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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282

Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. vol.24 no.2 São Paulo  2014

 

ORIGINAL RESEARCH

 

Conhecimentos e prática das mulheres sobre câncer de colo do útero de uma unidade básica de sáude

 

 

Maria Fernanda LeiteI; Fabiana Cristina Frigieri De VittaII; Letícia CarnazIII; Marta Helena Souza De ContiIII; Sara Nader MartaIV; Márcia Aparecida Nuevo GattiI; Sandra Fiorelli de Almeida Penteado SimeãoV; Alberto De VittaIII

IDocente do curso de Enfermagem do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Sagrado Coração (USC), Rua Ir. Arminda, 10-50, Jd Brasil, CEP: 17011-160; Bauru, SP, Brasil
IIDocente da Faculdade de Educação da Universidade Estadual Paulita, Av. Hygino Muzzi Filho, 737, CEP 17525-900; Marília, SP, Brasil
IIIDocente do curso de Fisioterapia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Sagrado Coração (USC), Bauru, SP. Rua Ir. Arminda, 10-50, Jd Brasil, CEP: 17011-160; Bauru, SP, Brasil
IVDocente do curso de Odontologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Sagrado Coração (USC), Rua Ir. Arminda, 10-50, Jd Brasil, CEP: 17011-160; Bauru, SP, Brasil
VDocente do curso de Matemática do Centro de Humanas da Universidade do Sagrado Coração (USC), Rua Ir. Arminda, 10-50, Jd Brasil, CEP: 17011-160; Bauru, SP, Brasil

 

 


RESUMO

OBJETIVOS: avaliar o nível de informação acerca do exame do câncer de colo de útero e sua associação com variáveis sócio-demográficas em mulheres de uma unidade de saúde do município de Bauru, São Paulo, Brasil.
MÉTODO: realizou-se um estudo descritivo e transversal com 370 mulheres com idade entre 25 e 59 anos, por meio de entrevista estruturada nas próprias residências dos sujeitos e, foram utilizados a estatística descritiva e o teste
χ2.
RESULTADOS: notou-se 40,5% não fizeram o exame Papanicolaou com a frequência recomendada; quanto ao conhecimento sobre o exame, 58,2% o definiram incorretamente e 69,5% não souberam relatar quais são os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de colo uterino; o conhecimento sobre o exame mostrou associação estatisticamente significativa com a escolaridade e a renda familiar da população estudada.
CONCLUSÕES: as mulheres apresentam deficiências na prática adequada do exame de Papanicolaou, nos conhecimentos sobre o exame, os fatores de riscos e as formas de prevenção da doença e, diante disso, é necessário desenvolver ações primárias em saúde para a população mais vulnerável.

Palavras-chave: esfregaço vaginal, saúde da mulher, neoplasias do colo do útero, conhecimento, fatores de risco.


 

 

INTRODUÇÃO

O câncer do colo do útero é o segundo mais incidente na população feminina brasileira, excetuando-se o câncer de pele não melanoma. No Brasil, no ano de 2011, eram esperados 18.430 casos novos, com um risco estimado de 18 casos a cada 100 mil mulheres. Na análise regional no Brasil, o câncer do colo do útero (CCU) se destaca como o primeiro mais incidente na região Norte, com 23 casos por 100 mil mulheres. Nas regiões Centro-Oeste e Nordeste ocupam a segunda posição, com taxas de 20/100 mil e 18/100 mil, respectivamente, e é o terceiro mais incidente nas regiões Sudeste (21/100 mil) e Sul (16/100 mil)1,2.

A etiologia do CCU está diretamente associada aos fatores ambientais, aos hábitos de vida e aos fatores sociais tais como as baixas condições sócio-econômicas, as quais estão altamente relacionadas aos fatores geradores de risco para o desenvolvimento do CCU como: tabagismo, higiene íntima inadequada, início precoce da atividade sexual, multiplicidade de parceiros sexuais, uso prolongado de contraceptivo oral e conhecimento inadequado da mulher sobre a causa da doença 3,4,5.

