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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.27 no.1 São Paulo jan./abr. 2017

http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.127646 

ORIGINAL ARTICLE

 

Álcool e drogas na adolescência: processo de trabalho no programa saúde na escola

 

 

Bruna Luiza Matos CoutinhoI; Amanda Alves FeitosaI; Camila Bantim Cross DinizI; José Lucas Souza RamosII; Larissa Zuqui RibeiroII; Sheila Rodrigues AmorimII; Caroline Feitosa Dibai de CastroII; Italla Maria Pinheiro BezerraII

IBacharel em Enfermagem. Faculdade de Juazeiro do Norte, Ceará, Brasil
IIEspaço de Escrita Científica da Enfermagem. Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, EMESCAM

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: A adolescência é caracterizada como um período de transição no desenvolvimento entre a infância e a vida adulta que impõe grandes mudanças físicas, cognitivas e psicossociais. Frente a isso, o adolescente encontra-se exposto e vulnerável ao consumo de álcool e drogas, que tem sido um meio para a atuação do enfermeiro através do Programa Saúde na Escola (PSE). Nesse sentido, a interação entre educação e saúde pode influenciar os adolescentes a tornarem-se questionadores dos riscos a que estão expostos e alcançar em conjunto, uma melhor qualidade de vida
OBJETIVO: Analisar a percepção e práticas de saúde dos Enfermeiros atuantes no Programa Saúde na Escola, frente ao uso de álcool e drogas na adolescência
MÉTODO: Trata-se de um estudo descritivo, qualitativo realizado no município de Juazeiro do Norte, CE, tendo como participantes 18 enfermeiros atuantes no PSE. A coleta de dados ocorreu por meio de uma entrevista semiestruturada e a organização por meio de análise temática
RESULTADOS: Os participantes afirmaram que a importância de sua atuação está voltada para ações de prevenção ao uso de álcool e drogas entre adolescentes, excluindo os preceitos da promoção da saúde. Apontaram que a interação entre educação e saúde se caracteriza como estratégia eficaz na prevenção de danos causados pelo uso de álcool e drogas, ressaltando a participação dos familiares durante o processo de elaboração, aplicação e continuidade. Ainda evidenciou-se que as práticas educativas são realizadas em sua maioria através de palestras, caracterizando um trabalho centrado na prática clínica, individual e curativa
CONCLUSÃO: Os enfermeiros compreendem que a interação entre saúde e educação consiste em uma estratégia eficaz na prevenção do uso de álcool e drogas no público adolescente, ressaltando a importância da participação dos familiares no processo de construção e apoio deste contexto. Porém, é possível identificar que as ações desenvolvidas por esses profissionais ainda se restringem a modificação de comportamentos inadequados, sem o compartilhamento de novos conhecimentos

Palavras-chave: adolescente, drogas, programa saúde na escola, enfermeiro.


 

 

INTRODUÇÃO

A adolescência é um período caracterizado por mudanças físicas, emocionais e sociais, sendo propício para a formação de hábitos e padrões de comportamento1. Segundo a Organização Mundial de Saúde, esta fase compreende a faixa etária dos 10 aos 19 anos de idade2.

As transformações físicas, emocionais e sociais, são recorrentes nesse período, e promovem diversas mudanças no modo de pensar e agir, refletindo no desempenho de seus papéis sociais. Isso se dá pelas inúmeras situações impostas para o adolescente, que permeiam em dúvidas sobre que futuro seguir, o choque hormonal, o fim da fase infantil, e a transição para a vida adulta2,3.

Frente a isso, o adolescente torna-se vulnerável as diversas "tentações" propostas pela sociedade, onde se destaca o uso de álcool e drogas, sendo este acontecimento exposto pelas próprias características desta fase, gerando uma preocupação dos órgãos públicos3.

