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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.25 no.3 São Paulo  2015

http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.97673 

ORIGINAL RESEARCH

 

Autopercepção de competências de crianças em situação de vulnerabilidade social assistidas e não assistidas por projetos sociais esportivos

 

 

Glauber Carvalho NobreI, II; Paulo Felipe Ribeiro BandeiraI; Maria Helena da Silva RamalhoIII; Francisco Salviano Sales NobreIV; Nadia Cristina ValentiniV

IDoutorando, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) - Porto Alegre (RS), Brasil
IIInstituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará
IIIDoutora, Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) - Juiz de Fora (MG), Brasil
IVDoutor, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Ceará (IFCE) - Fortaleza (CE), Brasil
VPhD,UFRGS - Porto Alegre (RS), Brasil

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: contextos de prática esportiva podem contribuir para o fortalecimento de características psicológicas importantes como a autopercepção de competência, sobretudo quando os participantes são crianças provenientes de contextos de vulnerabilidade social
OBJETIVO: comparar a autopercepção de competência de crianças em situação de vulnerabilidade social, assistidas e não assistidas por projetos sociais esportivos
MÉTODO: participaram deste estudo comparativo causal 235 crianças, de ambos os sexos, com idade entre sete e 10 anos provenientes de diferentes contextos do Ceará - Brasil. As crianças foram divididas em dois grupos: Um grupo formado 106 por crianças que participavam de projetos sociais de cunho esportivo. O outro constituído por 129 crianças não assistidas por projetos sociais esportivos. A percepção de competência foi avaliada através da versão brasileira da Self-Perception Profile for Children. Utilizou-se uma análise de variância three way para avaliar o possível efeito de interação entre o gênero, idade e grupo (crianças assistidas e não assistidas) nas diferentes dimensões da percepção de competência
RESULTADOS: as crianças assistidas reportaram maior auto conceito (F(1,234)) = 6,132 p = 0,014
η2 = 0,026). Observou-se efeito do grupo e da idade (F(1,234)) = 6,673 p = 0,010 η2 = 0,029) sobre a percepção de aceitação social. Não foram observados efeitos significativos do grupo nas demais dimensões da autopercepção de competência
CONCLUSÃO: crianças participantes dos projetos sociais esportivos mostraram maior autopercepção na aceitação social e no autoconceito comparadas as crianças não participantes. Os projetos não auxiliaram no fortalecimento das outras dimensões da autopercepção. Assim, é importante refletir sobre a implementação de metodologias, em projetos dessa natureza, que contemplem o desenvolvimento da autopercepção de competência neste público

Palavras-chave: percepção de competência, crianças, esporte.


 

 

INTRODUÇÃO

Durante a infância, o envolvimento em práticas esportivas orientadas contribui para o fortalecimento da autopercepção de competências a qual se configura como um importante mediador da motivação para a aprendizagem1-3 e permanência das crianças em atividades físicas e desportivas4-6. Práticas motoras, quando orientadas de forma adequada, fortalecem o interesse das crianças em buscar a maestria nas habilidades motoras7, auxiliam no estabelecimento de relações sociais8, fortalecem a autonomia e autoconfiança, fatores importantes para o desenvolvimento infantil3.

Inúmeros projetos sociais com foco no esporte têm sido implantados no Brasil com o intuito de promover o desenvolvimento de crianças9,10. Em geral, esses projetos visam a melhoria da qualidade de vida, das capacidades físicas e habilidades motoras, o desenvolvimento de valores sociais, da autoestima e da motivação para prática de esportes atendendo, principalmente, crianças em situação de risco ou vulnerabilidade social11,12. A condição de vulnerabilidade social predispõe as crianças a construírem uma visão negativa de si mesmos e de suas capacidades13. Os projetos sociais esportivos podem auxiliar as crianças a fortalecerem ou construírem percepções positivas sobre suas próprias competências (motora, cognitivas e sociais)7.

