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Journal of Human Growth and Development

Print version ISSN 0104-1282On-line version ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.25 no.3 São Paulo  2015

http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.105999 

ORIGINAL RESEARCH

 

Práticas educativas maternas no primeiro ano de vida

 

 

Elisa Rachel Pisani AltafimI; Olga Maria Piazentin Rolim RodriguesII

IPsicóloga, mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela Unesp-Bauru, e doutoranda do Programa de Pós-graduação em Saúde Mental da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP. Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)
IIProfessora Adjunta do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-graduação em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem, da Faculdade de Ciências, campus de Bauru, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

 

 


RESUMO

As estratégias utilizadas pelos pais na educação e cuidados dos filhos possuem uma função primordial no desenvolvimento e saúde infantil. A presente pesquisa pretendeu descrever e analisar as práticas educativas maternas no primeiro ano de vida. Participaram da pesquisa 250 mães com filhos no primeiro ano de vida, de um a 12 meses de idade, nas quais foi aplicado o Inventário de Estilos Parentais para Mães de Bebês. Os resultados revelaram que as mães utilizam-se com frequência da prática parental positiva Monitoria Positiva, no entanto as práticas negativas, também são presentes no repertório das participantes, principalmente a prática Disciplina Relaxada. Como a maioria das práticas negativas ainda não são freqüentes no repertório comportamental das mães, esta fase seria portanto, um ótimo momento para a realização de intervenções preventivas que visem aprimorar o relacionamento mãe-criança, e consequentemente atuar na prevenção e promoção da saúde e do desenvolvimento.

Palavras-chave: práticas educativas, comportamento materno, relação mãe-criança, primeiro ano de vida, desenvolvimento infantil.


 

 

INTRODUÇÃO

Entre os fatores de risco potencialmente modificáveis que contribuem para o desenvolvimento de problemas comportamentais e emocionais em crianças, está a qualidade das estratégias utilizadas pelos pais para orientar o comportamento de seus filhos1. Essas estratégias utilizadas na educação e cuidados dos filhos são denominadas de práticas educativas parentais2.

As práticas educativas parentais podem atuar como mecanismos de proteção, ou como fatores de risco para o desenvolvimento infantil3. A exposição da criança a práticas parentais negativas e inadequadas, ou a sua privação de envol-vimento afetivo com os pais e mães constituem fatores de risco para o desenvolvimento da criança, aumentando sua vulnerabilidade a eventos ameaçadores externos ao seu ambiente familiar4. A utilização de práticas parentais negativas foi correlacionada positivamente com a depressão, estresse e baixo repertório em habilidades sociais das crianças5.

As práticas educativas parentais podem ser classificadas em positivas e negativas, as positivas são relacionadas ao desenvolvimento dos comportamentos pró-sociais e as negativas relacionadas aos comportamentos anti-sociais6. As práticas consideradas positivas são duas: monitoria positiva e o comportamento moral. As práticas consideradas negativas são cinco: negligência, abuso físico, disciplina relaxada, punição inconsistente e monitoria negativa. Essas práticas são utilizadas pelas mães desde o primeiro ano de vida de seus filhos, com exceção das práticas comportamento moral e monitoria negativa 7.

A Monitoria Positiva envolve a atenção para a localização dos filhos, para suas atividades e formas de adaptação dos mesmos em diferentes contextos8. As demonstrações de carinho e afeto dos pais, principalmente aquelas relacionadas aos momentos de maior necessidade da criança, também fazem parte dos componentes da monitoria positiva6. A Negligência envolve a ausência de atenção e afeto6. Os pais negligentes agem como espectadores e não como participantes da educação 9. A prática Disciplina Relaxada implica o não cumprimento das regras pré-estabelecidas6. O Abuso Físico compreende o uso de ameaça, chantagem e castigos físicos. E a prática educativa Punição Inconsistente depende do humor do adulto para punir ou reforçar comportamentos6.

Estudos voltados identificar práticas educativas maternas no primeiro ano de vida podem embasar intervenções precoces, visando à promoção do desenvolvimento da criança e da família como um todo. No início da infância é possível identificar práticas educativas que, mais tarde, poderão ter reflexos no comportamento infantil. Estudos têm sido desenvolvidos com mães de lactentes com o objetivo de identificar a relação entre práticas educativas parentais e variáveis como idade da mãe e da criança7, assim como o efeito de um programa de intervenção com mães adolescentes10.

