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Revista Psicopedagogia

versión impresa ISSN 0103-8486

Rev. psicopedag. vol.40 no.121 São Paulo ene./abr. 2023

http://dx.doi.org/10.51207/2179-4057.20230012 

EDITORIAL

 

Nem só de tecnologia se conecta a aprendizagem

 

Not only technology connects to learning

 

 

Luciana Barros de Almeida

 

 

Apresentamos a Edição 121 do nosso periódico, que é também a abertura da décima oitava gestão da Associação Brasileira de Psicopedagogia - Triênio 2023-2025. Nossos cumprimentos ao Conselho Nacional da ABPp e à Drª Marisa Irene Siqueira Castanho, Presidente Nacional reeleita, bem como cumprimentamos a todos os Conselheiros Regionais, Presidentes de Seção e Coordenadores de Núcleos com suas respectivas diretorias em todas as vinte unidades afiliadas da ABPp no Brasil.

Especialmente, agradeço publicamente à confiança em mim renovada para estar, novamente, como Editora deste importante veículo de comunicação oficial da ABPp. Comprometo-me em continuar fazendo o melhor possível, inclusive inovando e revendo ações necessárias para a expansão da Revista Psicopedagogia em todos os seus âmbitos.

Nós, da Revista Psicopedagogia, somos sim usuários de tecnologia, aliás, é pela tecnologia que viabilizamos a editoração desse nosso periódico desde o início de seu processo, na submissão, até a etapa final, ao disponibilizar o periódico eletrônico em nosso site. Também, por isso, somos favoráveis, mas para além disso é um compromisso nosso pensar no uso que fazemos das incontáveis ferramentas tecnológicas disponíveis.

Com as transformações tecnológicas, periodicamente aparecem novas indagações que se refletem no processo de aprendizagem, na permanência da educação e de seus coparticipes. Diante disso, é imprescindível entender que o uso das tecnologias por si só não garante a aprendizagem, já que tecnologia é meio, não é fim.

As tecnologias de modo geral são, obviamente, um benefício quando há o uso adequado. A virtualidade, a representação do real permitem traduzir quase tudo em imagens. São meios facilitadores e, sem eles, teríamos inúmeros obstáculos a transpor se a virtualidade não estivesse ao nosso alcance. Entretanto, a utilização desenfreada da Internet mudou completamente a forma de nos comunicarmos.

Desde a Segunda Guerra Mundial, as mudanças na sociedade vêm se acelerando paulatinamente, dentro disso, o aprimoramento das tecnologias de comunicação se destaca. Na atualidade, tecnologias digitais foram colocadas em diferentes segmentos da sociedade, mudando até mesmo a maneira como as pessoas se relacionam.

O uso de tecnologias pelas pessoas tem sido um novo paradigma, condição sine qua non, chegando a diferentes modos de pensar, comunicar e agir, portanto, alterando a vida cotidiana. Neste presente momento muito se ouve falar, debater e questionar das variadas formas como a Inteligência Artificial (IA) está transformando a educação. Os recursos são diversos, em suma, é importante assegurar que a IA seja usada de maneira responsável e ética na educação.

Em novembro/2022, foi lançada uma ferramenta da IA que tem sido muito propagada e se comprometendo com grandes transformações na indústria de tecnologia. A plataforma, além de responder diversas perguntas, simula a linguagem humana e em sua terceira versão já alcançou cerca de 100 milhões de usuários em pouco mais de três meses. Importantes órgãos de imprensa apontam como mais um momento disruptivo da história da Internet.

Trata-se de um robô virtual capaz de responder a perguntas e atender comandos que vão desde compor uma canção a escrever um artigo acadêmico sobre um tema determinado, além de outras capacidades mais. Por isso, cada dia mais temos que assegurar a humanização entre as pessoas para que as relações humanas se sustentem para que a ética e a responsabilidade vigorem e se renovem a cada nova ferramenta tecnológica.

Por se tratar de uma ferramenta que dentre suas funções responde a perguntas que ali são elaboradas, há um ponto importante para o uso apropriado dessa ferramenta que é, nesta particularidade, investir mais na qualidade das perguntas que vamos fazer do que restringirmo-nos nas respostas robotizadas que serão obtidas. Saber pensar!

A própria ferramenta, quando perguntada sobre a questão, alerta: "É importante lembrar que a IA é uma ferramenta e, como tal, pode ser usada para melhorar ou simplificar o trabalho humano, mas também para substituí-lo."

Medo? Temor? Boicote? Não, de jeito nenhum. Mais uma vez, a natureza humana nos sinaliza que é preciso fazer cada vez melhor aquilo que é próprio da educação. Cuidar do Ser Humano numa perspectiva antropológica da humanização.

