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Journal of Human Growth and Development

Print version ISSN 0104-1282

Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. vol.25 no.1 São Paulo  2015

http://dx.doi.org/10.7322/JHGD.96757 

EDITORIAL

 

Variabilidade da frequência cardíaca na síndrome metabólica

 

 

Rodrigo Daminello Raimundo; John J. Godleski

Department of Environmental Health, Harvard T.H. Chan School of Public Health, Boston, MA

 

 

Síndrome metabólica (SM) é um conjunto de fatores relacionados, principalmente,à resistência da insulina. Este grupo de fatores de risco está relacionado ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diabetes mellitus (tipo 2). Dislipidemia, hipertensão arterial sistêmica e hiperglicemia estão entre os principais contribuidores para este processo. Segundo a International Diabetes Federation, um quarto da população adulta mundial tem síndrome metabólica, sendo os homens com mais de 40 anos o maior número de casos. As taxas de SD brasileiras acompanham as internacionais variando de 12% a 28% em homens e de 10% a 40% em mulheres1.

É uma doença multifatorial, porem o aumento da circunferência abdominal e hiperinsulinemia são os principiais fatores envolvidos. Pode ser considerada SM, quando estão presentes três dos cinco critérios seguintes: Obesidade central (circunferência da cintura superior a 88 cm na mulher e 102 cm no homem); Hipertensão Arterial (pressão arterial sistólicaigual ou maior que 130mmHg e/ou pressão arterial diatólicaigual ou maior que 85 mmHg); Glicemia alterada (glicemia acima de 110 mg/dl ou diagnóstico de Diabetes);Triglicerídeos maior que 150 mg/dl e/ou HDL colesterol menor que 40 mg/dl em homens e 50 mg/dl em mulheres); está classificação foi proposta pela diretrizes do National Cholesterol Education Program´s Adult Treatment Panel III (NCEP-ATP-III)2,3,4.

Já pela World Health Organization's Expert Committee Report (WHO), SD deve ser caracterizada por hiperinsulinemia de jejum ou glicose alterada e mais dois fatores entre: (1) Pressão arterial sistólica maior que 140mmHg e/ou diastólica maior que 90mmHg (2) Dislipidemia (Triglicérides maior que 150 mg/dl e/ou HDL colesterol menor que 40 mg/dl em homens e 50 mg/dl em mulherese/ou IMC maior que 30 kg/m2 e (3) Microalbuminúria (maior 20 µg/min ou albumina/creatinina maior que 30 mg/g)2,3.

Como forma de prevenção podemos destacar: dieta balanceada (manutenção do peso saudável, reduzir a ingestão de gorduras, mudar o consumo de gorduras saturadas para gorduras insaturadas, aumentar a ingestão de frutas, hortaliças, leguminosas e cereais integrais e reduzir a ingestão de açúcar)e exercícios físicos (exercícios aeróbicos e de fortalecimento muscular). A Organização Mundial da Saúde (OMS) orientapratica de 30 minutos de atividade física pelo menos cinco vezes por semana4,5.

Importante estudo brasileiro publicado agora em 2015 na BMC Public Heatlh6 foi o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes intitulado de "ERICA". Este estudo teve como objetivo estimar a prevalência de fatores de risco cardiovascular, incluindo síndrome metabólica, em adolescentes com idades entre 12 a 17 anos nas cidades brasileiras com mais de 100.000 habitantes. Foram coletados cerca de 85 mil adolescentes. Os participantes responderam a um questionário sobre características demográficas e de estilo de vida (atividade física, tabagismo, álcool), transtornos mentais, saúde reprodutiva e bucal, e coleta de sangue para glicose em jejum, níveis de colesterol total, HDL-colesterol, LDL-colesterol, triglicéridos, e hemoglobina glicada. Espera-se que com os dados do "ERICA" consiga-se contribuir para o conhecimento sobre fatores de risco para aterosclerose, obesidade, diabetes mellitus em adolescentes brasileiros e sirva de apoio ao desenvolvimento de políticas de saúde.

Como uma das principais formas de prevenção primária e de tratamento não medicamentoso, os estudos com exercício físico têm aumentado substancialmente7. Dentro deste universo de estudos a modulação autonômica em pacientes com síndrome metabólica e em exercício tem ganhado destaque na literatura cientifica. A modulação autonômica cardíaca pode ser mensurada de forma não invasiva, este processo é conhecido como análise da variabilidade da frequência cardíaca (VFC)5,7,8,9.

