SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.30 número91Desempenho de escolares com e sem transtorno de aprendizagem em leitura, escrita, consciência fonológica, velocidade de processamento e memória de trabalho fonológicaIdentificação do desempenho acadêmico e comportamental de crianças com dificuldade de aprendizagem para participação em um programa de consultoria índice de autoresíndice de materiabúsqueda de artículos
Home Pagelista alfabética de revistas  

Revista Psicopedagogia

versión impresa ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.30 no.91 São Paulo  2013

 

ARTIGO ORIGINAL

 

A aprendizagem significativa uma interface com protagonismo juvenil: numa perspectiva socioafetiva

 

Meaningful learning interface with youth participation in a socio affective perspective

 

 

Márcia Cristina Araújo Lustosa SilvaI; Valmira Maria de Amariz Coelho CruzII; Frederico Fonseca da SilvaIII

IMestranda em Ciências da Educação pela Universidade Lusófona do Porto, Portugal; Pós-graduada em Psicopedagogia pela Universidade Católica de PE (UNICAP); Especialista em Educação Infantil pela Fundação de Ensino Superior de Olinda (FUNESO); graduada em Licenciatura Plena em Letras pela Fundação de Ensino Superior de Olinda (FUNESO)
IIAcadêmica do Curso de Pós-Graduação Lato sensu para Gestores dos Sistemas Estaduais de Ensino pelo Instituto Federal do Paraná (IFPR), formada em Licenciatura Plena em Letras, pela Faculdade de Formação de Professores de Petrolina (FFPP) (Petrolina - PE) e Especialista em Gestão Escolar pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
IIIEngenheiro Agrônomo, Doutor em Irrigação e Meio Ambiente, Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Paraná (IFPR), Curitiba, PR, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

OBJETIVO: Este trabalho tem como objetivo geral investigar as dificuldades de aprendizagem dos jovens participantes do Programa de Inspiração Internacional.
MÉTODO: Foram entrevistados 15 alunos, com idade entre 9 e 19 anos, de ambos os sexos, estudantes do ensino fundamental e médio, pertencentes a uma Escola Estadual. Os alunos responderam a uma anamnese, que contemplou os seguintes itens: identificação do paciente, dados do informante, dados clínicos, aspectos socioemocionais e observações.
RESULTADOS: Observou-se diminuição da repetência e evasão escolar com a melhoria da aprendizagem, numa abordagem socioafetiva.
CONCLUSÕES: A afetividade e o protagonismo têm papel de suma importância na construção do desenvolvimento cognitivo.

Unitermos: Aprendizagem. Afeto. Protagonismo.


ABSTRACT

OBJECTIVE: This study has as the main objective to investigate the learning difficulties of youth program participants from Programa de Inspiração Internacional (International Inspiration Program).
METHOD: Fifty-nine students, aged 9 to 19 years old, of both sexes, students in middle and high school, attending a State School, were interviewed. It is hoped this research contribute to improve a meaningful learning, using a social emotional approach. Students responded to an interview, which included the following: patient identification, informant data, clinical data, socioemotional aspects and observations.
RESULTS:
There was a decrease in repetition and dropout with improved learning, in a socioaffective approach.
CONCLUSIONS: Affectivity and protagonism have an extremely important role in the construction of cognitive development.

Keywords: Learning. Affect. Participation.


 

 

INTRODUÇÃO

A temática do presente trabalho consiste na apresentação e argumentação sumária de aspectos relevantes que circundam a vida pessoal e escolar dos jovens que fazem parte do Programa de Inspiração Internacional, da Escola Estadual Dom Bosco, que vivem no Bairro de Casa Amarela e entorno situados na zona norte da cidade do Recife (PE).

Aprendizagem é um processo de mudança de comportamento obtido por meio da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais. Aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente, cujo órgão responsável é o cérebro, que comanda o processo altamente complexo1.

