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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282

Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. vol.25 no.1 São Paulo  2015

http://dx.doi.org/10.7322/JHGD.96768 

ORIGINAL RESEARCH

 

Acidentes com animais peçonhentos no Brasil por sexo e idade

 

 

Ageane Mota da SilvaI; Paulo Sérgio BernardeII; Luiz Carlos de AbreuIII

IInstituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Acre. Cruzeiro do Sul - Acre
IIUniversidade Federal do Acre, Campus Floresta, Laboratório de Hepetologia, Cruzeiro do Sul - Acre
IIFaculdade de Medicina do ABC - Departamento de Saúde Coletiva. São Paulo- SP

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: acidentes com animais peçonhentos são uma emergência clínica frequente em vários países tropicais, principalmente nos campos e áreas rurais, constituindo um problema de Saúde Pública, inclusive pediátrica
OBJETIVO: analisar a morbidade, mortalidade e letalidade de acordo com a faixa etária e sexo nos casos de envenenamentos por serpentes, escorpiões e aranhas no Brasil
MÉTODO: Os dados sobre envenenamentos por serpentes, escorpiões e aranhas ocorridos no período de 2009 a 2013 foram obtidos na base de dados online do Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN do Ministério da Saúde
RESULTADOS: foi registrada uma média de 28.812 casos por ano de acidentes ofídicos, 60.370,8 com escorpiões e 25.786,4 com aranhas. A maioria dos óbitos foi causada por serpentes (119 por ano) e também apresentou maior letalidade (0,41%), seguida por escorpiões (79,6 óbitos) com letalidade de 0,13% e, aranhas (13,2) com menor letalidade (0,05%). Em indivíduos do sexo masculino ocorreram a maioria dos casos de acidentes ofídicos, enquanto que nos acidentes com escorpiões e aranhas foi observado pouca diferença na frequência entre homens e mulheres. A faixa etária com maior número de registros de envenenamentos foi a de 20 a 39 anos
CONCLUSÕES: ocorre um aumento progressivo de casos de envenenamentos a partir do primeiro ano de idade até a faixa etária compreendida entre 20 a 39 anos e após esta, começa uma diminuição. Crianças, adolescentes e adultos idosos, constituem grupos mais vulneráveis por apresentarem maiores índices de letalidade, especialmente nos acidentes ofídicos e escorpiônicos

Palavras-chaves: acidentes ofídicos, ofidismo, escorpionismo, araneísmo.


 

 

INTRODUÇÃO

Acidentes com animais peçonhentos são uma emergência clínica frequente em vários países tropicais, principalmente nos campos e áreas rurais de países da América Latina, África, Ásia e Oceania1,2. No Brasil, durante o ano de 2013, foram registrados 158.002 casos de envenenamentos por animais peçonhentos, destes, a maioria (123.128 casos), causados por serpentes, escorpiões e aranhas3. Os envenenamentos por animais peçonhentos e suas consequências constituem um problema de Saúde Pública, inclusive pediátrica, em muitos países1.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2009 incluiu o ofidismo na lista de Doenças Tropicais Negligenciadas2, estimando que possa ocorrer anualmente no Planeta 1.841.000 casos de envenenamentos resultando em 94.000 óbitos. No Brasil os envenenamentos por serpentes representam aproximadamente 29.000 casos por ano e uma média de 125 óbitos4. Em relação aos aracnídeos, durante o ano de 2013, foram registrados 69.036 casos de pessoas picadas por escorpiões que resultaram em 80 óbitos e, 27.125 casos de envenenamentos por aranhas e 36 destes evoluíram para óbito3.

São 62 espécies de serpentes peçonhentas conhecidas para o Brasil4 e os envenenamentos são classificados em quatro grupos: Botrópico (Gêneros Bothrops e Bothrocophias - jararacas; responsáveis por 86,23% dos casos); Crotálico (Gênero Crotalus - cascavéis; responsáveis por 9,17% dos casos); Laquético (Gênero Lachesis - surucucu-pico-de-jaca; responsáveis por 3,72% dos casos); Elapídico (Gênero Micrurus - corais-verdadeiras; responsáveis por 0,86% dos casos). O perfil epidemiológico das vítimas de acidentes ofídicos representa trabalhadores rurais do sexo masculino com idade entre 15 e 49 anos e os membros inferiores são os mais atingidos5,6. A letalidade do acidente ofídico é de 0,44%4, sendo que existe uma associação entre a gravidade dos casos com a idade (crianças menores de 10 anos e idosos)7,8,9.

