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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. v.15 n.1 São Paulo abr. 2005

 

PESQUISA ORIGINAL RESEARCH ORIGINAL

 

Os rituais de adormecimento da criança pequena. Alguns resultados de uma pesquisa realizada na região da Picardia*, França

 

Sleeping rituals of the small child. Some results of a study conducted in the region of Picardy, France

 

 

Christine Brisset

Mestre em Psicologia na IUFM de Amiens, França. Texto apresentado no simpósio: Relações precoces mãe-criança e práticas de cuidados, no Congresso ARIC, 2003. Endereço profissional: IUFM Amiens 49 boulevard Châteaudun 80044 Amiens CEDEX 1. email: christine.brisset@amiens.iufm.fr

 

 


RESUMO

Nosso estudo se refere ao momento específico de adormecimento da criança pequena e aos diferentes tipos de representações que o cercam em nossa sociedade ocidental. Este espaço de separação possível pode ser a ocasião do desenvolvimento de rituais particulares. Após uma pesquisa sobre a evolução dos aconselhamentos dados aos jovens pais nos manuais de puericultura, assim como sobre a evolução das representações iconográficas, perguntamos aos pais sobre suas representações e sobre suas práticas de acompanhamento do sono de seu filho. É esse trabalho que apresentaremos aqui. Um de nossos objetivos foi escutar o discurso parental sobre a relação e as condições instauradas quando do adormecimento da criança pequena. Nossa pesquisa é bastante específica na medida em que demos a palavra aos pais da Picardia mas, paralelamente, inscreve-se em um trabalho mais amplo de comparação intercultural.

Palavras-chaves: Sono. Adormecimento. Criança. Pais. Representações. Práticas de maternagem.


ABSTRACT

Our study approaches the specific moment in which the small child falls asleep and the different types of representations that surround it in our western society. This space of possible separation can be the occasion for the development of private rituals. After researching the evolution of advices given to young parents in childcare manuals, as well as the evolution of iconographic representations, we asked the parents about their representations and practices of monitoring their child's sleep. It is this work that we will present here. One of our aims was to listen to the parent discourse about the relationship and conditions instituted when the small child falls asleep. Our research is quite specific, as we listened to the words of parents from Picardy, but, at the same time, it is inscribed in a broader work of cross-cultural comparison.

Key-words: Sleep. Falling asleep. Child. Parents. Representations. Mothering practices.


 

 

INTRODUÇÃO

Cada indivíduo tem características próprias e tem, portanto, sua maneira de dormir e de adormecer. Ora, ao mesmo tempo, o indivíduo faz parte de uma cultura que possui técnicas de corpo específicas. Escolhemos apresentar aqui uma parte dos resultados de um estudo realizado no Centro de Estudos e de Pesquisas Interculturais sobre a Infância Inicial (C.E.R.I.P.E.), grupo de pesquisa da Universidade Paris V, que era dirigido pela Professora Hélène Stork, e onde pudemos participar de pesquisas desde 1989 a 1999. Tratava-se de uma comparação intercultural das práticas de maternagem no qual um grupo de trabalho em torno do sono da criança pequena se desenvolveu. Nosso estudo se refere ao momento específico do adormecimento da criança pequena e aos diferentes tipos de representações que o cercam em nossa sociedade ocidental.

Os trabalhos de Marcel Mauss1 forneceram a base para escolhermos levar o nosso olhar para o caráter concomitantemente individual e coletivo do sono. Nas sociedades ocidentais, freqüentemente é perceptível uma ambivalência a propósito da distância a ser tomada com relação à criança pequena. Paralelamente, o adormecimento é um momento interativo fazendo parte das técnicas do corpo. Essas são muito diferentes (e podem ser funcionais, lúdicas, afetivas ...); porém, é possível encontrar uma dominante principal para qualificar essas interações e destacar "estilos culturais de maternagem"2.

