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Revista Psicopedagogia

Print version ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.38 no.117 supl.1 São Paulo  2021

http://dx.doi.org/10.51207/2179-4057.20210048 

RELATO DE EXPERIÊNCIA

 

Atendimento educacional especializado (AEE) no período de pandemia COVID-19: Encontrando alternativas diante da suspensão das aulas presenciais

 

Specialized Educational Service (SES) in the period of COVID-19 pandemic: Finding alternatives in the face of suspension of classroom classes

 

 

Natalia Ramos de Souza

Pedagoga - Universidade do Estado da Bahia; graduanda em Atendimento Educacional Especializado (AEE) e Inclusão, Salvador, BA, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Com a pandemia que se instalou em meados de março do ano de 2020 e se estendeu a 2021, professores do Atendimento Educacional Especializado (AEE) passaram a pensar em estratégias para continuar ofertando ações do AEE aos estudantes com deficiência, mesmo em período de adversidade. É neste sentido que o presente artigo tem como objetivo revelar as estratégias usadas para que a inclusão continue acontecendo nesse período de isolamento social em consequência da pandemia de COVID-19. Para isso, a questão norteadora que permeia este trabalho indaga o seguinte: Quais estratégias e recursos tecnológicos podemos utilizar para continuar mediando a aprendizagem dessas crianças? Pensando numa metodologia que realce e firme os acontecimentos, este ensaio faz uso da pesquisa de campo tendo em vista que este tipo de pesquisa tem como finalidade observar fatos e fenômenos da maneira como ocorrem a partir do público-alvo da Educação Especial atendido pelo AEE. Para isso, será realizado um questionário no qual os professores do AEE e as famílias responderão perguntas referentes às estratégias utilizadas em tempos de isolamento social. Como resultado, nota-se a importância de continuar idealizando e realizando práticas para a construção de uma sociedade inclusiva, e isso exige reflexões, adaptações e flexibilização, a fim de promover uma educação inclusiva mais efetiva e de qualidade.

Unitermos: Atendimento Educacional Especializado. Pandemia/COVID-19. Estratégias de Ensino. Ensino Remoto e On-Line. Educação Inclusiva.


ABSTRACT

With the pandemic that took place in mid-March of 2020 and extends to 2021, teachers of the Specialized Educational Service (SES) began to think of strategies to continue offering SES actions to students with disabilities, even in times of adversity. It is in this sense that this article aims to reveal the strategies used so that inclusion continues to take place in this period of social isolation as a result of the COVID-19 pandemic. For this, the guiding question that permeates this work asks the following: What strategies and technological resources can we use to continue mediating the learning of these children? Thinking about a methodology that highlights and firm the events, this essay makes use of field research considering that, this type of research aims to observe facts and phenomena as they occur from the target audience of special education that are attended by the SES. For this, a questionnaire will be carried out where the SES teachers and families will answer questions regarding the strategies used in times of social isolation. As a result, we note the importance of continuing to idealize and carry out practices for the construction of an inclusive society, and this requires reflections, adaptations, and flexibility, in order to promote a more effective and quality inclusive education.

Keywords: Specialized Educational Service. Pandemic/COVID-19. Teaching Strategies. Remote and On-Line Teaching. Inclusive Education.


 

 

INTRODUÇÃO

Este artigo surgiu da necessidade de compartilhar algumas informações, reflexões e inquietações sobre o trabalho do Atendimento Educacional Especializado (AEE) em todos os tempos e espaços, mas especificamente fazendo um recorte para este momento atual, de tantas mudanças e readaptações, que é o isolamento social como consequência da pandemia do COVID-19.

Os anos de 2020/2021 estão sendo marcados pelo COVID-19, cuja pandemia foi declarada em 11 de março de 2020 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A partir de então, começou uma corrida por diversas medidas de prevenção do contágio, como o uso de máscaras, higienização, sanitarização e o isolamento social, este último sendo o mais eficaz, ainda que seja complicado em meio a desigualdades e mazelas sociais. Ainda assim, como as aulas continuaram para as turmas regulares é preciso continuar também para as atípicas. O parecer do Conselho Nacional de Educação, publicado no dia 28 de abril de 2020, reforçou que o AEE deve ser ofertado durante o período de pandemia dentro das ações de combate à contaminação pelo coronavírus.