Os escorpiões de interesse médico no Brasil pertencem ao gênero Tityus, sendo três as principais espécies responsáveis por envenenamentos em humanos graves e mesmo fatais nas regiões Sul, Sudeste, Centro-oeste e Nordeste do Brasil6,10: T. bahiensis (escorpião marrom), T. serrulatus (escorpião amarelo) e T. stigmurus. Duas espécies (Tityus metuendus e T. obscurus) são conhecidas para Amazônia e se destacam por apresentarem potencial de acidentes graves em seres humanos11. Os acidentes com escorpiões apresentam pouca diferença entre homens e mulheres, apresentando uma letalidade de 0,2% e crianças com menos de 10 anos constituem o grupo mais vulnerável6.

No Brasil, as aranhas de importância na Saúde Pública são classificadas basicamente em três gêneros6,12: Phoneutria (armadeira), Loxosceles (aranha-marrom) e Latrodectus (flamenguinha). A forma mais importante de araneísmo no Brasil é a picada da aranha marrom (Loxosceles), que apresenta o veneno mais letal e é a responsável pela maioria dos acidentes (loxoscelismo) que se concentram nas regiões sul. A maioria dos acidentes ocorre em adultos jovens e apresenta uma letalidade de 0,05%. No loxoscelismo ocorre um predomínio de casos no sexo feminino, enquanto que no foneutrismo (Phoneutria) e latrodectismo (Latrodectus) os homens são mais acometidos.

Assim, o objetivo é analisar a morbidade, mortalidade e letalidade de acordo com a faixa etária e sexo nos casos de envenenamentos por serpentes, escorpiões e aranhas no Brasil.

 

MÉTODO

Foi realizado um estudo descritivo e retrospectivo analisando a base de dados on-line do Sistema de Informação de Agravos de Notificação - SINAN do Ministério da Saúde3 onde são registrados os acidentes por animais peçonhentos que ocorrem no país. A ficha do SINAN presente nos hospitais para o registro dos acidentes com animais peçonhentos apresenta 64 variáveis, das quais 21 estão disponíveis on-line. Destas variáveis na base de dados on-line, apenas algumas como o tipo de animal causador (serpente, escorpião ou aranha), distribuição dos envenenamentos por gênero de serpente (Botrópico, crotálico, laquético e elapídico) e aranha (Phoneutria, Loxosceles e Latrodectus), idade e sexo da vítima, mulheres gestantes e óbitos foram consideradas neste estudo. Foram coletados os registros dos casos ocorridos por envenenamentos por serpentes, aranhas e escorpiões entre os anos de 2009 a 2013. Os dados coligidos foram agrupados em planilhas do Excel para serem efetuados os cálculos de média, porcentagem e índice de letalidade. O índice de letalidade foi obtido a partir da divisão do número de óbitos ocorrido por determinado tipo de envenenamento pelo número de casos registrado pelo mesmo tipo de acidente e depois multiplicado por 100 e o resultado expresso em porcentagem.

 

RESULTADOS

Durante o período de 2009 a 2013 foram registrados 144.060 acidentes ofídicos (média de 28.812 casos por ano), 301.854 acidentes com escorpiões (média de 60.370,8 casos por ano) e 128.932 acidentes com aranhas (média de 25.786,4 casos por ano) (Tabelas 1, 2 e 3). A maioria dos óbitos foi causada por serpentes (média de 119 por ano) e também apresentou maior letalidade (0,41%), seguida por escorpiões (média de 79,6 óbitos por ano) com letalidade de 0,13% e, aranhas (13,2 óbitos por ano), a menor letalidade (0,05%). Em indivíduos do sexo masculino ocorreram a maioria dos casos de acidentes ofídicos (76,9% dos casos), enquanto que nos acidentes com escorpiões e aranhas foi observado pouca diferença na frequência entre homens e mulheres (Figura 1). A faixa etária com maior número de registros de envenenamentos por serpentes, escorpiões e aranhas foi a de 20 a 39 anos, seguida pela de 40 a 59 anos (Tabelas 1, 2 e 3; Figura 2).