Uma revisão da literatura brasileira sobre práticas parentais analisou 64 estudos nacionais e constatou a existência de uma lacuna de estudos que focalizem as práticas parentais durante o primeiro ano de vida da criança, bem como de instrumentos fidedignos que possam ser utilizados para esta investigação 11. Entre os estudos que focalizaram o início da infância, pode-se afirmar que, em geral, investigavam as práticas com crianças próximas aos três anos de idade e não nos primeiros anos de vida 11.

Analisar as relações iniciais pais-criança é uma forma de atuar na prevenção e promoção da saúde familiar e do desenvolvimento infantil, uma vez que os padrões de relação ainda estão sendo estabelecidos11. Programas de orientação e apoio aos pais na tarefa de educar seus filhos podem colaborar para minimizar o nível de estresse parental, favorecendo a elaboração de estratégias de enfrentamento de situações adversas12.

Para oferecer informações e orientações aos pais, primeiramente é necessário uma análise das práticas educativas parentais utilizadas. Ainda há lacunas na literatura nacional, que estudem e investiguem as práticas educativas parentais no primeiro ano de vida, evidenciando a necessidade de estudos com mães de crianças nessa faixa etária. Assim, o objetivo é descrever e analisar os comportamentos maternos que compõem a categoria de práticas educativas maternas no primeiro ano de vida.

 

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal e descritivo. Participaram da pesquisa 250 mães de lactentes, de um a 12 meses de idade, que frequentam o projeto de extensão "Acompanhamento do desenvolvimento de bebês: avaliação e orientação aos pais", que funciona no Centro de Psicologia Aplicada (CPA), da UNESP, campus de Bauru. Considerando a idade materna tem-se que 114 estão na faixa de 14 a 19 anos de idade (Idade média = 17,09; DP = 1,42), 136 estão na faixa de 20 a 46 anos (Idade média = 27,85; DP = 6,11). Em relação às características filhos das participantes, 124 eram do sexo feminino e 126 do sexo masculino, e com relação à idade, 159 tinham de um a seis meses de idade (Idade média = 3,28; DP =1,51); e 91 de sete a 12 meses de idade (Idade média = 9,35; DP = 1,69).

Para a identificação das práticas parentais foi utilizado o instrumento "Inventário de Estilos Parentais para Mães de Bebês" (IEPMB)7, adaptado do Inventário de Estilos Parentais6. Essa adaptação foi necessária, pois não foi encontrado na literatura nacional um instrumento de avaliação de práticas educativas parentais no primeiro ano de vida.

Este instrumento consiste em 25 itens, agrupados a partir de seu conteúdo em cinco conjuntos de práticas parentais: Monitoria Positiva, Negligência, Abuso Físico, Disciplina Relaxada e Punição Inconsistente. As respostas são dadas em uma escala de likert de 3 pontos, em que a resposta "sempre" vale 2 pontos; "às vezes", 1 ponto; e "nunca", 0 (zero) ponto. Portanto, cada prática educativa pode ter a pontuação máxima de 10 pontos. Nas práticas parentais negativas quanto maior a pontuação piores são as práticas parentais, já para a prática monitoria positiva quanto maior o escore melhores são as práticas. O IEPMB tem sido utilizado em diversas pesquisas e tem se mostrado um instrumento eficiente e de fácil aplicação, para a identificação precoce de práticas parentais7,10,13.

Para a coleta de dados foi realizada a aplicação do IEPMB individualmente. O pesquisador fez a leitura das instruções para o preenchimento do inventário junto com a participante, garantindo sua compreensão.

Na análise dos dados foi realizada a descrição das práticas parentais e das questões investigadas, e a condução de análises comparativas entre as práticas parentais por meio do Teste t-pareado (p< 0.05). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Ciências, da UNESP, Bauru, SP (Processo nº. 451/46/01/09).

 

RESULTADOS

A partir da análise das respostas das mães em cada um dos conjuntos de práticas parentais ao IEPMB identificou-se que a prática parental Monitoria Positiva é a prática utilizada com maior frequência pelas participantes (Tabela 1). Em relação às práticas parentais negativas a que apareceu no relato das mães com maior frequência foi a Disciplina Relaxada, seguida das práticas Punição Inconsistente e Negligência, a prática que utilizada com menor frequência foi Abuso Físico. Verifica-se que a somatória das quatro práticas negativas é menor do que a prática parental positiva Monitoria Positiva (Tabela 1).