Deixamos de nos deslocar de casa para outros ambientes e passamos a migrar para o mundo digital (o mundo da Internet). As atividades passaram a ser realizadas no ambiente doméstico (home office), os estudos agora são on-line e de forma remota, as interações sociais estão acontecendo majoritariamente no ambiente virtual. Junto a esse movimento, professores do AEE têm como desafio não deixar ninguém para trás, mesmo sabendo das diversas limitações desse modelo. Neste sentido surge a questão norteadora que busca saber quais estratégias e recursos tecnológicos o AEE deve utilizar para continuar mediando a aprendizagem dessas crianças.

Neste sentido, Rodrigo Hubner Mendes1 corrobora dizendo que é evidente o desafio de não deixar ninguém para trás. Simplesmente disponibilizar uma série de aulas em vídeos na Internet e esperar que todos aprendam é o caminho certo para a exclusão. É importante pensar que o ensino a distância seja apenas um complemento em relação às vivências no espaço escolar.

Neste viés, este artigo tem como objetivo revelar as estratégias usadas para que a inclusão, tal qual o AEE, continue acontecendo nesse período de isolamento social em consequência da pandemia de COVID-19. Para alcançar estes objetivos, os caminhos metodológicos desse trabalho partem da pesquisa de campo usando como recurso o questionário respondido por professores do AEE e famílias das crianças.

Não dá para negar que o AEE e famílias dos estudantes assistidos por esse atendimento têm se esmerado bastante para fazer a inclusão em tempos tão atípicos como essa atual conjuntura em que estamos. Professores se organizando, buscando novas formas de atuação, flexibilizando atividades para essas crianças, se articulando com a equipe gestora e principalmente com os professores das turmas para juntos efetivarem a aprendizagem desses alunos, famílias fazendo malabarismo para tentar acompanhar as aulas on-line, remotas ou fazendo atividades impressas com seus filhos sob orientação dos professores.

A proposta de uma educação inclusiva em tempos de pandemia é mais um desafio, ou seja, novas formas de ensinar, aprender flexibilizando, adaptando ideias e práticas de ensino. Baseada em evidências científicas, esta pesquisa apresenta a importância para uma reflexão sobre a construção de uma sociedade inclusiva.

 

DESENVOLVIMENTO

Fomos todos surpreendidos no ano de 2020. Tudo que foi sonhado e planejado e todas as expectativas para este ano foi deixado de lado e adaptado para esta nova realidade. Enquanto estávamos apenas como telespectadores assistindo tudo o que estava acontecendo na Europa, rapidamente estava chegando mais próximo de nós.

Em pouco tempo, a nossa rotina de vivências, diálogos, experiências e atividades nas escolas e nos atendimentos educacionais especializados que também acontecem na forma domiciliar foram suspensos. E tudo isso quando estávamos ainda iniciando o ano letivo, em meados de março, passamos a vivenciar essa nova realidade, em pouco tempo foi preciso uma nova organização, uma nova rotina, criar novas formas de vínculos entre nós e as crianças especiais a partir de uma telinha.

E como pensar em afetividade nesse espaço? É importante humanizar este espaço. Pensar em como fazer acontecer a aprendizagem mais do que ensino. Humanizar os espaços digitais para tornar os encontros mais saudáveis e afetivos é importante. Corroborando com essa perspectiva, o CEINP2 diz que: "todo e qualquer processo educacional ocorra sustentado por meio de experiências acompanhadas de afeto, emoções e sentimentos". Sobre a importância desse vínculo afetivo: "(...) desenvolver com essas pessoas uma relação que lhes permita restaurar ou criar um núcleo de confiança e esperança, a partir do qual possa ser criado o núcleo de identidade"2.

Em tempos de isolamento social, torna-se cada vez mais necessário e desafiador criar laços afetivos para que todos e todas envolvidos nesse tempo saiam dele com memórias afetivas positivas. Tentar ser mais flexível, mais criativa, elaborar recursos e atividades pedagógicos pensando nas famílias e nos estudantes de forma empática. É importante entender as diversidades em todos os espaços e tempos.