Pesquisas prévias sobre o tema têm reportado resultados divergentes em relação aos bene-fícios de projetos sociais esportivos para as autopercepções de competência de crianças14-17. Projetos esportivos parecem ter impacto limitado e muitas vezes inexistente em dimensões importantes como a percepção de competência cognitiva, a conduta comportamental, a aparência física14,15 e o autoconceito16 entre crianças participantes. Até o presente momento apenas o estudo conduzido por Grisa14 reportou que crianças participantes de projetos sociais esportivos apresentaram autopercepção de competência afetiva e motora significativamente mais elevada em relação a crianças que não participavam.

As pesquisas sobre a autopercepção de competência de crianças brasileiras provenientes de contextos de vulnerabilidade social ainda são incipientes e não esclarecem se a participação em projetos esportivos auxilia no fortalecimento desta variável, considerando, sobretudo, o gênero e a idade das crianças. Portanto, faze-se necessária a realização de mais pesquisas sobre o tema. Nesta perspectiva, o objetivo do presente estudo foi analisar comparar a autopercepção de competência e descrever o nível desta variável em crianças de ambos os gêneros, com idade de sete a 10 anos, assistidas e não assistidas por projetos sociais esportivos.

 

MÉTODO

Participantes

Participaram deste estudo comparativo causal 235 crianças, de ambos os gêneros, com idade entre sete e 10 anos, provenientes de contextos de vulnerabilidade social localizados na região litorânea, na região serrana e no sertão do estado Ceará - Brasil. Destas crianças, 106 (30 meninas e 28 meninos com 7-8 anos; 22 meninas e 26 meninos com 9-10 anos) eram assistidas por projetos sociais com foco no esporte e participavam, há mais de seis meses ininterruptos. 129 crianças (20 meninas e 32 meninos com 7-8 anos; 26 meninas e 51 meninos com 9-10 anos) não eram assistidas por projetos sociais esportivos. Todas as crianças eram oriundas de escolas públicas as quais não ofertavam aulas de educação física nas séries iniciais. As crianças estavam devidamente matriculadas e frequentando regularmente a escola e não tinham algum tipo de deficiência física ou histórico conhecido de distúrbios neurológicos.

Características dos projetos sociais esportivos

Das 106 crianças assistidas pelos projetos sociais esportivos, 27 foram oriundas de um programa vinculado à administração pública municipal, 26 provenientes de um projeto de uma associação atlética de instituição pública e 53 de um programa oferecido por uma entidade privada voltada ao serviço social. Uma característica comum a esses projetos, independentemente do contexto sócio-físico-geográfico no qual se encontrava inserido, era a predominância na oferta de uma modalidade esportiva (futsal) para os meninos, da dança para as meninas e recreação para ambos os gêneros. As aulas eram ministradas por professores de educação física, duas vezes semana com duração média de duas horas por sessão. As crianças não assistidas por projetos sociais esportivos tinham uma característica em comum com as assistidas: o fato de residirem no mesmo contexto de vulnerabilidade social e de estudarem nas mesmas escolas.

Instrumentos

A percepção de competência das crianças foi avaliada por meio da versão brasileira da Self-Perception Profile for Children18,19, validada por Valentini et al.20. A versão brasileira denominada de escala de Auto Percepção para Crianças (EAPC) é um questionário que avalia cinco domínios específicos de competência: competência cognitiva, competência afetiva, competência motora, aparência física, conduta comportamental, além do autovalor global. Cada domínio contém seis questões organizadas em estrutura de respostas alternativas de escala do tipo Likert de 1 a 4 pontos. A EAPC apresentou coeficientes de validade de conteúdo dentro dos valores aceitáveis (clareza entre 0,68 a 0,91 e pertinência entre 0,86 a 0,89) para as seis dimensões e para o escore geral do instrumento. Os escores do teste-reteste foram significativos e variaram de r=0,83 a r=0,54. Os índices da análise fatorial confirmatória foram satisfatórios tanto para a amostra geral (x2/gl = 4,33; Non-normed Fit Index = 0,958; Comparative fit índex = 0,967 e Tucker e Lewi's índex of fit = 0,962)20.