Para Antunes2, aprender significa a capacidade cerebral pela qual conseguimos penetrar na compreensão das coisas, escolhendo o melhor caminho. Nesse enfoque centrado na aprendizagem, o conhecimento é construído e reconstruído continuamente. Quando a educação é construída pelo sujeito da aprendizagem, no cenário escolar prevalecem a ressignificação dos sujeitos, novas coreografias, novas formas de comunicação e a construção de novas habilidades, caracterizando competências e atitudes significativas.

Nos bastidores da aprendizagem há participação, mediação e interatividade, porque há um novo ambiente de aprendizagem, remodelização dos papeis dos atores e coautores do processo, desarticulação de incertezas e novas formas de interação mediadas pela orientação, condução e facilitação dos caminhos a seguir3.

Ao tratar do processo de aprendizagem no contexto escolar devem-se considerar dois atores de extrema importância, o aluno, como agente ativo e participativo do processo da sua aprendizagem, e o professor, como agente na mediação entre o aluno e a busca por novos conhecimentos4.

A aprendizagem como função da aula é ainda um pensamento de muitos professores, pois entendem que quantidade de aula está diretamente ligada à aprendizagem, ou seja, quanto mais aula se dá, mais o aluno aprenderia5, esse equívoco acontece também com os pais que acreditam que a aprendizagem dos seus filhos pode ser medida pela quantidade de aulas que eles assistem. Aprender significativamente implica atribuir significados, e estes tem sempre componentes pessoais.

Segundo Maturana6, a aprendizagem humana da seguinte maneira:

"A aprendizagem é o caminho da mudança estrutural que segue o organismo (incluindo seu sistema nervoso) em congruência com as mudanças estruturais do meio como resultado da recíproca seleção estrutural que se produz entre ele e este, durante a recorrência de suas interações, com conservação de suas respectivas identidades".

Nessa perspectiva, houve a necessidade de se discutir aprendizagem, analisando a construção do conhecimento a partir do ser biológico e relacionando também a influência de sua formação sociocultural somada aos aspectos genéticos.

Entretanto, observou-se que a mente humana não pode ser instruída, pois o ser humano, além de sua bagagem genética e seu comportamento instintivo, possui tendências atitudinais que se incorporam na medida ou a interação com seu meio ambiente se desenvolve4.

Dessa forma, o instrucionismo (termo adotado pelo prof. Dr. Pedro Demo, cujo significado é "mero ensino, autoritário, imposto de fora e acolhido pelo estudante na posição de objeto") não pode mais ser admitido, pois, tratando-se da aquisição de conhecimento, a mente humana só percebe um significado quando cria e recria os seus próprios significados.

Afetividade

Uma das características mais valorizadas da espécie humana é a capacidade de raciocinar, e a emoção, muitas vezes, é percebida como entorpecente da razão7. Pertencemos a uma cultura que desvaloriza as emoções6.

No campo da educação, são recentes as pesquisas cujo objeto de estudo leva em consideração o domínio afetivo8.

A manifestação das emoções e dos afetos comumente é evidenciada por seus aspectos negativos, mas são características inatas do ser humano, sendo consideradas por Darwin (1809/1882) como fundamentais na evolução e perpetuação da nossa espécie. No entanto, no ambiente escolar eles são muitas vezes negligenciados, sendo que o processo cognitivo não está desvinculado do emocional9.

Refletindo sobre uma aprendizagem mais interessante e significativa junto à real função da escola no processo ensino-aprendizagem, relacionando o desenvolvimento cognitivo e afetivo. Destacando a responsabilidade do profissional da educação sobre a aprendizagem cognitiva do educando, permeando-a pela afetividade, pois se concebe como intrínseca a relação entre os processos cognitivos e afetivos no funcionamento psíquico humano. Apesar de diferentes em sua natureza, entende-se que a afetividade e a cognição sejam inseparáveis10.

Para Piaget11, a afetividade é uma sensação de extrema importância para a saúde mental de todos os seres humanos, por influenciar o desenvolvimento geral, o comportamento e o desenvolvimento cognitivo, tornando-se, assim, essencial a aprendizagem. A afetividade é um estado psicológico do ser humano que pode ou não ser modificado a partir das situações.