Existem fortes evidências que a obesidade leva a um aumento da modulação simpática e uma diminuição do tônus vagal levando a um descontrole autonômico(caracterizado pela diminuição da variabilidade da frequência cardíaca) que pode trazer alterações no sistema renina-angiotensina-aldosterona, nos agonistas alfa-2 centrais e receptores alfa-1 e betaadrenérgicos10,11. Além disso, alterações das catecolaminas plasmáticas e aumento da atividade do nervo simpático muscular são características importantes em obesos. Todos estes fatores colaboram ainda mais para o aumento da pressão arterial12,13.

Souza et al14 fizeram uma revisão abordando estudos em crianças obesas com análise da VFC, a pesquisa mostra que crianças obesas apresentam menor atividade do SNA parassimpático. Além disso, existem evidências8,9,10,11,12 mostrando que intervenções como dieta alimentar e atividade física são capazes de promover melhoras no SNA dessa população.

Vanderlei et al15,16,17 mostraram em três estudos, disfunção autonômica caracterizada pela redução de atividade da modulação simpática em crianças obesas analisadas. Os índices de VFC estatisticamente significantes nestes estudos foram RRtri, TINN, SD1, SD2, LF, HF, LF/HF, Alfa1, RMSSD, SDNN e pNN50.

Vanderlei, Vanderlei e Garner18, em uma elegante pesquisa nessa edição do JGDH publicam contribuição importante no campo da VFC. Trata-se do artigo "Heart rate dynamics by novel chaotic globals to HRV in obeseyouths", que traz como novidade a avaliação de jovens obesos pelo comportamento caótico da VFC. Séries temporais da frequência cardíaca podem ser estudadas por meio de métodos estatísticos, este artigo, estuda do ponto de vista dinâmico, associando aos sistemas determinísticos não-lineares (comportamento caótico). Oitenta e seis indivíduos jovens foram distribuídos em dois grupos (obesidade e controle). Os resultados ilustram que há uma grande variação em ambos os valores médios e desvio padrão para jovens tanto não-obesos e obesos, existindo um aumento na resposta caótica quando se passa de não-obesos aos jovens obesos, mostrando então, que a obesidade juvenil aumenta a resposta caótica.

Stukey et al10 revisou sistematicamente associações entre VFC e síndrome metabólica. Quatorze estudos foram incluídos nesta revisão que mostrou VFC reduzida em mulheres com síndrome metabólica enquanto os resultados em homens eram inconsistentes. Parâmetros de variabilidade da frequência cardíaca domínio do tempo e freqüência foram associados a fatores de risco da síndrome metabólica individuais. Os autores concluíram que VFC é alterada de forma diferente em homens e mulheres com síndrome metabólica.

Stuckey et al19 mostraram que oito semanas de atividade física melhoram os fatores de risco para SM e dos parâmetros da VFC, mas apenas alterações na pressão arterial sistólica foram associados à melhora da função autonômica.

Koskinen et al20 associaram a presença de síndrome metabólica com menores valores de HF e LF em homens e mulheres e maiores valores de LF/HF em mulheres. Em homens jovens, a circunferência da cintura foi o mais forte componente individual associado a VFC. Após ajustes para idade e frequência cardíaca, síndrome metabólica foi associada a menor HF e maior razão LG/HF em mulheres.

Jarczok et al21 recrutaram 2.441 participantes para estudo e confirmaram uma correlação negativa entre a VFC eo estado glicêmico que parecia ser quase linear em um grande grupo de trabalhadores saudáveis. Liao et al22 examinaram a associação entre o nível de atividade e distúrbios SM autonômicas cardíacas. Índices de VFC foram significativamente menores nos indivíduos com SM. Um aumento da insulina de jejum foi associado a valores 88% mais elevados de HF. O padrão de associações foi semelhante para LF e SDNN.

Nos últimos anos, a VFC tem sido um instrumento importante para avaliar a modulação autonômica. A associação da VFC com formas adequadas de prescrição de exercício pode aumentar a conscientização para um melhor tratamento de pacientes com síndrome metabólica. A SM apresentou alterações no sistema nervoso autônomo, caracterizadas por reduções na atividade parassimpática e na VFC global, mas a redução da modulação simpática não é totalmente clara. A análise da VFC pelo comportamento caótico pode trazer um avanço para avaliação e terapêutica de pacientes obesos, diabéticos, hipertensos e com síndrome metabólica.

 

REFERÊNCIAS

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Manuscript submitted Jan 18 2015
Accepted for publication Mar 03 2015

 

 

Corresponding author: rodaminello@yahoo.com.br