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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282

Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. vol.20 no.3 São Paulo  2010

 

PESQUISA ORIGINAL ORIGINAL RESEARCH

 

Fatores associados ao baixo peso ao nascer em município do norte do Brasil

 

Factors associated with the low birth weight in municipality in northern Brazil

 

 

Raquel da Rocha Paiva MaiaI; José Maria Pacheco de SouzaII

IMestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública/USP. Professora do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Acre
IIDoutor em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública/USP.. Professor Titular (aposentado) da Universidade de São Paulo. Av. Dr. Arnaldo, n° 715 CEP: 01246-904  -  S. Paulo/SP - Brasil. Fones (11)3061-7747; (11)3768-8612;(11)3714-2403. E-mail: www.fsp.usp.br

Correspondência para

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: o baixo peso ao nascer (BPN) é considerado um dos mais importantes problemas de saúde pública em todo o mundo, contribuindo, substancialmente, para a morbi-mortalidade infantil.
OBJETIVOS: estimar a proporção de baixo peso ao nascer e identificar os fatores associados.
MÉTODO: estudo transversal onde se analisaram 3220 declarações de nascidos vivos referentes aos partos ocorridos no município de Cruzeiro do Sul, Estado do Acre, no período de 2006 e 2007, de mães residentes nesta localidade. Na análise, utilizou-se regressão linear generalizada família Poisson ligação logarítmica com variância robusta, simples e múltipla. Adotou-se nível de significância de 0,10.
RESULTADOS: a proporção de baixo peso ao nascer foi 9,13%. Os fatores associados ao baixo peso ao nascer foram: prematuridade; nascimento no domicílio; sexo feminino; idades maternas entre 12 e 13 anos, 16 e 17 anos, 18 e 19 anos, 35 e mais anos; realização de 1 a 3 consultas de pré-natal, crianças não brancas, mães sem ocupação fora do lar e mães solteiras.
CONCLUSÃO: são poucos (ou nenhum) os fatores suscetíveis de mudança ou controle com ações isoladas de saúde. Estratégias de ampla abrangência são necessárias para a redução da proporção de baixo peso ao nascer em Cruzeiro do Sul, Acre e, uma vez ocorrido baixo peso ao nascer, atenção especial deve ser proporcionada à criança.

Palavras-chave: baixo peso ao nascer; nascidos vivos; sistemas de informação.


ABSTRACT

INTRODUCTION: the low birth weight (LBW) is considered one of the most important public health problems around the world, contributing substantially to infantile morbidity and mortality.
OBJECTIVES: to estimate the proportion of low birth weight and identify the factors associated.
METHOD: cross-sectional study which examined 3220 statements of births relating to births occurring in the city of Cruzeiro do Sul, Acre, in the period 2006 to 2007, of resident mothers in this locality. In the analysis, linear regression generalized with Poisson family logarithmic linking robust variance, simple and multiple was used, with a significance level of 0.10.
RESULTS: the proportion of low birth weight was 9.13%. Factors associated with low birth weight were: prematurity, birth at home, female, maternal age between 12 and 13 years, 16 and 17 years, 18 and 19 years, more than 34 years, achieving 1-3 pre-natal consultations, non-white children, mothers with no occupation outside home and single mothers.
CONCLUSION: few (or none) factors found are susceptible to change or control with isolated health actions. Wide variety of strategies are needed to reduce the proportion of LBW in the city of Cruzeiro do Sul, Acre, and when low birth weight occurred attention should be given to the child. 

Key words: low birth weight; live birth; information systems.


 

 

INTRODUÇÃO

As consequências do baixo peso ao nascer (BPN) e suas repercussões o caracterizam como um importante problema de saúde pública. Estudos revelam alguns dos problemas associados ao BPN: maior mortalidade infantil, risco aumentado de morrer prematuramente de doença cardiovascular, hipertensão e diabetes, na idade adulta e maior morbidade como comprometimento na estatura e déficit nutricional1-4.