 

 

Em acidentes ofídicos ocorre um aumento progressivo de envenenamentos a partir do primeiro ano de idade até a faixa etária compreendida entre 20 a 39 anos e após esta, começa uma diminuição dos casos com o avançar da idade. Foi registrado um maior número de óbitos em indivíduos de 20 a 59 anos (média de 68 óbitos por ano = 57,14%) e uma maior letalidade a partir dos 60 anos (0,7% de letalidade) (Tabela 1). As maiores letalidades foram observadas na faixa etária de 70 a 79 anos (1,64%) e com mais de 80 anos (2,16%). Em gestantes (0,5% dos acidentes ofídicos registrados), foi observado uma maior letalidade (1,33%) em relação a letalidade no sexo feminino (0,39%).

A maioria dos casos de envenenamentos por serpentes correspondeu ao acidente botrópico (86,2%) (Tabela 4), seguido pelos acidentes crotálico (9%), laquético (3,9%) e elapídico (0,9%).

Foi observado um maior número de casos de envenenamento elapídico (4,95%) em crianças com 1 a 4 anos de idade quando comparado com a frequência dos envenenamentos com outros tipos de serpentes nesta mesma faixa etária (botrópico 1,76%; crotálico 1,56%; laquético 1,55%). A maior letalidade foi registrada no envenenamento crotálico (0,96%) (Tabela 5), seguido pelo laquético (0,61%), botrópico (0,37%) e elapídico (0,27%). Os quatro tipos de envenenamento apresentaram ocorrência de maiores letalidades em indivíduos com mais de 60 anos. Em todos os tipos de envenenamentos houve um predomínio em indivíduos do sexo masculino (Figura 3), ocorrendo diferenças na proporção das vítimas de acordo com o sexo e o tipo de serpente: acidente laquético (81,76%); crotálico (80,73%); botrópico (77,58%); elapídico (71,06%).

Nos acidentes com escorpiões e aranhas, também foi observado um aumento de casos de envenenamento com o aumento da faixa etária, ocorrendo maior número de acidentes registrados entre 20 a 39 anos e, uma diminuição da frequência após estas idades (Tabelas 2 e 3). A maior parte dos óbitos (média de 32,6 por ano = 41%) e índices de letalidade em acidentes escorpiônicos foi observada em crianças com menos de nove anos de idade. Envenenamento por aranhas apresenta maior frequência de óbito em indivíduos adultos com idade entre 20 a 59 anos (médias de 6,6 óbitos por ano = 50%).

Dos 128.932 casos de acidentes com aranhas durante 2009 a 2013, apenas 59.700 (46,3%) tiveram o gênero de aranha causador do envenenamento registrado (Tabelas 6 e 7). A maioria dos casos correspondeu ao loxoscelismo (66,3%), seguido pelo foneutrismo (32,8%) e latrodectismo (0,9%). Foram atribuídos durante o período estudado, 66 óbitos por envenenamentos por aranhas e, destes, apenas 24 tiveram o gênero de aranha causador do acidente identificado. A maioria dos óbitos (18) foi atribuída ao gênero Loxosceles (Letalidade de 0,04%), seguido por Phoneutria com 5 óbitos (0,02%) e Latrodectus com um (0,17%). Indivíduos do sexo masculino perfizeram a maior parte das vítimas nos acidentes com Phoneutria (59,42% dos casos) e com Latrodectus (55,35%), enquanto que o sexo feminino teve maior incidência de casos com Loxosceles (56,4%) (Figura 4).