Vamos à apresentação sequencial dos manuscritos que compõem essa edição:

- como primeiro texto na seção Artigo Especial, temos "Repercussões sociais/culturais e psíquicas da linguagem escrita na aprendizagem do sujeito", cuja autora, Edith Rubinstein, é psicopedagoga, é do grupo de fundadoras da ABPp, em 1980, atuando até o presente momento como psicopedagoga, traz que a linguagem escrita é uma ferramenta básica em nossa Cultura, pois ela permite resgatar e transmitir o patrimônio cultural através da História da Humanidade. Aprender a ler e escrever é um "rito de passagem" que demanda experiências formais e informais, dentro e fora do contexto escolar. Este artigo descreve a amplitude do que envolve a queixa escolar referente à produção de linguagem de maneira integral e integrada, apresentando enfoques teóricos que fundamentam a Psicopedagogia Dinâmica no que diz respeito ao desenvolvimento da linguagem.

- temos um artigo original, de Debora Cristina da Silva Evaristo; Bianca Arruda Manchester de Queiroga e Simone Aparecida Capellini, cujo título é "Impactos do isolamento social no desenvolvimento de pré-escolares", no qual aborda-se uma das principais estratégias utilizadas para conter a progressão da pandemia da COVID-19, que foi o isolamento social. As escolas precisaram se adequar a um novo formato de funcionamento, buscando ofertar ensino remoto por meio de atividades e ferramentas novas. Professores e familiares precisaram se adaptar a essas novas condições, mesmo sem uma preparação prévia e com muitas dificuldades. Destaca-se que a Educação Infantil foi particularmente afetada pelas mudanças, por ser um período em que as vivências lúdicas e interações sociais são muito importantes. O objetivo desta pesquisa foi investigar a percepção de pais e professores sobre o impacto do isolamento social no desenvolvimento de pré-escolares.

- mais um artigo original, de Victor Barbosa Ribeiro; Renata Plaza Teixeira; Andressa Stephanie Fernandes Silva; Higino Carlos Hahns-Júnior; Beatriz de Oliveira Cardoso; Nicoli Brandão dos Santos; Michael Macedo Diniz e Gislaine Satyko Kogure, intitulado "Alteração do estado emocional de professores da educação básica brasileira", traz um estudo que avaliou a associação da saúde mental com fatores do ambiente de trabalho de professores brasileiros. Para tanto, foram aplicados um questionário semiestruturado com questões socioeconômicas e o Hospital Anxiety and Depression Scale para 499 professores, recrutados por meio do Facebook e Instagram. Muitos professores brasileiros sofrem com quadros de ansiedade e depressão e fatores controláveis interferem diretamente. Sugere-se que o poder público e os proprietários de escolas privadas intervenham nesses contextos para evitar o colapso da saúde desses profissionais.

- neste artigo de revisão, de autoria de Neyse de Carvalho Ribeiro; Thiago Correa Lacerda e Ivani da Silva Soares, "Altas habilidades: Indicativos sobre inteligência lógico-matemática no pensamento computacional", estima-se que 5% da população tenha altas habilidades, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, podendo esse número ser ainda maior. O objetivo é realizar uma pesquisa na área das Altas Habilidades com foco na inteligência lógico-matemática e a criatividade no Pensamento Computacional. O atendimento desse público ainda é incipiente na medida em que as políticas públicas destinadas a ele não são implementadas como deveriam ser.

- mais um artigo de revisão, "Efetividade de intervenções para redução da ansiedade matemática", de Rosemeire Aparecida Trebi Curilla e João dos Santos Carmo, apresenta como objetivo deste estudo investigar a efetividade de intervenções para redução da ansiedade matemática (AM) em crianças e/ou adolescentes, sistematizando sugestões para o atendimento psicopedagógico. Os resultados sugerem que intervenções que enfatizam aspectos pedagógicos e psicoterápicos são mais efetivas na redução da AM em crianças e adolescentes, enquanto as que utilizam apenas uma dessas estratégias apresentam menor efetividade. Implicações para guiar a prática do psicopedagogo são discutidas à luz das evidências científicas e recomendações são apontadas para a sua atuação em caso de AM.

- outro artigo de revisão, "Neuroplasticidade, memória e aprendizagem: Uma relação atemporal", de José Mário Chaves, cujo presente texto tem como objetivo geral versar sobre a relação atemporal existente entre a neuroplasticidade, a memória e a aprendizagem humanas. Essa temática é de crucial importância para os estudantes brasileiros, eis que na medida em que se conhece o que influencia positiva e negativamente na memória é possível obter melhores resultados no que toca à aprendizagem.