Existiriam, assim, estilos diferentes segundo a "dosagem" dos modos de contato com a criança, das estimulações que lhe são oferecidas, das modalidades relacionais que se instauram entre a família e a criança: interações proximais ou distais. São dominantes que não excluem de nenhum modo todas as situações intermediárias possíveis.

Nossa pesquisa deu lugar a três análises realizadas conjuntamente: primeiramente, uma análise das representações iconográficas do sono da criança através dos séculos, completada por uma análise dos manuais de puericultura francesa tradicional e, finalmente, um estudo do discurso parental sobre o sono de sua criança e das práticas de maternagem em uma região francesa específica: a Picardia.

Um estudo sobre as representações referentes ao sono da criança pequena

Para esses três estudos, foi efetuada uma análise segundo um quadro de leitura considerando-se três critérios principais. O primeiro estava constituído pelo modo e pelo lugar do dormir. O modo correspondia ao lugar material onde ficava deitada a criança: o moisés, o berço, a cama pequena, a cama dos pais, etc.; o lugar era o cômodo no qual se deitava a criança: quarto individual ou partilhado (com os pais, com os irmãos, etc.). O segundo critério se referia á proximidade / distância quando do adormecimento: era a presença física, a distância do adulto ante a criança. O último critério escolhido foi a presença / ausência de mediadores no adormecimento: pode se tratar de comportamentos (cantar, embalar, ler história, etc.) ou de objetos (chupeta, caixa de música, bichinho, etc.).

Após uma pesquisa sobre os conselhos dados aos jovens pais nos manuais de puericultura (análise feita levando em conta o período de um século e que muito nos ensinou sobre a evolução das representações referentes à criança pequena, os cuidados a lhe proporcionar, a distância a ter com ela), assim como sobre a evolução das representações iconográficas (quadros selecionados em função da presença de uma criança adormecendo ou adormecido), entrevistamos pais sobre suas representações e sobre suas práticas de acompanhamento de sono de seu filho. É este último ponto que apresentaremos aqui, retomando os principais critérios do quadro de leitura.

O impacto das representações nas práticas do adormecimento

Para essa problemática, postulamos que a maneira como uma criança adormece é, em grande parte, determinada pelas imagens parentais, conscientes ou inconscientes, referentes ao sono. Essas são influenciadas pelos hábitos e pelas crenças da cultura de onde os indivíduos saíram e transparecem na relação pai-criança, por exemplo, no momento do adormecimento, momento em que o pai e a criança vivem a passagem entre a vigília e o sono. Esta passagem é função da dimensão individual (problemática própria de cada indivíduo, ele próprio membro de um ambiente familiar), mas também das representações coletivas da sociedade em questão.

Uma primeira parte da análise sobre as representações coletivas foi realizada a partir dos estudos acima referidos sobre a evolução das iconografias e dos manuais de puericultura. Paralelamente, as representações parentais atuais foram apreendidas graças a um questionário padrão (em anexo) utilizado em vários países pelos membros do C.E.R.I.P.E.

Especificamente para este trabalho, propusemos a hipótese que certas representações do sono em nossa sociedade teriam, em grande parte, induzido uma separação, sem transição, da criança. O discurso parental atual refletiria, portanto, um certo distanciamento nas práticas do adormecimento. A presente análise tem como objetivo visualizar melhor os rituais de adormecimento afim de perceber as condições e a relação instaurada quando a criança é deitada para dormir.

Retomando a classificação de Hélène Stork referente aos comportamentos distais e proximais, postulamos a existência de uma área de adormecimento mais na dominante distal do que na dominante proximal, para a nossa população ocidental.

Trabalhamos a partir da fala dos pais. Qual é a proximidade e a distância entre a criança e o adulto no adormecimento? O pai fala de um afastamento ou, ao contrário, de uma aproximação? E se for relatada uma aproximação, quais são as interações realizadas? Quais são os rituais do deitar citados?