É possível identificar na literatura, que os adolescentes estão entre os principais públicos que consomem esse tipo de substância, como o de Quental et al.4, que evidencia que entre os escolares, 65% refere uso do álcool de forma abusiva, tornando-se um vício. Zeitoune et al.5, afirma que os adolescentes e adultos, estão mais suscetíveis ao consumo destas drogas, fato, que pode dificultar o desenvolvimento pessoal, pois essas, definidas de "drogas abuso", alteram as funções fisiológicas, psicológicas e imunológicas do organismo de maneira transitória ou permanente.

Nesse contexto, visando atender os princípios do Sistema Único de Saúde, através dos preceitos de promoção e prevenção de saúde, entende-se que a Estratégia de Saúde da Família (ESF), é o local ideal para acompanhamento destes casos, pois é nesse serviço que há uma maior aproximação do profissional de saúde com a comunidade2.

A ESF utiliza-se de estratégias baseadas em programas que visem aproximar o público de suas ações, nesse sentido, ao entender que a escola é um dos locais apropriados para ajustar os trabalhos de prevenção e promoção quanto ao uso de álcool e drogas, reúnem-se características que colaboram para a difusão de tal perspectiva na comunidade e na sociedade.

Para tanto, o Programa Saúde na Escola foi implantado para auxiliar no desenvolvimento de projetos que incorporem saúde e educação para um mesmo grupo de clientes, e para isso as ações devem integrar a comunidade junto da escola1.

De forma que os objetivos do programa sejam atingidos, são utilizadas diferentes estratégias, dentre estas a Educação em Saúde, sendo uma oportunidade ímpar para a atuação do enfermeiro3.

O enfermeiro, diante desse cenário, tem a capacidade de integrar-se à escola, somando conhecimentos para a Promoção da Saúde e Educação, diante de discursões que levem a reflexão crítica, integrando vivências e aprendizado de todos os envolvidos. Toda essa interação entre educação e saúde, pode ainda influenciar de forma positiva os estudantes a tornarem-se questionadores dos riscos a que estão expostos em todos os âmbitos da sociedade, gerando a possibilidade de alcançar em conjunto, melhor qualidade de vida e uma adolescência saudável3.

Frente à discussão acerca do tema, questionou-se: Como vem sendo a atuação do enfermeiro frente ao uso de álcool e drogas pelos adolescentes? Considerando-se tratar de uma Política intersetorial, o objeto de estudo ora proposto pretende investigar as práticas dos enfermeiros atuantes no Programa Saúde na Escola, tomando como referência ações relacionadas ao uso problemático de álcool e drogas entre adolescentes.

Deste modo, por não existir uma base científica completa, de estudos realizados a partir das ações desenvolvidas por enfermeiros frente ao consumo de álcool e drogas por adolescentes em fase escolar, desperta-se a necessidade de estudos nesta temática, tendo em vista que esta, trata-se de um problema de saúde pública, que acarreta consequências negativas para a comunidade.

Acredita-se que a partir da realização desse estudo as ações de saúde desenvolvidas por enfermeiros frente ao consumo de álcool e drogas por adolescentes, tornem-se cada vez mais ampliadas, para que possam reduzir de forma significativa às consequências tanto físicas quanto sociais produzidas por seu uso abusivo.

Portanto, o presente estudo objetivou analisar a percepção e a prática profissional de Enfermeiros atuantes no Programa Saúde na Escola, frente ao uso de álcool e drogas na adolescência.

 

MÉTODO

Trata-se de estudo descritivo de abordagem qualitativa, realizado no município de Juazeiro do Norte, Ceará, Brasil, tendo como cenário as Equipes de Saúde da Família cadastradas no Programa Saúde na Escola.

O município de Juazeiro do Norte possui 67 Estratégias de Saúde da Família, sendo que destes, 62 participam do Programa Saúde na Escola. Portanto, os sujeitos do estudo, foram selecionados baseando-se na premissa de que estes tenham experiência de no mínimo seis meses trabalhando no PSE e aplicando o processo de saturação de falas, resultando em um total de 18 enfermeiros.

