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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282

Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. vol.22 no.2 São Paulo  2012

 

ARTIGO ORIGINAL

 

Pressão arterial elevada em crianças e adolescentes com excesso de peso

 

High blood pressure in overweight children and adolescents

 

 

Juliana Andreia Fernandes NoronhaI; André Luiz Correia RamosI; Alessandra Teixeira RamosII; Maria Aparecida Alves CardosoI, II; Danielle Franklin de CarvalhoI, II; Carla Campos Muniz MedeirosI, II

IMestrado Saúde Pública pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB)
IINúcleo de Estudos e Pesquisas Epidemiológicas - NEPE/UEPB

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

OBJETIVO: verificar a prevalência de pressão arterial elevada em crianças e adolescentes obesos ou com sobrepeso, bem como os fatores associados.
MÉTODO: estudo transversal com 200 crianças e adolescentes, entre dois e 18 anos. Foram aferidos circunferência abdominal, pressão arterial, peso e estatura. Tanto a pressão arterial sistólica quanto a diastólica foram consideradas elevadas quando iguais ou superiores ao percentil 90. O valor da pressão arterial nos percentis 25, 50 e 75 foi descrito de acordo com faixa etária, sexo, estado nutricional e circunferência abdominal. Para avaliar a associação da pressão arterial elevada com as variáveis clínicas foi utilizado o teste do qui-quadrado e adotado nível de significância de 5%.
RESULTADOS: a maioria das crianças e adolescentes (70,5%) apresentava pressão arterial elevada: 6% mostravam elevação apenas na pressão arterial sistólica, 33% na diastólica e 31,5% em ambas. Valores pressóricos sistólicos mais elevados foram observados nos indivíduos com obesidade grave e circunferência abdominal aumentada, assim como naqueles do sexo masculino e no grupo dos adolescentes. Entre os que tinham pressão arterial elevada, o limite máximo da normalidade da pressão sistólica foi observado no percentil 50 e, da diastólica, no 75. A pressão arterial sistólica elevada esteve associada aos adolescentes com obesidade grave.
CONCLUSÃO: a alta prevalência de pressão arterial elevada observada neste estudo mostra a necessidade da implantação de políticas e ações voltadas à prevenção e controle da obesidade e suas co-morbidades, a exemplo da hipertensão arterial sistêmica.

Palavras-chaves: obesidade; pressão arterial; criança; adolescente.


ABSTRACT

OBJECTIVE: to evaluate the prevalence of high blood pressure in fat or overweight children and adolescents and its associated factors.
METHODS: Cross-sectional study including 200 children and adolescents between two and 18 years old. It was measured the abdominal circumference, blood pressure, weight and height. The systolic and diastolic blood pressure were considered high when equal or higher than 90th percentile. The value of the blood pressure in the 25th, 50th and 75th percentiles were described according to age groups, sex, nutritional state and abdominal circumference. To check the association between high blood pressure and clinical variables it was used qui-square tests and a significant level of 5%.
RESULTS: The majority of children and adolescents (70.5 %) had high blood pressure: 6% showed an increase only in the systolic blood pressure, 33% in diastolic blood pressure and 31.5 % in both. Systolic blood pressure values were higher observed in individuals with severe obesity and increased waist circumference, as well as those of the male sex and in the group of adolescents. Among those who had high blood pressure, the normal maximum limit of the systolic blood pressure was observed in the 50th percentile and for the diastolic in the 75th percentile. The high systolic blood pressure was associated with adolescents with severe obesity.
CONCLUSION: The high prevalence of high blood pressure observed in this study indicates the need to implement policies and actions oriented towards the prevention and control of obesity and its co-morbidities, as the case of high blood pressure.

Key words: obesity; blood pressure; child; adolescent.


 

 

INTRODUÇÃO

A obesidade é considerada a epidemia do século XXI pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O aumento de sua prevalência tem sido verificado em todas as faixas etárias, principalmente nos países em desenvolvimento, o que a caracteriza como um grave problema de Saúde Pública1. No Brasil, a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF)2, realizada em 2008-2009, detectou que o sobrepeso e a obesidade vêm aumentando, de forma a atingir, respectivamente, 21,7% e 5,9% dos adolescentes e 34,8% e 16,6% das crianças, nos anos pesquisados.