Comparando as respostas de cada prática parental por meio do teste t-pareado foi possível observar diferenças significativas intragrupo (p < 0,01), para todas as práticas parentais, ou seja, as mães respondem diferentemente para cada prática parental. As participantes utilizam-se mais da Monitoria Positiva do que das práticas Disciplina Relaxada, Punição Inconsistente, Negligência, e Abuso Físico. A Disciplina Relaxada é mais utilizada entre as práticas negativas.

Realizou-se, ainda, uma análise da frequência das diferentes questões que compõem cada prática comparando-as (Tabela 2). Em Monitoria Positiva, as participantes tiveram um relato parecido para as questões 5, 11 e 18, sendo que a maioria delas relatou que, com frequência, se utilizam dessas práticas. As questões que apareceram no relato de um número menor de participantes foram as 16 e 23. Em Punição Inconsistente as questões 1 e 7 são as questões mais frequentes no relato de um número das mães, seguida pela questão 12 e as questões 19 e 17 são as que aparecem no relato de um número menor de participantes. Com relação à Negligência observou-se que esta não tem sido utilizada com muita frequência pelas mães. Dentre as cinco questões, a 2, a 13 e a 20, são as que apareceram no relato de um maior número de participantes. As questões 8 e 24 são as menos relatadas. As questões referentes a Disciplina Relaxada são relatadas com alta frequência pelas mães. A questão 3 é a que aparece em um menor número de participantes. As questões, 6, 9, 14 e 21, são relatadas por um número expressivo de participantes. A prática Abuso Físico aparece no relato de poucas participantes. As questões 4 e 10 são as mais relatadas. E as questões 15, 22 e 25 aparecem no relato de poucas participantes.

 

DISCUSSÃO

Mães de lactentes utilizam-se com freqüência da prática parental Monitoria Positiva, ou seja é uma prática presente no repertório dessas mães. Este dado já havia sido apontado por outros estudos 7,13. Essa prática no primeiro ano de vida da criança envolve a atenção para a localização dos filhos, ou seja, mesmo quando a mãe está ausente ela se preocupa em saber como o seu filho se comportou; e a preocupação com as suas atividades, o que estaria relacionado ao estabelecimento de uma rotina e reconhecimento dos comportamentos do lactente, por exemplo, o choro. A Monitoria Positiva permite que a mãe se mostre presente e atenda adequadamente as necessidades de seu filho.

Quando a mãe pergunta como seu filho(a) ficou na sua ausência está obtendo dados para entender o seu comportamento, assim caso surja alguma dificuldade, essas informações podem ser importantes para uma descrição mais precisa, uma interpretação adequada e uma resposta contingente ao comportamento da criança. Este comportamento também permite que a mãe tenha conhecimento sobre a qualidade das interações entre seu filho e os cuidadores e estabeleça uma relação de confiança. Todos esses aspectos são fundamentais para o estabelecimento de um vínculo afetivo saudável que proporcione a criança segurança e a sua independência posterior. Um estudo verificou que em situações em que a mãe precisa deixar o seu filho com outro cuidador, a maioria delas (66%) relatam sentimentos de preocupação, apreensão, tristeza, medo, ansiedade, pena e saudades14. No entanto, as mães também relataram sentimentos de segurança, quando tinham figuras de apoio confiáveis para cuidar da criança14. A prática monitoria positiva pode auxiliar as mães a estabelecerem uma relação de confiança com outros cuidadores.

A maioria das participantes relatou que procuram descobrir o que está incomodando seu filho quando ele chora. Essas mães estão agindo responsivamente, já que por meio do reconhecimento do choro buscam distinguir quais são as reais necessidades de seu filho para oferecer uma resposta contingente e apropriada aos sinais da criança. O choro é o meio básico de comunicação disponível para crianças pequenas.

Apesar das participantes relatarem a utilização de práticas parentais positivas, as práticas parentais negativas também foram mencionadas, ainda que com menor frequencia. Dentre as negativas a que aparece no relato de um maior número de participantes é a Disciplina Relaxada, quatro das cinco questões investigadas aparecem no relato de mais da metade das participantes, o que mostra que esses comportamentos fazem parte do repertório da maioria das participantes. Mesmo em se tratando de crianças pequenas, essa prática representa uma importante estratégia, utilizada pelas mães, para regulação do comportamento infantil.

