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Revista Psicopedagogia

versão impressa ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.38 no.117 supl.1 São Paulo  2021

http://dx.doi.org/10.51207/2179-4057.20210054 

PONTO DE VISTA

 

Relações entre os aspectos afetivos e ensino-aprendizagem em tempos pandêmicos

 

Relations between affective aspects and teaching-learning in pandemic times

 

 

Mara Dantas PereiraI; Joilson Pereira da SilvaII

IGraduada em Psicologia - Universidade Tiradentes (UNIT); Mestranda em Psicologia - Universidade Federal de Sergipe (UFS), Aracaju, SE, Brasil
IIDoutor em Psicologia - Universidad Complutense de Madrid (UCM); Professor no Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI) - Universidade Federal de Sergipe (UFS), Aracaju, SE, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Diante da pandemia, pôde-se perceber uma adequação do sistema educacional brasileiro para ofertar o ensino remoto ou híbrido. Essas alterações atingiram significativamente as dinâmicas de interação social que se constituem em um elemento primordial para o processo de ensino-aprendizagem. Assim, se fez necessário criar novos espaços virtuais de convivência e afetividade no processo de aprendizagem, sendo preciso que o educador tenha consciência do dever de colaborar para a construção da personalidade de seus educandos. Por isso, é requerido que o educador esteja atento à realidade de cada aluno, levando em consideração seu contexto familiar e seu lado emocional. Ademais, é fundamental o apoio pedagógico e afetivo na relação ensino-aprendizagem em tempos de pandemia.

Unitermos: Educação. COVID-19. Aprendizagem. Afetividade.


ABSTRACT

In face of the pandemic, one can perceive an adequacy of the Brazilian educational system to offer remote or hybrid education. These changes have significantly affected the dynamics of social interaction that constitute a primordial element for the teaching-learning process. Thus, it was necessary to create new virtual spaces of coexistence and affectivity in the learning process, being necessary that the educator be aware of the duty to collaborate in the construction of the personality of his students. Therefore, it is required that the educator be attentive to the reality of each student, taking into account their family context and their emotional side. Furthermore, pedagogical, and affective support in the teaching-learning relationship in times of pandemic is fundamental.

Keywords: Education. COVID-19. Learning. Affectivity.


 

 

Escrevemos em meio ao turbilhão de informações que se acumulam sobre a pandemia da COVID-19 (doença respiratória aguda originada pelo coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave 2, SARS-CoV-2), que foi identificada pela primeira vez em Wuhan, na província de Hubei, República Popular da China, em 1 de dezembro de 2019. Desde então, fez milhões de vítimas fatais ao redor do mundo, sendo o Brasil, atualmente, o novo epicentro da doença. Nesse cenário pandêmico, visando reduzir os impactos, autoridades sanitárias de todo o mundo recomendam medidas de distanciamento social, consideradas essenciais para o controle da doença, o que incluiu o fechamento das instituições de ensino.

Desse modo, nos dias atuais pode-se perceber uma adequação do sistema educacional brasileiro para ofertar o ensino remoto ou híbrido (aprendizagem presencial e remota), posto que essas mudanças atingiram significativamente as dinâmicas de interação social que se constituem em um elemento primordial para o processo de ensino-aprendizagem, especialmente para a educação infantil. Sendo assim, a colaboração das famílias com os educadores se torna um mecanismo essencial para a construção do conhecimento.

Portanto, cabe asseverar que, ao criar novos espaços virtuais de convivência e afetividade no processo de ensino-aprendizagem, é preciso que o educador tenha consciência do dever de colaborar para a construção da personalidade de seus educandos. Por isso, necessita estar atento à realidade de cada aluno, levando em consideração seu contexto familiar e seu lado emocional.

Antes de seguirmos, contudo, precisamos dizer que é por meio da afetividade que nos identificamos e nos relacionamos com outros indivíduos. Por isso, um educando carente de afeição tende a encontrar dificuldades para se entrosar e se relacionar com as demais, o que acaba impedindo-o de participar adequadamente do processo de ensino-aprendizagem.