 

DISCUSSÃO

Escorpiões foram os principais responsáveis por envenenamento por animais peçonhentos no Brasil (60.370,8 casos por ano) e serpentes pela maior mortalidade (119 óbitos por ano) e letalidade (0,41%). Quando a letalidade pelo ofidismo é analisada por região no país, observa-se que ela é maior em algumas (ex. Nordeste = 0,6%; Centro-oeste = 0,47%; Norte = 0,46%) e menor em outras (Sul = 0,2%; Sudeste = 0,27%)4, denotando a necessidade de estratégias para redução destas letalidades em regiões onde elas são maiores. Dentre os fatores que podem estar contribuindo para essas maiores letalidades, o tempo decorrido entre o acidente e a soroterapia é o principal problema13,14 e melhorias no transporte das vítimas de locais mais isolados para os grandes centros poderia reduzir este indicador. Muitas vítimas também realizam condutas inadequadas de tratamento ou mesmo não procuram os hospitais em casos de envenenamento4,13, denotando a importância de campanhas educativas sobre primeiros socorros e a importância de ir até um hospital. Outra recomendação importante é o treinamento dos profissionais da Saúde para o tratamento de pacientes picados por animais peçonhentos de acordo com a situação epidemiológica e fauna da região em que está inserido14,15.

Indivíduos do sexo masculino com idade entre 20 a 59 anos representaram as principais vítimas nos acidentes ofídicos, demonstrando a importância do ofidismo como problema de saúde ocupacional, principalmente em atividades agrícolas5. Foi observada pouca diferença na frequência de acidentes com aranhas e escorpiões entre homens e mulheres, situação provavelmente associada com o fato de que a maioria dos casos de envenenamentos pelos aracnídeos ocorrerem em áreas urbanas e nos domicílios onde esses animais são também encontrados10,16,17. A faixa etária entre 20 a 59 anos também foi a principal nos casos de envenenamentos por escorpiões e aranhas, o que deve estar associado com atividades de trabalho como atividades domésticas (limpeza da casa e quintais, lavagem de roupa) e manuseio de materiais de construção e entulho18,19. Em todos os tipos de acidentes foi observado um aumento progressivo de envenenamentos a partir do primeiro ano de idade até a faixa etária compreendida entre 20 a 39 anos e após esta, ocorreu uma diminuição dos casos.

Assim como já registrado em outros estudos sobre acidentes ofídicos7,20, maiores letalidades foram observadas em idosos e em crianças. Adultos com mais de 50 anos de idade tem maior probabilidade de desenvolverem insuficiência renal e, adultos com mais de 60 anos apresentam maior probabilidade de apresentarem necrose na região da picada8. Crianças (menores de 10 anos) apresentam baixa capacidade imunológica e menor massa muscular do que adultos, podendo ter quadro mais intenso de envenenamento21, e também apresentam maior risco de reações à soroterapia22.

Gestantes corresponderam a 0,5% (aproximadamente 150 casos por ano) das vítimas de acidentes ofídicos, estando este valor dentro da frequência observada (0,4% a 1,8%) em outros estudos realizados na África do Sul, Índia e Sri Lanka23. Apesar desta baixa frequência de casos, a condição gestante apresentou maior letalidade (1,33%) comparada com a letalidade geral no sexo feminino (0,39%). Além do aumento do risco da evolução para óbito das vítimas de acidentes ofídicos gestantes, existe também a possibilidade de complicações obstétricas e risco para o feto (sangramento vaginal, contração uterina, ameaça de aborto, diminuição dos movimentos fetais e morte fetal)23,24, o que requer uma atenção especial nessas pacientes.

