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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282

Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. vol.24 no.3 São Paulo  2014

 

ORIGINAL RESEARCH

 

Dor lombar em adolescentes: um rastreamento escolar

 

 

Draut Ernani Aires Cavalcante FilhoI; Cristiano Nunes de Lima VianaI; Maria do Perpétuo Socorro de Santana CabralII; Francisco Valmor Macedo CunhaIII; Fernanda de Sousa PachecoI; Ana Karolinne da Silva BritoIV; Regina Célia de AssisV; Maria do Carmo de Carvalho e MartinsVI

IFisioterapeutas. Centro Universitário UNINOVAFAPI. Piauí, Brasil
IIEducador Físico. Secretaria Estadual de Educação do Piauí. Piauí, Brasil
IIIFisioterapeuta. Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia da Universidade Federal do Piauí. Piauí, Brasil
IVPrograma de Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital Universitário do Piauí. Universidade Federal do Piauí-UFPI. Piauí, Brasil
VProfessora Associada. Departamento de Bioquímica e Farmacologia. Universidade Federal do Piauí-UFPI. Piauí, Brasil
VIDocente do Programa de Pós-Graduação em Alimentos e Nutrição e do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia. Universidade Federal do Piauí-UFPI. Piauí, Brasil

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: A dor lombar é um sintoma com repercussões biopsicossociais com potencial de atingir o indivíduo como um todo. A idade escolar coincide com um período importante no desenvolvimento humano e em que desigualdades e compensações resultantes de posturas inadequadas ou alterações estruturais podem aumentar a chance do surgimento de dores.
OBJETIVO: Estimar prevalência de dor lombar entre adolescentes.
MÉTODO: A amostra foi constituída por 166 adolescentes com idades entre 11 e 18 anos (86 meninas e 80 meninos), regularmente matriculados em um colégio particular em cidade do estado do Piauí, no ano letivo 2012. Um questionário estruturado contendo questões fechadas sobre sexo, idade e aspectos relacionados à dor lombar foi utilizado.
RESULTADOS: Quase 80% dos estudantes referiram presença de lombalgia no último ano, e quase metade (41,3 %) informou dor classificada como grau 3 segundo escala de faces. Cerca de dois terços dos adolescentes (63,1%) afirmaram não deixar de realizar suas atividades diárias por conta da dor. Não houve associação estatisticamente significativa entre sexo e dor lombar (p = 0,117) ou intensidade de dor (p = 0,065), embora para esta última variável tenha sido encontrado p-valor marginal.
CONCLUSÃO: Elevada prevalência de dor lombar foi encontrada no grupo estudado, sem diferenças entre sexos quanto às características da dor.

Palavras-chave: coluna vertebral, programas de rastreamento, saúde escolar.


 

 

INTRODUÇÃO

A lombalgia é caracterizada por dor ou desconforto na região compreendida entre a 12ª costela e a prega glútea inferior, com ou sem irradiação para a perna1. Constitui-se em experiência desagradável no aspecto sensorial e emocional, em consequência da lesão tecidual instalada ou em potencial, que pode ser caracterizada como um distúrbio biopsicossocial2.

A dor lombar afeta aproximadamente 80-85% das pessoas ao longo da vida em todo o mundo e, em países desenvolvidos é a principal causa de limitação de atividades em jovens e adultos jovens, sendo considerada como um dos maiores motivadores de licença médica3,4,5. Resultados obtidos em estudos longitudinais, metanálises e revisões sistemáticas indicam que a prevalência de dor lombar não difere muito entre crianças, adolescentes, adultos e idosos6.

Especificamente em adolescentes, a prevalência de dor lombar em diferentes regiões do mundo varia entre 8 e 44%, e fatores como idade, nível educacional, classe social, dieta, hábito de fumar, fraqueza da musculatura flexora do quadril, baixa flexibilidade da musculatura extensora do quadril, estirão de crescimento e, até mesmo, fatores psicológicos apresentam relação estreita com a incidência desse quadro álgico em adolescentes3,7,8.

