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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282

Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. vol.24 no.2 São Paulo  2014

 

ORIGINAL RESEARCH

 

Nível de atividade física e funcional de crianças atletas

 

 

Evelyn Souza RochaI; George Jung RoseII; Camila Isabel Santos SchivinskiIII

IPhysiotherapist, State University of Santa Catarina - UDESC, Centre for Health Sciences and Sports - CEFID
IIPhysiotherapist, Master in Physical Therapy from the UDESC - CEFID
IIIPhysiotherapist, PhD Professor at UDESC- CEFID

 

 


RESUMO

A melhora da aptidão física e desempenho funcional da criança são aquisições próprias da prática da atividade física, porém os estudos que tratam da repercussão das modalidades esportivas sobre a capacidade funcional e de músculos respiratórios em crianças são ainda escassos.
OBJETIVO: verificar a força muscular respiratória, o nível de atividade física e funcional de crianças atletas, comparadas a crianças não atletas, na mesma faixa etária.
MÉTODO: participaram do estudo 20 crianças provenientes de escolas (grupo não-atletas, GNA, n = 10), e centros de treinamento esportivo (grupo atletas, GA n = 10) da região de Florianópolis-SC, com idades entre 7 e 10 anos. Foi aplicado o Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) e avaliadas a força muscular respiratória (FMR) por manuvacuometria (MVD-300, Microhard) e capacidade funcional por teste de caminhada de seis minutos (TC6).
RESULTADOS: A força muscular respiratória e de capacidade funcional não diferiram entre os grupos. Encontrada diferença na frequência cardíaca do terceiro minuto, entre o primeiro e segundo TC6, nos dois grupos - GA: 91,20±7,57 e 129,20±33,81 (p=0,005); GS de 96,10 ± 1,45 e 122,00 ± 22,62 (p = 0,008). Diferiu entre os grupos a escala de dispnéia no início do segundo TC6, maior no GS (0,6 ± 0,65 x 0,10 ± 0,31; p = 0,029). Características do nível de atividade física, avaliadas através do IPAQ, foram diferentes nos grupos.
CONCLUSÃO: as crianças atletas e não-atletas estudadas apresentaram força muscular respiratória e capacidade funcional semelhantes, sendo relevante a ampliação do tamanho amostral para sensibilizar a identificação de novos resultados.

Palavras-chave: Exercício, crianças, atletas, músculos respiratórios/fisiologia.


 

 

INTRODUÇÃO

A atividade pode ser concebida como um comportamento humano complexo, voluntário e autônomo, com componentes e determinantes de ordem biológica e psicossociocultural1. Os principais benefícios à saúde proporcionados por meio da sua prática regular se referem a aspectos físicos, como critérios antropométricos, neuromusculares e metabólicos, e a aspectos psicológicos, também essenciais ao homem².

O período da infância corresponde a uma etapa fundamental do desenvolvimento humano. Esse período é marcado por atividades físicas intensas. Essas atividades importantes e necessárias para que a criança possa ir conhecendo o ambiente a sua volta, crescendo normalmente e aprimorando seu conhecimento sobre o mundo3,4.

Entre as características positivas da atividade física, podem-se ressaltar benefícios em seus aspectos fisiológicos, aumento da oxigenação cerebral, controle do peso corporal5, redução do risco cardiovascular6, ossificação e crescimento7 e psicológicos: do qual faz parte a distração e aumento da eficácia, sem falar da melhora da autoestima, redução da depressão, ansiedade, estresse psicológico e distúrbios emocionais5,6. Entretanto, principalmente entre crianças, observa-se que a prática de atividade física é relativamente baixa, apesar de o ambiente escolar ser considerado um motivador do exercício, tendo reconhecido papel em estabelecê-lo como hábito7,8.

Vários autores atribuem o baixo nível de atividade física entre as crianças ao seu estilo de vida.8-10 Hoje, essa faixa etária tem como característica atitudes como assistir televisão, jogar videogames e usar o computador por longos períodos de tempo - práticas que, de fato, contribuem para um comportamento sedentário10,11 e principalmente para a obesidade12. Acredita-se que a promoção desse tipo de atividade já na infância e na adolescência contribua para que se estabeleça um melhor controle das doenças crônicas10 e uma base sólida para a redução do sedentarismo na idade adulta.