 

MÉTODO

Entrevistamos 100 pais sobre suas representações e sobre suas práticas de acompanhamento do sono da criança. Nossa pesquisa foi realizada na Picardia, na região de Amiens. É uma região marcada pela chegada de migrantes saídos de múltiplas culturas.

Nossa amostra foi, assim, composta de três tipos de famílias: famílias de origem francesa; famílias migrantes; e famílias compostas de um pai francês de origem e de um pai migrante.

Para esta análise, utilizamos um questionário padronizado elaborado pelo grupo de trabalho. Este instrumento foi construído a partir do questionário "tradições familiares de cuidados de crianças jovens"3 e da "check list de sintomas"4.

As entrevistas ocorreram nas consultas da Proteção Materna e Infantil (PMI) da cidade de Somme**, com homens e mulheres provenientes de origem urbana ou rural e de meios sócio-econômicos diferentes. Realizamos o questionário por intermédio de uma entrevista semi-diretiva.

Diferentes variáveis foram levadas em consideração: o sexo da criança e do pai, a idade da criança, a cultura de origem, as características do meio (nascimento de um caçula, falecimentos, separações, mudanças, dificuldades diversas). Escolhemos canalizar o olhar essencialmente para a cultura de origem dos pais.

Na amostra de 100 famílias com crianças com menos de 2 anos, a grande maioria era francesa de origem (67 famílias). Retivemos como critério de delimitação a origem cultural dos pais (sem remontar à ou às gerações precedentes). Em 20 famílias, os dois pais eram de cultura estrangeira. A cultura de origem mais representada foi a cultura africana (12 mães e 20 pais), vindo, a seguir, a cultura asiática. Escolhemos nomear "famílias compostas" os casais compostos de um pai de origem francesa e de um pai de origem estrangeira (13 casais).

Durante esse procedimento, não esquecemos que poderia existir uma defasagem entre as palavras parentais e a realidade das práticas. Seria também um discurso específico na medida em que se refere a uma região particular da França. Além disso, não poderíamos silenciar o caráter subjetivo do discurso de um pai sobre o sono de seu filho. Enfim, o pai poderia, no decorrer do questionário, "omitir" de nos assinalar certas atitudes ou comportamentos por medo de uma forma de julgamento. Tentamos, apesar de tudo, induzir uma certa confiança nos pais, multiplicando os contatos nos centros de P.M.I.

Por meio deste estudo, tentamos perceber um pouco melhor as condições nas quais são deitadas as crianças. Outras modificações poderiam ter sido trazidas. Seria interessante, por exemplo, perguntar aos pais se eles julgavam importante permanecer perto da criança no momento de seu adormecimento e prosseguir com uma pesquisa sobre as suas motivações subjacentes.

 

RESULTADOS E DISCUSSÕES:

Um distanciamento presente de modos diversos

Em primeiro lugar, a análise temática evidenciou uma maioria de modos de dormir individual (94 crianças, essencialmente em camas pequenas). Encontramos pouco co-sleeping. Quando esta prática existia, estava referida mais a famílias migrantes. Ao contrário, o quarto partilhado foi encontrado em quase três quartos da amostra; tratava-se, freqüentemente, do quarto parental. Esta prática se refere mais às famílias migrantes (9 casos em 10, amplamente acima das outras famílias). O quarto pessoal foi principalmente citado pelas famílias de origem francesa mas mais ainda pelas famílias compostas (quase 1:2).

Em segundo lugar, uma pessoa em duas mencionou a presença de, pelo menos, um dos pais quando a criança dorme. Mais freqüentemente era a mãe, embora ela lá permanecesse menos de um quarto de hora. A presença de pelo menos um dos pais foi mais comumente mencionada quando a criança é menor (menos de um ano) ou quando a família era migrante. Neste último caso, o transporte da criança é regularmente evocado. Entre as famílias compostas, poucas relataram a presença de um dos pais.

Finalmente, mais de uma família migrante em duas mencionou ter um comportamento proximal (contra 45% na população de origem francesa e 31% na população mista). Na maioria das famílias compostas, ocorreu uma ausência de comportamentos, sejam eles proximais ou distais.

