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Journal of Human Growth and Development

Print version ISSN 0104-1282

Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. vol.20 no.2 São Paulo Aug. 2010

 

EDITORIAL

 

"Viver e não ter vergonha de ser feliz!"

 

 

Em um mundo cada vez mais tecnificado, rápido, globalizado, nasceu há um ano o primeiro Congresso Internacional de Saúde da Criança e do Adolescente (I CISCA). Logo depois, agora em 2010, o II CISCA como resposta às repercussões positivas que reverberaram após o término do I Congresso. Pois bem, neste mundo de extrema valorização de TVs a plasma, de "Big Brothers", no qual a privacidade das famílias e até dos indivíduos vem sendo questionada, surge este Congresso exigindo para a criança e adolescente seu tempo de brincar, compartilhar, crescer.

Ora, diriam alguns, como ainda não pensamos industrializar o crescimento, colocar nossos filhos em máquinas mágicas e diminuir o tempo necessário para o crescimento e desenvolvimento das pessoas? Como ainda não pensamos em colocar à venda em latas o amor dos Pais e Avós? Seria lucrativo e economizaríamos tempo, se encontrássemos nas prateleiras dos supermercados, ou em lojas especializadas dos shoppings, latas recicláveis tamanho pequeno, médio ou grande de Amor na versão materna para meninas (talvez em embalagens cor de rosa), ou na versão paterna para meninas e meninos (provavelmente oferecido em embalagens azuis).

Nesse caso, estaríamos então autorizados a indagar: será que não seria mais interessante deixar as crianças pela manhã nas portas de creches credenciadas com o compromisso de apanhá-las de volta à tarde, após o trabalho, já transformadas em adolescentes ou adultos?

Assim não teríamos o "desgaste" de alimentá-las, trocá-las, acompanhar seu sono; não precisaríamos abraçar ou beijar nossos filhos, nem nos desgastaríamos corrigindo suas travessuras, lições da escola. Evitaríamos nos preocupar com arranhões, tosses e febres das madrugadas nem haveria necessidade de esperá-los até altas horas da madrugada após festinhas, encontros com os namorados, viagens, sessões de teatro ou cinema. Talvez haja quem defenda isso. Acredito que possa haver quem aceite a supressão total das vivências individuais, ou substituição, por experiências virtuais; extinção do afeto; da ética, dos direitos sociais e individuais por conta dos riscos inerentes a cada uma dessas situações. Talvez haja quem defenda, ou pelo menos admita que lugar de criança é no trabalho; quem defenda que crianças e adolescentes devam assistir, sem maiores questionamentos, reportagens exibidas pelos programas policiais dos tipo "três A" (Audiência! Aqui-Agora).

Enfim, este mundo colonizado por autômatos não é a proposta do CDH e muito menos dos organizadores do II CISCA. Ao contrário, os organizadores do II CISCA reconhecem que a afirmação e inclusão das pessoas verdadeiramente adultas na nossa sociedade passa pelo direito de crescer, desenvolver e vivenciar integralmente cada momento da vida aceitando particularidades individuais em ambientes física, ética e religiosamente respeitosos e democráticos.

No contexto dos próximos quatro dias de atividades, Saúde não será abordada como simples ausência de Doença uma vez que, como Direito inalienável, é muito mais que isto, é a possibilidade dos indivíduos se apropriarem e usufruírem, sem reservas, dos benefícios sociais e científicos conquistados coletivamente pela Humanidade. O desafio de cada Pôster, Apresentação Oral, Palestra, Atividade Coordenada; de cada espaço físico destinado ao evento, ocupado por dois ou mais participantes, sejam eles profissionais ou alunos, será o de perceber e apontar possibilidades de superação das mazelas encontradas nas interfaces entre a realidade comumente dura e excludente da vida e as necessidades das crianças e adolescentes. Tudo, como diria o artista para que vivam e não tenham vergonha de ser felizes!

 

Paulo Rogério Gallo
Presidente do II CISCA
Congresso Internacional de Saúde da
Criança e do Adolescente

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