Assim, o processo de saturação das falas foi constatado quando os sujeitos focaram a Importância da atuação de enfermagem e a interação entre Educação e Saúde frente ao uso de álcool e drogas entre adolescentes e às ações de prevenção, ao afirmarem que "as ações são importantes para prevenção do álcool e drogas" e o "predomínio de uma visão centrada em ações de prevenção quanto ao uso de álcool e drogas, com o objetivo de desenvolver uma reflexão e consciência crítica desses adolescentes sobre os danos causados pelo uso".

Em relação às Estratégias e planejamento das ações de saúde, observou-se a saturação quando os depoimentos ilustraram a "abordagem pedagógica centrada em palestras, havendo um processo de trabalho focado na transmissão de informações de forma unidirecional".

A coleta de dados foi realizada entre Agosto a Outubro de 2015, onde utilizou-se de um questionário semiestruturado, buscando compreender a percepção do profissional enfermagem frente ao uso álcool e drogas pelos adolescentes; o planejamento com a equipe de saúde no PSE e elementos que facilitam e dificultam a aplicação do processo. As entrevistas foram gravadas e transcritas.

Para a organização e análise dos dados foi empregado à técnica de análise de conteúdo, proposta por Bardin, citado por Silva e Fossá6 na técnica de análise de conteúdo, seguindo os passos: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados obtidos e interpretação.

Seguindo os passos acima, para organização e análise dos dados, foi realizada a leitura flutuante, onde os documentos foram organizados para constituição do corpus da pesquisa que se constituiu de 18 entrevistas realizadas aos enfermeiros.

Com a construção do corpus, foram operacionalizadas as codificações, identificando as unidades de registros e as unidades de contexto. Estas unidades foram encontradas nas falas, por meio de palavras, que foram se agrupando, segundo suas semelhanças e significados identificados, conforme descrito no quadro abaixo (Tabela 1).

O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Juazeiro do Norte, obtendo parecer de aprovação, sob o nº 1.342.465 do dia 29 de Novembro de 2015. Obedeceram-se os aspectos éticos legais da resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram deste estudo 18 enfermeiros, sendo 17 do sexo feminino e um do sexo masculino, na faixa etária de 24 a 55 anos, com tempo de formação entre dois e 28 anos.

Após análise dos resultados, foi possível elencar três categorias, a saber: importância da atuação de enfermagem frente ao uso de álcool e drogas entre adolescentes; interação entre Educação e Saúde; e estratégias e Planejamento das ações de saúde, conforme descrito no quadro abaixo (Tabela 2).

A saúde e a enfermagem no contexto escolar: o uso de álcool e drogas por adolescentes.

É preciso discutir as dimensões, complexidades e as implicações para a saúde física, psicológica e social dos adolescentes e da sociedade como um todo. Nesse sentido, entende-se que o profissional de enfermagem, através das estratégias desempenhadas pela ESF e pelo PSE, pode atuar frente ao uso abusivo de álcool e drogas entre adolescentes, reconhecendo dentro da sua realidade as reais consequências do seu uso5.

Os enfermeiros entrevistados, afirmam que a importância de sua atuação, se resume em ações de prevenção ao uso das substâncias abordadas, elencando este processo e a sua importância para uma vida saudável, conforme descrito nos depoimentos abaixo:

"Muito importante, pois as ações realizadas junto com o NASF tinham como objetivo alertar esses adolescentes quanto aos riscos à saúde causadospelo uso de álcool e drogas [...]" Enf. 4

"A atuação de enfermagem frente ao uso de álcool e drogas por adolescentes é de grande importância, pois esse público não possui maturidade para medir as consequências produzidas pelo uso dessas substâncias [...]" Enf. 7

"Importante estratégia educativa a fim de esclarecer os efeitos do uso de álcool e drogas [...]" Enf. 14

"De muita importância, pois se contribui para uma vida saudável, longe de riscos, porém é um tema que ainda não foi abordado dentro do programa". Enf. 15

É importante entender que o enfermeiro deve abranger as suas ações de forma completa e que atendam todas as perspectivas pré-estabelecidas, visando o cuidado integral ao paciente, em seus diversos aspectos biopsicológicos. Na saúde do adolescente, ao tratar-se de álcool de drogas, a enfermagem deve realizar uma análise, buscando atuar na prevenção, controle e tratamento, direcionando a sua atenção também para a família e para a comunidade5.