Fica evidente que ser fisicamente ativo desde a infância pode representar muitos benefícios, não só na área física, mas também nas esferas psicológica, emocional e até social. A prática de atividades como brincadeiras motoras e atividades esportivas, apresenta "custos", pois demandam relativo consumo de tempo e energia da criança 3. Esses afirmam que seus benefícios se mostram superiores, transformando-se em verdadeiro investimento, já que promovem interação social entre as crianças, fato que vai prevenir o isolamento psicológico/social e melhorar a autoimagem e autoconfiança3,9.

A melhora da aptidão física e da performance da criança também são aquisições desse tipo de prática, pois as diferentes vivencias motoras proporcionam experiências básicas de movimentos, que, com o passar dos anos, serão aprimorados. A otimização do crescimento infantil e o estimulo a hábitos saudáveis são outros benefícios apontados², bem como uma relação harmoniosa entre o crescimento e o desenvolvimento da criança¹.

Nesse contexto, estudos que analisam o impacto da prática de atividade física regular em aspectos pertinentes aos vários sistemas orgânicos têm grande relevância. Porém, ainda são poucos os que tratam a repercussão das modalidades esportivas sobre a capacidade funcional e a força dos músculos respiratórios na população pediátrica geral. Este estudo poderá identificar efeitos da atividade física escolar, subsidiando os programas de combate ao sedentarismo e de prevenção primária de doenças, reforçando a importância da inserção dessa prática na vida diária das crianças. Avaliar variáveis como nível de atividade física e capacidade funcional nas crianças saudáveis, praticantes e não praticantes de atividade física, viabiliza que melhor se conheça a repercussão dessa prática e, ainda, sua relação com o corpo. Especificamente no sistema osteomuscular, existe a crença de que ocorra um treinamento muscular respiratório concomitante à prática de alguns exercícios13.

Diante do exposto, o objetivo deste estudo é avaliar o nível de atividade física, a força muscular respiratória e a capacidade funcional de escolares atletas e não atletas.

 

MÉTODO

Caracterizado como analítico observacional transversal14 de duas populações, o presente estudo foi realizado com crianças provenientes de escolas públicas e particulares e centros de treinamentos específicos da Grande Florianópolis/SC. Adotou-se amostragem por conveniência (n=24) que foi dividida em dois grupos, de acordo com a prática ou não prática de atividade física regular, compostos por crianças hígidas atletas (GA) e crianças hígidas não-atletas (GNA). O cálculo amostral não foi realizado pela ausência de estudos prévios semelhantes.

Foram incluídas crianças que apresentavam idades entre sete e dez anos completos e cuja higidez fosse comprovada por questionário de saúde devidamente respondido pelos pais/responsáveis. Para assegurar a higidez as crianças foram avaliadas por um médico pediatra previamente à participação nos testes. Para caracterizar o GA, esse foi formado por escolares que realizam treinamento para esporte de rendimento competitivo, garantido por sua respectiva federação (futebol, vôlei, lutas marciais), pelo menos duas vezes por semana. Desse grupo, foram excluídas as crianças atletas que não estivessem realizando treinamento esportivo nessa frequência há, pelo menos, três meses. Em ambos os grupos, os escolares que apresentaram alguma limitação/restrição ou intercorrência durante a aplicação de algum dos instrumentos de avaliação (como dificuldade de compreensão, intolerância, falta de colaboração ou mal-estar), que entregaram o questionário de atividade física indevidamente respondido, ou, ainda, que manifestaram quadro de doença no dia da avaliação, também não participaram da amostra. Dois sujeitos foram excluídos por não satisfazer as condições de saúde - um por asma e outro por diabetes, e outros dois por não conseguirem completar os testes.

A pesquisa desenvolvida teve sua coleta de dados efetuada num consultório pediátrico e nos centros de treinamento esportivo.

