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Journal of Human Growth and Development

Print version ISSN 0104-1282

Rev. bras. crescimento desenvolv. hum. vol.25 no.2 São Paulo  2015

http://dx.doi.org/10.7322/JHGD.103020 

ORIGINAL RESEARCH

 

Avaliação do desenvolvimento de bebês nascidos pré-termo: a comparação entre idades cronológica e corrigida

 

 

Cibelle Kayenne Martins Roberto FormigaI; Martina Estevam Brom VieiraII; Maria Beatriz Martins LinharesIII

IPhysical therapist, PhD in Medical Sciences, Associate Professor, Department of Physical Therapy of the State University of Goiás (UEG), Goiânia, GO, Brazil
IIPhysical Therapist, Master of Science, Assistant Professor, Department of Physical Therapy of the State University of Goiás (UEG), Goiânia, GO. Doctoral student, Department of Neurosciences and Behavior, Ribeirão Preto Medical School, University of São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brazil
IIIPhD in Psychology, Associate Professor, Department of Neurosciences and Behavior, Ribeirão Preto Medical School, University of São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brazil

 

 


RESUMO

OBJETIVO: Comparar o desenvolvimento global e motor de bebês nascidos pré-termo, considerando-se o desempenho das crianças na idade cronológica e na idade corrigida para a prematuridade
MÉTODO: O estudo é do tipo corte-transversal. A amostra foi constituída por um total de 182 recém-nascidos pré-termo (< 37 semanas de idade gestacional) e com baixo peso ao nascer (< 2.500 gramas) pertencentes aos seguintes grupos etários: 2-4 meses (n = 182), 4-6 meses (n = 146) e 6-8 meses (n = 112). O desenvolvimento global das crianças foi avaliado pelo Teste de Denver II nos três grupos etários e o desenvolvimento motor foi avaliado pelo Test of Infant Motor Performance no grupo de 2-4 meses e pela Alberta Infant Motor Scale nos grupos de 4-6 e 6-8 meses. A classificação dos desempenhos das crianças, considerando-se as idades cronológica e corrigida, foi comparada por meio do Teste de McNemar
RESULTADOS: Quando se considera a idade cronológica, o percentual de atraso no desenvolvimento motor e global situou-se entre 75% e 91% da amostra, porém utilizando a idade corrigida este percentual variou de 33% a 51%, considerando os três grupos etários (p < 0,001)
CONCLUSÃO: A avaliação do desenvolvimento utilizando a idade cronológica pode superestimar riscos ou problemas no primeiro ano de idade

Palavras-chave: prematuro, desenvolvimento infantil, avaliação


 

 

INTRODUÇÃO

A prematuridade é uma das principais causas de morte na primeira infância e um importante fator de risco para problemas no desenvolvimento infantil1. Os serviços de follow-up são formados por equipes multidisciplinares que realizam o acompanhamento sistemático de bebês nascidos de risco, a fim de identificar e intervir nos problemas que venham a prejudicar seu crescimento e desenvolvimento2. Recomenda-se que o seguimento dos recém-nascidos pré-termo seja realizado por meio da aplicação de instrumentos de avaliação padronizados e confiáveis2,3.

Na avaliação de bebês nascidos pré-termo convencionou-se utilizar a correção da idade cronológica, visando uma caracterização mais realista do desenvolvimento dessas crianças. Segundo Blasco4, esta correção deve ser realizada do nascimento até 24 meses de idade pós-termo por meio da subtração do número de semanas de gestação do bebê, do total de 40 semanas, que é considerado nascimento a termo pela Organização Mundial de Saúde. Esta diferença é, então, subtraída da idade cronológica do bebê.

Durante muitos anos, a correção da idade gestacional foi usada na avaliação do desenvolvimento de bebês nascidos pré-termo da mesma maneira que se avaliava o crescimento ponderoestatural4-6. Contudo, os avanços científicos nesta área tem demostrado que a prematuridade não é o único fator de risco responsável pelo retardo no ritmo das aquisições do desenvolvimento desses bebês, uma vez que variáveis como complicações de saúde ao nascimento, condições ambientais e práticas maternas também estão associadas aos desfechos em curto e longo prazo3.

Espera-se que ao corrigir a idade gestacional nos primeiros dois anos de idade, as sequências do desenvolvimento das crianças pré-termo tornem-se semelhantes às apresentadas por crianças a termo (37-42 semanas de idade gestacional). Entretanto, estudos que compararam o desenvolvimento de bebês pré-termo e a termo evidenciaram que os prematuros demonstram um padrão irregular de desenvolvimento, nem sempre se apresentando atraso em relação às crianças nascidas a termo7-10.