Outros fatores como postura inadequada durante a utilização de computadores, peso da mochila e atividade física permanecem como condições de associação controversa9,10. Entretanto, segundo Prista et al 11 a lombalgia possa frequentemente estar associada a alterações posturais decorrentes de maus hábitos posturais e da exposição repetida a pequenas sobrecargas.

Alterações posturais marcantes podem ser provenientes do próprio crescimento, principalmente à época dos estirões puberais, em que podem resultar, por exemplo, de crescimento desigual das vértebras ou de um desenvolvimento desequilibrado da musculatura dorsal, sendo tais alterações positivamente associadas com a presença de dor lombar 12. Em geral, também durante a aceleração do crescimento vertebral na infância e adolescência, grande parte das escolioses surge e, a assimetria ou deformidade no eixo do corpo, pode levar à redução do comprimento total da coluna causando dor, distúrbios do equilíbrio e de propriocepção13,14.

No período pré-puberal e puberal, a obesidade pode estar relacionada com desequilíbrios posturais por sobrecarga mecânica no sistema locomotor, interferindo no padrão postural pelo deslocamento anterior do centro de gravidade, resultando em desvios posturais que podem provocar dor e possíveis deformidades osteomusculares15,16. Nesse sentido, em estudo realizado em escolares com idade entre seis e 12 anos matriculados em uma escola estadual da cidade de Uberaba/MG foi demonstrado que a obesidade e o sobrepeso produzem alterações na postura, equilíbrio e na capacidade de realizar atividades cotidianas, e que 61,7% dos escolares apresentavam alterações posturais relacionadas com a região lombar17.

É importante destacar que a maioria dos vícios posturais são estabelecidos durante as fases de crescimento e maturação sexual, respectivamente, na infância e adolescência, gerando alterações posturais, principalmente laterais e ântero-posteriores, que também podem estar relacionadas com a postura ao sentar, seja para assistir aula ou à TV18, 19. A correção precoce de tais vícios posturais é imperativa, pois possibilita melhor prognóstico e melhores perspectivas de tratamento19.

Outrossim, por ser as dores lombares um grave problema de saúde pública, notoriamente em razão das diversidades de tratamento utilizados nos dias atuais, estudos sobre prevalência são imprescindíveis e norteiam condutas do gestor de saúde na indicação de intervenções para melhoria do quadro geral e diminuição dos efeitos sobre atividades laborais e sociais, em especial no ambiente escolar. O adolescente, em razão de ser vulnerável ao fato de vivenciar ampla variação no seu crescimento e desenvolvimento, torna-se alvo de estratégias capazes de reduzir estes transtornos osteomusculares nesta fase e com isto prover melhoria na sua qualidade de vida na fase adulta. Assim, o objetivo é estimar prevalência de dor lombar entre adolescentes.

 

MÉTODO

O presente trabalho consistiu em um estudo descritivo, transversal, com abordagem quantitativa e amostra constituída por 166 escolares de 11 a 18 anos, regularmente matriculados no ano letivo de 2012 em um colégio da rede particular de ensino da cidade de Teresina-PI.

O cálculo do tamanho da amostra foi realizado de acordo com a fórmula proposta por Martins20, considerando erro amostral de 5%, intervalo de confiança de 90%, e população de 520 estudantes, sendo o tamanho de amostra dimensionado em 181 estudantes. A amostra foi escolhida por sorteio simples. Previamente à coleta de dados, os estudantes foram informados sobre os objetivos da pesquisa e receberam uma carta explicativa sobre o estudo juntamente com duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que foram levados para assinatura pelos pais ou responsáveis, sendo devolvida uma via devidamente assinada caso os estudantes concordassem em participar do estudo e os pais autorizassem a participação do menor. Foi definido que os pesquisadores fariam a coleta de dados durante os dias úteis, nos turnos em que os estudantes estavam matriculados, ao longo de um mês. Houve perda amostral de13 participantes, correspondendo a 7% da amostra calculada, pois entre os escolares seis participantes não apresentaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos pais ou responsáveis, três recusaram-se em participar do estudo e quatro não foram localizados até o final do período de coleta de dados.