A Disciplina Relaxada apareceu principalmente nas questões 9 e 21, relacionadas aos comportamentos de dizer que não vai pegá-lo quando chora ou faz birra e, depois de algum tempo o faz. Esses são comportamentos que resultam em reforça-mento intermitente da mãe que, ora pega, ora não pega, ora demora mais e outras vezes menos. O resultado para essa condição é que reforça na criança comportamentos de birra e choro para obter uma atenção que ela nunca sabe quando vem. O comportamento de birra dos filhos pode estar funcionalmente relacionado à inconsistência dos pais/cuidadores, pois, frequentemente, quando os pedidos das crianças são negados por eles, estes apresentam comportamentos de choro, grito, insistindo nas suas necessidades; momentos em que os cuidadores acabam por ceder e atendem o que outrora fora negado, caracterizando, assim, a inconsistência do seu comportamento e oferecendo, aos filhos, reforçador intermitente, bastante poderoso na manutenção de respostas15.

Outras duas questões que apareceram no relato de um número expressivo de participantes foram a 14 e a 6. Essas questões são relacionadas a rotina. Na Monitoria Positiva um número expressivo de participantes relatou que estabelecem uma rotina e procuram segui-la, no entanto um número expressivo de participantes também relata que estabelece uma rotina e não consegue segui-la, ou não fazem horário para os filhos deixando as coisas acontecerem naturalmente. Esses dados demonstram que as as mães estão um pouco confusas em relação a real importância da rotina, ou estão encontrando dificuldades para segui-la.

Este resultado pode estar relacionado a outras variáveis, como a escolaridade materna. Um estudo realizado com mães, com nível superior de escolaridade, de crianças de 2 a sete anos, verificou que, apesar de algumas mães não determinarem uma rotina diária para a criança (4,5%), ou deixar essa atribuição para a criança ( 20,5%), na maioria das vezes, as mães estabecelem uma rotina, sozinhas (17,5%) ou em conjunto com a criança (57,5%)16.

O estabelecimento de rotina permite que tanto o lactente, quanto a mãe consigam fazer previsões sobre o comportamento e o ambiente, o que pode trazer diversos benefícios para ambos, como a regulação do sono e da alimentação do lactente. A previsibilidade permite a organização do repertório comportamental materno e da criança. As mães conseguem observar e descrever qual horário seu filho fica com sono, cansado, com fome ou querendo brincar, ou seja, a rotina permite uma interpretação mais acurada dos sinais emitidos pelo lactente, e consequentemente uma resposta contingente ao comportamento da criança. Além disso, quando existe uma rotina eventuais imprevistos podem ser resolvidos com uma maior facilidade sem que a atenção e os cuidados com o lactente sejam prejudicados17. A rotina permite segurança para os pais e filhos e uma maior organização familiar.

Observa-se que as mães até estabelecem regras, mas parece que não atentaram para a importância de segui-las. Se as mães, com freqüência, estabelecem regras e não as fazem cumprir, a criança desenvolverá basicamente três tipos de atitudes: a primeira é a aprendizagem de que regras não são para serem cumpridas; a segunda é a possibilidade de se desrespeitar a autoridade e a terceira é aprender a manipular emocionalmente a situação para não cumprir as regras estabelecidas6. A Punição Inconsistente é a segunda prática negativa mais utilizada pelas participantes. Observou-se que a questão que aparece no relato de um maior número de participantes refere-se ao tratamento dispensado ao filho em função do estado de humor da mãe. Quando os pais agem ora punindo, ora ignorando, ora até aplaudindo um comportamento de acordo com o seu humor e não em função do comportamento da criança acabam confundindo a criança, que aprende a discriminar o humor da mãe, e não se o seu comportamento foi adequado ou inadequado 6. Assim, os filhos tendem a ter maior dificuldade em discriminar o certo e o errado18 e poderão aprender a lidar com situações difíceis ou estressantes da mesma maneira que os pais, já que esses são modelos para eles 5. Pais e mães precisam ser consistentes em suas próprias ações. Quando uma mãe passa por dificuldades durante o dia e ao chegar em casa nervosa grita com o seu filho ou não lhe oferece atenção, independente do que ele está fazendo, dificulta o estabelecimento de um vínculo afetivo estável. A utilização dessa prática pode agir como estressor para a criança5.