- este artigo de revisão, "Um traço e um abraço: afetividade como elemento facilitador da aprendizagem", de Renata Soares Leal Ferrarezi, fala da afetividade no ser humano por toda a sua existência, desde o nascimento até a sua morte, estando presente em todas as fases da vida. A questão que se coloca é: Qual a importância da afetividade na relação aluno e professor e como esta influencia a prática pedagógica? A afetividade indiscutivelmente ocupa lugar de destaque dentro do processo de aprendizagem e a maneira como ela acontece pode ser decisiva na concepção de mundo construída pelo aluno, bem como na sua elaboração do conhecimento.

- mais um artigo de revisão "Crianças institucionalizadas: O impacto da privação psicossocial precoce na memória", de Juciane de Holanda Santos, cujo trabalho tem por objetivo compreender como experiências emocionalmente traumáticas interferem na memória de crianças institucionalizadas (do nascimento aos 6 anos) em relação ao processo de aprendizagem. A falta de experiências afetivas na primeira infância, especificamente em crianças vítimas de abandono, maus-tratos, negligência e abuso, comuns nos casos de privação psicossocial, tem implicações como um estresse, e o impacto do estresse no início da vida pode afetar a memória, e sem memória não há aprendizagem. A pesquisa problematiza o assunto para que novos estudos sejam feitos para um maior entendimento sobre o impacto da privação psicossocial precoce de crianças na memória e na aprendizagem.

- "Desempenho psicomotor em pessoas com transtorno do espectro autista: Revisão sistemática", de Mírian Carla Lima Carvalho e Elle Beethoven Resende, é outro artigo de revisão, que traz o conhecimento do psicomotricista teórico embasado na ontogênese, o que pode ser representado como um "Efeito dominó", uma peça é chave para a outra, uma habilidade embasa a outra, como visto na perspectiva de Luria. O trabalho do psicomotricista com o Transtorno do Espectro Autista envolve a avaliação de áreas desenvolvimentais, tendo em vista que é um transtorno do neurodesenvolvimento. Observou-se que os objetivos propostos pelo estudo foram alcançados, no entanto, esperava-se encontrar uma diversidade de instrumentos aplicados, tendo em vista que apenas dois foram encontrados, o que requer mais estudos com essa população diferenciando a instrumentação.

- "Representação de professoras em Mário de Andrade: Loucura e velhice", de Marco Antonio de Santana, é o último artigo de revisão, este busca analisar as representações de professoras presentes no conto "Atrás da Catedral de Ruão" (1947) e no romance "Amar, verbo instransitivo" (1944), ambos de Mário de Andrade, com ênfase nas questões incertas sobre a noção de velhice e loucura. A literatura no presente estudo significou importante artefato cultural, também serviu como peculiar fonte para interpretação pelos historiadores do presente, de modo que o método aqui utilizado foi aquele sintetizado na noção de operação historiográfica preconizada por Michel de Certeau (1975/2020).

- fechando a edição 121, temos um relato de experiência, de Beatriz Picolo Gimenes, "O papel da ludicidade como fator estruturante da identidade humana/individualidade", este artigo reflexiona sobre a "ludicidade", seus significados e manifestações, especialmente como "criatividade latente" e função estruturante na constituição da "identidade humana", focando o desenvolvimento humano. As referências são em pesquisas pela Neurociência e Psicomotricidade com os paradigmas sistêmicos - corpo e mente integrados. Decorre da experiência pessoal no brincar em brinquedotecas e da prática docente/clínica na Psicopedagogia e Psicologia.

Por fim, nos últimos dias de dezembro/2022, a Revista Psicopedagogia ascendeu à categoria Qualis* A3, perante a CAPES, no âmbito da Avaliação Quadrienal 2017-2020. Isso nos deu enorme satisfação e renovação do compromisso de manter a qualidade do trabalho dedicado à editoração desse periódico. Nesse sentido precisamos reconhecer o trabalho de tantos que compõem conosco essa história e sua continuidade. Fazem parte dessa conquista os Autores que nos escolhem ao submeterem seus manuscritos, os Pareceristas, que, mesmo não sendo amplamente conhecidos em suas funções, nos emprestam seu tempo e conhecimento em colaboração com a avaliação dos manuscritos submetidos, vocês têm nosso reconhecimento. Também em nossa equipe temos a efetiva atuação do Conselho Editorial Executivo que se reúne periodicamente para revisar a Política Editorial e seus respectivos membros, dentre outras finalidades. Assim como, todos os nossos prestadores que labutam nos bastidores para fazer acontecer o que hoje alcançamos.

Que a leitura dessa edição seja proveitosa a todos que dela usufruírem!

Luciana Barros de Almeida

Associação Brasileira de Psicopedagogia

Conselheira Vitalícia da ABPp

Editora-Responsável da Revista Psicopedagogia

Triênio 2020-2022 / 2023-2025

 

 

* Qualis é o conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES para estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação. Fonte: https://www.gov.br/capes/pt-br/assuntos/noticias/capes-aprova-a-nova-classificacao-do-qualis Acesso em: 23/3//2023

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