O BPN é definido como o peso inferior a 2500 g5. Seus determinantes incluem a prematuridade e a restrição de crescimento intrauterino (RCIU), ou uma combinação de ambos. A alta proporção de baixo peso ao nascer, encontrada nos países em desenvolvimento, tem sido associada principalmente a bebês com RCIU, enquanto a prematuridade constitui o elemento principal nos países desenvolvidos6. Algumas causas de partos prematuros incluem: infecções genitais, partos múltiplos, hipertensão materna, disfunções uterinas, trabalho materno pesado, assistência pré-natal inadequada e baixa idade materna7-10. Entre os fatores associados à RCIU estão medidas antropométricas maternas desfavoráveis (baixa estatura, baixo peso pré-gestacional e reduzido índice de massa corporal), álcool e fumo durante a gestação e infecções fetais7.

O BPN está presente em 15,5% de todos os nascimentos ocorridos no mundo. No entanto, o problema não ocorre de maneira uniforme entre as diversas localidades, mas está relacionado à situação socioeconômica que as mesmas apresentam. A maior porcentagem de crianças com esse agravo concentra-se em duas regiões do mundo, Ásia e África, com respectivamente 27% e 22% de todos os nascidos vivos com baixo peso nos países em desenvolvimento11. Em países desenvolvidos, de modo geral a proporção de BPN situa-se entre 4% e 6%12. Em 2005, o Brasil apresentou uma proporção de 8,1% e o Estado do Acre de 6,9%13.

No Brasil, existem os Sistemas de Informações em Saúde, que coletam dados importantes para a construção de diagnósticos e avaliação das ações de saúde. O Ministério da Saúde implantou, em 1990, o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), que utiliza como fonte de dados um documento padronizado em todo o país, a Declaração de Nascido Vivo (DN). O preenchimento da DN é obrigatório para todos os nascidos vivos no Brasil. A declaração coleta informações sobre a gestante, o parto e o recém-nascido, permitindo caracterizar as condições de nascimento e facilitando, dessa forma, a detecção de falhas e o direcionamento das ações na área materno-infantil14.

Além disso, possibilita a realização de investigação sobre os fatores que contribuem de forma mais acentuada para o nascimento de crianças com baixo peso. Assim, os objetivos são estimar a proporção de baixo peso ao nascer e verificar os fatores associados ao baixo peso em nascidos vivos.

 

MÉTODO

Estudo transversal que utilizou como fonte de dados a Declaração de Nascido Vivo. A população de estudo incluiu os nascidos vivos de partos ocorridos no município de Cruzeiro do Sul, Estado do Acre, no período de 2006 e 2007, de mães residentes nesta localidade.

As variáveis do estudo foram: peso ao nascer (baixo peso ao nascer: < 2500 g; peso normal: e" 2500 g); idade materna (12 e 13; 14 e 15; 16 e 17; 18 e 19; 20 a 24; 25 a 34; 35 ou mais anos; ignorada/não preenchida); estado civil (solteira; outros: casada, viúva ou separada judicialmente/divorciada; ignorado/não preenchido); escolaridade das mães em anos de estudo (nenhum; 1 a 7; 8 a 11; 12 ou mais; escolaridade ignorada/não preenchida); ocupação habitual ou ramo de atividade (mães que não trabalham; mães que trabalham; ignorada/não preenchida); zona de residência da mãe (rural; urbana; ignorada/não preenchida); duração da gestação em semanas (22 a 31; 32 a 36; 37 a 41; 42 ou mais; ignorada/não preenchida); tipo de parto (vaginal; cesárea; ignorado/não preenchido); número de consultas de pré-natal (nenhuma; 1 a 3; 4 a 6; 7 ou mais; ignorado/não preenchido); sexo (masculino; feminino); raça/cor (não branca: negra, amarela, parda e indígena; branca; ignorada/não preenchida); local de ocorrência do parto (domicílio; hospital; ignorado: quando o parto ocorreu em qualquer outro local ou quando o local de ocorrência do parto foi ignorado ou não preenchido).

Foram considerados como critérios de exclusão: peso do recém-nascido não preenchido; sexo do recém-nascido não preenchido ou ignorado; gravidez múltipla; tipo de gravidez não preenchida.