Embora seja uma conduta de rotina, a correção da idade para a prematuridade ainda é motivo de controvérsias na literatura. Os estudos clássicos4-6,11 a respeito desta temática são mais antigos e não consideram se há diferentes formas de correção de acordo com as áreas do desenvolvimento da criança e até que idade deve ser feita a correção. Como é o caso do desenvolvimento motor amplo o qual parece ser mais influenciado pela idade gestacional enquanto que o motor fino parece advir da interação de fatores biológicos maturacionais e fatores ambientais12.

No sentido de contribuir para a discussão do limite de idade para a correção, outro estudo analisou o desenvolvimento motor de bebês pré-termo de baixo risco até 12 meses de idade13. Os autores verificaram a necessidade de correção da idade do bebê pré-termo no primeiro ano, independentemente da idade gestacional, e que a partir de 13 meses de idade corrigida não haveria necessidade de realizar a correção para a prematuridade13.

A hipótese aceita é de que com a correção da prematuridade, os bebês pré-termo podem apresentar um nivelamento de habilidades com os bebês a termo no desenvolvimento motor amplo entre oito e 12 meses de idade14. Por outro lado, quando se utiliza a idade cronológica, o desenvolvimento motor de lactentes pré-termo com baixo risco de desordens neurológicas é subestimado, levando ao diagnóstico falso-negativo de atraso motor13.

Um estudo de revisão sistemática da literatura15 mostrou que ainda eram necessários estudos que avaliassem a correção da idade considerando a aplicação de testes padronizados em suas versões mais atuais. Até onde se sabe não foram encontrados estudos recentes, nos últimos cinco anos, a respeito da comparação do desenvolvimento dos bebês nascidos pré-termo nas idades cronológica e corrigida. Neste sentido, esta questão ainda parece precisar ser melhor investigada.

Diante dessa lacuna na literatura o presente estudo contribui para a atualização deste tema, além de abordar o desenvolvimento global e motor da criança por meio de diferentes instrumentos de avaliação no primeiro ano de idade pós-natal.

O objetivo do estudo foi comparar indicadores de desenvolvimento global e motor dos bebês pré-termo no primeiro ano pós-natal, levando-se em consideração o desempenho das crianças na idade cronológica (IC) e na idade corrigida (ICo) para a prematuridade.

 

MÉTODO

O estudo apresenta delineamento transversal, com análises de comparação intra-grupo (classificação do desenvolvimento: IC versus ICo).

A amostra total foi constituída por 182 recém-nascidos pré-termo (idade gestacional menor do que 37 semanas completas) e com baixo peso ao nascer (menor do que 2.500 gramas), avaliados durante seu primeiro ano de idade. Eles nasceram no Hospital Materno Infantil de Goiânia (GO), Brasil no período de 2004 a 2007. Foram incluídos os recém-nascidos sem anomalias congênitas e que estavam clinicamente estáveis no primeiro dia de avaliação. Para gêmeos, apenas um foi incluído, selecionados aleatoriamente. Da amostra inicial de 275 crianças que preenchiam os critérios de inclusão, nove gêmeos foram excluídos, 18 crianças tornaram-se instáveis clinicamente, 32 mães tiveram alta sem assinar o termo de consentimento informado, e 34 mães não aceitaram participar do estudo.

A amostra inicial de 182 bebês foi avaliada em três grupos etários independentes (subamostras): aos 2-4 meses, em que todos os bebês foram avaliados (n=182), aos 4-6 meses (n=146) e aos 6-8 meses (n=112) de ICo. Verifica-se que alguns bebês foram incluídos em mais do que um grupo de idade e estes não apresentaram exatamente as mesmas crianças em cada grupo, uma vez que alguns foram perdidos durante o seguimento e outros compareceram somente na avaliação inicial e na terceira avaliação.