Nesses locais, após assinatura do termo de consentimento por pais/responsáveis e esclarecimentos sobre o estudo, os escolares foram convidados a realizarem os procedimentos de avaliação. Para tal, foram aplicados três instrumentos: o IPAQ, a medida da força muscular respiratória e o TC6, nesta ordem.

O IPAQ aplicado foi o de forma curta e foi auto-aplicado pelos pais ou responsáveis legais. Trata-se de um questionário originalmente desenvolvido com a finalidade de estimar o nível de prática habitual de atividade física de populações de diferentes países15, dividido em quatro perguntas relacionadas ao tempo gasto em atividades físicas, sendo que o indivíduo deve considerar as atividades realizadas na última semana anterior à aplicação do questionário. As categorias conceituadas segundo o IPAQ são: sedentário, insuficientemente ativo (que apresenta duas subdivisões - insuficientemente ativo A e insuficientemente ativo B), ativo e muito ativo16. Nessa ocasião, os pais/responsáveis também responderam a um questionário elaborado pelos pesquisadores a respeito da saúde da criança.

A força muscular respiratória foi verificada através do aparelho manovacuômetro da marca MVD-300 (Microhard) para identificação das pressões máximas inspiratórias (PImáx) e expiratórias (PEmáx), que representam a força dos músculos respiratórios, do volume pulmonar em que são realizadas as medidas e do correspondente valor da pressão de retração elástica do sistema respiratório17. A avaliação da PImáx e da PEmáx foi feita com o paciente sentado de forma confortável, utilizando traqueia-conector, bocal e clipe nasal. Para a obtenção da medida final, foi considerado o maior resultado de três tentativas18.

Em seguida, os escolares realizaram o TC6, de acordo com as normas da American Thoracic Society (ATS)19, que preconiza que se inicie o teste com a coleta dos parâmetros basais de frequência cardíaca (FC), frequência respiratória (FR), saturação periférica de oxigênio (SpO2), pressão arterial sanguínea (PA) e sensação de dispneia. Os dados de FC e SpO2 foram aferidos com oxímetro digital de pulso (Nonin, Onys 9500), a FR deu-se pela contagem das incursões respiratórias em um minuto. A dispneia foi mensurada por meio da Escala Análogo Visual de Percepção de Esforço20. Previamente a essa coleta inicial, o participante permaneceu sentado, em repouso, por aproximadamente dez minutos, quando recebeu orientações quanto à realização do teste: caminhar o mais rápido possível, sem correr, em uma pista de 30 metros, durante seis minutos. Foi permitido à criança parar, descansar ou andar mais devagar caso tivesse necessidade; o tempo, porém, continuou sendo registrado, independentemente da interrupção. Estímulos verbais padronizados foram dados a cada minuto. No meio do teste, todos os parâmetros, com exceção da PA, foram mensurados e, ao sexto minuto, o paciente foi orientado a parar e a distância percorrida foi calculada. Os parâmetros iniciais foram novamente coletados e o teste foi repetido após 30 minutos.

Os dados coletados foram armazenados em um banco de dados e, para análise dos resultados, utilizou-se o software SPSS®17.0 para Windows®. Os dados foram apresentados através de análise descritiva e de frequências. Foram utilizados o teste de Wilcoxon para estatística em cada grupo e o de Mann-Whitney para comparação dos grupos. Ainda, considerou-se um p de 0,05 para significância estatística.

Todos os pais/responsáveis pelos escolares de todos os grupos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A realização da pesquisa recebeu aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, número 108/2010.

 

RESULTADOS

Participaram do estudo 20 crianças, sendo dez do GA e dez do GNA. O primeiro foi composto por sete meninos, enquanto o GNA por oito, sem diferença estatística entre eles em relação ao gênero (p = 0,261).

Os valores de média e desvio padrão em relação à idade e ao gênero de ambos os grupos são expressos na Tabela 1.