De acordo ainda com Piaget11, tal estado psicológico é de grande influência no comportamento e no aprendizado das pessoas juntamente com o desenvolvimento cognitivo. Faz-se presente em sentimentos, desejos, interesses, tendências, valores e emoções, ou seja, em todos os campos da vida.

Entretanto, Wallon12, que dedicou grande parte de sua vida ao estudo das emoções e da afetividade, identificou as primeiras manifestações afetivas do ser humano, suas características e a grande complexidade que sofre no decorrer do desenvolvimento. A afetividade não modifica a estrutura no funcionamento da inteligência, porém poderá acelerar ou retardar o desenvolvimento dos indivíduos, podendo até interferir no funcionamento das estruturas da inteligência.

Segundo Almeida13, com a influência do meio, essa afetividade que se manifestava em simples gestos lançados no espaço, transforma-se em meios de expressão cada vez mais diferenciados, inaugurando o período emocional.

Para a concepção Walloniana, a personalidade humana é constituída basicamente por duas funções: a afetividade e a inteligência, sendo que a primeira é anterior à segunda14.

Ainda segundo Dantas14, enquanto a criança não possui o domínio da palavra, é o movimento afetivo que garante sua relação com o meio e com o mundo que o cerca. A emoção é, portanto, a linguagem da criança. As relações familiares e o carinho dos pais exercem grande influência sobre a evolução dos filhos, em que a inteligência não se desenvolve sem a afetividade.

Segundo Almeida13, a afetividade desempenha um papel fundamental na constituição e no funcionamento da inteligência, determinando os interesses e as necessidades individuais.

Vygotsky15 propõe uma visão de homem como sujeito social e interativo, sendo que a criança, inserida num grupo, constrói o conhecimento com a ajuda do adulto e seus pares. Dessa forma, considera que a aprendizagem ocorre a partir de um intenso processo de interação social, por meio do qual o indivíduo vai internalizando os instrumentos culturais, ou seja, as experiências vivenciadas com outras pessoas é que vão possibilitar a ressignificação individual do que foi internalizado15.

Ainda segundo Vygotsky15, o processo de internalização envolve uma serie de transformações que colocam em relação o social e o individual, ao afirmar que:

"Todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível social, depois no nível individual; primeiro entre pessoas (interpessoal), depois no inferior da criança (intrapessoal)".

Partindo desse pressuposto, o papel do outro no processo de aprendizagem torna-se fundamental. Consequentemente, a mediação e a qualidade das interações sociais ganham destaque. Para o autor, o desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, o que permite a formação de conhecimento e da própria consciência.

Protagonismo

O termo protagonismo surgiu da junção das raízes gregas proto, que significa primeiro/principal e agon, que significa luta16. Então, protagonismo é o ato principal do seu desenvolvimento, ou seja, corresponde à ação, à interlocução e à atitude do jovem com respeito ao conhecimento e à aquisição responsável do conhecimento e que seja eficiente para sua formação, para seu crescimento, para sua conclusão como cidadão17.

Para o jovem a necessidade momentânea é a de ser aceito, ouvido, de estabelecer relações afetivas, de ser acolhido, de "errar" sem o conceito da gravidade de um erro, pois é necessário descobrir, se desenvolver com responsabilidade, assumir seus erros, pois deles o jovem fortalece seus conceitos. É necessário que ele seja respeitado pelo seu modo de vestir-se, andar e falar, é importante que ele seja apenas jovem, e não perca seus ideais, o que faz de um jovem por exclusividade, um líder, eis a importância de provocar ações e debates com eles para que torne concretas todas suas ansiedades18.

No Brasil, 21.249.557 habitantes, de um total de 169.799.170, são jovens, ou melhor, 12,5% da população são representados por jovens entre 12 e 18 anos incompletos, segundo Relatório da Situação da e Adolescência Brasileira19. Isso implica que os jovens devem ser levados em consideração, pois são, em sua natureza, líderes espontâneos, que devem por meio de uma prática humana, educacional e democrática serem motivados a realizar ações de inovação e de mudanças em suas realidades.