Assim, as atividades de acompanhamento virtual não só devem elucidar o entendimento dos conteúdos, mas, também, devem contribuir para o desenvolvimento afetivo do educando, nos significantes conteúdos atitudinais, que estão na base da formação dos valores, e que juntos concebem um ambiente motivador, de interesse e compromisso.

Além disso, vale refletir que a aquisição de novos saberes é profundamente influenciada pelas emoções, a satisfação é decorrência de repetições de ações motivadas, sendo que os comportamentos motivados são, em sua grande parte, aprendidos. Essas ações advertem consideravelmente a fisiologia e os processos mentais, estimulando recursos para a atenção e concentração. Nesses moldes, as emoções positivas incluem também circuitos dopaminérgicos presentes no estímulo da motivação, elemento necessário para a aprendizagem. Logo, o aprendizado é um produto da influência mútua entre o homem e o ambiente.

Diante dessas concepções, as emoções podem ser vistas nos aspectos comportamentais positivos e negativos, conscientes e inconscientes, e podem equivaler semanticamente a outras expressões, como a afetividade, a inteligência emocional, a motivação, a personalidade do sujeito, etc., cuja relevância na aprendizagem e nas interações sociais é de crucial importância.

Dessa forma, em função das necessidades, interesses e motivações dos indivíduos, as emoções oferecem dados essenciais para imaginar e engendrar ações e para satisfazer os seus objetivos. No ser humano, ao longo da sua evolução, e na criança, no decorrer do seu caminho de desenvolvimento, todas as ações e pensamentos (cognição) são coloridas pela emoção.

Nesse contexto, e diante do cenário provocado pela pandemia, famílias se encontram em isolamento social, o que oportunizou a retomada de práticas significativas como a leitura recreativa, no qual os familiares compartilham histórias (e.g., histórias em quadrinhos e fábulas), possibilitando que operações cognitivas relevantes como a criatividade entrem em ação por intermédio da imaginação (consciente ou inconscientemente).

Esse reencontro permitiu às crianças não só vivenciarem o interesse e preocupação dos pais, como focalizar sua atenção como forma de reafirmar aspectos significativos de sua personalidade, como autoconceito, autoestima e confiança, tal qual fatores indispensáveis para enfrentar com sucesso os desafios e obstáculos ao longo da vida. Dessa maneira, esse contato corporal e cordialidade nas relações pais-filhos se traduz em maiores probabilidades de garantir o crescimento emocional, físico e mental. Assim dizendo, proporciona o fortalecimento do seu bem-estar integral para que possam integrar e participar competitivamente dos desafios da convivência na escola.

Assim, como o exposto anteriormente, as alterações drásticas que o mundo vivencia com a pandemia e que mudaram as relações interpessoais nada mais são que processos inevitáveis que definem um continuum. É notório que a principal tarefa da Educação é incentivar o educando a fortalecer sua sensibilidade para com os outros, sem descuidar do compromisso imediato de produzir atividades educativas que possibilitem a aprendizagem para a vida e a flexibilidade para se adaptar às mudanças; ou seja, conduzir o aluno no desenvolvimento de atitudes como autonomia, responsabilidade e disciplina; tríade estratégica da qual resulta na conquista da autorrealização.

Finalmente, sabemos da importância do apoio pedagógico e afetivo na relação ensino-aprendizagem, pois é necessário produzir atividades educativas que favoreçam uma aprendizagem para vida, bem como o fortalecimento emocional dos educandos no processo de adaptação eficiente às mudanças na Educação decorrentes da pandemia. Desse modo, proporcionando o fortalecimento do bem-estar emocional e a concepção das competências educacionais entre os alunos, para que seja possível se integrarem e participarem relativamente dos desafios cotidianos no âmbito escolar.

 

 

Endereço para correspondência:
Mara Dantas Pereira - Av. Murilo Dantas, 1155
Farolândia - Aracaju, SE, Brasil - CEP 49032-490
E-mail: maradantaspereira@gmail.com

Artigo recebido: 12/2/2021
Aprovado: 20/10/2021

 

 

Trabalho realizado na Universidade Federal de Sergipe (UFS) - Departamento de Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGPSI/UFS), Aracaju, SE, Brasil.
Conflito de interesses: Os autores declaram não haver.

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