Procedimentos

O presente estudo foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa com seres humanos, (protocolo 2008018). Após o consentimento das secretarias de educação dos contextos envolvidos na pesquisa foram realizadas reuniões com gestores de escolas selecionadas para informá-los sobre os procedimentos adotados na pesquisa assim como o consentimento para utilização de espaço físico. Foram realizadas também reuniões com pais e/ou responsáveis pelas crianças com o intuito de explicar os procedimentos a serem adotados na avaliação psicológica e o consentimento para a participação das crianças na pesquisa. As crianças foram selecionadas de forma intencional e participaram somente aquelas cujos pais ou responsáveis legais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

A EAPC foi administrada de forma individual, em locais adequados21. Os avaliadores foram treinados para aplicação e o tempo médio foi de 20 minutos. A percepção de competência nas cinco dimensões assim como o autovalor global advém do somatório dos escores das questões da escala. Os valores do somatório das questões foram padronizados em "z escore". Valores de escores "z" variando entre -1 e +1 foram considerados com PCM "moderada". Valores menores que -1 e maiores que +1 foram consideradas com PCM "baixa" e "alta" respectivamente. A classificação foi baseada nas próprias características da amostra uma vez que ainda não existem pontos de coorte descritos na literatura. Metodologias similares vêm sendo utilizadas em algumas pesquisas22-23.

Análise estatística

Estatísticas de média e desvio padrão foram utilizadas. Adicionalmente foram empregadas as estatísticas de frequência e percentual relativo na classificação das dimensões da autopercepção de competência. Uma análise de variância three way foi utilizada considerando os fatores "grupo" como dois níveis (participantes e não participantes de projetos social esportivo), "gênero" com dois níveis (masculino e feminino) e o fator "idade" também com dois níveis (7-8 anos e 9-10 anos). Testes de continuidade "t" de Student para amostras independentes foram utilizados quando interações ou efeitos principais significativos foram identificados. O nível de significância adotado foi de a <0,05.

 

RESULTADOS

Os resultados dos níveis das dimensões da autopercepção de competência das crianças podem ser visualizados na Tabela 1. Observou-se que independente do gênero e idade, a maioria das crianças assistidas e não assistidas apresentou percepções em nível moderado, nas seis dimensões investigadas. Em relação aos demais níveis (alto e baixo), os maiores percentuais foram observados para a condição de baixa autopercepção de competência da aceitação social dos meninos mais jovens assistidos pelos projetos esportivos (32,1%).

No grupo não assistido, os maiores percentuais também foram observados nesta condição de baixa autopercepção de aceitação social (25,5%), entretanto, nos meninos mais velhos. 28,6% dos meninos de 7-8 anos assistidos pelos projetos reportaram autoconceito elevado. Um percentual de 27,6% das meninas mais jovens e de 27,3% das de maior idade (9-10 anos) assistidas pelos projetos sociais esportivos reportaram baixa autopercepção de competência motora.

A média e desvio padrão de cada dimensão da EAPC nos grupos estão contidas na tabela 2, para meninas e meninos nos diferentes grupos de idade assistidas e não assistidas por projetos sociais. A ANOVA three Way não indicou interação significativa entre o "gênero", "idade" e os "grupos" de crianças (assistidas e não assistidas por projetos sociais esportivos) nas cinco dimensões da percepção de competência avaliadas: cognitiva (F(1,234)) = 0,004 p = 0,951 η2 < 0,000), competência afetiva (F(1,234)) = 2,020 p=0,157 η2 = 0,009), competência motora (F(1,234)) = 0,246 p = 0,621 η2 = 0,001), aparência física (F(1,234)) = 0,072 p=0,789 η2 < 0,000), conduta comportamental (F(1,234)) = 0,421 p = 0,517 η2 = 0,002) e também no autoconceito (F(1,234)) = 0,50 p = 0,823 η2 < 0,000).