O protagonismo juvenil deve ser para o jovem uma leitura de ação do reflexo de sua ansiedade em conquistar objetivos, porém de realizações concretas, ações que o façam concluir temas, conceitos e, o mais importante, que o leve a estabelecer uma relação de segurança com seu próprio crescimento20. Mesmo estando envolto a algumas situações cotidianas que fazem parte de sua realidade, e nem sempre são situações propícias a um crescimento seguro.

Nessa perspectiva, o jovem protagonista atua de forma autêntica e participativa, propondo iniciativas e assumindo lideranças. Deixa o papel de coadjuvante, para tornar-se dinamizador de atitudes e ações não só individuais, mas, também na sua comunidade21.

Segundo Serrão22, só fazemos história no futuro se soubermos entender e aceitar nosso passado e, assim, realizar nosso presente.

 

MÉTODO

O presente estudo foi realizado após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital da Restauração- CPR/HR, sob o parecer CAAE nº 0430.0.000.102-11.

O público-alvo é composto por jovens de classe socioeconômica baixa, com faixa etária entre 9 a 19 anos, todos devidamente matriculados em Escola Pública e com histórico de repetência e evasão escolar, na sua maioria, determinados por várias situações identificadas na anamnese e no questionário da diagnose psicossocial com 25 perguntas a 59 alunos.

Desse universo de jovens avaliados, 15 pais responderam a uma anamnese que contemplou os seguintes itens: identificação do paciente, dados do informante, dados clínicos, aspectos socioemocionais e observações.

Esses dados foram interpretados de forma qualitativa e quantitativa e foram aplicados no contraturno escolar, em horário pré-estabelecido e foram devidamente autorizados e agendados previamente.

Foram feitas reuniões com os técnicos das modalidades esportivas para reforçarem a motivação e o engajamento no projeto, assim como, com os professores também envolvidos no mesmo projeto, além de toda escola, para que as metas fossem atingidas. Metas essas que contemplam o aspecto sócio-cognitivo-esportivo.

Num segundo momento foi realizada uma visita domiciliar à família, onde 11 responsáveis (pais) responderam à anamnese com questões que contemplaram os seguintes itens: identificação do paciente, dados do informante, dados clínicos, aspectos socioemocional e observações, possibilitando delinear o perfil sociocognivo e psicológico.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Escola Estadual Dom Bosco está localizada no bairro de Casa Amarela, que se situa na região norte da cidade do Recife (PE), sendo um dos bairros mais populoso da cidade (25.543 habitantes) e um dos mais antigos. Sua origem data da época da invasão holandesa23.

De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano 2005, o bairro de Casa Amarela possui um IDH de 0,18, a nossa clientela é de classe socioeconômica baixa, com faixa etária de 9 a 19 anos24. Todos os alunos estavam devidamente matriculados na Escola Estadual Dom Bosco e com histórico de repetência e evasão escolar, na sua maioria determinados por várias situações identificadas na anamnese psicológica e trabalhadas de forma a reverter esse quadro.

No primeiro momento, foram selecionados 59 jovens dentre esse universo, 15 educandos foram selecionados como jovens líderes que seriam exemplo para os demais e apresentavam um perfil de liderança, iniciativa e autonomia. Esses alunos eceberam formação de liderança do Conselho Britânico e aulas intensivas de inglês; a eles foram delegadas atribuições como monitores de oficinas de esportes, guarda do material esportivo e controle de frequência dos participante do programa. Foram selecionados como estudo de caso que, posteriormente, seria apresentado na cidade de Londres.

Dessa forma, realizou-se anamnese completa desses 15 alunos, com o propósito de melhor conhecer o perfil desse universo estudado.

