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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. v.16 n.2 São Paulo ago. 2006

 

PESQUISA ORIGINAL RESEARCH ORIGINAL

 

Valores positivos e desenvolvimento do adolescente: uma perspectiva dos pais#

 

Positive values and adolescent development: a parents' perspective

 

 

Rosa M. S. de MacedoI; Ida KublikowskiII; Cristiana M. E. BerthoudIII

IProfa. Titular do Depto de Psicologia do Desenvol. da Faculdade de Psicologia. Coord. do Núcleo de Família e Comunidade do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica. Coord. do Curso de Especialização em Terapia Familiar e de Casal. PUC-SP
IIProfa. Assoc. do Depto. de Psicologia do Desenvol. da Faculdade de Psicologia e do Núcleo de Família e Comunidade do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Clínica. PUC-SP. E-mail: kubli.i@terra.com.br
IIIProfa. Dra. do Depto. de Psicologia da Universidade de Taubaté. Pós Doutoramento em Ciências Sociais da Família pela Universidade de Minnesotta

 

 


RESUMO

A presente pesquisa é parte do projeto "Os valores positivos e o desenvolvimento do adolescente". Foi planejada com o objetivo de compreender se os valores que os pais julgavam importante transmitir aos adolescentes, estavam em consonância com aqueles propostos pelo Questionário "Profiles of Student Life: Attitudes and Behaviors". Para tanto, os pais foram questionados sobre o que julgavam importante transmitir aos filhos, as estratégias utilizadas e os resultados esperados e percebidos. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com mães e pais paulistanos, categorizados de acordo com seu índice de vulnerabilidade social. Os resultados indicaram que os valores que os pais buscavam transmitir aos adolescentes estavam em consonância com aqueles propostos pelo referido questionário. Utilizando-se de estilos parentais classificados como democráticos e/ ou autoritários, os pais avaliaram haverem sido bem sucedidos como educadores, posição esta que se refletiu na imagem positiva que ofereceram dos filhos. Os resultados também evidenciaram que, além da família, independentemente de seu índice de vulnerabilidade social, faz-se necessário o envolvimento da comunidade no processo de desenvolvimento de estratégias que visam a promover valores positivos nos jovens.

Palavras-chave: Adolescência. Família; Valores positivos, Estilos parentais. Promoção de saúde.


ABSTRACT

This research is part of the project "Positive values and adolescent development" and was designed to analyze if the values that parents consider important to teach to their children are consonant to those investigated through the questionnaire "Profiles of Student Life: Attitudes and Behaviors". It was investigated what the parents considered important to transmit, what strategies they used and the expected and perceived results. Semi-structured interviews were conducted with mothers and fathers living in the city of São Paulo, categorized according to their social and economic backgrounds. The analysis showed that the values that those parents aimed to teach to their children were in agreement with those investigated by the questionnaire. Using parental styles classified as democratic and/ or authoritarian, the parents felt that they had succeeded in educating their children, and this opinion was reflected on the positive image they offered of them. Nevertheless, the results pointed out that the participation of the community is necessary in the process of planning strategies to promote positive values for adolescents, independently of their economic background.

Key words: Adolescence. Family. Parental styles. Positive values. Health promotion.


 

 

INTRODUÇÃO

O presente estudo é parte do Projeto "Os Valores Positivos e o Desenvolvimento do Adolescente: da Vulnerabilidade à Responsabilidade"+, havendo sido desenvolvido, em uma primeira fase, como um dos procedimentos utilizados para a adaptação cultural do questionário "Profiles of Student Life: Attitudes and Behaviors©", "A&B", construído pelo Search Institute++, com o objetivo de promover, junto a famílias e comunidades, a saúde e o bem estar de jovens.

O Search Institute é uma organização sem fins lucrativos, localizada em Minneapolis, EUA, que visa promover o bem estar de adolescentes e crianças e, desde 1989, vem conduzindo pesquisas em torno da importância dos valores positivos para crianças e jovens. Com foco nas relações positivas, nas oportunidades, nas habilidades e nos valores na vida dos adolescentes, foi realizado um amplo levantamento da literatura científica, que permitiu compreender a influência crítica desses fatores para um desenvolvimento saudável. Esses fatores, denominados Developmental Assets, foram identificados e categorizados em 40 valores positivos, sendo o questionário "Profiles of Student Life: Attitudes and Behaviors" projetado visando a avaliar, na experiência dos jovens, a presença de tais valores. Seu objetivo é, a partir dos dados obtidos com a aplicação, co-construir com cada comunidade estudada estratégias baseadas nos valores para promover a saúde em adolescentes. Cabe ressaltar a importância dada pelo Search ao envolvimento da comunidade nesse processo, partindo do princípio de que todos nós podemos construir valores. Portanto, o instrumento não se presta para a utilização "antes e depois" nem para avaliações individuais, mas sim como um fator catalisador que permite a cada comunidade construir consensos em torno do que é importante transmitir aos jovens e como fazê-lo.

A segunda fase do referido projeto consistiu na aplicação do questionário em 2725 participantes, com objetivo de mapear os valores presentes em jovens paulistanos. Iniciamos em 2006 a última fase do projeto, cujo objetivo é desenvolver estratégias de promoção de saúde, pautadas na promoção de valores positivos, visando a diminuir a vulnerabilidade dos adolescentes a comportamentos de risco.

O presente estudo foi desenhado com o objetivo de compreender, da perspectiva de pais de adolescentes, distribuídos em dois grupos quanto ao Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS, SEADE, 2005)+++, que valores eles julgavam importantes transmitir aos jovens para propiciar o desenvolvimento de recursos pessoais considerados positivos do ponto de vista social, para então comparar a perspectiva dos pais com as categorias de valores propostos pelo Questionário A&B, como parte de sua adaptação cultural (Anexo 1).