 

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Nesse contexto tão desafiador e mais desafiador ainda por se tratar de crianças especiais que, diferentemente das crianças típicas que conseguem permanecer um tempo maior diante de uma videoaula, as atípicas nem sempre têm essa compreensão de que é necessário ficar naquele espaço, naquela cadeira, sentadas. Para a LBI3:

A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem3. (p. 2)

A inclusão é uma realidade, logo, é importante que as escolas tenham ao menos dois profissionais nas turmas, sobretudo, aquelas que têm crianças especiais. O professor do AEE é um parceiro do professor regente e ambos precisam se articular para flexibilizar atividades e conteúdos para estas crianças, e é dessa maneira que se faz inclusão. Corroborando para esta explicação, Mantoan4 afirma que:

A educação inclusiva acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física, para os que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas as minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo. Costumo dizer que estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com, é interagir com o outro4. (p. 1)

A educação inclusiva é baseada na educação para todos. Estar incluído numa sala de aula regular proporciona aos alunos com deficiência e aos demais educandos conviver e vivenciar a diversidade, e isso promove e estimula a troca entre os pares e de aprendizagem tanto entre professores quanto entre os estudantes. Entre desafios e percalços, a educação inclusiva é uma realidade antiga e que precisa de mais investimento para se efetivar melhor. Um fator importante é que muitos estados e municípios, pensando em garantir a aprendizagem em conformidade com suas necessidades e potencialidades, contratam o serviço de Atendimento Educacional Especializado, que tem como objetivo

(...) promover atividades, recursos de acessibilidade e pedagógico prestados de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos matriculados no ensino regular, além de garantir orientação às famílias5.

É importante salientar que este serviço garante a aprendizagem do educando quando acontece o diálogo, a troca e a constante revisão e avaliação, assim como a flexibilização dos conteúdos, ou seja, este trabalho em equipe garante o sucesso da educação inclusiva e desses estudantes. Mas na pandemia muitas coisas precisaram de adaptação, além do currículo e do olhar apenas para o diagnóstico ou laudo.

É importante pensar que na educação inclusiva a pessoa vem antes da deficiência. Por isso, é importante pensar que a comunicação ainda é a melhor ferramenta de trabalho. Nesse sentido, o uso das mídias sociais, a comunicação on-line, está sendo fundamental tanto para os profissionais quanto para as famílias e estudantes, assim, todos podem planejar e desenvolver formas de interação para esses educandos público-alvo da educação especial.

Existem marcos legais para fazer a educação inclusiva dar certo. Nos últimos anos, houve diversas transformações pertencentes a políticas públicas e práticas direcionadas à educação inclusiva. A exemplo disso, tivemos em 2006 a convenção sobre direitos das pessoas com deficiência, organizada pela ONU; em 2008 houve a criação da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva6, que tem como propósito determinar diretrizes para a construção de políticas e práticas pedagógicas com fins à inclusão escolar. E como primeira medida reformulando o papel da educação especial foi estabelecido o Atendimento Educacional Especializado.

Ainda sobre os marcos legais da educação inclusiva, temos a ratificação da convenção da ONU, que passou a atuar como referência para todas as leis e políticas brasileiras. Em 2014, o Plano Nacional de Educação (PNE) tem como pretensão universalizar o acesso à educação básica e ao AEE para o público-alvo da educação especial até 2024. E em 2015 a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) qual proíbe a recusa de matrícula e de cobrança de taxas adicionais em casos de estudantes com deficiência. Some-se a isto consequências positivas no que diz respeito ao acesso à inclusão, porque foi a partir de então que um grande número de matrículas de estudantes com deficiência começou acontecer.

No entanto, precisamos levar em consideração que há políticas de retrocessos, isso porque a educação inclusiva vem desafiando essa lógica excludente que rege as instituições de ensino. É nesse sentido que essa pesquisa caminha para conhecer as perspectivas dos professores do AEE e das famílias sobre as melhores estratégias para atender os alunos da educação inclusiva. Para melhor destrinchar as informações coletadas, caminhamos pela metodologia que mais se aproxima dessa realidade, a pesquisa de campo, conforme será apresentado no próximo tópico.

