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Revista Psicopedagogia

Print version ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.38 no.116 São Paulo May/Aug. 2021

http://dx.doi.org/10.51207/2179-4057.20210025 

EDITORIAL

 

Até quando?

 

 

Nesse ciclo de pandemia que nos atinge há aproximadamente 500 dias, quando escrevemos o editorial anterior pensamos que seria o último que abordaria a temática. Porém, mais uma edição está pronta para ser entregue ao leitor e, ao pensar na temática que trataríamos na apresentação desta edição, não conseguimos ainda falar de outro assunto que não seja os números assustadores da COVID-19 que exatamente nesse momento faz uma virada trágica e cruel de mais de 500.000 vidas perdidas em nosso país. Indignação! São muito mais do que quinhentas mil vidas atingidas, isso envolve milhares de outras vidas afetadas, tantas famílias destruídas. Até quando? É uma questão de educação, de respeito, portanto, resistência necessária, necessária resistência. De outra parte, também sabemos que há muitas pessoas recuperadas, muitas são as pessoas que sofreram sintomas mais amenos da doença. Mas, por ser uma questão de vida ou morte, entendemos que não podemos ficar tão vulneráveis, clamando para não sermos contaminados e, mais ainda se formos contaminados, suplicando para que nosso quadro de saúde não se agrave. Até quando?

Quando falamos em resistência, trata-se de conseguir fazer essa travessia, trata-se de viver, ou, em última instância, sobreviver. É o que queremos para nós, para os nossos e para todas as pessoas.

E, como a vida tem que fluir, vamos adiante confiando que já passamos pelo momento mais crítico, acreditando que dentro em breve viveremos tempos mais estáveis e menos ameaçadores, situação que nos impulsiona com maior vitalidade à produção de conhecimento, uma das esferas de realização de nossa vida profissional.

Pela resistência nossa de cada dia publicamos a 116ª edição. Portanto, temos na primeira seção os Artigos Originais:

- Abrindo essa edição temos os autores Amanda Freire Amorim, Iasmin Amaral Moussa, Rosangela Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro, Rauni Jandé Roama-Alves e Ana Cristina Cardoso Gonsalves, que escrevem "Desempenho intelectual e crenças disfuncionais em crianças vítimas de abuso sexual". O presente estudo buscou avaliar a inteligência de um grupo de crianças que sofreu abuso sexual e relacioná-la com crenças disfuncionais. Foi realizado no Hospital Universitário Júlio Müller em Cuiabá, Mato Grosso, no Programa de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual. Os dados encontrados permitiram concluir que o investimento em processos educacionais e interventivos psicoterápicos que visem o atendimento a ambas as variáveis se torna um dos fatores protetivos a esse grupo clínico.

- Temos Jaqueline Pereira Carvalho Cardoso, Fernando Silva Paula e Jeanny Joana Rodrigues Alves de Santana, que escrevem sobre "Neurodesenvolvimento infantil: Relato de avaliação psicológica sem uso de técnicas padronizadas". O estudo teve como objetivo avaliar aspectos do desenvolvimento cognitivo e socioemocional de criança em idade pré-escolar encaminhada devido a problemas no neurodesenvolvimento. Os resultados indicaram que a criança tem dificuldades em entender e seguir as instruções verbais; a resolução de problemas é geralmente feita via raciocínio concreto; há baixa frequência e qualidade da comunicação social; constantes falhas de controle inibitório relacionam-se com a alta intensidade de sinais de intolerância à frustração. Conclui-se sobre a importância do estudo de técnicas não padronizadas de avaliação psicológica para identificação adequada de déficits cognitivos, afetivos, comportamentais e seus impactos na vida do paciente.

- No texto seguinte Andrialex William da Silva escreve "A relação da criança com a linguagem icônica presente na era digital: A percepção infantil sobre os ícones no smartphone". Aqui objetivou-se analisar o uso da linguagem icônica em smartphones por parte de um grupo amostral de crianças. A pesquisa de natureza aplicada se fundamenta em uma abordagem qualitativa e desenvolveu uma intervenção pedagógica a fim de alcançar seu objetivo, dividida em três etapas: anamnese com os responsáveis, entrevista e uma bateria de testes com as crianças. Conclui que os sujeitos investigados, nativos digitais, compreendem a linguagem dos ícones presentes nas novas tecnologias e que a pesquisa abra espaços para novos estudos sobre a temática.

- Carolina Ferreira Barros Klumpp e Flávia Cristina Costa Moreno escrevem sobre "Caracterização de clientela de atendimento psicopedagógico da rede pública de Barueri". Este artigo apresenta resultado de estudo retrospectivo desenvolvido com o objetivo de traçar o perfil de clientela atendida no ano de 2019 no atendimento psicopedagógico disponível na rede pública municipal de Barueri, SP. Em relação ao processo de aprendizagem destes alunos, a modalidade de aprendizagem patológica predominante foi a hipoassimilação-hiperacomodação (49%), sendo que 80% do total dos alunos possuía nível cognitivo abaixo do esperado para a faixa etária e 50% não se encontrava plenamente alfabetizada. Concluiu-se que os problemas de aprendizagem estão relacionados a fatores emocionais, pedagógicos e socioeconômicos (desigualdade social), bem como que o fracasso escolar é uma realidade para a maior parte do público encaminhado. Políticas públicas devem ser desenvolvidas para minimizar estes fatores.