A Tabela 1 apresenta a idade e a sua respectiva distribuição numérica. A Tabela 2 demonstra o grau de parentesco dos responsáveis e a Tabela 3, o grau de escolaridade dos responsáveis dos alunos entrevistados. A Tabela 4 aborda a facilidade de se fazer amizade e a Tabela 5 apresenta como esses jovens reagem diante de novas situações. A Tabela 6 demonstra como o responsável percebe o jovem.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Observa-se, com base na Tabela 1, que o grupamento dos alunos entrevistados está entre 14 e 16 anos, e a soma dessas duas faixas significa 53,3% do universo pesquisado; com uma amplitude de 6 anos entre a menor e a maior idade e com uma idade média de 14 anos.

No Brasil, a grande maioria das crianças que ingressam nas escolas de primeiro grau apresenta dificuldade de aprendizagem e ajustamento, o que explica, em grande parte, os elevados índices de repetência, de fracasso e de evasão-expulsão escolar, reconhece o atual ministro da Educação em entrevista a imprensa25.

Observa-se, com base na Tabela 2, que 80% dos responsáveis pelos alunos estudados são as mães.

Uma pesquisa realizada recentemente pelo Juizado da Infância e da Juventude de Belo Horizonte sobre a estrutura familiar, de um universo de 905 jovens que foram reprovados ou se evadiram da escola nos anos de 2005-2007, indicou claramente que a autoridade parental, até então encarnada pelo pai, parece estar se perdendo. Constatou-se que a família nuclear simples, constituída pelo pai, mãe e filhos, representou apenas 37,7%, enquanto a monoparental feminina simples e extensa, portanto, chefiada por mulheres, somou cerca de 62,3%26.

Sendo assim, a influência parental sobre a escolarização dos filhos chama a nossa atenção para a influência dos valores e das atitudes que os pais manifestam em relação à escola, sobre os valores e as atitudes dos filhos ela é particularmente sensível na adolescência e juventude27.

Observa-se que a amplitude de escolaridade dos responsáveis vai desde o 6º ano do Ensino Fundamental até o Ensino Superior, mesmo que incompleto. A faixa média dessa escolaridade concentra-se no Ensino Médio, completo e incompleto, e/ou Ensino Médio completo e Superior incompleto.

O conjunto de evidências empíricas apresentadas por Ferreira e Veloso28 demonstra que o nível de escolaridade dos indivíduos no Brasil apresenta grau elevado de persistência entre as gerações. Indivíduos com pais mais escolarizados têm nível médio de escolaridade bem superior ao dos sujeitos com pais pouco educados, indicando limitada mobilidade educacional. Assim sendo, apresentam evidências de que o nível de educação dos pais tem influência direta sobre a escolaridade dos filhos.

Observa-se, com base na Tabela 4, que a grande maioria dos entrevistados afirma fazer amizades com facilidade entre os seus pares.

Com o mundo globalizado em que vivemos, com os avanços tecnológicos e, principalmente, com a transformação da sociedade interativa, os jovens estabelecem relações virtuais que se transformam em amizade duradoura muito mais rápido do que os adultos.

A reflexão sobre a amizade é um tema que acompanha a história da Filosofia, sob o olhar de grandes pensadores, como Sócrates, Platão e Aristóteles, e torna-se essencial em nossos tempos, nos quais ter amigos mostra-se fundamental, já que os amigos são o elo essencial para a existência humana29.

Observa-se, com base na Tabela 5, que as reações quanto a novas situações são de cautela e na defensiva.

O meio social, incluindo a família, a escola, a igreja e os meios de comunicação, transmite estímulos e modelos que influenciam o processo de amadurecimento da formação psicossocial do adolescente. Na vida cotidiana, opiniões, atitudes e comportamentos dos adultos influenciam as atitudes das crianças e adolescentes frente ao desconhecido, servindo de referência e espelho30.

Observa-se, com base na Tabela 6, que o jovem é percebido pelo seu responsável como calmo, solidário e tímido.

É a família que propicia os aportes afetivos e todos os materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar de seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal. É, ainda, em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários onde se aprofundam os laços de solidariedade. É também em seu interior que constroem as marcas entre as gerações e são observados pelos valores culturais31.