No GA, a idade variou entre nove e dez anos, enquanto no GNA a idade mínima foi sete e a máxima dez anos. Não houve diferença significativa entre os grupos com relação às idades (p = 0,459) e às pressões respiratórias máximas (Tabela 1). O GNA e o GA também não tiveram performances diferentes em nenhum dos dois TC6, conforme tabela 2

As tabelas 2, 3, 4 e 5 apresentam os dados de atletas e não-atletas referentes aos dois testes de caminhada de seis minutos (TC6).

Apenas na escala de dispnéia, no início do segundo TC6, foi verificada diferença significativa entre os grupos (p** = 0,029). As crianças do GNA referiram mais cansaço do que as crianças do GA (0,6 ± 0,65 x 0,10 ± 0,31; p = 0,029) (tabela 3).

Na comparação do comportamento das variáveis entre os dois TC6 realizados em cada grupo (intra-grupo), através do teste de Wilcoxon, observou-se aumento da freqüência cardíaca dos atletas no segundo teste (91,20 ± 7,57 x 129,20 ± 33,81), conforme os dados da tabela 4. As outras variáveis, no decorrer dos TC6, não diferiram em nenhum dos 3 momentos de avaliação (minutos 1, 3 e 6), em nenhum dos grupos.

Com relação ao questionário IPAQ, respondido pelos pais, verificou-se que 60% das crianças, em ambos os grupos, praticam atividades vigorosas de um a dois dias na semana e, nesses dias, a duração delas é de 60 a 120 min. para 50% das crianças de cada um dos grupos.

Entretanto, nas atividades moderadas, observamos que 30% do GA as realizam durante todos os dias da semana, enquanto no GNA apenas 10% tem esse mesmo hábito. A maioria das crianças dos grupos pratica menos de 60 min. de atividades moderadas (GA = 40% e GS = 50%).

Com relação a caminhada, 40% do GA realizam caminhada durante todas os dias da semana, enquanto somente 20% do GNA tem essa mesma atitude. Além disso, 50% do GA caminham entre 10 e 30 min. diários, enquanto 20% do GNA referem o mesmo. A velocidade do passo aponta que 50% do GA caminha a passos lentos, e 60% do GNA a passos moderados.

O último bloco de perguntas se refere a permanência sentado durante dias de semana e finais de semana. Os pais de 80% do GNA referiram que seus filhos ficam mais de 5hs por dia de semana sentados. No GA essa frequência foi de 40%. Já nos finais de semana os grupos apresentam comportamentos semelhantes quanto (GNA 40% e GA 30% ficam 5h por dia do fim de semana sentados).

A Figura 1 mostra a frequência de respostas dos dois grupos referente às perguntas do IPAQ.

 

DISCUSSÃO

O tema da corrente pesquisa tem sido foco de constantes discussões. Isso porque estudos têm evidenciado que crianças e adolescentes estão menos aptos fisicamente que seus pares de décadas anteriores, ou boa parte deles não atendem aos critérios desejáveis para uma recomendada aptidão física relacionada à saúde.

São diversas as motivações que têm levado à redução dos níveis de atividade física nas crianças: urbanização, novas tecnologias, violência nas cidades10. Estudo com crianças brasileiras identificou que as mesmas permanecem uma média de 21 horas semanais em frente a televisão, chegando a impressionantes 10 horas por dia21. Essas informações corroboram com o comportamento das crianças verificado na corrente pesquisa, através da aplicação do IPAQ, onde 50% do GNA não realiza nenhuma atividade física, excluindo a educação física escolar10,22,23. Esses dados chamam atenção, uma vez que, segundo Cao et al (2011), um baixo nível de atividade física combinado com muito tempo assistindo televisão contribuem para ansiedade, depressão e vida escolar insatisfatória24.

A responsabilidade dessa inatividade física se deve ao advento tecnológico, o que, possivelmente, torna o homem do futuro um sujeito inoperante e obeso23. Nessa linha, as preferências com relação às brincadeiras das crianças que foram referidas pelos pais/responsáveis preocupam, visto que 40% do GNA optam brincar com computador e videogame. Por outro lado, um estudo australiano identificou que os chamados "jogos de videogame ativos" podem influenciar positivamente na composição corporal e na redução da massa gorda, quando comparados aos jogos tradicionais, sendo uma direção na orientação às famílias25.