Na seção de Artigos de Revisão, temos:

- Isadora de Lourdes Signorini Souza, Fabiana de Fátima Faria, Eliane Gouveia Consulin dos Anjos, Carolina Meira Meneghelli, Thais Dullius Fujita, Lilian Caron e Ana Lucia Ivatiuk nos trazem o texto "Relações entre funções executivas e TDAH em crianças e adolescentes: Uma revisão sistemática". Buscou-se quantificar e explorar artigos com pesquisas empíricas que relacionam o TDAH e as FE. Os critérios de inclusão foram o ano de publicação entre 2009 e 2019, língua portuguesa e artigos relacionados apenas à infância e à adolescência. Os critérios examinados incluíram neuroanatomia, instrumentos de avaliação utilizados para a detecção do transtorno, entrevistas realizadas, gênero e nível escolar dos participantes. Porém, apesar de sua importância, notou-se que existe uma escassez de estudos nacionais que correlacionam estes temas.

- Bruna da Motta Signori Grehs e Cynthia Borges de Moura trazem "Estratégias de aprendizagem para estudantes do Ensino Médio: Uma revisão de estudos". As autoras fizeram um levantamento de estudos realizados no Brasil, que relacionam estratégias de aprendizagem e desempenho escolar em estudantes do Ensino Médio, restrito a artigos científicos publicados entre 2009 e 2019. Como resultado, constatou-se escassez de estudos acerca das estratégias de aprendizagem no Ensino Médio, visto que, em um período de 10 anos, apenas sete estudos sobre estratégias de aprendizagem têm o Ensino Médio como público-alvo.

- Luciana Pires, Isabele Candiotto Sacilotto e Ana Paula de Próspero escrevem "Para quem serve a avaliação psicopedagógica?". A motivação para a realização desse trabalho é desvincular a visão reducionista dos diagnósticos e laudos que fragmentam, enquadram e conferem ao sujeito da aprendizagem um caráter patológico, caminhando desse modo em direção às experiências que mobilizam a construção de sua autoria de pensamento. Nesse cenário, são consideradas as relações do sujeito aprendente nos diferentes sistemas nos quais se encontra, como se expressa, pensa e revela seu potencial de aprendizagem. A metodologia estabelecida é fundamentada em uma pesquisa bibliográfica, tratando-se de uma revisão de literatura sobre o tema.

- Fabiana Ferreira Oliveira Santos e Alessandra Aparecida dos Santos Silva são as autoras de "O trabalho do psicopedagogo na reabilitação cognitiva do idoso". Este artigo busca evidenciar a possibilidade de atuação do psicopedagogo no campo da geriatria, especificamente na reabilitação cognitiva de idosos com prejuízos cognitivos decorrentes tanto do processo natural do envelhecimento quanto de doenças e/ou lesões cerebrais. A metodologia adotada para esta pesquisa é a da revisão bibliográfica narrativa e encontra-se ancorada em áreas do conhecimento como a neurociência, a psiquiatria, a neuropsicologia, a análise do comportamento e a neurologia.

Outra seção traz Relato de Pesquisa, sendo:

- Ismaelly Batista dos Santos Silva e Adriana de Andrade Gaião e Barbosa escrevem "A dimensão social na Psicopedagogia: Violência como risco à aprendizagem". Este texto analisa a dimensão social na Psicopedagogia à luz da literatura científica e visa caracterizar contextos de risco potencial para aprendizagem de adolescentes e jovens adultos em situação de vulnerabilidade social e violência, além de preconizar novos olhares acerca da atuação psicopedagógica. Como resultados, são apresentadas reflexões sobre violência nos múltiplos espaços de aprendizagem e cenários prospectos de atuação psicopedagógica. Por fim, conclui-se que o psicopedagogo está situado como um profissional de relevância crítica para promover prevenção, intervenção, educação e reabilitação contínua a indivíduos em situação de vulnerabilidade social e em risco de violência no contexto do ensino e aprendizagem.

- Edneia Felix de Matos e Daniela Miranda Fernandes Santos escrevem sobre "Discalculia e educação: Quais conhecimentos os professores possuem acerca deste tema". O presente estudo divulga os resultados de uma pesquisa de natureza qualitativa e delineamento exploratório que visou investigar a percepção dos professores de escolas de anos iniciais do Ensino Fundamental em uma cidade do interior do estado de São Paulo a respeito do transtorno de aprendizagem denominado discalculia, suas características e formas de manifestações entre as crianças.

- Patrícia Pupin Mandrá, Gabriela dos Santos Leite e Silva, Matheus Francoy Alpes e Carla Manfredi dos Santos escrevem "Consciência fonológica: Diferentes formas de avaliação em crianças com desenvolvimento típico", cujo objetivo foi verificar o desempenho em habilidades de consciência fonológica com a aplicação do teste CONFIAS in vivo e por meio de gravação em vídeo. Participaram do estudo 16 crianças com idades entre 7 e 8 anos, cursando o 2º e 3º ano do Ensino Fundamental e que apresentaram bom rendimento escolar. Analisou-se o desempenho das crianças em cada contexto separadamente e foi feita comparação entre os dois contextos. As crianças mais velhas apresentaram melhor desempenho no teste tanto no nível silábico quanto no fonêmico, independentemente do procedimento.

Finalizando essa edição, temos um Relato de Experiência de Mírian Carolina Valente Ferreira, Beatriz Barros Guimarães Araújo, Carolina Macedo Nardini e Lúcia Pereira Leite, que escrevem "A brincadeira intencional na educação da criança com TEA". Este artigo objetivou refletir a importância do brincar como uma estratégia educacional para a criança com TEA na Educação Infantil a partir dos pressupostos da Teoria Histórico-Cultural. Na intervenção realizada foi possível notar a importância do adulto como mediador no processo educacional com vistas ao desenvolvimento das funções psicológicas superiores, na proposição de atividades lúdicas intencionais, com o foco na linguagem, na atenção e nas interações sociais.

Que essa edição demarque a renovação de tempos melhores.

Boa leitura!

Luciana Barros de Almeida

Editora Revista Psicopedagogia 2020/2022

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