Os dados foram analisados utilizando-se o pacote estatístico Stata. A associação entre a variável dependente (peso de nascimento, com duas categorias: baixo peso, peso normal) e as demais variáveis (independentes) foi estudada por meio de regressão linear generalizada família Poisson ligação logarítmica com variância robusta, simples e múltipla, que permite a obtenção direta de boa aproximação da razão de prevalências (RP) 15,16. Para a análise de associação, inicialmente realizou-se o cálculo da regressão simples entre cada uma das variáveis independentes e a variável resposta. Entraram no modelo múltiplo todas as variáveis que na regressão simples apresentaram um valor p<0,20. A seguir, as variáveis que no modelo múltiplo apresentaram p>0,10 foram retiradas gradualmente. Adotou-se nível de significância de 0,10. A categoria de referência das variáveis, em geral, foi a penúltima, uma vez que a última categoria refere-se a não preenchimento ou situação ignorada. Nas seguintes variáveis utilizou-se outra categoria de referência, para facilitar a compreensão e discussão das proporções de BPN com outros trabalhos: idade da mãe (faixa etária de 20 a 24 anos) e duração da gestação (37 a 41 semanas).

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Faculdade de Saúde Pública, de acordo com os requisitos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

 

RESULTADOS

Nos anos de 2006 e 2007, foram preenchidas 3220 declarações de nascidos vivos correspondentes aos filhos de mães residentes em Cruzeiro do Sul e cujos partos ocorreram nesta localidade.

De todas as variáveis do estudo, o peso de nascimento foi a que apresentou maior porcentagem de falta de preenchimento/informação ignorada (12,36%), seguida pela raça/cor do recém-nascido (9,63%).

Após a aplicação dos critérios de exclusão, restaram 2772 declarações, a partir das quais se realizou a análise dos dados.

O peso de nascimento variou de 560 a 4910 g, com média 3161,5 g e desvio-padrão 535,9 g. A porcentagem de crianças que apresentaram baixo peso ao nascer no período estudado foi 9,13% (Tabela 1).

 

 

Em relação ao local de ocorrência do parto, analisando-se os dados brutos (sem aplicar os critérios de exclusão), observou-se que 85,93% dos partos ocorreram em ambiente hospitalar, 11,74% em ambiente domiciliar e 2,33% em outros locais. Após a aplicação dos critérios de exclusão, verificou-se que 97,4% das crianças nasceram no hospital e 1,62% no domicílio. As porcentagens de baixo peso ao nascer (BPN) nos nascidos vivos em ambiente domiciliar e hospitalar foram 26,67% e 8,74%, respectivamente. Na regressão simples, a razão de prevalências (RP) foi 3,05 com P<0,001.

A idade materna variou de 12 a 47 anos, com média 23,4 anos e desvio padrão 5,9 anos. A proporção de BPN foi maior em nascidos vivos de mães mais jovens, apresentando uma redução em idades intermediárias e aumentando novamente entre filhos de mães com maior idade (Tabela 2).

 

 

Houve predominância de mães solteiras (85,53%). As outras categorias juntas representaram 13,6% do total. Os nascidos vivos de mães solteiras foram os que apresentaram maior porcentagem de BPN (9,7%) (Tabela 2).

Em relação à escolaridade materna, 38,06% das mães não sabiam ler nem escrever, sendo esta a categoria que apresentou maior proporção de BPN (10,43%). A porcentagem de BPN diminui à medida que aumenta a escolaridade materna (Tabela 2).

Quanto à ocupação materna, verificou-se que 89,86% das mães eram "do lar" ou estudantes e 9,42% referiram trabalhar fora do domicílio. As proporções de BPN entre os nascidos vivos de mães que trabalham fora do domicílio e que não trabalham foram 3,83% e 9,67%, respectivamente (Tabela 2).

Do total de nascidos vivos, 46,79% eram filhos de mães que residiam em zona urbana. Entre estes, a porcentagem de BPN foi 8,17%. Entre os nascidos vivos de mães que residiam em zona rural (53,17%), a proporção de BPN foi 9,97% (Tabela 2).

Na análise de regressão simples entre peso ao nascer e as características relacionadas à mãe, todas as variáveis apresentaram, em pelo menos uma de suas categorias, p< 0,20 (Tabela 2). Portanto, todas foram incluídas no modelo múltiplo.

Quanto à duração da gestação, 2,64% dos nascidos vivos foram prematuros. A porcentagem de BPN aumenta à medida que diminui a duração da gestação (Tabela 3).