Para tanto, entende-se que a Educação em Saúde, viabiliza o alcance destes objetivos, pois é uma estratégia que desperta o empoderamento do cliente através de ações educacionais, proporcionando para o adolescente, um processo reflexivo que pode intervir nos indicadores de saúde, evitando danos de maior consequência, abrangendo então os demais membros que estão junto a este público3.

Ainda torna-se importante que haja um trabalho interdisciplinar e multiprofissional frente a estas ações, necessitando de que todos os profissionais da atenção primária participem do processo, visando o melhor planejamento e aplicação das atividades7.

É necessário que os profissionais estejam capacitados para atuar frente a este público, tendo em vista que se trata de uma população vulnerável que é sujeita a constantes alterações biopsicológicas. Este tipo de educação permanente é um dos principais desafios que vem sendo enfrentados, pois se busca romper uma barreira biomédica imposta nos serviços de saúde, oriunda da história característica do cuidar4,8.

A educação permanente, por sua vez, tem-se tornado um entrave nos serviços de saúde, pois se refere também, à formação de trabalhadores de saúde capacitados a compreender e responder às necessidades dos diferentes grupos sociais, para que assim, possa se garantir os direitos a saúde e introduzir nos currículos a concepção de integralidade, rompendo com a formação apontada para o modelo clínico8.

A formação inicial desses profissionais acaba levando-os para uma atuação distante da promoção à saúde, e isso ocorre devido ao enfoque ainda predominantemente biologicista, curativo, médico-centrado e desarticulado das práticas em saúde9.

Desta maneira, destaca-se a necessidade de promover mudanças através da inclusão de conceitos como interdisciplinaridade, intersetorialidade, potencialização de sujeitos e qualidade de vida, que são compreendidos como elementos que devem sustentar uma nova prática de formação e atuação, tendo como referencial a promoção da saúde10.

Diante dessas discussões, a educação permanente desses profissionais também se revela como um fator importante para a promoção de mudanças na forma de atuação do enfermeiro, possibilitando um trabalho coletivo com todos os envolvidos nas ações, de maneira a transmitir e absorver conhecimentos, experiências e aprendizados, como também responder adequadamente à complexidade dos problemas encontrados na realidade de saúde no seu âmbito de serviço7,10,11.

Ainda, quando se fala em saúde no ambiente escolar, notam-se dificuldades de interação entre esses setores públicos, que devem andar juntos para atuação eficaz. No entanto, para alcance dessas ações, em uma perspectiva de promoção da saúde do adolescente, é importante que os profissionais de saúde e de educação, tenham uma uniformidade no seu discurso, visando promover educação em saúde, enfatizando as ações específicas consideradas importantes no período escolar11.

O Ministério da Saúde Brasileiro aponta, dentre os desafios mais importantes para a promoção de saúde nas escolas, a instrumentalização técnica de professores e funcionários e profissionais da Estratégia de Saúde da Família (ESF) no sentindo de apoiar e fortalecer iniciativas que possibilitem uma melhoria na qualidade de vida dos adolescentes12.

A educação e saúde como ferramenta de promoção da saúde em adolescentes, no uso de álcool e drogas

Uma das estratégias utilizadas pela ESF na capacitação da comunidade para a realização do autocuidado e enfrentamento do processo saúde-doença são as ações educativas. Essa interação é utilizada como uma ferramenta de troca entre o saber empírico e científico, com o propósito de reconstruir significados e atitudes do cotidiano13,14.

Assim, a interação entre educação e saúde possibilita que a população adquira conhecimentos e habilidades, que permitem realizar escolhas saudáveis sobre sua vida, contribuindo para aumentar a conscientização quanto as mudanças políticas e ambientais que favoreçam a melhoria da saúde13,14.