No Brasil, o Ministério da Saúde adotou em 1988 a norma da Organização Mundial da Saúde (OMS) que propõe o controle do CCU nas mulheres com idade entre 25 e 60 anos por meio da realização de um exame Papanicolaou a cada três anos, após dois resultados negativos com intervalo anual. Contudo, estimativas indicam que cerca de 40% a 57% das mulheres brasileiras, de todas as faixas etárias, nunca fizeram esse exame de controle. Dentre as razões para esta baixa adesão estão: a dificuldade em acessar os serviços de saúde, a natureza do exame que envolve a exposição da genitália o que pode causar desconforto emocional para algumas mulheres, além das condições sócio-econômicas e da falta de conhecimento sobre o câncer ginecológico6,7.

Assim, as altas taxas de mortalidade por CCU e a eficácia do exame Papanicolaou para a prevenção dessa doença justificam pesquisas que identifiquem o nível de informação das mulheres a respeito do CCU e a relação do desenvolvimento da doença com variáveis sócio-demográficas. Esse conhecimento pode contribuir para que as pessoas possam participar das decisões que afetam a sua saúde e fundamentar o sistema de saúde para melhorar o estado de saúde dos indivíduos, famílias e comunidades8, 9.

Desta maneira, o objetivo é avaliar o nível de informação acerca do exame do câncer de colo de útero e sua associação com variáveis sócio-demográficas em mulheres de frequentadoras de unidade básica de saúde.

 

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal desenvolvido com mulheres na faixa etária de 25 a 59 anos cadastradas em uma Unidade de Saúde de um bairro do município de Bauru. Essa unidade foi eleita por ser uma região de atuação da Universidade Sagrado Coração (USC) na Atenção Básica.

A cidade de Bauru (SP) está situada na região sudeste do Estado, tendo uma área de 702 Km, localizando-se a 324 Km da capital. O Censo de 2010 afirma que a população de Bauru é de 343.937 habitantes, destes 177.288 são do sexo feminino e 89.848 estão na faixa etária de 25 a 59 anos10.

O bairro tem por características uma população jovem/adulta, de classe média baixa, grande número de domicílios em conjuntos habitacionais e acesso à água tratada e ao abastecimento de esgoto. Ainda, possui uma unidade básica de saúde que presta assistência nas diversas especialidades das áreas da saúde.

Nesta unidade de saúde, o cadastro de todas as mulheres na faixa etária de 25 a 59 anos foi obtido. O tamanho amostral foi calculado a partir da população de 5178 mulheres cadastradas na Unidade de Saúde. Para esta análise foi adotada a proporção da população com a característica em estudo de 20%11, erro aceitável de quatro pontos percentuais, nível de confiança de 95%, efeito de delineamento de 1,5 e a adição de 15% para possíveis perdas e recusas. O cálculo definiu uma amostra de 370 mulheres. Em seguida, foi realizado o sorteio das participantes por meio da amostragem aleatória simples. Quando o indivíduo não concordou em participar da pesquisa ou não foi encontrado após três visitas, uma nova participante foi sorteada.

As entrevistas foram realizadas por quatro alunas de Graduação e supervisionadas pelo pesquisador. Os entrevistadores foram treinados com base em um protocolo de padronização dos procedimentos de coleta de dados (teórico e prático), previamente estabelecido no sentido de minimizar os possíveis erros intra e inter-avaliadores. Entretanto, a confiabilidade intra e inter-avaliadores não foi determinada, mas 10% da amostra foi reavaliada pelo supervisor, para o controle da qualidade dos dados. As entrevistas foram realizadas em um período de seis meses nas residências, levando, em média, 50 minutos.

Após receberem todos os esclarecimentos sobre a pesquisa, seus objetivos e a garantia de sigilo das informações prestadas, as mulheres selecionadas foram indagadas se desejavam ou não participar do estudo. Aquelas que, voluntariamente, concordaram em participar, assinaram o termo de consentimento livre esclarecido e responderam as perguntas do questionário. Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Sagrado Coração.