Esse objetivo geral foi ampliado para abordar outros dois objetivos: compreender os estilos parentais, ou seja, o conjunto de práticas que os pais utilizam para educar seus filhos, assim como levantar os resultados esperados e percebidos por eles no comportamento dos jovens, buscando compreender como os pais avaliavam a eficácia de suas práticas educativas.

Tais questões justificam-se face às mudanças que vêem ocorrendo na sociedade em decorrência da globalização, gerando contextos cada vez mais regidos pelos valores da individualidade o que faz emergir problemas éticos e morais que nos desafiam pela relativização de valores 1,2.

A tradição que organizava anteriormente a vida social, sustentada pela certeza e a firmeza das coisas, oferecia os elementos cognitivos e morais para um modo consistente de ser e de agir. No nosso universo social pós-tradicional, as tradições não são mais transmitidas como antes, mas reconstruídas. Com o afrouxamento das forças da tradição, somos constantemente confrontados com a necessidade de escolhas, processo esse que se, por um lado envolve risco, por outro permite uma apropriação do mundo social que dá poder ao ser humano, pela liberdade responsável de escolher estilos de vida.

As imagens culturais negativas que são oferecidas aos jovens reforçam escolhas de risco. Essa vulnerabilidade aumenta ao associar-se com outros fatores ligados às desigualdades crônicas no contexto brasileiro, que impedem o acesso aos bens sociais básicos (educação, saúde, moradia), amplamente franqueados aos adolescentes dos extratos econômicos mais favorecidos da população. Cria-se, assim, uma espiral de vulnerabilidade, que vai se ampliando ao considerarmos outros fatores como sexo, idade, raça, local de moradia.

Nesses contextos de falta e excesso, os limites se esvaecem. Podemos então observar a insegurança dos adultos em torno da transmissão de valores à geração mais jovem, que impacta o processo educativo em qualquer extrato social, o que não impede que os pais vejam seus filhos adolescentes de forma positiva3.

Quanto ao significado do termo valor, os estóicos o utilizaram para indicar qualquer objeto de preferência ou escolha, o que introduziu o conceito no domínio da ética, referindo-se aos objetos de escolha moral. A partir daí, a palavra adquiriu diferentes significados, não existindo consenso em torno da sua definição nem em termos de sua classificação4.Tendo em vista a extensão da polêmica5, limitaremos aqui a tecer algumas considerações em torno do fenômeno.

Consideramos que os valores, longe de serem essências eternas, são crenças que se expressam na excelência das ações e estão ligados, não só às histórias individuais, mas inscritos na história das sociedades. São produtos de avaliações anteriores, que servem de suporte para avaliações posteriores. São compromissos entre a exigência de liberdade para os indivíduos, um reconhecimento mútuo dessas mesmas liberdades e uma situação eticamente marcada, sedimentada por essas preferências individuais e reconhecimentos mútuos, que servem de ponto de partida para novos processos de avaliação, pelo qual cada indivíduo, ou grupo de indivíduos, é ou deve ser responsável. Os valores se expressam nos costumes de um povo, baseados nas tradições, memória viva de uma civilização, cujas imagens e símbolos dão a cada grupo, uma singularidade ética inscrita em suas raízes6.

Ainda de acordo com o o autor, consideramos que educar é transmitir valores e que o grande desafio da educação é inscrever os valores comuns de uma cultura no projeto de liberdade de cada um mas, de tal forma, que a liberdade individual não seja asfixiada por um processo de socialização perigoso para a dignidade da pessoa. O primado da educação sobre a individuação não se justifica se não ocorrer o movimento inverso, ou seja, se não se permitir a cada um, em harmonia com seu juízo moral, desenvolver seu próprio projeto de liberdade.

A família, nossa placenta cultural, é um espaço privilegiado nessa cadeia de transmissão de valores, propiciando aos jovens a apropriação de referenciais que se renovam na passagem de uma geração a outra, pela exigência de um remanejamento de competências que permitam aos filhos uma melhor gestão do futuro.

A transmissão inscreve em nossa história pessoal, além da bagagem genética, um capital social: a cultura, patrimônio informacional constituído pelos saberes acumulados pelas gerações. Cada um de nós é um pequeno elo dessa cadeia e a passagem de uma geração à outra não é uma simples repetição, pois os seres humanos, de posse de seu aparato de interpretar, produzem significados, renovam constantemente essas informações e mantêm uma cota de certezas relativas sobre o que é importante transmitir7.

A transmissão de valores no presente contexto nos remete à questão dos estilos parentais, ou o conjunto de práticas utilizadas pelos pais para cumprir tal papel8. Pudemos observar na literatura classificações que nomeiam de autoritários aqueles que visam a transmitir modelos fixos, por meios impositivos e, por outro lado, estilos parentais que oferecem ao jovem um espaço para reflexão e escolhas, denominados "democráticos"9.

No entanto, não consideramos possível prescrever nenhuma forma ideal que leve os jovens a escolhas responsáveis. No entanto, o que a experiência do Search Institute evidencia, é que na adolescência há uma relação inversa entre a presença de valores positivos e comportamentos de risco, ou seja, quanto mais valores positivos se fazem presentes, menos comportamentos de risco são observados entre os jovens.