Desde a infância, o excesso de peso pode predispor o indivíduo a doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como as dislipidemias, o diabetes mellitus tipo 2 (DM2) e a hipertensão arterial sistêmica (HAS)3. Segundo publicação recente da revista Lancet (2011), as DCNT tornaram-se prioridade na área da saúde no Brasil, entre outros motivos, por terem sido responsáveis por 72% das mortes ocorridas em 2007. Do total de óbitos, a hipertensão e as demais doenças do aparelho circulatório ocupam lugar de destaque, respondendo por uma parcela de 30% das mortes e representando custos elevados, diretos ou indiretos, para o sistema público de saúde4. Cerca de um bilhão de adultos, em todo o mundo, tinha hipertensão no ano de 2000, número que deverá aumentar para 1.560 bilhões em 20255.

Quando observadas entre crianças e adolescentes com excesso de peso, as prevalências de pressão arterial (PA) elevada podem apresentar valores duas a seis vezes maiores do que aquelas encontradas em crianças e adolescentes eutróficos, com variações entre 28,7% e 46,4%, respectivamente, para o sobrepeso e a obesidade6,7.

A hipertensão arterial, apesar de ser tratável, passível de ser medida e avaliada clinicamente, consiste em uma doença silenciosa, cujo efeito degenerativo cumulativo é maior para indivíduos de faixas etárias mais jovens devido ao maior tempo de exposição. Portanto, este estudo tem como objetivo avaliar a prevalência da pressão arterial elevada e fatores associados em crianças e adolescentes com excesso de peso.

 

MÉTODO

Esta pesquisa consiste em um corte transversal realizado a partir de um estudo longitudinal que acompanhou crianças e adolescentes com excesso de peso no Centro de Obesidade Infantil (COI), do Instituto de Saúde Elpídio de Almeida (ISEA), entre abril de 2009 e março de 2010, em Campina Grande-PB.

O recrutamento dos participantes foi realizado por meio da divulgação da pesquisa nas Unidades Básicas de Saúde do município, com a colaboração da Secretaria de Saúde. Foram incluídos crianças e adolescentes entre dois e 18 anos que apresentavam sobrepeso ou obesidade. Deixaram de ser incluídos os portadores de doenças ou em uso de medicamentos que interferissem no metabolismo lipídico ou glicídico; e aqueles com presença de doenças ou deficiências que prejudicassem a mobilidade física.

Considerando que a população de estudo se tratava de indivíduos oriundos dos serviços de saúde municipais, o cálculo da amostra levou em consideração a população desta faixa etária cadastrada no Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), em 2008. Considerou-se uma prevalência de sobrepeso e obesidade de 25%8 e, neste estrato, aplicou-se a proporção de 37,5% de HAS7. Para um erro amostral de 5%, obteve-se uma amostra de conveniência de 160 indivíduos, número que foi aumentado em cerca de 25% devido à disponibilidade de casos em atendimento no COI durante o período do estudo. Foram excluídos três indivíduos, um por uso de corticóide, um por ser diabético e um por estar com hepatite no momento da pesquisa, perfazendo, no final, um total de 200 crianças e adolescentes avaliados.

A participação no estudo foi firmada mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos pais ou responsáveis. Foram levantadas as informações da criança/adolescente (idade, sexo e cor) e da família (escolaridade materna, renda familiar e antecedentes familiares para HAS). Em seguida, foi realizada a antropometria (estatura, peso, circunferência abdominal) e verificada a pressão arterial.

As medidas antropométricas foram coletadas em duplicata, segundo as recomendações da OMS9. Para obtenção do peso, foi utilizada balança digital Welmy® tipo plataforma, com capacidade de 150 kg e precisão de 0,1 kg; a estatura foi medida com estadiômetro Toneli®, com precisão de 0,1 cm. A circunferência abdominal (CA) foi verificada com fita métrica inextensível, da marca Cardiomed®, com precisão de 0,1 cm.