 

 

Do total de partos, 24,86% foram por operação cesariana. As proporções de BPN entre os nascidos vivos de parto vaginal e cesárea foram 9,55% e 7,98%, respectivamente (Tabela 3).

Do total de mães, 4,73% não realizaram nenhuma consulta de pré-natal. A maior porcentagem de BPN ocorreu nos nascidos vivos de mães que realizaram de 1 a 3 consultas (18,13%) (Tabela 3).

Dentre as características relacionadas à gestação e ao parto, no cálculo da regressão simples (Tabela 3), a variável tipo de parto apresentou RP = 1,19 com P = 0,220 (parto vaginal em relação à cesárea), portanto, não entrou no modelo múltiplo.

Do total de nascidos vivos, 51,3% foram do sexo masculino e 48,7% do sexo feminino. O sexo feminino apresentou maior porcentagem de BPN (10,44%) (Tabela 4).

 

 

Houve predominância de crianças da raça/cor parda (68,66%), seguida por branca (30,68%), indígena (0,59%) e negra (0,07%). Não houve nascimento de crianças da raça/cor amarela. Nos nascidos vivos de raça/cor branca, a porcentagem de BPN foi 7,38%. Entre os de outras raças/cores foi 9,79% (Tabela 4).

A análise de regressão simples das variáveis sexo e raça/cor do recém-nascido pode ser observada na tabela 4. As duas variáveis entraram no modelo múltiplo.

Apenas a variável tipo de parto não entrou no modelo múltiplo. Entre as demais variáveis, não permaneceram no modelo final (pois nesta etapa apresentaram P maior que 0,10) as seguintes: escolaridade e zona de residência materna. Na tabela 5 visualiza-se o modelo final com as variáveis cujos P descritivos foram menor que 0,10.

 

 

DISCUSSÃO

A proporção de baixo peso ao nascer foi 9,13%, uma taxa maior do que a apresentada no município de Rio Branco (AC) e no Brasil que, em 2005, foram respectivamente 8,2% e 8,1%13. Na área da saúde pública, o peso de nascimento pode ser considerado um importante indicador, pois reflete as condições de vida da mulher bem como a qualidade da assistência recebida durante a gravidez17. O monitoramento da prevalência dessa condição é um instrumento importante na área materno-infantil uma vez que as sequelas decorrentes do nascimento de crianças com peso não adequado e a necessidade de um maior acompanhamento e cuidado a esses indivíduos são evidenciados de forma consistente na literatura3-4,18-20.

A ocorrência de partos no hospital (85,93%) foi menor que a encontrada em outras localidades1. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 2000, 42,21% da população do Cruzeiro do Sul tinha sua residência localizada em área rural21, o que pode explicar o elevado número de partos no domicílio. A proporção de BPN foi 3,13 vezes maior entre as crianças que nasceram no domicílio quando comparadas às que nasceram no hospital. Esse achado reforça a importância da cobertura pré-natal e do acesso aos serviços de saúde.

Os nascidos vivos de mães entre 14 e 15 anos apresentaram elevada porcentagem de BPN com razão de prevalência 1,32, porém estatisticamente não significante. Associação estatisticamente significante foi detectada entre o BPN e as seguintes faixas etárias da mãe: 12 e 13 anos, 16 e 17 anos, 18 e 19 anos, 35 anos e mais. Esse resultado corrobora com outros que relacionam a gravidez nos extremos da vida reprodutiva a um maior risco de nascimento de crianças com baixo peso22-24. No entanto, a associação entre essas variáveis não foi encontrada em estudo realizado em São Paulo. Segundo os autores, a adequada assistência pré-natal possivelmente foi responsável por diminuir a frequência de baixo peso ao nascer em filhos de mães adolescentes25.

Em relação ao estado civil, verificou-se associação estatisticamente significante entre o BPN e filhos de mães solteiras. A associação entre essas variáveis pode estar relacionada, entre outros motivos, à presença do companheiro no domicílio, pois alguns trabalhos mostraram que a ausência do pai está associada à falta de adesão ao pré-natal e ao BPN26,27.

Na análise múltipla, não foi detectada associação estatisticamente significante entre escolaridade e BPN, concordando com os resultados do estudo de Nascimento24. No Maranhão28, a proporção de mães com 8 a 11 anos de estudo (75,1%) foi maior que a detectada no presente estudo.