Apesar de metade dos escolares do GNA não realizarem nenhuma atividade física, ambos os grupos apresentaram certo equilíbrio entre o comportamento sedentário e o comportamento ativo. O GNA apresentou-se tão ativo nas atividades físicas moderadas (70%), quanto o GA, não se enquadrando no que caracteriza o sedentarismo. Já o tempo despendido em atividades sedentárias (GA=3,7h; GNA=4,2) apresentou-se superior ao encontrado em estudos já publicados na literatura nacional. O que chama atenção é que, diferentemente, estes estudos incluíram adolescentes, enquanto a presente pesquisa analisou escolares. A literatura aponta para um declínio do nível de atividade física a partir dos 11 anos de idade25-27, e não uma precocidade na inatividade como verificada aqui.

No que concerne a característica da atividade física para crianças, importante destacar que a mais apropriada neste grupo etária deve envolver o movimento dinâmico de grandes grupos musculares, por períodos de 20 minutos ou mais, três ou mais vezes por semana, em uma intensidade que estimule os batimentos cardíacos a 140 ou mais por minuto². Uma atividade compatível com essa descrição é a própria caminhada. Além dos benefícios cardiovasculares conhecidos, Taylor (2009) identificou que 20 minutos de caminhada ao ar livre por uma semana foram capazes de reduzir a clínica do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade29, doença incidente em 8% das crianças30. Entretanto, na presente investigação, observou-se que mesmo esse tipo de prática é pouco frequente. O tempo gasto de caminhada por dia no GNA foi de até dez minutos para 10% dos participantes, e entre dez e 30 minutos para 20%, sendo que 60% das crianças caminham em um passo moderado e somente 10% caminham em passos vigorosos. Assim, como discutido pelo grupo de Teixeira (2005)31, as crianças permanecem em atividades físicas de moderada a alta em períodos muito breves. No dia a dia, não realizam atividade física em quantidades e intensidades suficientes para promover efeitos benéficos sobre a saúde, permanecendo a maior parte do tempo em atividades físicas de baixa intensidade.

Esses dados são reforçados pelas respostas obtidas pelo IPAQ com relação ao tempo em que as crianças se envolvem com atividades físicas moderadas. Metade do GNA realiza esse tipo de dinâmica até 60 minutos por dia e nenhuma criança desse grupo realiza essa atividade por mais de 180 minutos por dia. Além disso, os pais/responsáveis de 80% do GNA relataram que as crianças permanecem sentadas mais de cinco horas por dia, o que, de acordo com o estudo mencionado acima, mostra a comodidade e a manutenção do comportamento sedentário das crianças.

Outro achado interessante na corrente pesquisa se relaciona à percepção dos pais/responsáveis quanto à condição física das crianças. Apesar das respostas dos pais/responsáveis de crianças atletas reforçarem o maior nível dessa prática do que as dos pais/responsáveis de crianças não-atletas, mediante as questões do IPAQ, algumas afirmações dos pais/responsáveis do GA intrigam com relação aos hábitos das crianças. Muitas respostas são mais compatíveis com hábitos sedentários do que com a verdadeira atividade que os escolares atletas desenvolvem. Uma alternativa para esse resultado é o fato de muitos pais/responsáveis terem dificuldade de compreender o que seria, realmente, o sedentarismo. Isso pode ter tornado o método de avaliação subjetivo.

A contradição nas respostas, segundo os próprios pais/responsáveis, também pode ter ocorrido pela suposição deles de que os avaliadores já sabiam que as crianças praticavam esportes, eliminando a necessidade de responder sobre isso nas questões. Os questionários auto-aplicáveis apresentam como vantagens menor custo e a possibilidade de coleta de informações em grandes grupos com relação ao tipo de atividade e contexto em que são realizadas. Apesar disso, demonstram muitas vezes dificuldades em atender a critérios de reprodutibilidade e validade, viés de memória e também pela má interpretação das perguntas32-35.