Na Negligência as questões mais relatadas referem-se ao fato do filho ficar muito tempo com outras pessoas e o fato de não saber do que o filho gosta. Com relação ao fato de ficar com outras pessoas, das mães em questão, algumas ainda estudam e/ou trabalham, justificando este dado, além disso este é um dado que influencia no conhecimento das mães sobre o que seu filho(a) gosta ou não. A segunda pode se referir à pouca idade da criança. Conhecer o que o lactente gosta ou não, depende do reconhecimento das diferentes expressões, vocalizações e expressões faciais do lactente, ou seja os sinais que ele emite. Esses sinais são importantes para que a mãe responda de maneira contingente e apropriada ao lactente, por exemplo, tranquilizando-o e oferecendo conforto quando ele demonstra medo. Ressalta-se, portanto a necessidade de investigar sobre o conhecimento dessas mães sobre a comunicação dos lactentes.

Quanto ao Abuso Físico ainda que numa freqüência muito baixa apareceu no relato de algumas mães, principalmente para questão que refere-se ao fato de bater com mão ou com objetos no filho. Tendo em vista que, um estudo19 observou que a maioria absoluta das famílias das crianças e dos adolescentes pesquisados relatou que já utilizou ou ainda utiliza punições corporais, especialmente tapas e palmadas, o primeiro ano de vida seria um ótimo momento para a orientação das mães, para que essa prática não apareça futuramente à medida que as crianças crescem, já que nessa fase pouquíssimas mães relatam utilizarem-se desse comportamento.

A maioria das práticas negativas ainda não são freqüentes no repertório comportamental das mães. Esta fase seria portanto, um ótimo momento para a realização de intervenções preventivas, tanto para fortalecer e o instalar a utilização de práticas positivas como para minimizar e/ou eliminar a utilização de práticas negativas, uma vez que as práticas parentais e os padrões de relação ainda estão sendo estabelecidos, e os estilos e práticas parentais podem piorar na medida que as crianças crescem13. Como as mães relataram utilizar-se com frequencia da prática Monitoria Positiva, tais comportamentos adequados poderiam ser utilizados como ponto de partida para intervenções com mães de crianças nos primeiros anos de vida.

Assim, ao descrever e analisar as práticas educativas maternas no primeiro ano de vida, os dados obtidos mostraram que as mães tendem a usar em alta frequência práticas positivas, que são consideradas fatores de proteção ao desenvolvimento infantil. Assim, mesmo que práticas negativas também ocorram, é importante identificar as práticas adequadas e reforçá-las para que permaneçam no repertório das mães no decorrer do desenvolvimento do seu filho. Todavia, chama a atenção a presença da prática negativa Disciplina Relaxada, que implica em estabelecer regras, mas não cumpri-las. Esse comportamento, se presente no comportamento das mães mostram as crianças que as regras existem, mas não precisam ser cumpridas, comportamento esse que pode ter outros desdobramentos à medida que a criança cresce e passa a participar de ambientes mais amplos com outros adultos significativos ou, ainda, com uma variedade e em maior quantidade de pares da sua idade cronológica.

Outro conjunto de práticas negativas em alta frequência foi a Punição Inconsistente que, se presente, ensinam as crianças a "ler" o ambiente, mas não a aprender o significado da regra, uma vez que a mãe tende a se comportar em função do humor para exigir ou não o cumprimento da mesma regra.

Os resultados do presente estudo sugerem que, após a identificação das práticas educativas das mães é possível implementar ações interventivas pontuais para aumentar as práticas educativas positivas e reduzir as práticas negativas, aprimorando as práticas educativas maternas e melhorar o relacionamento mãe-criança. Enfatiza-se a importância de sensibilizar as mães desde os primeiros anos de vida sobre seu papel na interação com seu filho e a utilização de prática parentais adequadas.

 

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Manuscript submitted Oct 22 2014
Accepted for publication Dec 19 2014.

 

 

Corresponding author: Elisa Rachel Pisani Altafim. E-mail: altafim.elisa@gmail.com/elisa.altafim@usp.br
A presente pesquisa é vincula ao mestrado da autora que recebeu apoio da FAPESP (processo 2010/03505-8)

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