Foram excluídas da pesquisa as pessoas incapacitadas para responder o questionário tais como deficientes mentais, indivíduos com seqüelas neurológicas, domicílio fechado após três visitas e/ou os que não concordaram em participar do estudo.

As entrevistas foram realizadas com base em um questionário estruturado visando conhecer as características socioeconômicas e demográficas (idade, escolaridade, estado civil) das mulheres, assim como os fatores relacionados ao desenvolvimento de CCU tais como: 1) Número de gravidez; 2) Número de filhos vivos; 3) Número de abortos (espontâneos ou não); 4) Se realizou o exame de Papanicolaou alguma vez? Quando foi o último; 5) Você sabe como é realizado o exame? E de quanto em quanto tempo? 6) O que é câncer de colo uterino?, 7) O que pode causar o câncer de colo uterino?; 8) Como prevenir (evitar) o câncer de colo do útero?

Para a análise dos dados sobre os conhecimentos e a prática acerca do exame Papanicolaou foram adotadas as definições utilizadas em estudo prévio12 e apresentadas a seguir:

- Conhecimento adequado: Mulheres que já tinham ouvido falar do exame, e sabiam que era para detectar o câncer em geral ou, especificamente, o do colo uterino.

- Conhecimento inadequado: Mulheres que nunca ouviram falar do exame, ou já ouviram falar, mas não sabiam que era para detectar o câncer do colo uterino.

- Prática adequada: Mulheres que realizaram o último Papanicolaou nos últimos três anos.

- Prática inadequada: Mulheres que realizaram o último Papanicolaou no período acima de três anos, uma única vez na vida ou nunca.

Os dados coletados foram processados e analisados mediante a utilização dos softwares EPI-Info (Versão 6.04) e Excel 1997. Para a análise dos dados foram utilizados os recursos da estatística descritiva e utilizou-se o teste χ2, com nível de significância de 5% para testar diferenças entre proporções13.

 

RESULTADOS

O estudo excluiu 3,1% das mulheres por recusa e 5,6% não participaram devido ao domicílio fechado. Das 370 mulheres entrevistadas, 58,9% tinham menos de 39 anos, 77,3% estavam casadas ou em união estável com o companheiro, 58,4% têm menos de seis anos de escolaridade, 51,9% apresentavam renda familiar de até dois salários mínimos e 86,2% tiveram até três partos.

Em relação à prática do exame Papanicolaou, 59,5% das entrevistadas se submeteram ao procedimento nos últimos três anos e 40,5% não o fizeram com a frequencia recomendada. Dentre os principais motivos para a não prática do exame, 25,8% relataram achar desnecessário, 25,2% referiram a demora no atendimento ou à falta de médico e 24,1% relataram desconforto emocional (vergonha) devido à exposição da genitália (Tabela 2).

 

Tabela 1

 

Quanto ao conhecimento sobre o exame (Tabela 3) 58,2% definiram incorretamente e 69,5% não souberam relatar quais são os fatores de risco. Quando perguntadas sobre como prevenir o CCU, 57,0 % das mulheres relataram que a principal forma de prevenção é o exame de Papanicolaou e 35,4% não souberam responder.

O conhecimento sobre o exame mostrou associação estatisticamente significativa com algumas características estudadas (Tabela 4). Proporções significativamente mais elevadas de conhecimento adequado foram identificadas entre as mulheres com escolaridade maior ou igual há sete anos e entre as que relataram renda familiar de três ou mais salários mínimos. Percentuais mais altos de prática adequada foram observados entre as mulheres na faixa etária igual ou abaixo de 39 anos, com escolaridade maior ou igual a sete anos e entre as que relataram renda familiar de três ou mais salários mínimos.