Para a avaliação dos bebês foram usados os seguintes instrumentos:

a) Teste de Triagem do Desenvolvimento de Denver de II (DDST-II)16; Versão brasileira17. O DDST-II é um teste de triagem para problemas de desenvolvimento. Pode ser aplicado em crianças desde o nascimento até a idade de seis anos. É composto de 125 itens, distribuídos em quatro domínios: pessoal-social, linguagem, motor fino e motor amplo. Alguns itens são aplicados solicitando a criança para realizar tarefas específicas ou através dos pais ou responsáveis para relatar o desempenho da criança. A confiabilidade entre avaliadores e teste-reteste são e"0,7516. O desempenho no teste é classificado em normal ou risco de atraso no desenvolvimento. No presente estudo, foi considerado o desempenho global da criança no DDST-II considerando as respostas nos quatro domínios avaliados e para a faixa etária de 2 a 8 meses de idade.

b) Test of Infant Motor Performance (TIMP)18. 0 TIMP é um teste padronizado que avalia o controle postural e seletivo do movimento necessário para o desempenho motor funcional em lactentes, com validade de conteúdo na faixa etária de 34 semanas de idade pós-concepcional a quatro meses de idade de 0,83 para o nível de maturidade e 0,85 para o risco clínico19. A validade preditiva do TIMP para o desenvolvimento aos 12 meses pela Alberta Infant Motor Scale (AIMS) é 0,8820. Os escores totais são classificados de acordo com a média e desvio padrão (DP) da amostra de padronização original do teste. No presente estudo adotou-se a seguinte classificação: desenvolvimento motor normal (escore entre 1 DP acima e abaixo da média, considerado pelo TIMP como dentro da média ou média inferior) e alterado (escore menor do que 1 DP abaixo da média, considerado pelo TIMP como abaixo ou muito abaixo da média).

c) Alberta Infant Motor Scale (AIMS)21. A AIMS avalia a descarga de peso, postura e movimentos antigravitacionais no desenvolvimento motor de recém-nascidos até 18 meses de idade. Estudos anteriores mostraram que o instrumento pode ser aplicado em amostras com as mais diversas características clínicas7,22, além de apresentar concordância interobservador > 0,96 e confiabilidade teste-reteste variando de 0,86 a 0,9923. Validade concorrente (8-13 meses) com outras avaliações motoras padronizadas (como Bayley Scales) varia de 0,84-0,9924,25. A sensibilidade varia de 76% para 86% e a especificidade varia de 82% a 93%, dependendo da idade dos lactentes (4 a 8 meses) foi estabelecido como ponto de corte para atraso o percentil 1024,25. O escore obtido pela criança em cada postura (prono, supino, sentado e em pé) é somado para pontuação final. Esta última é lançada no gráfico normativo para a classificação do percentil de acordo com a idade do bebê. No presente estudo, o desempenho motor dos lactentes foi dividido em duas categorias: normal (percentil > 10) e alterado (percentil d" 10).

d) Prontuário Clínico. A história de saúde dos bebês, incluindo os dados neonatais (admissão, peso ao nascer, idade gestacional, tempo de internação, escore Apgar no quinto minuto e resultado da ultrassonografia craniana) foi registrada nos prontuários médicos. Os resultados ultrassonográficos foram classificados em: normal (sem lesões cerebrais detectáveis) e alterado (com lesões cerebrais, como hemorragia intraventricular e leucomalácia periventricular).

e) Clinical Risk Index for Babies-II (CRIB II). O risco clínico neonatal nas primeiras 12 horas pós-natal foi avaliado por meio do CRIB II o qual resulta em uma pontuação de 0 (zero) a 27, quanto maior o escore pior a condição clínica neonatal26.

Quanto aos procedimentos de levantamento dos dados, a amostra total de 182 bebês foi avaliada, sendo que a coleta de dados foi realizada em três grupos etários independentes, ou seja, em três cortes segundo o grupo etário: aos 2-4 meses (n = 182), aos 4-6 meses (n = 146) e aos 6-8 meses (n = 112) de ICo. O DDST-II foi administrado nos três grupos etários. O TIMP foi aplicado apenas no grupo de 2-4 meses. A avaliação AIMS foi realizada nos bebês dos grupos 4-6 e 6-8 meses. As avaliações das crianças foram realizadas durante uma consulta, com duração de cerca de 40 minutos no Ambulatório. Os bebês foram alimentados até no máximo uma hora antes do exame.

A equipe foi formada por oito fisioterapeutas treinados e supervisionados pela primeira autora os quais realizaram as avaliações das crianças. Todas as avaliações foram registradas com uma câmera digital Sony HC-40. Em cada consulta, dois examinadores da equipe realizavam a avaliação das crianças, sendo que um realizava os procedimentos dos testes com as crianças e outro gravava digitalmente. Os prontuários foram revisados para obter o histórico de saúde das crianças.