Dessa perspectiva há, então, uma inversão na forma de abordar a adolescência: com vistas à promoção de saúde, ações podem ser desenvolvidas no sentido de fortalecer os valores positivos, ao invés de prevenir comportamentos riscos. O reconhecimento do papel da família nesse processo, levou-nos nesse estudo, a recortar do amplo campo da herança familiar, a transmissão de valores de uma geração à outra e os estilos parentais envolvidos nesse processo, já que atualmente a família vem apresentando dificuldades em utilizar o que aprendeu e saber o que é pertinente transmitir à próxima geração.

A família com filhos adolescentes se caracteriza por oferecer um espaço de preparo, que abre para o jovem o mundo das responsabilidades adultas. Esta fase envolve profundas mudanças nos padrões de relacionamento entre as gerações, ao exigir uma flexibilização das normas e limites do sistema familiar, processo chave que permite a sua reorganização. São dadas então condições ao adolescente de desenvolver sua autonomia e independência, em um contexto de segurança, que o leva, em geral, a adotar atitudes e valores que refletem as crenças dos pais10.

Nesse processo destaca-se segundo Scales e Leffert11, a importância do apoio e da comunicação familiar positiva, por se associarem a uma variedade de acontecimentos positivos na vida dos jovens. Os autores afirmam também que a influência da família em relação a esses fatores é maior do que aquela oferecida pela escola e comunidade, também importantes para um desenvolvimento saudável.

Percorrendo a literatura brasileira, pudemos observar um predomínio de pesquisas cujo foco sobre a adolescência se dirige aos comportamentos de risco e, um menor número de estudos, que se voltam aos fatores protetores e à resiliência.

Os estudos em torno da resiliência apresentam certo grau de concordância sobre ser o fenômeno multidimensional e sobre a necessidade de se desenvolver estratégias educativas que enfatizem os fatores protetores. Garcia12, Junqueira e Deslandes13 e Sapienza e Pedromônico14 discutem o conceito de resiliência, mas, de forma geral, o contexto familiar é apontado como um dos fatores a serem considerados na construção da capacidade de manter competências em condições adversas.

Os fatores protetores ao desenvolvimento oferecidos pela família foram, por sua vez, também recortados de pesquisas, em sua maior parte realizadas da perspectiva dos jovens. Para Magagnin15, altos índices de variáveis como amor e a autonomia percebida por adolescentes em seus pais, parecem associar-se ao bom relacionamento com a família, ao gosto pela leitura e ao bom rendimento escolar. Zamberlan, et al16 ressaltam que um relacionamento familiar considerado satisfatório pelo jovem e o ajustamento escolar são fatores preventivos para comportamentos de risco durante a adolescência. Garcia12 aponta a importância do bom relacionamento familiar, a transmissão de valores e atitudes positivas dos pais e a educação como fatores que ajudam a criança a ser mais competente no futuro.

Em relação à comunicação entre pais e filhos, Wagner et al17 afirmam ser a abertura e a compreensão dos pais um aspecto valorizado pelos jovens na relação, por ser a melhor forma de resolver conflitos na família. Esse aspecto é também abordado por Silva e Marturano18 que assinalam que uma disciplina inconsistente, pouca interação positiva e supervisão insuficiente das atividades de crianças e jovens levam a comportamentos inadequados. Por outro lado, expressar sentimentos e opiniões, estabelecer limites e evitar a coerção, levam ao movimento contrário.

As pesquisas que se voltam aos comportamentos de risco também evidenciam a importância do apoio da família para os jovens em diferentes áreas de suas experiências.

A sexualidade é abordada de várias facetas, mas acaba por indicar uma mudança dos valores morais na sociedade brasileira. Tal mudança se expressa na aparente liberalidade quanto ao exercício da sexualidade "ficante" dos jovens, que vem substituindo o namoro tradicional. Mas essa liberalização dos costumes é parcial, pois as práticas educativas nas famílias mesclam valores tradicionais e modernos e mantém as diferenças de gênero, na medida em que incentivam o desempenho sexual masculino e restringem o feminino.

A sexualidade das jovens do sexo feminino representa uma grande preocupação para os pais e as dificuldades de lidar com o tema na família geram uma falta de diálogo19. Mas, segundo Dias e Gomes20, as jovens assumem a iniciativa em relação à sua sexualidade e a ausência de uma discussão franca e informada sobre o tema, não impede o exercício do sexo prazeroso e suas conseqüências.

A informação dada aos jovens sobre a sexualidade é ambígua, pois os pais não têm clareza dos valores que pretendem transmitir aos filhos21. Esse descompasso entre aquilo que os pais falam e suas atitudes em relação à sexualidade de seus filhos e filhas, acaba por exigir uma revisão de seus padrões e atitudes relativos à sexualidade e mudanças para adaptar-se a normas mais liberais.

Em relação às drogas, cerca de 16% dos jovens brasileiros já utilizaram algum tipo de droga, índice que vem sendo confirmado por pesquisas na área22 que também apontam a transmissão de padrões familiares referentes ao uso de drogas e sua ligação com estilos parentais e com aspectos sociais múltiplos, especialmente o grupo de amigos23. Por outro lado Sanchez et al24 ressaltam que para jovens não usuários de drogas, informação disponível e estrutura familiar protetora, são os fatores que os mantêm afastados das mesmas.

As breves referências trazidas evidenciam o importante papel dos pais na transmissão de valores aos filhos, por meio de estilos parentais que envolvem uma comunicação familiar positiva, práticas educativas democráticas, participação na vida dos filhos, enfim, atitudes promotoras de um desenvolvimento saudável.