O Dreams+Teams é um Programa Internacional que tem um curso com duração de cerca de uma semana, ministrado por especialista em esporte e liderança esportiva britânico. O objetivo desse treinamento é desenvolver o potencial de liderança de tutores e jovens e torná-los aptos a organizar, em suas escolas e comunidades, eventos que promovam esporte, trabalho em grupo, cooperação e protagonismo estudantil32.

Espera-se que os impactos causados pelo Projeto de Inspiração Internacional supere todas as expectativas, que os jovens participantes elevem sua autoestima, que tenham desejo de ter mais conhecimento, tenham interesse em prática de esportes. Contribuindo, dessa forma, para melhorar a relação com a família e a sociedade. Deixando de serem coadjuvantes e passando a serem protagonistas de sua história e com grandes perspectivas de futuro. Futuramente possam sonhar, em serem atletas, atores, artesãos, interpretes e escritores. Vislumbrando em participar de uma olimpíada, uma copa, dos jogos estudantis estaduais, participado de maratonas, festivais e bienais. Deixando de serem jovens em situação de risco e passando a serem jovens com expectativas e possibilidades de futuro, cidadãos do mundo.

 

CONCLUSÃO

O presente estudo identificou a existência de conexões entre aspectos afetivos (autoestima), cognitivos (aprendizagem) e psicomotores (esportes) no âmbito de determinado contexto social (familiar), implicados na questão escolar, desse modo, corroborando para construção de significados que contribuíssem para melhor desempenho escolar. Além disso, essas conexões alcançam o objetivo proposto inicialmente de desenvolver o espírito de liderança, de criatividade, de equipe, e o protagonismo juvenil.

Por meio da intervenção psicopedagógica foi percebida melhoria das relações inter e intrapessoais dos alunos e professores, bem como maior aproximação da família com a escola, visando à melhoria da aprendizagem permeada pela afetividade e o protagonismo, com diminuição da depredação do patrimônio público e vandalismo, além de promover a relação professor-aluno-família, respeito ao outro e às diferenças.

Houve significativa melhoria das notas em todas as disciplinas e a conscientização desses jovens quanto ao seu papel enquanto cidadão e protagonista de sua história. Foi observado, também, melhor aproveitamento educativo com o aumento das notas e, paralelo a isso, com a diminuição da evasão escolar.

Nessa perspectiva, essas ações possibilitaram a reflexão, oportunizando a fluidez das relações entre escola-família-aluno-professor, promovendo a circulação dos saberes formais e não-formais, bem como troca de experiências entre eles, permitindo que a aprendizagem viesse a ser significativa.

O objetivo do presente estudo consistiu em investigar a dificuldade de aprendizagem dos jovens participantes do Programa de Inspiração Internacional, bem como identificar aspectos sociocognitivos que levem a repetência e evasão escolar; como se dá a circulação do conhecimento no ambiente escolar; e a relação aluno-professor permeada pela afetividade e o protagonismo, contribuindo para a melhoria da aprendizagem.

 

REFERÊNCIAS

1. Sisto F, Martinelli S. Afetividade e dificuldades de aprendizagem: uma abordagem psicopedagógica. 1ª ed. São Paulo: Vetor;2006. p.32.         [ Links ]

2. Antunes C. Alfabetização emocional: novas estratégias. 12ª ed. Petrópolis: Vozes; 1999.         [ Links ]

3. Markova D. O natural é ser inteligente: padrões básicos de aprendizagem a serviço da criatividade e educação. São Paulo: Summus; 2000.         [ Links ]

4. Relvas MP. Fundamentos biológicos da educação: despertando inteligências e afetividade no processo de aprendizagem. Rio de Janeiro: WAK Editora; 2009.         [ Links ]

5. Demo P. Equívocos da educação. 2007. Disponível em: http://pedrodemo.blog.uol.com.br/ Acesso em: 26/11/2009.         [ Links ]

6. Maturana H. Da biologia à psicologia. Porto Alegre: Artes Médicas; 1998.         [ Links ]

7. Silva JBC, Schneider EJ. Aspectos socioafetivos do processo de ensino e aprendizagem. Rev Divulgação Técnico-científica do ICPG. 2007;3(11):83-7.         [ Links ]