Em relação à ocupação materna, houve um aumento estatisticamente significante da prevalência de BPN em crianças cujas mães não trabalhavam. A proteção contra o BPN, conferida pelo trabalho materno fora do lar, possivelmente está ligada ao fator socioeconômico. Monteiro e Freitas29 apontam que o acesso a alimentação e aos serviços essenciais, bem como a qualidade do ambiente são fatores que dependem do poder aquisitivo.

A porcentagem de partos prematuros (2,64%) foi menor que a média brasileira (6,6%) e a média do Estado do Acre (3,3%), em 200513. A prevalência de BPN se mostrou elevada quando a duração da gestação era de 22 a 31 semanas e de 32 a 36 semanas. Em outro estudo, as crianças prematuras nascidas entre 21 e 27 semanas de gestação apresentaram um risco 15,6 vezes maior de nascer com baixo peso que crianças nascidas a termo30. O nascimento de crianças prematuras nem sempre pode ser evitado, porém pode-se atuar com foco em alguns fatores de risco para a prematuridade. A adequada assistência durante a gravidez é de importância fundamental pois possibilita a detecção e o tratamento de hábitos e condições maternas que podem contribuir para a ocorrência de partos prematuros.

O resultado da análise de associação entre o BPN e o tipo de parto não foi estatisticamente significante. Outros autores também não encontraram qualquer associação entre essas variáveis30,31.

Em relação ao número de consultas no pré-natal, observou-se um aumento estatisticamente significante da prevalência de BPN entre os nascidos vivos cujas mães realizaram de 1 a 3 consultas. Ao contrário do esperado, a categoria nenhuma consulta não foi significante. Esse fato alerta para a possibilidade de má qualidade dessa informação, sendo necessária maior atenção no momento da obtenção e registro dessa variável. Pesquisas confirmam que a assistência pré-natal está se tornando mais acessível nas diversas regiões do Brasil13. Por sua relevância, esse serviço deve ser alvo de avaliações periódicas com o intuito de garantir a acessibilidade e a qualidade da assistência tornando possível, dessa forma, uma oportuna atuação sobre os fatores associados ao BPN e outras condições indesejáveis.

A associação entre o BPN e o sexo feminino foi estatisticamente significante. As meninas apresentaram uma proporção de BPN 1,3 vezes maior quando comparadas aos meninos. Outros estudos também detectaram essa associação28,29. A relação entre essas variáveis era esperada dado que para a mesma idade gestacional, as meninas apresentam menor peso que os meninos7.

Em relação à raça/cor do nascido vivo, identificou-se associação estatisticamente significativa entre o BPN e os não-brancos. A proporção de BPN nos não brancos foi 29% maior que a proporção nos brancos. O conhecimento desta característica na população é importante devido à existência de desigualdades sociais e em consequência da ocorrência de morbidades relacionada à etnia/cor30. Esses fatores podem conferir diferentes graus de vulnerabilidade dos indivíduos a determinadas doenças.

A proporção de baixo peso ao nascer foi 9,13%. Os fatores associados foram: prematuridade; nascimento no domicílio; sexo feminino; idade materna entre 12 e 13 anos, 16 e 17 anos, 18 e 19 anos, 35 e mais anos; realização de 1 a 3 consultas de pré-natal e possivelmente nenhuma, crianças não brancas, mães sem ocupação fora do lar e mães solteiras.

A etiologia multifatorial do BPN dificulta o estabelecimento de um programa que possa resolver esse problema. Ações para a redução desse agravo extrapolam o setor saúde e exigem um esforço organizado de vários setores da sociedade. No campo específico da saúde, a realização de intervenções simples e programas rotineiros de assistência à saúde, desde que sejam efetivos e de qualidade, podem contribuir para a redução do problema e de suas consequências.

 

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Correspondência para:
raquelmaia@usp.br

Recebido em 12/03/10
Modificado em 16/08/10
Aceito em 09/09/10

 

 

Artigo resultante de dissertação: MAIA, R. R. P. Fatores associados ao baixo peso ao nascer no Município de Cruzeiro do Sul, Acre [dissertação de mestrado]. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2009, junto ao Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública/USP

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