 

MÉTODO

Sendo o grande desafio do estudo da subjetividade o seu acesso indireto, não acreditamos que haja observação objetiva, e sim socialmente situada no mundo dos participantes do estudo e do pesquisador, que busca aperfeiçoar as formas que o possibilitam compreender melhor o mundo da experiência. A realidade concebida em múltiplas construções, acessíveis pela da via da interpretação, em um processo no qual conhecedor e conhecido interagem através de significados partilhados, permite caracterizar o presente estudo como uma pesquisa qualitativa e interpretativa.

Participantes

Onze mães e quatro pais de adolescentes aceitaram nosso convite para participar do estudo. Os participantes foram escolhidos por seu sexo e idade dos filhos, em um processo de amostragem por bola de neve, no qual um participante indicava outros que poderiam ser convidados, por preencherem os critérios determinados. Tais critérios também envolveram o Índice Paulista de Vulnerabilidade Social (IPVS). Esse indicador é resultante da combinação da dimensão socioeconômica, ou seja, a renda apropriada pelas famílias e o poder de geração da mesma por seus membros, associada a uma dimensão demográfica, relacionada ao local de moradia e também à fase do ciclo de vida familiar, que potencializa riscos, já que no presente estudo, envolve a família em fase adolescente. Os pais foram agrupados de acordo com o IPVS, em duas categorias, construídas a partir daquelas propostas pelo SEADE: alta e baixa vulnerabilidade social.

Foram entrevistados cinco mães e dois pais do grupo com IPVS alto. As mães tinham idade variando de 31 a 40 anos, com filhos adolescentes entre 13 e 1 9 anos, sendo que algumas delas tinham filhos mais novos e/ou mais velhos. Três delas eram casadas e duas separadas, quatro delas tinham primeiro grau completo e uma, segundo grau. Todas trabalhavam como domésticas ou em serviços gerais. Quatro delas eram Católicas e uma Evangélica. Os dois pais tinham por ocasião das entrevistas 42 e 45 anos, um era divorciado e o outro casado, com filhos de 16 e 17 anos, segundo grau completo, trabalhavam na área de prestação de serviços e eram Católicos.

O grupo de mães com IPVS baixo foi composto por seis mães, com idade entre 36 e 51 anos e filhos adolescentes entre 13 e 18 anos, sendo que algumas delas tinham filhos mais novos e/ou mais velhos. Quatro delas eram casadas, uma separada e uma divorciada, quatro delas tinham formação superior completa, uma cursava a universidade e uma tinha segundo grau completo. Quatro delas trabalhavam fora, uma era aposentada e uma era estudante. Quatro delas eram Católicas, sendo uma Espírita, uma Presbiteriana e outra Cristã. Os dois pais desse grupo tinham, por ocasião das entrevistas, 45 anos, eram casados, com filhos entre 14 e 15 anos, pós-graduados, trabalhavam como autônomos e se declararam Católicos.

Cabe observar que o menor número de pais deveu-se à dificuldade que tivemos em encontrar homens que se dispusessem a participar da pesquisa, aspecto que será discutido nos resultados. Mas, o tamanho da amostra em pesquisa qualitativa se constitui pelo critério de saturação, ou seja, o número de participantes pode ser considerado suficiente, quando as informações começam a se repetir.

Instrumentos

A forma escolhida para atender aos objetivos propostos foi entrevista semi-estruturada25, cujo propósito foi obter descrições do mundo vivido dos entrevistados, centradas no fenômeno em pauta. Na presente investigação a entrevista girou em torno dos seguintes tópicos, baseados nas categorias do Questionário A&B (Anexo 1):

Dados de identificação. Na sua família quais são as coisas mais importantes a serem ensinadas para os seus filhos? O que você tem feito para ensinar isso aos seus filhos? Como você participa da vida escolar de seus filhos? Como você passa os valores religiosos para os seus filhos? Existem regras estabelecidas na casa? Quais as mais importantes? Quem estabelece? De que forma? O que acontece quando são quebradas? Como o assunto sexo é abordado com seus filhos? O que é importante ser passado? Como? Por quem? Como o assunto drogas (incluindo cigarro e álcool) é abordado com seus filhos? Como? Por quem? Como você descreveria seus filhos pensando no que conversamos? Como você vê seu filho no futuro?

Método de Análise dos dados

As entrevistas gravadas e posteriormente transcritas, passaram por um processo de clarificação, que distinguiu entre o essencial e não essencial do material, em função do objetivo do estudo e pressupostos teóricos. De uma perspectiva hermenêutica, a interpretação foi além do dito diretamente, para trabalhar relações de significado não aparentes, o que requer uma instância metodológica que recontextualize as informações obtidas com as entrevistas26.

Para tanto cada entrevista foi lida em um primeiro momento como um todo para conjeturar seu sentido mais geral. A abordagem de certos temas e a volta ao significado mais global, à luz do significado das partes, assumiu uma forma circular, na qual uma interpretação demonstrava ser mais provável que outra.

Nesse movimento entre todo e partes foi feita uma condensação, em busca de unidades de significado que expressassem o ponto de vista de cada participante em torno dos itens da entrevista. Foi então realizada uma categorização dos significados, que estruturaram este material, dando uma visão da ocorrência de ações, crenças, atitudes, para todos os participantes. Nesse processo de análise as categorias de significado "valores internos e valores externos" e "estilos parentais autoritários e democráticos" tomaram forma, além de haver emergido a categoria "educação para ascensão social e educação para o sucesso profissional e realização pessoal".