8. Scoz B. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. Petrópolis: Vozes; 2004.         [ Links ]

9. Rogers B. Gestão de relacionamento e comportamento em sala de aula. Porto Alegre: Artmed; 2008.         [ Links ]

10. Cunha E. Afeto e aprendizagem: amorosidade e saber na prática pedagógica. Rio de Janeiro: WAK; 2008.         [ Links ]

11. Piaget J. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro: Editora Zahar; 1983.         [ Links ]

12. Wallon H. As origens do caráter na criança. São Paulo: Difusão Européia do Livro; 1971.         [ Links ]

13. Almeida ARS. A emoção na sala de aula. 2ª ed. Campinas: Papirus, 1999. 199.         [ Links ]

14. Dantas H. A afetividade e a construção do sujeito na psicogenética de Wallon. In: La Taille Y, ed. Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus Editorial; 2007. p.85-98.         [ Links ]

15. Vygotsky LS. Psicologia pedagógica. Porto Alegre: Artmed; 2003. 248p.         [ Links ]

16. Costa ACG. A educação no paradigma do desenvolvimento humano. Belo Horizonte: Modus Faciendi, 2000.         [ Links ]

17. Costa ACG. Protagonismo juvenil: adolescência, educação e participação demográfica. Salvador: Fundação Odebrecht; 2001. 76p.         [ Links ]

18. Arantes VA. Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus Editorial; 2003.         [ Links ]

19. UNICEF Brasil. Relatório da situação da adolescência brasileira. Brasília: UNICEF; 2002.         [ Links ]

20. Escámez J, Gil R. O protagonismo na educação. Porto Alegre: Artmed; 2003.         [ Links ]

21. Ferretti CJ. A reforma do ensino médio: uma crítica em três níveis. Rev Linguagens, Educação e Sociedade. 2003;9:41-9.         [ Links ]

22. Serrão M. Aprendendo a ser e a conviver. 2ª ed. São Paulo: FTD; 1999.         [ Links ]

23. Bitoun J, Miranda LIB, Paiva MGD. Atlas do desenvolvimento humano no Recife: democratizando e disseminando informações. Guia de utilização do atlas municipal. Recife: FASE - Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional. Prefeitura do Recife, 2008. Apoio PNUD, Banco do Nordeste.         [ Links ]

24. Brasil. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Atlas do desenvolvimento humano no Brasil 2000; 2003; 2005.         [ Links ]

25. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro. Caderno de Ciência e Tecnologia, 19 jun. 2012. p.8.         [ Links ]

26. Fonseca C. Preparando-se para a vida: reflexões sobre escola e adolescência em grupos populares. Em Aberto. Brasília: INEP; 1994 (61):144-55.         [ Links ]

27. Boudon R. Ordem social e efeitos perversos. Rio de Janeiro: Zahar; 1979.         [ Links ]

28. Ferreira S, Veloso FA. Mobilidade intergeracional de educação no Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico. 2003:33:481-513.         [ Links ]

29. Schelp D. O poder das redes sociais da internet. Revista Veja., edição 2120, 8 jul. 2009. São Paulo: Abril; 2009.         [ Links ]

30. Mendez EG. Jovem em conflito com a lei. São Paulo: Cortez; 2000. p.223.         [ Links ]

31. Ferrari M, Kaloustian SM. Introdução. In: Kaloustian SM, org. Família brasileira, a base de tudo. 4ª ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNICEF, 2000.         [ Links ]

32. Secretaria de Estado da Educação e do Esporte - SEEE - Estado de Alagoas Disponível: http://www.educacao.al.gov.br. Acesso em: 16/09/2012.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Márcia Cristina Araújo Lustosa Silva
Rua Frei Jaboatão, 280 - ap. 103
Bloco Q - Torre
Recife, PE, Brasil - CEP 50710-030
E-mail: marciaclustosa@hotmail.com

Artigo recebido: 10/1/2013
Aprovado: 7/3/2013

 

 

Trabalho realizado na Escola Estadual Dom Bosco, Recife, PE, Brasil.