Analisando os acidentes ofídicos pelo gênero de serpente causador do envenenamento, a maioria dos casos correspondeu ao acidente botrópico (86,2%), seguido pelo crotálico (9%), laquético (3,9%) e elapídico (0,9%), padrão este que era o esperado e observado em Bernarde4. Foi observado uma maior ocorrência de envenenamentos elapídicos em crianças entre 1 e 4 anos de idade (4,95%) em relação aos acidentes por outras serpentes (1,55% a 1,76%). Devido o fato das corais-verdadeiras (Micrurus spp.) apresentarem padrão de anéis coloridos, as crianças podem ser atraídas a manusearem este tipo de serpente sem saber da periculosidade das mesmas e serem envenenadas21. Houve uma maior proporção de indivíduos do sexo masculino picados pela surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta) (81,76%) e cascavel (Crotalus durissus) (80,73%) em relação aos casos de envenenamento pelas jararacas (Bothrops spp) (77,58%) e corais-verdadeiras (Micrurus spp.) (71,06%). Isso provavelmente esteja associado com a maior atividade dos homens dentro de florestas densas onde a Lachesis muta está presente e nos trabalhos em áreas de lavouras e pastagens onde Crotalus durissus ocorre, além de que Bothrops e Micrurus estão também presentes em áreas urbanas4, favorecendo um maior contato com mulheres.

Indivíduos jovens com menos de 14 anos de idade apresentaram o maior número de óbitos e também de letalidade nos acidentes escorpiônicos, demonstrando que crianças e adolescentes constituem um grupo de maior risco, como relatado por Nunes et al.18, Soares et al.19, Guerra et al.25 e Bucaretchi et al.10. Idosos também correspondem a um grupo de maior risco de óbito por escorpiões por apresentarem o sistema imunológico mais debilitado e requer uma atenção especial18,19.

Acidentes com aranhas apresentaram menor letalidade (0,05%) em relação ao escorpionismo e ofidismo, sendo a mesma relatada por Oliveira et al.6 para o período de 2000 a 2007 para o Brasil. Os óbitos são mais frequentes (50% dos casos; média de 6,6 óbitos por ano) nos indivíduos adultos com idade entre 20 a 59 anos, que também perfazem a maioria das vítimas (63% dos casos). Um problema em relação ao araneísmo, é a grande proporção de casos nos quais não há referência ao tipo de aranha causadora do acidente no preenchimento da ficha do SINAN (ignorado/branco)6. Apenas 46,3% dos casos tiveram o gênero de aranha registrado, sendo a maioria dos casos atribuídos a aranha marrom (Loxosceles; 66,3%), seguido pela armadeira (Phoneutria; 32,8%) e flamenguinha (Latrodectus; 0,9%). Houve uma maior incidência de casos de loxoscelismo em mulheres (56,4%), provavelmente devido a maior presença de aranhas marrons (Loxosceles) na área urbana e nos domicílios na região Sul do Brasil onde ocorre grande parte dos acidentes6,16. Em relação ao foneutrismo e latrodectismo, ocorreu um predomínio de acidentes em homens (59,42% e 55,35% dos casos, respectivamente), estando provavelmente associado com a maior presença do sexo masculino em atividades agrícolas na área rural e em outras (jardinagem, capinagem) nas cidades6,12.

 

CONCLUSÕES

Acidentes com serpentes, escorpiões e aranhas expressam grande importância na Saúde Pública com aproximadamente 115.000 casos por ano no Brasil. Há um aumento progressivo de casos de envenenamentos a partir do primeiro ano de idade até a faixa etária compreendida entre 20 a 39 anos e após esta, começa uma diminuição dos casos. Crianças e adolescentes (menores de 14 anos) e adultos idosos, constituem grupos mais vulneráveis por apresentarem maiores índices de letalidade, especialmente nos acidentes ofídicos e escorpiônicos. Mulheres gestantes apresentam uma maior letalidade nos casos de acidentes ofídicos (1,33%), além da possibilidade de complicações obstétricas. Em indivíduos do sexo masculino ocorreu a maioria dos casos de acidentes ofídicos, enquanto que nos acidentes com escorpiões e aranhas foi observado pouca diferença na frequência entre homens e mulheres, estando isso provavelmente associado com a maior atividade masculina nos campos e florestas onde ocorre a maioria dos casos de ofidismo e da presença dos aracnídeos nas áreas urbanas e nos domicílios.

 

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Manuscript submitted May 08 2014
Accepted for publication Oct 29 2014

 

 

Corresponding author: ageane.silva@ifac.edu.br