 

CAMINHOS METODOLÓGICOS

A pesquisa tem diversos caminhos metodológicos e quando o pesquisador opta por um é preciso estudar sobre ele para poder fazer referência e este caminho que vai levá-lo a desvendar o problema em estudo, definirá os procedimentos e técnicas para alcançar a comprovação, ter respaldo e efetivar a pesquisa. Portanto, este estudo está baseado na pesquisa qualitativa de cunho exploratório, por meio de uma pesquisa de campo. Neste tópico pretende-se ratificar os procedimentos metodológicos desta pesquisa abordando critérios para essa construção, o método de coleta, a forma de tratamento desses dados e, por fim, a análise dos mesmos.

Tipo de pesquisa

O método de pesquisa qualitativa, de cunho exploratório, foi escolhido devido ao objetivo da pesquisa, que é revelar as estratégias usadas para que a inclusão e o AEE continuem acontecendo nesse período de isolamento social em consequência da pandemia, para fins de efetivação da lei. Por entender que essa temática é algo recente e ainda pouco discutida no meio acadêmico, tendo em vista que estamos convivendo um caos em meio a essa pandemia de COVID-19, para a investigação foi escolhida a exploratória, que:

É realizada em áreas nas quais há pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Por sua natureza de sondagem, não comporta hipóteses que, todavia, poderão surgir durante ou ao final da pesquisa7. (p. 42)

Do mesmo modo, ao que se refere à investigação, foi usada a pesquisa de campo, como já mencionada em parágrafos anteriores, que, ainda segundo Vergara, é:

Investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos para explicá-lo. Pode incluir entrevistas, aplicação de questionários, testes e observação participante ou não7. (p. 43)

Isto é, o pesquisador organiza e agrupa as informações coletadas, além das palavras podem ser também pinturas, fotografias e desenhos - toda forma de registro. Isto permite ao pesquisador várias interpretações dependendo das entrevistas ou questionários a serem aplicados, o importante é filtrar as informações, ou seja, os dados coletados.

Seleção dos sujeitos

A seleção dos sujeitos para esta pesquisa deu-se a partir de troca de conversas em grupos de redes sociais, onde nos conhecemos buscando informações, trocando ideias, dialogando sobre como seriam os atendimentos nesse período de isolamentos social. E como houve essa identificação justamente no período de escrita desta pesquisa, logo, não poderia pensar em outros sujeitos. No decorrer dessa pesquisa, foi feita escuta de três professoras do Atendimento Educacional Especializado e oito mães de crianças e adolescentes que são alunos dessas professoras do AEE.

As entrevistas foram realizadas por meio de chamadas de vídeo pelo Meet, e por áudio via WhatsApp. O Quadro 1 detalha o perfil das 11 entrevistadas, classificando-as de acordo com a idade, tempo de experiência como professora do AEE, tempo de experiência como mãe de criança nesse atendimento e formação acadêmica.

Coleta de dados

Para análise deste estudo, a principal fonte da coleta de dados são as entrevistas realizadas com as professoras do AEE e com as mães das crianças atendidas, questionando-as sobre os recursos utilizados para os atendimentos durante o isolamento social. Em razão do afastamento social, as entrevistas foram realizadas via videochamada pelo aplicativo Meet com as professoras e em áudio via WhatsApp com as mães e subsequentemente transcritas, cabalmente, uma a uma. As entrevistas foram realizadas de julho a agosto de 2020, com duração de 30 a 50 minutos cada uma.

A entrevista pode ser informal, focalizada ou por pautas. Entrevista informal ou aberta é quase uma "conversa jogada fora", mas tem um objetivo específico: coletar dados de que você necessita. Entrevista focalizada também é tão pouco estruturada quanto a informal, porém já aí você não pode deixar que seu entrevistado navegue pelas ondas de múltiplos mares; antes, apenas um assunto deve ser focalizado. Na entrevista por pauta, o entrevistador agenda vários pontos para serem explorados com o entrevistado. Tem maior profundidade"7. (p. 52)

Foi utilizada a entrevista semiestruturada e o roteiro de perguntas abertas por opção e por entender que existe a possibilidade de flexibilização entre entrevistador e entrevistado. Foram cinco questões apresentadas às mães e às professoras (Quadro 2). É importante salientar que as perguntas geralmente são abertas, não estruturadas e é possível sempre extrair algo a mais dos sujeitos envolvidos.