Com relação aos dados apresentados na avaliação da capacidade funcional e da força muscular respiratória entre os grupos, a não identificação de diferença significativa entre eles aponta para a necessidade de ampliação do tamanho amostral, considerando a expectativa de que o GA apresentasse desempenho superior em ambos os testes. Num estudo indiano foram comparados dois grupos de adolescentes submetidos ou não a um programa regular de atividades físicas fora do período regular de aulas, de uma mesma escola. O primeiro grupo apresentou valores superiores de FMR, os quais foram atribuídos à prática de exercícios36.

Ainda nessa linha, Santiago et al.37 máximas. Considerando que os grupos apresentaram a mesma média de idade e até mesma prevalência de gênero, pode ter havido a contribuição de fatores semelhantes de hormônio e do próprio crescimento para que os valores dos dois grupos fossem tão próximos.

A única variável que diferiu estatisticamente entre o GA e o GNA foi a sensação de dispneia, segundo a EVA. As crianças não-atletas apresentaram mais cansaço que as atletas logo no minuto 1 do segundo TC6. Uma provável justificativa para esse evento seria a própria falta de preparo físico dessas crianças. Outra possibilidade seria o fato de o intervalo de 30 min entre os dois testes não ter sido suficiente para recuperação dos participantes do GNA. Aquino38 entre a distância percorrida por sujeitos saudáveis entre testes de caminhada com tamanho de corredores diferentes, não verificou alterações significativa nas variáveis envolvidas no TC6 realizando os testes num intervalo de 24 horas.

A FC no minuto 3 foi a única variável do TC6 que aumentou significativamente nos dois grupos, em comparação a FC no primeiro teste. Como em ambos os grupos houve melhor performance das crianças no segundo teste, pode ter havido maior empenho físico das mesmas e, como isso, um desgaste físico maior, que refletiu nesse batimento cardíaco mais acelerado.

Apesar de os resultados serem pouco substanciais no que concerne ao mesmo desempenho funcional e de força muscular respiratória entre o GA e o GNA, constata-se a importância de se fazer uma intervenção junto às crianças para aumentar as oportunidades de se praticarem atividades físicas, principalmente com mais intensidade. A frequência com que as crianças são forçadas ou encorajadas a se envolverem com atividade física é inversamente relacionada com o nível de atividade física praticada na idade adulta². Nesse contexto, compreender os fatores sociais e ambientais que influenciam o nível de atividade física é importante para o desenvolvimento de intervenções eficazes para mudar o comportamento frente à atividade física de crianças e adolescentes.

Nesse sentido, mudanças no comportamento das crianças são necessárias. Dentre elas, a redução do número de horas gastas com televisão, videogame e computador, bem como o estímulo à participação delas em competições esportivas e aulas de educação física nas escolas. A educação dos pais/responsáveis, para que esses deem exemplo às crianças, também é fundamental. Essa estratégia tem o intuito de implantar a prática sadia desde a infância, combatendo o sedentarismo e, com ele, o aparecimento de doenças como obesidade, estresse psicológico, alterações imunológicas, doenças cardíacas e osteoporose, que parecem ter seu início na adolescência39,40. Como ser fisicamente ativo desde a infância não só traz benefícios na área física, mas também nas esferas social e emocional10, sua inserção precoce na rotina infantil deve ser objetivo de pais, cuidadores, educadores e profissionais da saúde envolvidos com essa faixa etária, além de uma melhora no perfil lipídico e metabólico22.

 

CONCLUSÃO

A amostra de crianças estudadas, atletas e não-atletas, não apresentou diferença entre a força muscular respiratória e a capacidade funcional. Apenas o nível de atividade física, avaliado através de questionário, diferiu entre os grupos. A ampliação do tamanho amostral tem relevância para sensibilizar a identificação de novos resultados.

 

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Manuscript submitted Aug 01 2013
Accepted for publication Dec 28 2013

 

 

Based on the final course work physiotherapy student Evelyn Souza Rocha, presented in 2011.
Corresponding author: cacaiss@yahoo.com.br