Outros dois avaliadores da equipe, independentes e cegos, analisaram as vídeo-gravações, e registraram os desempenhos obtidos pelos bebês, considerando-se tanto a classificação dos testes na ICo quanto na IC. Os percentuais de concordância entre os avaliadores foram obtidos para todos os instrumentos através da seguinte equação: Acordo/ (Acordo + Desacordo) X 100. Os resultados foram os seguintes: 90% para o DDST-II, 80% para o TIMP e 81% para a AIMS.

A análise estatística descritiva incluiu o cálculo da média, desvio padrão e amplitude de variação para variáveis contínuas e frequência e porcentagem para variáveis categóricas. As comparações entre as classificações do desempenho dos bebês no DDST-II, TIMP e AIMS foram realizadas pelo teste de McNemar. Assim, para cada grupo etário, a classificação do desenvolvimento (risco/alterado versus normal) foi analisada em relação à idade (IC versus ICo) de cada criança (pareada). O Statistical Package for the Social Sciences (SPSS, versão 19.0, Chicago, Il, USA) foi utilizado para análise de dados. Adotou-se o nível de significância de 5%.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Geral de Goiânia-GO (protocolo número 73/2004). O termo de consentimento livre e esclarecido foi assinado pelos pais.

 

RESULTADOS

A Tabela 1 apresenta as características das crianças estudadas. Verifica-se que a amostra foi composta, em sua maioria, por crianças do sexo masculino que nasceram com idade gestacional média de 32 semanas e cinco dias e com baixo peso (média de 1.645 gramas), permanecendo internadas após o parto por cerca de um mês em média (Tabela 1).

A Figura 1 apresenta a comparação do desenvolvimento global das crianças entre o desempenho destas na IC e na ICo. Quando foi considerada a ICo, o desenvolvimento global de 33 a 51% das crianças foi classificado como risco segundo o DDST-II, nos três grupos etários. Por outro lado, ao avaliar pela IC o risco de atraso no desenvolvimento global aumentou significativamente para 75 a 91% nos três grupos etários (p < 0,001 em todas as comparações).

 

 

A comparação do desenvolvimento motor das crianças entre a avaliação considerando-se a IC e a ICo está na Figura 2. Ao analisar o desempenho das crianças na ICo, o desenvolvimento motor de 36 a 48% da amostra foi classificado como alterado, nos três grupos etários. Considerando-se a IC, a porcentagem de alteração no desenvolvimento motor aumentou significativamente para 71 a 88% nos três grupos etários (p < 0,001 em todas as comparações).

 

 

DISCUSSÃO

O presente estudo analisou o desenvolvimento motor e global de bebês nascidos pré-termo comparando-se o desempenho destes na idade cronológica e corrigida. Os bebês estudados são considerados de risco para problemas no desenvolvimento pela presença, além da prematuridade, de outros fatores de risco tais como baixo peso ao nascer, alterações no exame de ultrassom de crânio e uso de ventilação mecânica ao nascer.

Os resultados revelaram que a porcentagem de bebês com atraso no desenvolvimento motor e global aumentou significativamente quando se considerou o desempenho destes na IC, em comparação à ICo. Neste sentido, verificou-se que, na amostra de risco do presente estudo, não corrigir a idade da criança no momento da avaliação poderá superestimar riscos que não se configuram de fato em problemas no desenvolvimento das crianças. Os achados encontrados sugerem que corrigir a idade é a melhor forma de avaliar o desempenho real dos bebês nascidos pré-termo de risco.

Os resultados do presente estudo são concordantes com estudos anteriores6,9,13,27-29. Em relação à avaliação das habilidades motoras amplas, Zanini et al.9investigaram o período de aquisição do sentar, engatinhar e andar em 46 bebês pré-termo e a termo pela AIMS e detectou que 20% dos prematuros necessitaram ser encaminhadas para a intervenção fisioterapêutica por apresentarem atrasos significativos. O estudo de Restiffe e Gherpelli13 compararou o desenvolvimento motor de bebês pré-termo até 12 meses de idade utilizando a idade cronológica e corrigida. A pesquisa de Albuquerque et al.29 analisou que desenvolvimento visomotor no primeiro mês de idade, avaliado pelo "Método de avaliação do comportamento visual de lactentes", nas idades cronológica e corrigida. Os achados do presente estudo, em consonância com esses estudos anteriores, confirmam a necessidade de considerar a ICo no primeiro ano de idade, cujo período é essencial para a aquisição das habilidades motoras.