O instrumento utilizado para a obtenção dos dados consistiu em um questionário estruturado contendo questões fechadas, e adaptado com base naquele utilizado por Vidal 21 em estudo com adolescentes de uma escola em Portugal, que foi testado em estudo piloto com 10 adolescentes de uma escola pública da rede estadual de ensino. Os questionamentos presentes no instrumento compreenderam perguntas sobre a presença da dor, sua duração e intensidade, existência de fator precipitante ou causador (traumatismo) e se a dor impossibilitou a realização de atividade de vida diária. Foi considerado caso de dor lombar resposta afirmativa quanto à presença de dor, não relacionada ao período menstrual ou a trauma nos 12 meses que antecederam a pesquisa, com quadro de dor presente na região lombar baixa, com duração mínima de um dia, associada ou não com irradiação para um ou ambos os membros inferiores5. Para avaliação da intensidade da dor foi utilizada a "Escala visual analógica", constituída por representações gráficas de seis faces variando de expressão "feliz" (zero), correspondente a ausência de dor, até a expressão "triste (grau cinco), correspondendo a intensidade máxima de dor (forte). Os estudantes foram orientados a assinalar a face que melhor representava a intensidade da dor percebida.

Os dados foram processados no programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) 18.0. O teste de associação do Qui-quadrado foi aplicado para avaliar a associação entre o sexo e as variáveis presença de dor, intensidade e duração da dor, e interferência nas atividades de vida diária. O nível de significância foi estabelecido em p < 0,05.

O protocolo de pesquisa adotado nesse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade NOVAFAPI (número CAAE 0501.0.043.000-11) e a pesquisa foi realizada de acordo com os preceitos éticos regulamentados por resolução específica do Conselho Nacional de Saúde, e obedecendo às regras da Declaração de Helsinki de 1979 e revisada em 2008.

 

RESULTADOS

Quanto à distribuição dos participantes do estudo segundo sexo e idade, observou-se que mais de metade (51,81%) dos adolescentes era do sexo feminino, embora tenha sido observado que havia 1,3 vezes mais meninos no estrato etário de 11 a 13 anos (tabela 1).

Em relação à presença de dor lombar (tabela 2), a prevalência foi igual a 78,31%, sem associação estatisticamente significativa com o sexo (p = 0,117). E, entre os adolescentes que referiram ter sentido dor (tabela 3), quase metade (41,3 %) classificou a dor pela escala analógica visual como grau 3, sendo em termos percentuais essa intensidade 1,66 vezes mais frequente para as meninas (50,7% versus 30,5% para meninos). Em relação ao intervalo médio de duração da lombalgia, a maioria dos participantes (76,15%) referiu duração de dor entre um e sete dias. Não houve associação estatisticamente significativa entre sexo com intensidade (p = 0,065) ou com duração da dor (p = 0,293), embora o p-valor para intensidade tenha sido marginal.

Em relação à possível interferência do quadro álgico na rotina dos estudantes, quase dois terços dos adolescentes (63,07%) informaram não deixar de realizar suas atividades diárias por conta da dor. Não foram encontradas associações estatisticamente significativas com o sexo (p = 0,459).

 

DISCUSSÃO

As dores lombares constituem-se em grave problema de saúde pública nos dias atuais. A adolescência é um período vulnerável aos transtornos osteomusculares por conta da ocorrência de ampla variação no crescimento e desenvolvimento. Dessa forma, o adolescente torna-se alvo de estratégias capazes de reduzir esses transtornos nessa fase da vida e com isto promover melhoria na qualidade de vida na fase adulta. Neste estudo foi estimada a prevalência de dor lombar entre adolescentes, e foi encontrada elevada prevalência em adolescentes de 11 a 18 anos (78%), sem diferenças entre os sexos.

Essa prevalência é superior àquelas encontradas em outros estudos realizados22,23. Estudo realizado na Dinamarca demonstrou prevalência de dor lombar em 33% das crianças de 8 a 10 anos, e em 47% dos dos adolescentes 23. Em outro rastreamento realizado no noroeste da Inglaterra foi encontrada prevalência de 40,2% em uma amostra de 500 indivíduos com idade entre 10 e 16 anos 24. O aspecto cultural parece não ser fator excludente da sintomatologia da dor lombar. No Kuwait, estudo semelhante com 400 escolares na faixa etária de 10 a 18 anos revelou prevalência de dor lombar de 57,75% dos entrevistados 22.

