SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.23 número2Incidência e características dos recém-nascidos de peso insuficiente de uma coorte de neonatos de um hospital público regional de área metropolitana índice de autoresíndice de assuntospesquisa de artigos
Home Pagelista alfabética de periódicos  

Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. vol.23 no.2 São Paulo  2013

 

RESENHA

 

O desafio de fazer comunicação pública da ciência no Brasil

 

Sophia Karlla Almeida Motta Gallo

Pós-Doutoranda em Ciências da Saúde (Laboratório de Delineamento de Estudos e Escrita Científica/FMABC) e Pesquisadora do Centro de Estudos do Crescimento e do Desenvolvimento Humano (CDH)

 

 

A Tese de doutorado de Carlos Antonio Teixeira1 descreve e caracteriza concepções que coordenadores de programas de pós-graduação em saúde coletiva do Brasil têm acerca da divulgação científica enquanto expressão de comunicação pública da ciência. A partir de uma pesquisa exploratória, observacional, com abordagem qualitativa, o Autor chega e apresenta os resultados do estudo, contextualizando-os num mundo globalizado em que a informação circula sem fronteiras e a velocidade de sua renovação é exponencialmente aumentada com o uso das novas tecnologias de comunicação e informação.

Paradoxalmente a informação científica ainda circula restritamente. Diante desse paradoxo, os coordenadores dos programas de pós-graduação são desafiados a pensar a comunicação pública da ciência, sem, contudo se aperceberem da necessidade de desenvolverem competências para adaptarem a linguagem, o estilo, as modalidades de transmissão e os canais de comunicação para os públicos específicos, além de criarem processos de comunicação que permitam input e feedback sistemáticos de diferentes audiências fora do âmbito acadêmico. Não é por acaso que uma das grandes dificuldades dos coordenadores entrevistados foi distinguir a diferença entre Divulgação Científica, Disseminação e Difusão do Conhecimento.

Apesar de não haver consenso entre os Coordenadores entrevistados, nesse estudo é revelada que a missão inadiável da universidade, compreendida como direito da sociedade, é a Divulgação Científica. Vale destacar no dizer do Autor o posicionamento dos Coordenadores: (1) alguns a concebem como Difusão do conhecimento, sem distinguirem as diferenças entre comunidade científica e sociedade ampliada; (2) outros a concebe como Disseminação do conhecimento, voltada para a comunidade científica; (3) outros ainda a compreendem, em seu sentido pleno, como uma comunicação direcionada para a sociedade ampliada.

Em relação à informação que vem do material empírico, o Autor salienta que não teve nenhuma preocupação em analisar significados e implicações do discurso da população estudada. Porém, chama atenção para o fato de que: a) o número de mulheres (n = 18) é maior em 16% do que o número de homens (n = 13); e, b) a faixa etária entre homens e mulheres varia entre 43 a 69 anos de idade.

Outro fato que merece destaque é o autor apesar de não dar ênfase ao período de tempo em que os coordenadores estão na posição de liderança nem tampouco ao número de tempo em anos da existência/ reconhecimento dos programas de pós-graduação em saúde pública no Brasil. Dos 54 programas de pós-graduação em saúde pública reconhecidos pela CAPES no Brasil, Teixeira pontua que três se destacam dos demais por terem mais de 30 anos; e sete por terem menos de 20 anos de existência/reconhecimento (havendo alguns destes com margens aproximadas entre 10 anos e menos de 10 anos).

Com base na análise de conteúdo do discurso dos coordenados sobre a concepção de comunicação pública da ciência, o autor chega aos seguintes resultados: a comunicação pública da ciência, entendida como uma comunicação que deve ser estendida a toda a sociedade é a resposta predominante (n = 15), apesar de haver uma confusão entre a distinção da diferença entre Divulgação Científica, Disseminação e Difusão do Conhecimento. No entanto, o que restringe a comunicação pública da ciência é a comunicação entre os pares (n=10). Para o Autor, a narrativa dos depoentes não mostra o fato significativo de que a comunicação extensiva para a sociedade deve ser expressa em uma linguagem que possibilite a compreensão da população em geral. No dizer do Autor: "é justamente quando os leigos são capazes de decodificar informações científicas que os achados em ciência podem começar a ganhar importância."

Segundo o Autor, a análise das respostas dos coordenadores permitiu entender a comunicação pública da ciência como uma tradução do código da linguagem científica para uma linguagem acessível dirigida a toda a sociedade.

A partir dos resultados de sua pesquisa de doutorado, que discute a comunicação pública da ciência, Carlos Antonio Teixeira espera estar contribuindo para a discussão sobre essa forma peculiar de comunicar ciência nos Programas de Pós-Graduação em Saúde Pública no Brasil. Comenta o Autor: " Há hoje no Brasil 54 programas de pós-graduação em Saúde Pública reconhecidos pela CAPES que são oferecidos 36 de mestrado, 21 de doutorado e 15 de mestrado profissional. Essa é a magnitude do nosso desafio."

Nesse estudo o Autor revela a missão urgente da universidade como a necessidade de diálogo com a sociedade. Apesar de fazer algumas ressalvas para essa questão, ao pontuar no capítulo conclusões: "não há consenso entre os coordenadores dos PPGSC quanto a essa temática". O que foi constatado a partir dessa pesquisa é que as ações relacionadas com a comunicação científica e a transmissão do conhecimento científico são principalmente direcionadas para a comunidade científica e são as atividades onde os Coordenadores concentram mais o seu tempo e recursos. Seu estudo permite perceber que apesar da concepção de Divulgação Científica como comunicação direcionada para a sociedade, embora faça parte do discurso de alguns Coordenadores, nem todos têm a compreensão de que isto deveria representar um compromisso com o cumprimento do papel social da universidade.

 

REFERÊNCIA