Uma presença evidente de objetos nos rituais de adormecimento

Entre os rituais do dormir, os objetos ocupavam um grande lugar em nossa população. A caixa de música esteve referida, sobretudo, às famílias francesas e às famílias compostas (quase dois terços de cada grupo). O objeto preferido (escolhemos utilizar este termo, e não o de objeto transicional, caro a Winnicott5 na medida em que não podemos assegurar o lugar que o objeto mencionado ocupava realmente na vida do pequeno) foi muito freqüentemente citado, fosse qual fosse a cultura de origem da família estando, entretanto, um pouco menos presente nas famílias migrantes (62% das famílias compostas, 53% das famílias francesas, e 50% das famílias migrantes). A ausência total de objetos apenas foi encontrada nas famílias migrantes.

Relações com os manuais de puericultura

A análise temática permitiu evidenciar certas características da amostra que podem ser aproximadas aos resultados da pesquisa sobre os conselhos de puericultura. Com efeito, podemos assinalar uma relação significativa entre os resultados da análise dos manuais de puericultura francesa e quando pelo menos um dos pais é francês.

Assim, a proximidade física estava mais presente nas famílias migrantes. Ao contrário, foram as famílias mistas que evocaram uma maior distância com relação à criança devido ao fato da ausência de um dos pais ou da ausência de rituais (sobretudo proximais). Nas famílias francesas de origem e, ainda mais, nas famílias compostas, o material estava onipresente: berço, moisés, carrinho, etc., e sobretudo, a cama pequena. Nenhuma citou o co-sleeping. Ora, nos manuais, a cama pequena é valorizada desde vários decênios. Ao contrário, são os migrantes que menos utilizavam o berço, a cama pequena ou qualquer outro material individual.

Podemos nos perguntar se, para as famílias tendo ao menos um dos pais franceses, isto corresponderia à realidade ou se não seria simplesmente a exibição de uma conformidade às expectativas sociais de nossa sociedade? Entretanto, ao mesmo tempo, mais de um terço dos pais dizem pegar a criança de sua cama quando esta chora.

De outro lado, o lugar do deitar-se é, ao contrário, antes um lugar partilhado. O quarto comum é, com efeito, uma prática largamente utilizada, isto seja qual for a idade da criança. Isto não corresponde os conselhos enunciados nos manuais de puericultura que valorizam o quarto individual, mas é explicado, ao menos em parte, pelo nível social de nossa amostra e, sobretudo, pelos problemas de moradia evocados pelos pais. Muitos dentre eles classificaram sua moradia como muito pequena.

A taxa mais alta de quarto pessoal foi encontrada nas famílias compostas. Isto corrobora os resultados precedentes mas é tanto mais paradoxal quanto, com grande freqüência, um dos pais faz parte de uma cultura onde a prática de coabitação no dormir é costumeira (pensamos em certos países da Ásia ou da África, por exemplo).

Esta dupla constatação de distanciamento (com relação ao modo e ao lugar de dormir), quando um dos pais é francês de origem, lança uma questão pois a mistura no casal parece favorecer, para o modo e o lugar de dormir, a distância preconizada na França.

Com referência à presença e proximidade do pai/mãe no dormir da criança, há importantes divergências nos conselhos da puericultura. O discurso parental quanto à taxa de presença parece indicar esta ambivalência. Com efeito, cerca da metade afirmou sua presença ou de seu cônjuge quando a criança adormece. Reencontramos aí a preponderância de famílias saídas de uma outra cultura.