Observou-se efeito de interação significativa entre as variáveis "grupo" e "idade" (F(1,234)=6,673 p=0,010 h2= 0,029) sobre a aceitação social. Os testes de continuidade "t" de student para amostras independentes indicaram que o grupo crianças mais jovens (7-8 anos) não assistidas pelos projetos perceberam ser mais competentes que seus pares assistidos (t = 2,691 p < 0,008). Ao contrário, as crianças mais velhas (9-10 anos) que participavam dos projetos esportivos mostraram maior a percepção sobre a aceitação social (t = -2,049 p = 0,043) quando comparadas as não assistidas (ver tabela 2). Neste estudo observou-se também efeito significativo do "grupo" no autoconceito das crianças (F(1,234)) =6,132 p = 0,014 η2 = 0,026). As crianças assistidas pelos dos projetos indicaram média significativamente mais elevada em relação àquelas não assistidas (t = -2,429 p < 0,016).

 

DISCUSSÃO

A maioria das crianças assistidas e não assistidas apresentou níveis moderados de autopercepção de competência nas dimensões avaliadas neste estudo, independente do gênero e idade. Outros estudos têm reportado resultados similares em que crianças de diferentes idades e em ambos os gêneros reportaram percepções de competência moderadas3,17,24-26. Estratégias, tais como, reconhecimento pelas conquistas e resultados e fortalecimento das interações sociais permitem o estabelecimento de critérios avaliativos mais positivos e realistas por parte das crianças, sobre as próprias competências27,28. Por isso, é importante refletir sobre a implementação dessas estratégias para reforçar a autopercepção de competência positiva e realista nas crianças, uma vez que o sentimento de competência faz com que estas reforcem a motivação intrínseca e se envolvam em atividades que lhes desafiem, persistindo na tarefa e buscando a maestria2,7.

Neste estudo foi possível observar que em geral, as crianças assistidas demonstraram maior autoconceito em relação às crianças não assistidas pelos projetos esportivos. Outros estudos não reportaram diferenças entre crianças participantes e não participantes de projetos sociais esportivos nesta variável14,16. As práticas esportivas podem auxiliar as crianças a fortalecerem o autoconceito7; sendo particularmente importante para crianças provenientes de contextos de vulnerabilidade social. A condição de precariedade e de pouco acesso a oportunidades econômicas e culturais podem predispor estas crianças introjetarem uma visão negativa de si mesmos13 e programas esportivos que oportunizem equidade e acesso social a ambientes antes inacessíveis podem ser importantes como promotores do desenvolvimento.

Ainda, foi identificado neste estudo que os grupos assistidos e não assistidos, não se diferiram nas autopercepções de competência avaliadas, exceto na aceitação social. Nesta dimensão, as crianças de 9-10 anos que participavam de projetos sociais esportivos perceberam-se mais aceitos pelos seus pares e competentes em sua interação social do que as de mesma idade que não participavam. Grisa14 também reportou maior autopercepção na aceitação social em crianças mais velhas (11-12 anos) participantes de projetos esportivos comparadas aquelas com mesma idade não participantes. Pesquisas têm reportado que a participação em atividades esportivas aumenta as relações sociais e a cooperação29, melhora as relações interpessoais com os pares30, ajuda os participantes a trabalhar em grupo31 e a fazer amigos30. Entretanto, contrariando a tendência observada nas crianças mais velhas, os resultados do presente estudo indicaram que nas crianças mais jovens assistidas pelos projetos (7-8 anos) a percepção de aceitação social foi menor do que as crianças não assistidas. Talvez mais desa-fiadas por um contexto esportivo competitivo estas crianças duvidem de suas competências sociais para desenvolverem mais amizades em um contexto que talvez percebam como seletivo.

É possível que as ações desenvolvidas nos projetos sociais, como contextos de prática esportiva, sejam insuficientes para estimular a autopercepção na aceitação social nessas crianças mais jovens. O fato é que perceber-se competente neste domínio leva a criança a sentir-se segura para engajar-se em atividades que exigem a interação com os outros uma vez que a aceitação social está relacionada à capacidade para levar os outros a gostar dela e para fazer amigos2,19.

Para estes programas tornar-se, portanto, importante criarem oportunidades de participação em pequenos grupos e a maior interação entre as crianças para que estas percebam-se mais aceitas no grupo social esportivo.