Validando construções conjeturais pela argumentação, a interpretação foi considerada a mais provável à luz do que sabemos, e em uma lógica da incerteza e da probabilidade qualitativa, permitiu atribuir um significado às experiências subjetivas dos participantes. Esta compreensão do fenômeno, que se explicitou na interpretação, não é conceituada como um deslocamento para dentro do outro ou limitada pelo horizonte do investigador, mas uma emergência do processo lingüístico pela participação em um sentido comum. Nesse percurso, realidades não são descobertas, mas significados são compreendidos a partir da vida cotidiana.

 

RESULTADOS

Análise e discussão

Os valores mais importantes a serem transmitidos aos filhos, de acordo com os pais e as mães foram: a honestidade, o respeito, a responsabilidade e, independente da religião e do fato de serem ou não praticantes, todos consideraram que os valores religiosos devem ser transmitidos aos jovens. Os pais associaram esses valores principalmente à fé e à espiritualidade. Também se referiram à ética, justiça, amor e esperança.

As estratégias por eles utilizadas para transmitir esses valores referiam-se a conversar, falar, dialogar, agir, demonstrar, ensinar, ouvir, ser honesto e dar bons exemplos, chamar a atenção, dar bronca, castigar.

Pudemos, portanto, identificar que os pais atribuem importância aos valores categorizados no Questionário A&B como Valores Externos e Internos (Anexo 1).

Na categoria dos Valores Externos, os pais reconhecem a importância do apoio familiar e de uma comunicação positiva na família, da necessidade de colocar limites, de sua importância como modelos para o jovem e a importância do uso construtivo do tempo pelo jovem.

Na categoria Valores Internos, sobressaem o respeito e a honestidade em ambos os grupos de pais, assim como a justiça e a igualdade. No grupo com IPVS alto, foi explicitada a importância atribuída à obediência, à boa educação e a ter limites, pois na visão dos pais, tais qualidades quando presentes nos jovens desafiam as crenças que associam a pobreza à delinqüência. Cabe observar que tais preconceitos são percebidos e referidos pelos pais desse grupo.

Quanto à categoria dos Valores Internos, que indica compromisso com a aprendizagem, ter responsabilidade, especialmente com as tarefas escolares, é o valor mais apontado pelos pais. A maior parte das mães entrevistadas (sete) relatou participar da vida escolar dos filhos; mães e pais consideraram que o estudo é muito importante na vida dos filhos, porém, reconhecem que as tarefas a ele relacionadas acabam ficando mais a cargo das mães.

Ser trabalhador é uma expectativa dos pais com IPVS alto, que no outro grupo é substituído por ser bem sucedido.

Assim, os valores que os participantes da presente pesquisa julgam importantes serem transmitidos a seus filhos estão em consonância com os valores positivos, conforme propostos pelo Questionário A&B.

As regras e limites estão presentes em todas as famílias. São estabelecidas por meio de uma negociação entre o casal e os filhos ou definidas por apenas um dos cônjuges e dizem respeito, principalmente, aos estudos, horário de voltar para casa e ao uso do computador e televisão. Pais e mães do grupo com IPVS alto evidenciam maior rigor na imposição das regras, mas as sanções, quando necessárias, são aplicadas pelos pais e mães de ambos os grupos. Porém, menos atenção é dedicada pelos pais às habilidades para tomar decisões, poder pessoal, senso de propósito, enfim os valores relacionados à autonomia do jovem.

Esses aspectos foram abordados em certo grau pelos pais do grupo com IPVS baixo e se tornando menos intensos entre aqueles com IPVS alto. Para compreender essa diferença cabe atentar para a vulnerabilidade dos jovens. Quanto maior o risco ao qual os adolescentes estão expostos, mais os estilos parentais autoritários, que implicam obediência, assumem importância, sendo mais referidos pelos pais oriundos de regiões da cidade onde os jovens são mais vulneráveis. Já os estilos parentais mais democráticos, que visam a transmitir os valores que reforçam a autonomia e a responsabilidade dos jovens, são referidos em maior grau pelos pais do grupo com IPVS baixo.

Esses estilos se expressam em ações agrupadas em duas categorias: ações autoritárias por parte dos pais e ações democráticas. A primeira categoria se define por ações como chamar a atenção, dar bronca, e castigar e a segunda, por conversar, orientar, acompanhar, procurar entender, ensinar, falar aberto e direto, trocar, dialogar e respeitar.

O estilo parental, conforme descrito por pais e mães, está mais próximo daquele classificado como democrático, mas escapa a categorizações nítidas, pois ambos os pólos se fazem presentes, em diferentes situações, em maior ou menor grau. Podemos então supor que tal associação de estilos seja uma maneira de coordenar o autoritarismo, que era vigente na família hierárquica, com atitudes mais igualitárias e flexíveis, que vêm sendo observadas em uma organização familiar mais democrática.

Pais e mães consideram que são bem sucedidos na tarefa de educar seus filhos, o que se reflete na imagem positiva que deles apresentam. Descreveram-nos como obedientes, educados, responsáveis, atenciosos, inteligentes, esforçados, preocupados, independentes, respeitosos e acreditam que podem confiar na educação que transmitiram.

Afirmamos na introdução desse trabalho que os pais se deparam com dificuldades para saber o quê transmitir aos filhos e como fazê-lo; estas dificuldades vão assumindo aqui uma forma mais definida. O grande desafio da educação é ao mesmo tempo em que se promove a autonomia, estabelecer limites e um porto seguro aos jovens. Esses dois aspectos estão claros para os pais; a autonomia vem sendo negociada, mas as dificuldades com os limites, que em qualquer extrato social significa proteção ao risco, faz lançar mão do autoritarismo, a forma mais conhecida e, portanto, mais fácil de educar, mas que acaba não surtindo nos filhos o efeito desejado. É aqui que, como tão bem aponta uma mãe, ocorre o monólogo.