Os conselhos referentes ao embalar, ao canto, etc., conheceram uma evolução não linear nos manuais, tanto denegridos ou condenados, quanto aceitos ou valorizados. Ora, nos resultados quanto a esses comportamentos, a ambivalência também transpareceu. Cerca de uma família em duas contou de um ritual proximal ou distal. Havia mais rituais proximais (embalar, tapinhas) ou distais (palavra, conte ou canto) nas famílias migrantes (cerca de 50% contra 45% nas famílias francesas e 31% nas famílias compostas). Poucas diferenças entre as culturas existiam referentes aos rituais de dominância distal. Estes rituais eram, entretanto, mais presentes na criança mais velha (mais de um ano) ou quando era uma menina.

A utilização do objeto, amplamente veiculado nos manuais de puericultura recentes (salvo no que se refere à chupeta onde a ambivalência sempre predomina), é encontrada nos rituais de nossa população: quase todas as famílias (96%) evocaram a existência de um objeto (caixa de música, chupeta, objeto preferido, etc.) quando a criança adormece. Nas famílias onde não havia objeto, os dois pais não eram de origem francesa.

Podemos, pois, observar que para as famílias saídas de uma cultura onde a presença e a proximidade do adulto quando do adormecimento não são valorizadas, o estilo de maternagem é de dominância distal e a transição entre vigília e sono se efetua pela presença de objetos. Seria interessante avaliar a evolução das práticas migrantes e de sua "resistência", ou não, aos conselhos da puericultura ocidental.

Igualmente, de nossa pesquisa, podemos postular que o adormecimento da criança pequena seria facilitado por certos modos de manejo favorecendo uma transição entre o estado de vigília e o estado de sono. Obtivemos resultados, não apresentados aqui, que tendem a confirmar esta hipótese. Seria, agora, necessário aumentar nossa amostragem.

 

CONCLUSÃO

Nesta reflexão em que o núcleo central gira em torno da separação e da problemática da dependência e da independência, escolhemos terminar com uma citação de Winnicott6 : "a mãe partilha com o seu filho pequeno um pedaço à parte do mundo, conservando-o suficientemente pequeno para que a criança não fique confusa; entretanto, deixando-o crescer progressivamente afim de satisfazer a capacidade crescente da criança de desfrutar o mundo". (p.330).

Nosso trabalho abre, assim, o caminho para um outro tipo de questão. Nosso estudo foi sustentado pela hipótese de que o tipo de interação escolhido pela mãe ou pelo pai no adormecimento da criança é uma expressão subjacente e dominante dos pais, saídos de uma sociedade e de uma cultura dadas, quanto à socialização de seu filho. Com efeito, assiste-se, no dormir da criança, a um conjunto de regras precisas e específicas. Esses ritos e gestos parecem ligados, em grande parte, à idéia veiculada pela sociedade sobre o tipo de dependência ou de independência atribuída e desejada para a criança7-13 .

Isto leva a uma interrogação quanto à dualidade dependência / independência, articulando uma reflexão quanto ao tipo de autonomia desejada pelo adulto e pela sociedade para a criança pequena. O estado de homem coloca o bebê em um estado de dependência do adulto em razão da incapacidade da criança de poder, por si só, satisfazer suas necessidades; contudo, a independência é, igualmente, inerente ao ser humano5, 14-18.

Esta pesquisa coloca-nos frente a uma dualidade importante que explica, em parte, o comportamento parental no adormecimento. Essas duas tendências consistem: de um lado, comportamentos favorecendo a segurança da criança (relacionados aos trabalhos sobre o apego à mãe) e, de outro lado, comportamentos favorecendo a independência da criança (relacionados aos trabalhos sobre a socialização da criança pequena). É, provavelmente, no cruzamento destes dois olhares que a reflexão poderá realmente corresponder às necessidade da criança pequena.

 

REFERÊNCIAS

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Recebido em 20/08/2004
Modificado em 10/01/2005
Aprovado em 12/02/2005

 

 

* Picardia: antiga região da França, localizada ao norte de Paris, cuja capital é Amiens. La Somme é tanto o nome de um rio que percorre a região quanto o nome de um Departamento formado por uma parte da Picardia.
** Agradecemos, a este respeito, o conjunto desses profissionais pela acolhida e por sua ajuda e, particularmente, às Doutoras Bert, Larroque, Mortier, Ricard, Scmit, Tiberghien, assim como a todas as puericultoras. Expressamos, igualmente, nossa gratidão à Doutora de Flamesnil, Médica-Chefe do PMI da Somme pela confiança e possibilidade de realização da pesquisa.