Ao analisar esta interação, é possível identificar nos depoimentos abaixo, que os enfermeiros, acreditam que a prevenção através da orientação é o principal caminho para propiciar uma melhor assistência de saúde, além de reconhecerem o seu papel e sua importância no contexto escolar.

"A educação e saúde deve caminhar junto, pois se tiver um trabalho a partir da prevenção, com certeza se evitará o contato desses adolescentes com álcool e drogas [...]" Enf. 2.

"Quando a enfermagem entra na escola, é um profissional diferenciado da vivência deles, então essa interação entre educação e saúde é importante, pois eles veem outro meio, um outro profissional engajado com eles [...]" Enf. 3.

"A educação é tudo, tem um principio de formadora de opinião, porém, é necessária a integração dos familiares dentro das ações desenvolvidas, pois nada adianta educar apenas os adolescentes e deixar sua base que é a família sem informações [...]" Enf. 4

"As estratégias educativas servem para orientar os adolescentes, mostrar quais caminhos eles devem seguir, porém tudo vai depender da vontade deles de fazerem a escolha certa [...]" Enf. 9

Nesse contexto, considerando a participação como elemento que configura a interação enfermeiro/usuário no processo educativo, corrobora-se com Machado, Haddad e Zoboli15 ao afirmarem que embora seja direito e dever da população, a participação individual e coletiva na execução de seus cuidados de saúde, deve ser estimulada pelos profissionais nos diversos momentos e contextos de trabalho, distribuindo-se nos serviços de saúde, comunidade, ou contexto escolar.

Nesse sentido, através das diretrizes curriculares do curso de graduação de Enfermagem, vem sendo ampliados os projetos pedagógicos, que incentivam a participação popular no processo de promoção e tratamento de saúde. Nessa perspectiva objetiva-se que o atendimento prestado a comunidade gere satisfação e melhore a qualidade de vida dos usuários16.

Os profissionais entrevistados acreditam que a interação entre educação e saúde pode ser utilizada como uma estratégia eficaz na prevenção contra o uso de álcool e drogas entre adolescentes. Tendo em vista que a partir das intervenções realizadas pela educação e saúde, pode-se desenvolver uma reflexão crítica advinda dos adolescentes, sobre os danos causados pelo uso de álcool e drogas, consequentemente, possibilita-se uma melhora na qualidade de vida.

Para tanto, a família torna-se um importante ponto de apoio para a formação dos valores e princípios dos adolescentes, pois em seu convívio, são transmitidas as primeiras regras morais que vão guiá-los no seu convívio social, influenciando diretamente em seu desenvolvimento5.

Porém, para que se atinjam os objetivos das atividades de educação em saúde, é necessário que o profissional atuante, esteja apto para desempenhar tais práticas, apropriando-se do conhecimento técnico e empírico diante deste público, pois este, é considerado essencial, visando reconhecer a realidade do outro, bem como a interação e a construção da forma coletiva de saberes e práticas cotidianas da comunidade13,14.

Assim, a interação entre educação e saúde, vem se mostrando como um importante instrumento, facilitando a capacitação da comunidade e contribuindo de forma significativa para a promoção da saúde13,14.

As ações de promoção da saúde: Estratégias de planejamento

Os profissionais de saúde enfrentam dificuldades diárias nos setores de sua assistência educacional, estas, são originadas do modelo biomédico, que ainda é predominante nos serviços. Tal dilema influencia diretamente nas atividades de educação em saúde, pois se restringe apenas a ações pontuais, visando modificar comportamentos inadequados, além de seguirem um modelo autoritário, onde o profissional repassa o conteúdo, tornando a população, apenas ouvintes do processo17-21.

Desta forma, buscou-se compreender as estratégias utilizadas pelos enfermeiros na implementação das ações educativas. Evidenciaram-se ações centradas na prática clínica, individual e curativa, onde estas são voltadas à realização de palestras, dinâmicas de grupo, que muitas vezes, limitam-se pela falta de recursos didáticos e financeiros.