Essas dificuldades emergem em um contexto complexo, no qual as concepções morais dos pais refletem simultaneamente a heteronomia, ou seja, são pautadas na regulamentação coercitiva e normativa e a autonomia, que implica uma relativização de valores e a escolha entre múltiplas alternativas, eticamente justificáveis. Os ideais culturais, por sua vez, exaltam a liberdade do jovem, ferozmente defendida por eles. Mas se os pais podem não compreender bem essa relativização de valores e os jovens escolhem estilos de vida, sem atentar para suas conseqüências, não há diálogo que resolva a questão. Aqui fica clara a ênfase colocada pelos pais na importância da comunicação e do diálogo entre pais e filhos e suas dificuldades com a autonomia dos filhos.

Entretanto, os pais que conseguem negociar regras e limites deixando-os claros, que afirmam aprender com os filhos e colocam a liberdade responsável como objetivo educacional, percebem os filhos de forma positiva e se percebem seguros em relação à sua função educativa, o que nos permite afirmar estarem os nossos resultados de acordo com o observado na literatura.

Além da autonomia, outros dois aspectos merecem destaque. O primeiro refere-se a uma questão de gênero, na medida em que, em geral, cabe às mães a responsabilidade cotidiana pela educação dos filhos. Em relação ao convívio familiar, as mães enfatizaram, mais do que os pais, a existência de uma relação boa e saudável com os filhos. As mães do grupo com IPVS baixo, costumam reservar um tempo para passar com os adolescentes, enquanto as mães do outro grupo freqüentemente conversam e aconselham os filhos. Os pais não têm uma convivência próxima com os filhos e alegaram que os adolescentes não apreciam fazer programas com os pais e que lhes falta tempo para estarem mais com os filhos.

Apesar da tão difundida participação dos pais, cabe ainda às mães de ambos os grupos tal papel, o que pode explicar a menor disponibilidade dos pais para participarem do estudo. Mas são as mães do grupo com IPVS alto que reclamam da sobrecarga representada pelo cuidado com os filhos, trabalho doméstico e trabalho fora de casa.

O outro aspecto se refere aos valores relativos à sexualidade dos jovens Aqui, conforme observado na literatura, os valores tradicionais e contemporâneos continuam convivendo, conflitando, mantendo os papéis de gênero e desafiando os pais. De qualquer forma a vivência da sexualidade dos filhos é aceita pelos pais, apesar da ambivalência. No que se refere à vida sexual dos filhos, as mães, com exceção de uma, conversam e orientam os filhos a usarem preservativos e fazerem sexo seguro. As mães expressaram ainda, uma grande preocupação com a gravidez precoce, preocupação essa que supera aquela relativa às doenças sexualmente transmissíveis e AIDS. Os pais lidam de forma um pouco diferente com o assunto: discutem abertamente o tema com os rapazes, contudo, têm dificuldade para falar com as filhas e mostram-se muito mais preocupados com elas.

Pais e mães mostraram-se também muito preocupados quanto ao consumo de drogas ilegais, mais do que com o álcool, pois temem os danos que podem causar à saúde e às relações interpessoais. Buscam informações em palestras e nos meios de comunicação que os ajude a orientar os filhos. A maioria utiliza a conversa para transmitir o que considera correto mas algumas vezes, uma atitude de controle se faz necessária. Também apontam a importância de colocarem-se próximos aos amigos dos filhos ou, ao menos, conhecê-los, pela possibilidade de influências negativas.

Os valores referentes ao compromisso com a aprendizagem assumem grande importância para pais e mães nos dois grupos, desdobrando-se em duas categorias de significado: educação para ascensão social e educação para o sucesso profissional e para a realização pessoal. Assim, mães e pais do grupo com IPVS alto colocam sua expectativa de poder dar aos filhos a chance de cursar a universidade, ou pelo menos um curso técnico, que significam uma vida melhor não só para o jovem, como também para a família. Por outro lado, acreditam na importância de preencher o tempo livre dos filhos com atividades como o esporte, mas lamentam a falta de oportunidades e espaços.

Para os pais do grupo com IPVS baixo, a expectativa para a formação dos filhos inclui esportes, computação, língua estrangeira e pós-graduação, como aspectos essenciais para a realização pessoal e sucesso profissional. Para ambos os grupos, a expectativa de futuro é boa, pois acreditam estarem os filhos no caminho certo. Cabe lembrar ser a educação formal um aspecto muito valorizado na sociedade brasileira, pois seu significado associa-se à ascensão social.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final desse percurso podemos afirmar que os valores positivos, conforme propostos pelo Questionário A&B, estão em sintonia com as crenças, atitudes e comportamentos de pais paulistas, o que nos leva a concordar com o Dr. Marc Mannes do Search Institute, quando, em comunicação pessoal, afirmou que o instrumento oferece o retrato de um filho que todos gostaríamos de ter. Nesse sentido, da perspectiva da adaptação cultural, podemos afirmar que existe consonância entre a imagem do jovem que o questionário oferece e as expectativas que nossos participantes têm de seus filhos.

Apesar dos desencontros observados na comunicação entre pais e filhos, que podem ser atribuídos às diferenças de significados relativos à autonomia do adolescente e a uma percepção de perigo e risco por parte dos pais, que por vezes escapa aos jovens, a imagem positiva que os pais apresentam dos filhos é aqui interpretada como um resultado esperado de ações pautadas em crenças sobre estilos parentais, que funcionam a contento. Sem dúvida os conflitos estão presentes, mas não impedem que esses pais, independente do grupo de vulnerabilidade, se percebam como bem sucedidos na tarefa de encaminhar seus filhos ao futuro e em direção à auto-realização.