No Brasil, estudos com enfoque na prevalência de dor lombar em escolares não são frequentes e alguns se limitam a verificar a presença de fatores de risco e alterações posturais19. Em relação à prevalência desse sintoma, Vitta et al.8, em estudo com 1236 escolares na faixa etária de 11 a 14 anos do município de Bauru-SP observou que 19,5% dos entrevistados apresentaram dor lombar. E, em estudo realizado com 833 escolares da 5ª a 8ª série de rede de ensino municipal do Rio Grande do Sul foi encontrada prevalência de dor nas costas de 54,1% nos três meses anteriores à realização da pesquisa25. As diferenças entre os resultados de diferentes pesquisas sobre a prevalência de lombalgia em adolescentes podem ser, em parte, atribuídas às diferentes metodologias usadas, à idade dos sujeitos e até mesmo à localização geográfica dos estudos26. Nesse contexto, é importante destacar que neste estudo foram incluídos escolares com idade até 18 anos enquanto no estudo realizado em Bauru somente foram avaliados escolares com idade de 11 a 14 anos8, faixa etária semelhante àquela esperada para os escolares incluídos no estudo realizado em Teutônia- RS, estudantes de 5ª a 8ª série25.

Ao analisar a relação entre dor lombar e sexo entre os adolescentes estudados em Teresina, embora não tenha sido encontrada associação entre as variáveis analisadas, a razão de prevalência de dor entre meninas e meninos foi igual a 1,12 (82% no sexo feminino versus 73% no masculino). E, de modo semelhante ao que foi demonstrado neste estudo, em alguns trabalhos também não foi encontrada associação entre lombalgia e sexo24,27. Porém, outros estudos demonstraram que o sexo masculino é menos propício a sentir dores lombares8,11,21. Tais achados evidenciam a necessidade de realização de estudos adicionais que permitam analisar de maneira mais conclusiva a relação entre sexo e a presença de lombalgia.

Embora não investigadas neste estudo, algumas possíveis explicações ainda sem comprovação científica têm sido propostas para justificar a possível associação da dor lombar com o sexo feminino, sendo a primeira relacionada à força física, menor nas mulheres; outra hipótese seria de ordem psicossocial, em que as mulheres teriam maior predisposição do que os homens para percepção de dor. Além disso, também o fato de apresentar maturação mais precoce, acompanhada de alterações hormonais que modificam a percepção da dor poderia contribuir para tornar a mulher mais susceptível aos quadros álgicos21,25,27.

Quanto à duração do quadro de dor lombar, a maioria dos adolescentes aqui investigados (76,15%) referiu dor de duração entre um e sete dias. Tal resultado é concordante com aquele descrito em estudo realizado no noroeste da Inglaterra 21. E, embora esse achado pudesse corroborar a teoria de que a lombalgia nos jovens é, na maioria dos casos, uma situação comum de vida, que se resolve espontaneamente com o tempo, ele deve ser analisado com cautela, uma vez que atualmente sabe-se que crianças e adolescentes que vivenciam dor são os mesmos que vem a reapresentar o sintoma ou dor em outro segmento corporal27.

A justificativa para as prevalências similares de lombalgia nesses diferentes grupos etários pode estar, pelo menos em parte, relacionada com o fato de que na infância e adolescência ocorrem os estirões de crescimento, os quais comumente associam-se a alterações posturais e angulares, o que torna ainda tais períodos importantes na prevenção e diminuição das condições predisponentes ao aparecimento dos problemas posturais28.

Outras justificativas plausíveis para a alta prevalência de dor lombar em escolares é a presença de alterações posturais decorrentes da má postura, do alto índice de massa corpórea e dos hábitos de vida sedentários13,15,29,30. Quanto à relação entre alterações posturais e escoliose, estudo realizado em escola pública de Presidente Prudente -SP com 104 indivíduos com idade entre 11 e 17 anos identificou alterações posturais relacionadas à escoliose em 44,23% do avaliados 13 Ademais, em estudo com escolares da 5ª a 8ª série do Rio Grande do Sul foi encontrada associação entre a presença de dor nas costas e o tempo diário ao assistir televisão, postura adotada para dormir e para sentar ao escrever25.