 

 

Anexo

O questionário sobre o sono de crianças de 0 a 2 anos

Este questionário, utilizado pelo C.E.R.I.P.E. (Centre d'Etudes et de Recherches Interculturelles sur la Petite Enfance, dirigido pela Professora H. E. Stork), é um questionário padronizado que tem por função interrogar os adultos sobre as suas práticas de adormecimento da criança pequena.

Uma primeira parte se refere a informações sobre o elo de parentesco da pessoa interrogada, o sexo e a idade da criança, a cultura e a localidade de origem, o lugar de residência, o meio social, a profissão dos pais assim como a presença de acontecimentos familiares desde a gravidez da criança.

A segunda parte está constituída por questões sobre o sono da criança (cada questão tem várias proposições de respostas: referente à idade, à duração, ao lugar, ao ritual, etc.). O número de questões pode variar segundo o tipo de pesquisa. Eis um exemplo das questões colocadas:

1. A criança tem apresentado dificuldade para adormecer entre 0 e 2 anos? Em que idade?

2. Qual é a duração do adormecimento?

3. Se há dificuldades para adormecer, quais são os sintomas reveladores destas dificuldades?

4. A criança tem acordado à noite? E se sim, quantas vezes?

5. Quanto tempo dura este estar acordado noturno?

6. Em que idade a criança apresentou este acordar noturno?

7. A que hora se deita á noite?

8. A que momento do dia faz a sesta ?

9. Onde ela se deita ?

10. Em que quarto ela dorme ?

11. Ela é ou foi aleitada ? Até que idade ?

12. Ela se alimenta ou se alimentou com mamadeira? Até que idade ?

13. Qual é o modo de cuidados utilizado ?

14. Tem havido mudanças no modo de cuidados recentemente ?

15. A mãe está presente ao lado da criança para o seu adormecer ?

16. Se sim, quanto tempo ?

17. Se sim, como ela segura a criança ?

18. Qual é o comportamento da mãe no momento de deitar a criança (segura-o contra ela, nos braços, sobre os joelhos, embala-o, canta-lhe uma canção, uma canção de ninar, dá tapinhas ritmicamente no corpo da criança) ?

19. A mãe pode deixar o quarto antes de a criança estar adormecida?

20. O pai está presente ao lado da criança para o adormecer?

21. Se sim, quanto tempo ?

22. Se sim, como segura a criança ?

23. Qual é o comportamento do pai no momento de deitar a criança (Cf. acima)?

24. Utiliza-se uma (ou várias) caixa(s) de música para adormecer a criança ?

25. O que lhe é dado para adormecer (uma chupeta, um ou mais bichos de pelúcia(s), um pedaço de tecido, uma mamadeira, outro) ?

26. Tem ela um brinquedo ou um objeto preferido para adormecer ?

27. Suga seu polegar, ou outros dedos ?

28. Se a criança chora, que faz a pessoa interrogada (aleita, embala, toma-o nos braços, pega-o na cama, fala, repreende, deixa chorar, outro) ?

29. No caso de acordar à noite, quem fica ao lado da criança ?

30. A criança tomou, em algum momento de sua vida, sedativos ou soníferos para dormir? Em que idade?

31. Quais sedativos ou soníferos tomou ?

32. Por quanto tempo recebeu um tratamento ?

33. Quem prescreveu os medicamentos ?

34. Os pais tomam soníferos ou outros produtos deste tipo?

35. A que os pais atribuem as dificuldades de sono da criança ?

Para os estudos realizados na Picardia, duas questões foram acrescentadas:

36. O que uma criança "dorminhoca"?

37. Seu filho é um "dorminhoco"?

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