O estado nutricional foi avaliado segundo recomendações do Centers of Disease Control and Prevention (CDC), através do Índice de Massa Corporal (IMC), utilizando-se percentis para definir as categorias: sobrepeso (85 < IMC < 95), obesidade (95 < IMC < 97) e obesidade grave (IMC > 97)10. Para a CA foram considerados aumentados valores acima do percentil 90, com limite máximo de 88 cm para meninas e 102 para os meninos11.

A pressão arterial foi aferida em triplicata, de acordo com as recomendações da V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial12. O resultado foi definido pela média das duas últimas medidas. Na primeira avaliação, as medidas foram obtidas em ambos os braços e, em caso de diferença, adotou-se como referência o braço com o maior valor para as medidas subsequentes. Foi utilizado com esfigmomanômetro aneróide, com manguitos de tamanhos adequados. Foi considerada normal a PA sistólica (PAS) ou diastólica (PAD) abaixo do percentil 90 e elevada quando igual ou acima deste percentil, de acordo com o sexo, idade e estatura.

Os dados foram descritos através de frequência absoluta e relativa, médias e desvio-padrão, além da distribuição dos valores da PAS e PAD nos percentis 25, 50 e 75 de acordo com faixa etária, sexo, estado nutricional, circunferência abdominal e classificação da PA normal e elevada. Na análise estatística foi utilizado o teste do qui-quadrado para comparar as proporções da prevalência PA elevada e normal entre os grupos, e as variáveis foram categorizadas da seguinte forma: estado nutricional: sobrepeso/obesidade (85 < IMC < 97) e obesidade grave (IMC > 97); faixa etária: pré-escolar/escolar (2 a 9 anos) e adolescente (10 a 18 anos); CA: normal (< percentil 90 para sexo, estatura e idade) e elevada (> percentil 90); PA: normal (< percentil 90 para sexo, estatura e idade) e elevada (> percentil 90). Os dados foram analisados no SPSS, versão 17, considerando-se um nível de significância de 5%.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual da Paraíba, sob o nº 0523.0.133.000-09, segundo os critérios estabelecidos pela resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

 

RESULTADOS

A descrição da população estudada indica que a maioria era formada por adolescentes (61,5%) e pelo sexo feminino (64%). Ressalta-se que 66% apresentavam obesidade grave, 79,5% tinha CA alterada e 96% tinha antecedentes familiares com doença cardiovascular (DCV), sendo que destes 85% tinha antecedentes com HAS.

As características sócio-econômicas indicam que se trata, na grande maioria, de uma população de baixa renda, com renda familiar de até dois salários mínimo (53%) e de baixa escolaridade materna, onde 46% tinham ensino médio incompleto.

A pressão arterial sistólica e/ou diastólica elevada (> percentil 90) foi observada em 141 (70,5%) dos indivíduos estudados: 12 (6%) tinham elevação apenas da PAS, 66 (33%) da PAD e 63 (31,5%) de ambas.

A análise bivariada entre os desfechos PA, PAS e PAD elevada e os fatores estudados não se mostrou estatisticamente significante (Tabela 1). Uma aproximação do nível de significância foi observada entre a associação da PAS elevada (p = 0,062) com a obesidade grave, cujo dados foram estratificados por faixa etária mostrando-se significante para os adolescentes (p = 0,025).

 

 

Na tabela 2 observa-se que os níveis pressóricos sistólicos > 120 mmHg são observados no sexo masculino, nos que tem CA alterada, obesos graves e nos adolescentes a partir do percentil 75. Esta distribuição não é observada na PAD (Tabela 3).

Na distribuição da PA nos percentis entre os que tinham PA elevada foi verificado que o limite máximo da normalidade de PAS foi observado no percentil 50, já o da PAD mostrou-se no percentil 75. Entre os que tinham PA normal estes valores não foram observados em nenhum momento (Tabela 4).

Na distribuição das médias de acordo com o sexo foi observada uma média, maior de PAS e a PAD, mas não significativa, entre os indivíduos do sexo masculino (Tabela 5).