No que diz respeito à relação entre IMC e postura, Rosell et al15 identificaram alterações posturais em basicamente todos os eixos analisados em indivíduos com idade entre 10 e 15 anos com sobrepeso. Souza et al30 encontraram resultado similar em população de 1141 indivíduos com idade entre 6 e 18 anos, em que houve associação de valgismo com sobrepeso e obesidade. E, Camargo e Pereira31 também encontraram altas prevalências de alterações posturais da coluna vertebral, especialmente hiperextensão de joelhos e hiperlordose, em crianças com sobrepeso e obesidade.

Em relação a possíveis interferências da lombalgia na execução de atividades diárias, os resultados deste estudo estão em concordância com aqueles encontrados em adolescentes de escola pública de Presidente Prudente -SP13, em que não houve alteração na rotina por conta da dor referida pelos participantes. Por outro lado, em estudo realizado com escolares do Rio Grande do Sul em 17,4% dos casos de lombalgia a dor impediu o desenvolvimento das atividades de vida diária 25.

Experiências pedagógicas e terapêuticas têm demonstrado que a prática de atividades lúdicas e esportivas nas aulas de Educação Física é de fundamental importância para a aquisição de hábitos posturais saudáveis. Ademais, a posição correta para estudar e transportar o material escolar funciona como coadjuvante no tratamento. E, embora neste estudo não tenham sido investigados fatores associados ao surgimento da dor, a utilização inadequada da mochila é um hábito postural inadequado capaz de promover alteração postural 18, potencializando algum problema já instalado, e aumentando as chances de aparecimento de lombalgia18,19. Nesse sentido, Basso et al31 demonstraram correlação entre o uso inadequado de mochila e alteração postural, potencializada na criança que tem respiração predominantemente bucal. Dessa forma, o acompanhamento adequado com orientações e avaliações seriadas de pesquisa por alterações posturais desenvolvem papel fundamental no diagnóstico e tratamento precoce de crianças e adolescentes13.

Os resultados aqui encontrados evidenciam a necessidade de esforços para prevenir e reduzir comportamentos maléficos que possam contribuir para o desenvolvimento de desvios posturais e alterações que possam produzir ou agravar quadros de lombalgia em adolescentes.

Considerando o longo tempo de permanência diário de crianças e adolescentes nas escolas e o fato de que os jovens estão especialmente receptivos a incorporar em seu cotidiano conjuntos de atitudes que a eles são repassadas de maneira adequada, programas de educação em saúde devem ser instituídos nas escolas, com vistas a projetar para as idades futuras os comportamentos ensinados a eles. Tais programas devem incluir ações e estratégias pedagógicas voltadas para a orientação postural, instrução familiar, identificação da lombalgia e suas causas, bem como auxiliar os jovens a se conscientizarem da influência nociva dos comportamentos de risco e a tomarem suas próprias decisões com relação à adoção de hábitos saudáveis, contribuindo para a prevenção sistematizada em prol da qualidade de vida.

Este estudo apresenta limitações relacionadas com o fato de que o delineamento transversal não permite traçar uma relação de causa e efeito, bem como por se tratar de estudo local, não permite que os resultados sejam extrapolados para outros contextos, uma vez que eles são influenciados por aspectos ambientais, sociais, culturais e genéticos, que são específicos de cada local. Contudo, acredita-se que os resultados da pesquisa poderão ser utilizados como referência para políticas voltadas à realidade local, que não percam de vista as tendências observadas na atualidade, e resultem de reflexão epidemiológica com vistas à aplicação de seus resultados para o planejamento de políticas de educação em saúde.

O estudo revelou elevada prevalência de dor lombar nos estudantes adolescentes pesquisados, sem diferença entre sexo e características da dor relacionadas à intensidade, duração ou interferência no desenvolvimento das atividades de vida diária.

 

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Manuscript submitted Oct 20 2014
Accepted for publication Nov 28 2014

 

 

Corresponding author: carminhamartins@ufpi.edu.br
Aplicação clínica do estudo: há necessidade de intervenção com processos de orientação postural para preservar a integridade osteomuscular dos estudantes