 

DISCUSSÃO

Entre as mulheres entrevistadas no presente estudo, 59,5% apresentaram prática adequada em relação ao exame Papanicolaou nos últimos três anos. Esse resultado é similar ao do município de São Paulo, no qual estudos prévios identificaram prática adequada em relação ao exame de Papanicolaou em 60,8-65,5% das mulheres incluídas nos estudos14,15. Contudo, esses dados da região Sudeste são inferiores aos de municípios da região Sul do Brasil, onde se observou prática adequada em 80% das mulheres nas cidades de Londrina e Guarapuava16,17. Essas diferenças ocorreram, provavelmente, devido à descentralização proposta pelo Sistema Único de Saúde (SUS), princípio no qual cada município seleciona as suas estratégias e ações em saúde, visto que as populações avaliadas possuíam características sociodemográficas semelhantes. Ainda, vale ressaltar que a taxa de 59,5% em relação à prática adequada das mulheres entrevistas em Bauru é consideravelmente inferior ao mínimo de 80% recomendado pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) para produzir impacto significativo na redução das taxas de mortalidade pelo câncer de colo uterino.

Observou-se, ainda, que 40,5% das mulheres não se submeteram ao exame de Papanicolaou com a freqüência preconizada, dentre estas 13,5% nunca o fizeram. Esse último índice foi similar ao encontrado para as mulheres de São José do Mipibu (RN)18, São Luiz -MA- (17,6%)19, São Paulo (13,9%)15, Campinas (SP) (11,2%)20 e Guarapuava (17%)16.

Dentre as principais barreiras para a prática adequada do procedimento relatada pelas mulheres foram achá-lo desnecessário, a demora no atendimento ou a falta de médico e o desconforto emocional (vergonha). Essas razões foram semelhantes às das mulheres dos municípios de São José do Mipibu (RN, Brasil) 18 e Umuarama (PR, Brasil)21 que alegaram o descuido, o desconhecimento, a falta de solicitação do médico e o medo e a vergonha como os principais motivos para a prática inadequada. Da mesma forma, as argentinas11 e chilenas22 apontaram fatores similares para a não se submeter ao do exame Papanicolaou como a ausência da solicitação do exame por parte dos profissionais de saúde, falta de conhecimento, o fato de não se sentirem doentes ou não apresentarem sintomas e o constrangimento causado pelo exame devido à necessidade de exposição da genitália. Diante disso, é possível pensar na dificuldade de acesso destas mulheres não só ao exame propriamente dito, mas aos serviços de saúde em geral e, também, a falta de conhecimento e de hábitos preventivos. Em um estudo realizado junto a funcionárias das indústrias têxteis observou-se maior adesão ao exame Papanicolaou, assim como conhecimento de sua finalidade, podendo esse fato estar associado às possibilidades fornecidas pelo próprio trabalho, mostrando a importância de ações que vinculem os setores sociais e de saúde.

Evidenciou-se nessa pesquisa que 58,2% das mulheres não mostraram conhecimento adequado sobre o exame Papanicolaou. Dados similares foram relatados por estudos na Argentina (50,5%)11, no Peru (52,0%)23 e em São José do Mipibu - RN, Brasil - (53,9%)18.

Outras informações importantes extraídas desse estudo são relativas ao conhecimento das mulheres sobre os fatores de risco e as formas de prevenção do câncer de colo de útero. Do total de mulheres, 69,5% não souberam relatar quais são os fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de colo uterino. Entre as mulheres da cidade de Propriá (SE, Brasil)24, 84% responderam que desconheciam sobre os fatores de risco do câncer ou mencionaram respostas como inflamação, doença venérea ou falta de higiene. Em um estudo no Paquistão25, 1,8% das mulheres não reconheciam o câncer cervical como uma doença, e apenas 26% estavam cientes de um ou mais fatores de risco.