 

DISCUSSÃO

A obesidade e a hipertensão arterial, que há pouco tempo eram restritas à população adulta, agora atinge também crianças e adolescentes. A alta prevalência de PA elevada na população estudada é preocupante, uma vez que, sendo uma condição comumente relacionada à doença cardiovascular do adulto, quando acontece na população mais jovem, apresenta um maior impacto sobre a saúde, devido ao maior tempo de exposição a este fator de risco13,14.

As diferentes prevalências de alteração da PA entre crianças e adolescentes, encontradas nos diferentes estudos, podem variar de acordo com a população estudada, o estado nutricional, a faixa etária, bem como com o critério adotado para a definição desta condição6.

A prevalência de PA elevada foi bem superior a encontrada em estudo semelhante realizado por Ferreira e Aydos (2010)13, que foi de 21,7% em crianças obesas entre sete e 14 anos de idade, acompanhados em serviço especializado do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul. O mesmo foi observado em estudo realizado na Nigéria, cuja prevalência de PA elevada foi de 37,2% nos adolescentes obesos15. Uma das explicações para este achado pode ser atribuída ao critério utilizado por estes autores para a definição de HAS, que adotaram como alterada a PA igual ou superior ao percentil 95, enquanto que, neste estudo, o ponto de corte foi o percentil 90, baseado em pesquisa que observou que crianças com valores pressóricos acima deste percentil frequentemente tornam-se adultos hipertensos14. Outra possível explicação para esta divergência consiste no estado nutricional da população do presente estudo, que é composta, em sua maioria, por obesos graves.

Outra pesquisa, realizada na Paraíba, mesmo estado do presente estudo, encontrou uma prevalência de 30,1% de PA elevada4. Apesar de ambas terem adotado o mesmo ponto de corte, na pesquisa supracitada apenas 10,1% dos adolescentes apresentavam excesso de peso, em contraponto a este estudo, onde toda a população tinha sobrepeso/obesidade, reforçando a importância do estado nutricional como fator de risco para a alteração da pressão arterial16. Neste sentido, estudo realizado em Belo Horizonte, com 672 crianças com idade de dois a 10 anos e 11 meses, encontrou associação entre médias mais elevadas de PAS e PAD com IMC elevado, entre crianças17.

No presente estudo, quando avaliada a PAS e PAD distribuídas em percentis, foi observada que a PAS e" 120 mmHg já aparece no percentil 50, e a PAD e" 80 mmHg aparece no último percentil, valores máximos que independente da faixa etária, são considerados como limítrofes para o diagnóstico de HAS na infância18.

O valor da PAD nos percentis, tanto do sexo feminino quanto no masculino, foi maior neste estudo, quando comparado ao desenvolvido por Ferreira e Aydes (2010)13, que avaliaram obesos entre sete e 14 anos. Isto pode ser explicado pelo fato destes autores terem trabalhado com uma faixa etária mais jovem, como também por mais da metade da população do presente estudo ser composta por obesos graves.

Embora não tenha havido diferença estatisticamente significante, a frequência de PA elevada foi maior no sexo masculino, fato também observado por outros autores19,20. A distinção entre os sexos pode ser atribuída às diferenças temporais em que ocorrem as alterações biológicas (maturação sexual, composição corporal e produção de testosterona)19 ou pelo fato dos meninos serem considerados mais ativos que as meninas20.

Em relação à faixa etária, observou-se uma maior prevalência de PA elevada entre os adolescentes. A estratificação por estado nutricional tornou essa diferença estatisticamente significante; fato também observado em outros estudos que trabalharam com crianças e adolescentes19,20. O risco da PA atingir valores elevados varia de acordo com a duração e intensidade da obesidade14. Devido ao desenho deste estudo, em que não houve um seguimento longitudinal dos pacientes, não é possível afirmar que a PA elevada aumentou com o avanço da idade, no entanto, se observou uma maior prevalência na faixa etária maior. Isto pode ser devido à presença de valores expressivamente mais altos de gordura corporal nesses indivíduos, quando comparados às faixas etárias mais jovens, bem como à maior exposição temporal ao excesso de tecido adiposo13.

Dentre os fatores que podem interferir nos níveis pressóricos, pesquisas mostram que crianças de cor branca têm uma chance maior de terem PA elevada21 do que as não-brancas, uma vez que tendem a apresentar um maior percentual de gordura6. Corroborando esta afirmação, embora não tenha sido encontrada associação entre a PA e a cor da pele neste estudo, a PA elevada esteve presente na maioria dos indivíduos de cor branca.