 

 

ANÁLISE DOS RESULTADOS

Esta análise é baseada nas entrevistas semiestruturadas realizadas com as famílias e as professoras do AEE. O tratamento das entrevistas realizadas permitiu compreender a questão levantada nesta pesquisa. Nessa perspectiva, as análises serão feitas com o fito de equacionarmos e findarmos este estudo. Como escrito por Minayo8:

Os pesquisadores que buscam a compreensão dos significados no contexto da fala, em geral, negam e criticam a análise de frequências das falas e palavras como critério de objetividade e cientificidade e tentam ultrapassar o alcance meramente descritivo da mensagem, para atingir, mediante inferência, uma interpretação mais profunda8. (2006 apud 2015)

Assim, é pertinente pensar que a entrevista possibilita interpretar, inferir e analisar de forma reflexiva as informações obtidas. Durante as entrevistas, foram feitas perguntas sobre o AEE e as aulas nesse contexto de pandemia. Na busca por conhecer a concepção das famílias e profissionais do AEE, nota-se que os entrevistados, tanto mães quanto profissionais do AEE, estão empenhados em desenvolver um bom trabalho e reforçar a inclusão.

O que é o Atendimento Educacional Especializado pra você? Essa foi a pergunta inicial feita para família e professores. Para os professores, o AEE é:

Prof 1: Não é reforço. É uma mediação que precisa ser analisada e atuar de forma flexiva junto ao professor regente da turma.

Prof 2: O AEE tem que conhecer o perfil do aluno e, assim, organizar recursos pedagógicos que possibilitem a aprendizagem promovendo a plena participação desses alunos.

Prof 3: AEE é um atendimento no contraturno que tem como função elaborar e organizar recursos pedagógicos considerando as necessidades específicas de cada aluno.

Feita a mesma pergunta para as mães, algumas responderam dizendo que é um reforço, enquanto outras responderam dizendo que é atendimento psicológico e apenas duas conseguiram dizer o que é e o que faz a professora do AEE. Logo, entende-se que é importante sempre falar sobre a importância do Atendimento Educacional Especializado, das salas de recursos e dos profissionais que acompanham cada criança e porque acompanham. Com isso, o Gráfico 1 representa o quanto as famílias e os profissionais conhecem o AEE.

 

 

O AEE é definido pela Política de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva como:

(...) função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela6. (p. 10)

A partir dessa citação, pode-se afirmar que o Atendimento Educacional Especializado atua de forma a complementar o ensino regular a partir da flexibilização dos conteúdos trabalhados nas salas de aula, na perspectiva de focar nas necessidades, mas também no potencial de cada aluno.

A pesquisa vem trazendo as realidades e desafios encontrados na busca por estratégias para a continuidade das aulas para o público-alvo da educação especial fazendo valer os seus direitos. Assim, buscou-se saber também das famílias e professores qual a maior dificuldade na hora das aulas.

Prof 1: "(...)Mantê-los por um determinado tempo em frente à tela".

Prof 2: "Hoje estão mais tranquilos, já se acostumaram com a ideia, mas no início realmente foi complicado permanecerem nas aulas virtuais".

Prof 3: "Conseguir conciliar o tempo da mãe com nosso tempo, por causa da necessidade de desenvolver a atividade juntos".

Nesta pesquisa, todas as pessoas entrevistadas foram mães, não por opção, mas porque a maioria dos acompanhantes e chefes de família são mulheres. E isso se confirmou quando buscamos os responsáveis que pudessem participar desta pesquisa.

Por isso, a Professora 3 fez questão de enfatizar que as casas que são chefiadas por mulheres foram os lares que mais tiveram problemas com essa nova realidade de ensino. A partir dessa percepção, outra questão também levantada para a entrevista foi: Qual o melhor recurso ou estratégia para que aconteçam as aulas das crianças da educação especial?

Mãe 1: Gostei quando começaram mandar os vídeos pra gente fazer com os filhos.

Mãe 6: Aulas on-line, tem mais autonomia para falar com a professora e ela percebe logo se o aluno está fazendo a atividade.