Em relação às formas de prevenção, 57 % das mulheres relataram que a principal é o exame de Papanicolaou e 11,8% a higiene. Em Juiz de Fora, MG, as participantes apontaram como a principal medida preventiva a realização periódica do Papanicolaou (72%) e o uso de camisinha (8%)26. Um dado preocupante nesse estudo é o fato de 35,4% das mulheres não saberem sobre qualquer medida preventiva. Em Propriá (SE, Brasil), 77% das mulheres avaliadas não tinham informação de como prevenirem-se e somente 23% tinham alguma ideia, como por exemplo, o uso da camisinha (4%)24. A falta de conhecimentos sobre os fatores de risco e as formas de prevenção podem estar relacionados à má informação por parte dos profissionais de saúde, ao acesso a programas de educação feminina eficazes e a triagem de massa.

Ainda, foi observado nessa pesquisa que o conhecimento adequado e a prática adequada mostraram associação estatisticamente significativa entre as mulheres com escolaridade maior ou igual há sete anos e entre as que relataram renda familiar de três ou mais salários mínimos. Estudos prévios mostraram resultados similares nos quais a renda e a escolaridade apresentaram relação direta com a prática adequada3,27 e o conhecimento adequado a respeito do exame Papanicolaou como forma de prevenção3,6,27.

Essa associação estatisticamente significativa entre o grau de instrução, conhecimentos e atitudes se devem, provavelmente, à maior conscientização sobre as vantagens e os benefícios da realização periódica do exame e o maior acesso às informações e aos serviços de saúde por parte destas mulheres.

Ressalta-se, ainda, o fato de ter sido encontrado associação entre a idade das mulheres e a prática do exame. Em Guarapuava e no Rio Grande do Sul a associação da idade das mulheres com a realização do exame preventivo de colo de útero também foi estatisticamente significativa, havendo maior participação daquelas com idade entre 25 e 40 anos16,28. Uma possível explicação para essa associação entre a faixa etária das mulheres e a prática adequada se deve ao fato que as em idade reprodutiva realizam mais exames pelos mesmos estarem vinculados a procedimentos de rotina durante o pré-natal ou como parte do planejamento familiar29,30. Entretanto, em outros países da América Latina como na Argentina e no Peru não foram notadas associações entre a idade e a prática do exame11,31.

Uma das limitações desse estudo foi o método utilizado para estimar a prática do exame de Papanicolaou. A coleta das informações sobre a prática adequada foi realizada a partir do relato das próprias mulheres sobre a história prévia de exame. As perguntas sobre a realização do exame pressupõem o conhecimento prévio sobre o mesmo. Além disso, as mulheres tendem a superestimar a freqüência do teste e a subestimar a época do último exame preventivo32.

Contudo, várias pesquisas têm utilizado a informação referida sobre a realização do exame clínico das mamas e da mamografia, sendo que, alguns estudos realizados nos Estados Unidos observaram uma alta correlação entre os dados referidos e os registrados em prontuários, apontando as entrevistas como um método confiável e menos dispendioso para a obtenção deste tipo de informação 33,34. Outra limitação está relacionada ao desenho transversal do estudo que limita, também, a possibilidade de interpretar as associações encontradas de causa-efeito.

Os resultados mostraram que proporções significativamente mais elevadas de conhecimento adequado foram identificadas entre as mulheres com escolaridade maior ou igual há sete anos e entre as que relataram renda familiar de três ou mais salários mínimos, enquanto que, associações significativas foram encontradas entre as mulheres na faixa etária igual ou abaixo de 39 anos, com escolaridade maior ou igual a sete anos e as que relataram renda familiar de três ou mais salários mínimos e a prática adequada do exame.

A luz desses resultados é importante reformular as estratégias de atenção primária para atrair as mulheres mais velhas, de baixa escolaridade e condição sócio-econômica, a conhecer os principais fatores de risco do CCU e a realizar o exame periodicamente. Uma contribuição relevante é que dados desse gênero, e de outros que dele decorrerem, possam aperfeiçoar o entendimento das relações entre as variáveis e oferecer elementos úteis à implementação de medidas que visem à manutenção, melhora e promoção do bem-estar físico dos indivíduos.

 

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Manuscript submitted Oct 08 2013
Accepted for publication Feb 22 2014

 

 

Realizado no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade do Sagrado Coração (USC)
Corresponding author: albvitta@yahoo.com.br