria junto aos educadores e demais membros da escola21. Assim, a interação entre fonoaudiólogo e professor, vivenciando a prática pedagógica constantemente, agrega valor ao trabalho conjunto e traz para dentro das escolas uma nova perspectiva, uma ação reflexiva, conjunta e colaborativa.

Este relato de experiência demonstrou que essa parceria pode ocorrer de forma facilitadora, ao visar às dificuldades de comunicação, linguagem e fala, demonstrando que a consultoria colaborativa pode potencializar a ação da professora e envolver todo o contexto educacional.

Pode-se verificar um componente importante no dia-a-dia do professor, o diário reflexivo, pois possibilita que ele reflita sobre suas práticas e atue embasado em fatos concretos para potencializar as habilidades das pessoas com necessidades especiais. Portanto, na perspectiva da consultoria colaborativa, especificamente a interação entre fonoaudiólogo e professor pode contribuir para uma escola que atenda à diversidade e traga no trabalho conjunto a possibilidade que permeia a nova concepção inclusiva, visando ao ensino e à aprendizagem diante das diversas potencialidades dos alunos.

 

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à professora participante, pela disponibilidade e colaboração no envolvimento com o trabalho, tendo como princípio a seriedade e o comprometimento.

 

REFERÊNCIAS

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Endereço para correspondência:
Suzelei Faria Bello
Rua Antonio Dias, 830 - São Marcus
São José do Rio Preto, SP, Brasil - CEP: 15081-470
E-mail: suzebello@gmail.com

Artigo recebido: 18/12/2011
Aprovado: 2/4/2012

 

 

Trabalho realizado no Programa de Pós-Graduação em Educação Especial (PPGGEs) - Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, SP, Brasil.