Em geral, as análises comparativas indicaram que independente do gênero e idade, as crianças assistidas e não assistidas não se diferiram nas autopercepções de competência cognitiva, motora, aparência física e conduta comportamental. Resultados similares também foram reportados em pesquisas prévias14,15. No estudo conduzido por Grisa14 e Grisa e Gaion15 não foram verificadas diferenças na competência cognitiva, na conduta comportamental e aparência física das crianças assistidas quando comparadas a não assistidas. Esses resultados, portanto, levantam importantes questões sobre as formas que tem sido implementados e de que forma os mesmos possam auxiliar crianças a tornarem-se mais competentes e consequentemente perceberem-se mais competentes.

É importante considerar que os projetos sociais esportivo podem criar estratégias que auxiliem as crianças a perceberem-se competentes por estimular processos cognitivos importantes como, por exemplo, a atenção, a inteligência, a memória, a tomada de decisões para resolução de problemas32 e são importantes meios para reforçar conceitos de várias áreas do conhecimento como linguagem, matemática, ciências humanas e outras33. Esses podem também auxiliam os participantes a perceberem as próprias condutas e as condutas dos outros, e consequentemente a adotar comportamentos que possibilitem o cumprimento de regras e normas para o convívio social saudável. A assunção de instruções adequadas e feedback fornecido pelos professores nas práticas bem como os desafios motores adequados ao desenvolvimento podem otimizar o desempenho nas tarefas relacionadas às práticas esportivas tornando estas crianças de fato mais competentes e, portanto, levando-as a julgarem de forma mais precisa suas competências.

Considerando a autopercepção na aparência física, os projetos esportivos podem auxiliar as crianças a compreender e respeitar diferenças em características corporais próprias e dos seus pares auxiliando-as a utilizarem parâmetros para compreender quem elas são, para perceber-se como indivíduos e construir uma visão positiva e realista de si mesmos. Ademais, crianças mais satisfeitas como o seu corpo se percebem mais competentes em tarefas de movimento (ex: aulas de educação física) e são fisicamente mais ativas34.

Os resultados da autopercepção de competência motora reportadas pelas crianças deste estudo também levantam questões importantes considerando, sobretudo, o contexto de prática motora. Estratégias ineficientes empregadas pelos projetos sociais esportivos dificultam a aquisição de referenciais que permitam às crianças avaliar suas competências motoras atuais com maior precisão e por consequência repercute negativamente no engajamento em atividades motoras orientandas3,35-38.

Os resultados do presente estudo sugerem que crianças participantes dos projetos sociais esportivos apresentam autopercepção de aceitação social e do autoconceito mais elevados que crianças que não participavam de projeto esportivos. Não foi observado o fortalecimento de outras importantes dimensões da autopercepção de competência como a cognitiva, motora, aparência física e conduta comportamental também importantes ao desenvolvimento infantil adequado.

Assim, é importante refletir sobre a maneira como as práticas motoras orientadas são concebidas, organizadas e implementadas para contemplar o desenvolvimento da autopercepção de competência em crianças de maneira mais efetiva. É fundamental que as experiências de aprendizagem nas práticas esportivas infantis contemplem estratégias que reforcem a construção positiva guiando as crianças a um ao maior envolvimento em desafios, a persistirem frente às dificuldades, a permanecerem nas atividades por mais tempo, a adotarem metas e expectativas elevadas de sucesso, predispondo-se a novos desafios e, finalmente, tornando-se mais competentes e confiando em suas próprias capacidades.

Estudos futuros podem considerar a influencia das atividades implementadas em projetos desta natureza, além de investigar a influência de metodologias de iniciação esportiva e motora sobre a autopercepção de competências de crianças em diferentes contextos competitivos. Essas limitações são assumidas no presente estudo.

 

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio a pesquisa realizada através da concessão de bolsa de Pós Graduação

 

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REFERÊNCIAS

 

 

Manuscript submitted Oct 22 2014
Aaccepted for publication Dec 19 2014

 

 

Corresponding author: Glauber Carvalho Nobre. E-mail: glauber_nobre@hotmail.com

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