Concordamos em parte com a visão dos pais. Pudemos observar nos jovens, por meio do mapeamento de valores realizado, baixos índices de valores positivos em todos os graus de vulnerabilidade social. Cabe aqui ressaltar que os Valores Internos de igualdade e justiça, honestidade, responsabilidade e visão positiva do futuro, ou seja, os valores julgados importantes pelos pais para serem transmitidos, são referidos por grande parte dos jovens (respectivamente 89,9%, 82,6%, 77,3% e 71,7%), o que pode dever-se a uma transmissão de valores explícita no âmbito familiar. Aqui os pais são bem sucedidos nos objetivos educativos a que se propõem.

Já o sucesso escolar, tão caro aos pais, é referido por apenas 5,5% dos jovens, apesar dos mesmos apresentarem um forte vínculo com a escola, constituído, a nosso ver, mais em função das oportunidades de relações sociais que a mesma oferece. Esse é um ponto que merece maior investigação, no sentido de buscar compreender a ausência de compromisso dos adolescentes com a aprendizagem.

Em relação aos Valores Externos, ou seja, condições oferecidas pelo contexto para o desenvolvimento de competências e valores, a maior parte dos jovens reconhece o apoio familiar e as dificuldades de comunicação na família, e menos da metade deles, percebe limites consistentes estabelecidos no âmbito familiar e escolar. Por outro lado observamos que os jovens não se sentem valorizados e nem como recursos em suas comunidades.

Assim, o que esse estudo nos indica na área de promoção de saúde e desenvolvimento para a família com filhos adolescentes, é a importância atribuída pelos pais à transmissão de valores positivos aos filhos e sua crença na efetividade de suas ações para atingir tal objetivo, o que resulta em uma imagem positiva dos filhos.

Mas, de uma perspectiva privilegiada, pois relacional, as vozes dos adolescentes nos permitiram reconhecer que a atribuição da educação de crianças e jovens à família é uma condição necessária, mas não suficiente para o sucesso da empreitada. Os jovens nos deixaram clara a ausência da comunidade em suas vidas, além de evidenciarem falhas na construção de competências sociais e de valores positivos, o que os coloca em risco pelo aumento da vulnerabilidade em qualquer extrato social.

Por outro lado, cabe aqui observar que o desenrolar do presente estudo se manteve articulado ao objetivo proposto de adaptação cultural do questionário A&B, o que nos leva a reconhecer seus limites. Conforme propusemos nas considerações em torno do significado dos valores, estes se constituem nas raízes de cada grupo social, donde decorre sua relativização e um possível questionamento da utilidade de um instrumento para mapear valores.

Gostaríamos de ressaltar, conforme observado em experiências bem sucedidas em várias comunidades norte-americanas, não ser o uso do questionário um fim em si mesmo, mas um meio que pode ser comparado a um gatilho que promove, em cada comunidade, as condições para um amplo debate em busca da construção de consensos em torno do que seria importante transmitir aos jovens e como fazê-lo.

A vantagem, a nosso ver, é o guia que o mapeamento de valores oferece no sentido de apontar as forças e as necessidades na experiência dos jovens, que diferem em função de cada contexto. Cientes das limitações de qualquer instrumento para abarcar ou definir a experiência vivida, acreditamos que práticas de promoção de saúde que, de forma explícita, tenham por objetivo a co-construção de valores positivos, oferecem aos jovens condições para o desenvolvimento de competências que lhes permitem se transformarem em homens e mulheres capazes de enfrentar os desafios da vida e de imaginarem e buscarem aquilo que é possível desejar.

 

REFERÊNCIAS

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Recebido em 22/06/2006
Modificado em 30/06/2006
Aprovado em 14/07/2006

 

 

# Suporte financeiro concedido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos da América, com apoio da ABRINQ, Fundação Bank Boston, ONG Meninos do Morumbi, Search Institute e SENAC
+ Resultados preliminares em: http://www.bankboston.com.br/fundacao
++ Maiores informações em: http://www.search-institute.org
+++ Fundação do Sistema Estadual de Análise de Dados SEADE (2005). IPVS. Índice Paulista de Vulnerabilidade Social. In: http://www.seade.gov.br

 

 

ANEXO 1: O Questionário A&B.

A versão brasileira do questionário, assim como a versão americana, focaliza quatro áreas da experiência dos adolescentes: recursos de desenvolvimento, indicadores positivos, déficits,comportamento de risco e padrão de comportamento de alto risco.

A categorização proposta para os valores positivos pelo Search Institute foi mantida. Os valores foram agrupados em 20 valores externos e 20 valores internos. Os valores externos foram agrupados em quatro categorias: Apoio, Capacitação, Limites e Expectativas e Uso Construtivo do Tempo. Os valores internos foram agrupados nas categorias: Compromisso com o Aprendizado, Valores Positivos, Competências Sociais e Identidade Positiva.

Assim, os 40 Valores para o Desenvolvimento são:

VALORES EXTERNOS

Apoio:

1. Apoio Familiar-A vida familiar provê altos níveis de amor e suporte.

2. Comunicação Familiar Positiva-Pais e jovens comunicam-se positivamente; os jovens tendem a buscar orientação com os pais e com outros membros da família extensa.