O excesso de gordura tem papel na etiopatogenia da hipertensão, seja associada diretamente às características metabólicas dos adipócitos localizados principalmente na região abdominal, seja indiretamente por meio de hiperinsulinemia decorrente da resistência a insulina e consequente distúrbio no mecanismo celular de metabolização da glicose22.

A variação da distribuição anatômica da gordura corporal é importante indicador morfológico, relacionado às complicações endócrinas e metabólicas, as quais são predisponentes ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Indivíduos com a disposição centrípeta da gordura corporal tendem a apresentar maior incidência de HAS23.

A CA alterada tem sido relacionada a maiores níveis pressóricos. Estudo transversal com crianças obesas e eutróficas entre sete e 12 anos verificou que os indivíduos com CA aumentada apresentaram 2,8 vezes mais chance de terem níveis pressóricos elevados do que aqueles com circunferência abdominal adequada6. Pesquisa com adolescentes eutróficos e obesos mostrou que a elevação da PAS e PAD foi 3,9 e 3,4 vezes mais frequente entre os meninos com CA aumentada e 2,2 a 2,0 vezes entre as meninas com esta mesma condição24. No presente estudo não foi observada esta relação, uma vez que não houve associação entre a CA alterada e PAD e/ou PAS elevada. Pode-se atribuir esse achado ao fato da população de estudo ser constituída por crianças e adolescentes obesos e com sobrepeso e, portanto, com circunferência abdominal aumentada.

O excesso de peso ocasiona anormalidades na pressão arterial, e consequentemente, predispõe às DCV. Indivíduos pré-hipertensos e hipertensos apresentam uma maior frequência cardíaca, um maior débito cardíaco, septo interventricular e paredes do ventrículo esquerdo mais espesso, bem como um maior diâmetro da câmara ventricular esquerda do que os normotensos. A prevalência de hipertrofia ventricular esquerda (HVE) é três vezes maior nos hipertensos e duas vezes maior nos pré-hipertensos, quando comparados aos indivíduos normotensos25. Apesar do processo de aterosclerose e da hipertrofia ventricular esquerda (HVE) terem início na infância, a extensão dessas lesões parece ser menor que nos adultos. Muitas das alterações que ocorrem nesta faixa etária são reversíveis se houver detecção e intervenção precoces para combater os fatores de risco para DCV, como a HAS, pois o processo de aterosclerose e a HVE podem ser revertidas ou minimizadas com a redução de peso26.

Uma das limitações desse estudo foi a realizar a mensuração da PA em uma única visita, não podendo ser utilizada para caracterizar hipertensão arterial. Contudo, essa metodologia de medida pode ser usada como indicador de risco de hipertensão arterial para comparações transversais em estudos epidemiológicos realizados com crianças e adolescentes19.

Outra limitação encontrada foi a dificuldade em comparar os resultados com outros publicados na literatura devido aos diferentes critérios adotados para diagnóstico da PA elevada ou HAS, bem como as diferentes populações estudadas. No entanto, é importante ressaltar que não foi encontrado na literatura estudos anteriores envolvendo crianças e adolescentes com excesso de peso, que tenham incluído o número de casos e a ampla faixa de idade como enfocado no presente estudo.

O impacto adverso do excesso de peso sobre os múltiplos fatores de risco cardiovascular, como a pressão arterial elevada, requer prevenção primária já em idades precoces, uma vez que estudos apontam que o excesso de peso na infância e adolescência tende a persistir na vida adulta27.

Assim, a elevada prevalência de PA alterada identificada na população estudada, sobretudo dentre os adolescentes com obesidade grave, reforça a importância de prevenção de obesidade e de suas co-morbidades.

 Fontes de Financiamento: Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba e Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Universidade Estadual da Paraíba (PROPESQ). 

Vinculação Acadêmica: Este artigo é parte de Dissertação de Mestrado de Juliana Andreia Fernandes Noronha (Universidade Estadual da Paraíba).

 

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