Mãe 4: Adorei a ideia de dar continuidade às nossas crianças. Não importa como seria, mas teríamos aulas pra elas, que muitas vezes são esquecidas.

As demais mães são bem atuantes e valorizam o trabalho do profissional do AEE mesmo a distância para não deixar nenhum aluno para trás, mas sentem falta da relação corpo a corpo, das aulas presenciais.

O que mudou nesse contexto de isolamento social em relação à educação do seu filho ou da sua filha?

Mãe 5: Ele está mais retraído e, por isso, não está interagindo como antes nas aulas virtuais. Ainda que a professora seja bem empenhada.

Mãe 2: Mudou muita coisa. Às vezes tem vontade só de ver a professora, tem dias que nem da cama quer levantar. Acho que isso afeta na aprendizagem dele.

Mãe 5: A rotina mudou completamente e de repente e, com isso, o déficit de atenção progrediu, o que possibilitou uma regressão em alguns comportamentos.

As demais mães concordam que devido à mudança de rotina de forma brusca as crianças perderam um pouco o ritmo e a aprendizagem está realmente solta, não por causa dos profissionais, mas pelas próprias crianças.

Qual conclusão você tira desse período de pandemia onde tivemos que se reinventar e fazer com que a educação inclusiva dê certo dentro desse processo?

Professores: Repensar e refletir novas práticas para todos os momentos e não deixar para pensar no momento de desespero e emergência.

Mães: A educação continuou, podemos ver professores e escolas empenhadas em fazer valer a educação. Têm famílias que não acompanham, não valorizam o esforço, mas estamos aqui na torcida para que tudo volte ao normal.

E, por fim, concluo este tópico dizendo que as falas das professoras do AEE e das mães em vários momentos se cruzam no sentido de perceber vontade em fazer a educação acontecer para todos e todas envolvidas neste processo, se cruzam quando percebem as necessidades encontradas nos lares de cada família.

 

CONCLUSÃO

Conclui-se que o uso dos recursos tecnológicos favoreceu muito neste período de pandemia, assim como os recursos materiais mais variados no AEE, os quais são de grande importância, pois podem contribuir em vários aspectos de desenvolvimento dos aprendentes. Observou-se que algumas crianças possuíam outros potenciais e habilidades que até então não tinham sido notados e o AEE respeita o tempo, o ritmo, e as habilidades de cada aluno e, por isso, pensam sempre numa forma de flexibilizar o que é proposto no ensino regular. É importante salientar que o trabalho da equipe é importante, que é necessário atuar de forma colaborativa buscando efetivar o ensino aprendizagem de cada sujeito. E, para finalizar, este trabalho apresenta para a sociedade e para a academia a importância de refletir sempre sobre sua prática, sua forma de pensar e agir numa sociedade que deve pensar de maneira mais inclusiva.

 

REFERÊNCIAS

1. Mendes RH. Covid-19: Ensino a distância precisa almejar equidade [acesso 2020 Jul 17]. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/rodrigo-mendes/2020/04/03/covid-19-ensino-a-distanciaprecisa-almejar-a-inclusao.htm        [ Links ]

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3. Brasil. Presidência da República. Lei 13.146, de 06 de julho de 2015: Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília: Diário Oficial da União; 2015 [acesso 2020 Nov 1]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm        [ Links ]

4. Mantoan MTE. Inclusão promove justiça. São Paulo: Nova Escola; 2005 [acesso 2020 Ago 20]. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/902/inclusao-promove-a-justica        [ Links ]

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6. Brasil. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: Ministério da Educação; 2008 [acesso 2020 Out 20]. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf        [ Links ]

7. Vergara SC. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas; 2009.         [ Links ]

8. Minayo MCS, org.; Deslandes SF, Cruz Neto O, Gomes R. Pesquisa Social: Teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes; 2015.         [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência:
Natalia Ramos de Souza
Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Rua Silveira Martins, 2555 - Cabula - Salvador, BA, Brasil - CEP 41.150-000
E-mail: Pedagogia.natalia2012@gmail.com

Artigo recebido: 8/7/2021
Aprovado: 10/11/2021

 

 

Trabalho realizado na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Salvador, BA, Brasil.
Conflito de interesses: A autora declara não haver.

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