Em contrapartida, alguns estudos discordam dos resultados da presente pesquisa, uma vez que destacaram ser desnecessária a correção da idade para o desenvolvimento motor de bebês nascidos pré-termo nos primeiros quatro meses10 e aos dois anos de idade8 . Contudo, a faixa etária dos referidos estudos não são iguais aos do presente estudo e os bebês pré-termo são de baixo risco (idade gestacional entre 31 e 36 semanas, classificados com peso adequado para a idade gestacional [AIG] e Apgar > 7 no quinto minuto)10. Além disso, em ambos os estudos utilizou-se a amostra de referência composta por bebês nascidos a termo, enquanto que no presente estudo o desempenho do pré-termo foi comparado com ele mesmo considerando as duas idades.

Outro diferencial do presente estudo é a utilização tanto de instrumento de triagem (DDST-II), quanto teste e escala de avaliação do desenvolvimento motor de bebês (TIMP e AIMS), no primeiro ano de vida do bebê. A literatura aponta que a aplicação de instrumentos de avaliação padronizados e confiáveis minimiza a chance de erros de diagnóstico e oferece ferramentas ao examinador para o acompanhamento do desenvolvimento do prematuro em longo prazo16-25.

O fato de utilizar apenas a IC do bebê sem realizar a correção da idade para prematuridade coloca os bebês a termo e pré-termo dentro de um mesmo patamar de desenvolvimento e, como levantado neste estudo, o nascimento prematuro vem acompanhado de uma série de outras adversidades além do fato de ter nascido antes do tempo previsto, como problemas de saúde, tempo prolongado de internação, necessidade de suporte ventilatório, deficiências neurossensoriais (visual ou auditiva) entre outras que podem comprometer o desenvolvimento1,30-32.

No presente estudo, apesar de o desenvolvimento da criança ter sido avaliado até os oito meses de ICo, verifica-se que no primeiro ano há necessidade de correção total da idade do pré-termo. Com base na literatura investigada essa correção parece não ser mais necessária quando a IC da criança se aproxima de 18 meses. Contudo, os profissionais devem considerar também outros fatores envolvidos no processo de avaliação, tais como nível de prematuridade (extremo, moderado ou tardio), peso ao nascer, risco clínico neonatal, presença ou não de alterações na ultrassonografia de crânio e tempo de internação hospitalar. Esses fatores podem aumentar as chances de problemas no desenvolvimento dos bebês3,32.

Vale ressaltar que as medidas de prevenção e promoção da saúde são prioridades nos programas de saúde pública e nas políticas de saúde. A abordagem da prevenção de agravos no desenvolvimento infantil não fica fora dessa estratégia, que visa à capacitação profissional no seguimento de grupos de risco e a maior eficiência dos serviços de saúde. As estratégias em saúde dependem também de medidas sociais e econômicas para prosperarem33,34.

Uma recomendação prática para o acompanhamento das crianças com risco de atraso ou desvio no desenvolvimento é analisar o desempenho dela considerando sua idade e sua história clínica. Em alguns casos, apenas com o suporte informacional para os cuidadores de como promover o desenvolvimento saudável da criança e proporcionar um ambiente estimulante pode minimizar os atrasos. Caso sejam constatados atrasos ou anormalidades recomenda-se procurar um profissional da saúde capacitado o qual deve analisar o quanto este desenvolvimento está atrasado, verificar se a criança está acompanhando a curva de crescimento esperada, se a família está demonstrando competência nos cuidados e, segundo a necessidade, encaminhar para um serviço de intervenção essencial especializado35,36.

Portanto, recomenda-se a correção da idade do bebê nascido pré-termo, principalmente no que se refere ao período no primeiro ano de vida. Assim, cada profissional deve aplicar a regra da correção da idade de acordo com a especificidade de sua área de atuação e considerando a história de saúde da criança e o contexto familiar.

Como limitações do estudo pode-se citar o fato de não apresentar o delineamento longitudinal e de não avaliar crianças nas faixas etárias acima de 12 meses para comparar os resultados com os obtidos. Esses aspectos poderão ser tratados em estudos futuros.

 

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnologia (CNPq), pelo apoio financeiro a CKMR Formiga (Processo 142268/2005-4), MEB Vieira (Processo 131100/2010-6) e MBM Linhares (Bolsista de Produtividade em Pesquisa-nível 1-A). Os autores agradecem à equipe do Hospital Maternidade Infantil de Goiânia, à equipe-graduação do "Programa de Follow-up do Bebê de Risco", às crianças e suas famílias e ao Cássio dos Reis pelo apoio estatístico.

 

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Manuscript submitted: feb 22 2015
Accepted for publication: jul 10 2015

 

 

Corresponding author: cibellekayenne@gmail.com

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