3. Outras Relações com Adultos-Os jovens recebem apoio de três ou mais adultos, além dos pais.

4. Vizinhança que Cuida-O jovem vivencia o cuidado de vizinhos e comunidade.

5. Clima de Cuidado na Escola-A escola oferece um meio de encorajamento e cuidado.

6. Envolvimento dos Pais na Vida Escolar-Os pais estão ativamente envolvidos em ajudar seus filhos para que tenham sucesso na escola.

Capacitação:

7.Comunidade Valoriza a Juventude-O jovem acredita que a comunidade de adultos valoriza a juventude.

8.Juventude como Recurso-Os jovens são considerados e lhes são dados papéis úteis na comunidade.

9.Voluntários na Comunidade-Os jovens dispõem uma hora por semana, ou mais, para serviços comunitários.

10.Segurança-O jovem sente-se seguro em casa, na escola e na vizinhança e comunidade.

Limites e Expectativas:

11.Limites Familiares-A família apresenta regras claras e conseqüências para os atos dos jovens; também monitora suas idas e vindas.

12.Limites na Escola-A escola oferece regras claras e conseqüências para os atos dos jovens.

13.Limites na Vizinhança-A vizinhança assume a responsabilidade de monitorar as indas e vindas dos jovens.

14.Modelos Adultos- Os adultos, além dos pais, oferecem modelos positivos e de comportamentos responsáveis.

15.Influência Positiva do Grupo-Os amigos próximos do jovem apresentam modelos de comportamento responsável.

16.Alta Expectativa- Pais e professores encorajam o jovem a agir bem.

Uso ´Construtivo do Tempo:

17.Atividades Criativas- O jovem está envolvido em atividades culturais e criativas por três horas semanais ou mais.

18.Programas para Jovens- O jovem permanece uma hora por semana, ou mais, em esportes, em clubes, ou em outras organizações da comunidade.

19.Comunidade Religiosa- O jovem dedica uma ou mais horas por semana para serviços religiosos ou atividades espirituais.

20.Tempo em Casa-O jovem sai com os amigos, sem nenhum programa especial, duas ou menos noites por semana.

VALORES INTERNOS

Compromisso com a Aprendizagem:

21.Motivação para Aprender- O jovem está motivado para sair-se bem na escola.

22.Engajamento na Escola- O jovem está ativamente engajado em aprender.

23.Tarefa de Casa- O jovem relata usar uma ou mais horas por dia para fazer a lição.

24.Ligado à Escola- O jovem preocupa-se com a sua escola

25.Ler por Prazer- O jovem lê por prazer três ou mais horas por semana.

Valores Positivos:

26.Cuidado- O jovem valoriza ajudar voluntariamente outras pessoas.

27.Igualdade e Justiça Social- O jovem valoriza a promoção da igualdade e a redução da fome e da pobreza.

28.Integridade- O jovem age por convicção e defende as suas crenças.

29.Honestidade- O jovem fala a verdade mesmo quando não é fácil.

30.Responsabilidade- O jovem aceita e assume responsabilidade pessoal.

31.Controle- O jovem acredita que é importante não ser sexualmente ativo ou usar álcool e outras drogas.

Competências Sociais:

32.Planejamento e Tomada de Decisões- O jovem tem habilidades para planejar o futuro e fazer escolhas responsáveis.

33.Competência Interpessoal-O jovem apresenta empatia, sensibilidade e habilidade nos relacionamentos.

34.Competência Cultural-O jovem conhece e sente-se confortável com pessoas de diferentes backgrounds culturais e étnicos.

35.Habilidade de Resistência-O jovem pode resistir a pressão negativa dos colegas e a influências comunitárias perigosas.

36.Resolução Pacífica de Conflitos- O jovem tenta resolver conflitos sem lançar mão da violência.

Identidade Positiva:

37.Poder Pessoal- O jovem sente-se no controle sobre as coisas que acontecem com ele.

38.Auto-Estima- O jovem evidencia auto-estima alta.

39.Senso de Propósito- O jovem evidencia propósito em sua vida.

40.Visão Positiva do Futuro Pessoal- O jovem é otimista sobre seu futuro pessoal.

O questionário também aborda Condições Favoráveis para um desenvolvimento saudável, que se referem a atitudes e comportamentos que melhoram a qualidade de vida. Os indicadores examinados incluem: ter sucesso na escola, ajudar os outros, diversidade de valores, manter boa saúde, exibir liderança, resistir ao perigo, adiar gratificações e superar adversidades.

Por outro lado, o interesse nos valores promotores de saúde conduz aos fatores de vulnerabilidade presentes na experiência dos jovens, denominados Condições Desfavoráveis (déficits) e Fatores de Risco.

As Condições Desfavoráveis são definidas como influências negativas na vida do jovem, por dificultarem um desenvolvimento saudável e produtivo, limitarem o acesso aos valores positivos externos e facilitarem o caminho para os comportamentos de risco. Podem ser vistos como uma fragilidade, que não determina um dano permanente, mas torna o dano mais provável. Há cinco deles examinados pelo questionário: encontros para beber, ficar só em casa, ser vítima de violência, superexposição à TV e abuso físico.

Em relação aos Comportamentos de Risco, compreendidos como um envolvimento recorrente em comportamentos que comprometem o bem estar do jovem, as questões referem-se ao uso de álcool, tabaco, maconha, outras drogas, manter relações sexuais, comportamento antisocial, violência, cabular aula, distúrbios alimentares.

Os Comportamento de Alto Risco incluem altos índices de uso de álcool, tabaco e outras drogas ilícitas, relações sexuais desprotegidas, depressão e tentativa de suicídio, comportamento anti-social, violência, problemas na escola, beber e dirigir.

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