"[...] procuramos planejar as ações utilizando materiais didáticos, construção de dinâmicas [...]". "Através de reuniões entre a equipe de saúde e gestores da escola." Enf.2

"[...] as estratégias se resumem em atividades educativas como palestras, mas a falta de recursos didáticos nos deixa limitados para a realização das ações." Enf. 5

"Palestras educativas" "Primeiro a secretaria de saúde faz uma reunião com os diretores da escola e a equipe de saúde para programação das ações." Enf. 13

"Essas ações são realizadas através de rodas de conversa e palestras para o público alvo e pais" "Essas ações são planejadas através de cronogramas e abordagem do público alvo em áreas sociais expostas" Enf. 17

Identifica-se que os enfermeiros entrevistados, ainda limitam o seu processo de trabalho em ações centradas na transmissão de conhecimentos de forma unidirecional. Contudo, observou-se, porém, em menor significância, que alguns profissionais estão preocupados com a realização de ações de saúde que buscam a troca de experiência entre profissionais e comunidade, possibilitando uma maior participação destes durante a realização das ações.

As palestras se constituem como uma das principais estratégias utilizadas pelos profissionais para a realização das ações educativas, enquadrando-se na proposta da educação continuada. Estas possuem um caráter unidirecional, caracterizadas pela exposição de informações técnicas, sem participação ativa do público alvo, desempenhando um papel de receptor das informações18-20.

Assim, torna-se necessário uma restruturação das ações educativas através de um processo de planejamento dinâmico, onde o enfermeiro realiza avaliações das ações a serem desenvolvidas, observando a realidade e o interesse da população assistida. Após esta etapa, define-se o melhor método educativo, e assim, as atividades de educação em saúde são abordadas em uma proposta de construção compartilhada de saberes, que busquem interdisciplinaridade, autonomia e cidadania, tendo como protagonista, a população19-21.

Porém, para que os processos educativos em saúde se façam de forma comunicacional, transformadora e efetiva, a capacitação técnica dos profissionais não pode ser entendida como uma aquisição de instrumentos e técnicas rígidos, generalizando-as em suas ações educativas. Para tanto, entende-se que deve acontecer, constantes reflexões críticas pelos profissionais, acerca de suas práticas educativas, tornando-a aplicável ao contexto dinâmico no se insere18,20.

A formação acadêmica e o despreparo técnico e prático são os principais contribuintes para estas ações ainda pontuais, tendo em vista que os entrevistados consideram o público e o tema, como pontos difíceis de trabalhar, fortalecendo a insegurança e o despreparo destes.

Acredita-se que este estudo contribui para uma reflexão a respeito da atuação de enfermagem frente ao tema na prática, assim possibilitando a construção de um novo olhar, pautado em relações integrativas e educacionais, tornando a educação permanente, uma opção viável para que essas intervenções adequem-se às necessidades dos grupos. Torna-se necessário um planejamento dinâmico, com adoção de práticas educativas de caráter dialógico, capazes de promover a participação ativa dos adolescentes, visando o protagonismo e a corresponsabilização.

Portanto, fundamenta-se a importância da intervenção em idades precoces, e que estas, desenvolvam-se de maneira interdisciplinar e intersetorial, tendo como referência a promoção da saúde e assim, uma melhoria na qualidade de saúde do adolescente.

 

CONCLUSÃO

Os enfermeiros compreendem que a interação entre saúde e educação consiste em uma estratégia eficaz na prevenção do uso de álcool e drogas no público adolescente, ressaltando a importância da participação dos familiares no processo de construção e apoio deste contexto. Porém, é possível identificar que as ações desenvolvidas por esses profissionais ainda se restringem a modificação de comportamentos inadequados, sem o compartilhamento de novos conhecimentos.

 

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Endereço para correspondência:
Italla Maria Pinheiro Bezerra.
E-mail: italla.bezerra@emescam.br

Manuscript submitted Dec 2016
Accepted for publication Jan 2017

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