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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.27 no.3 São Paulo set./dec. 2017

http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.107097 

ARTIGO ORIGINAL

 

Características de hábitos de sono entre adolescentes da cidade de Ribeirão Preto (SP)

 

 

Luiz A Del CiampoI; Adriana L LouroI; Ieda R L Del CiampoII; Ivan S FerrazI

IDepartamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
IICurso de Medicina da Universidade Federal de São Carlos

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: A adolescência é o período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizada por mudanças no desenvolvimento físico, emocional, sexual e social. Embora durante esta fase a maioria dos indivíduos seja saudável, sabe-se que o estado de saúde está relacionado a comportamentos e hábitos tais como dieta saudável, prática regular de atividade física e boa qualidade do sono, que contribuem para o desempenho físico e cognitivo ideal
OBJETIVO: Determinar algumas características do sono de adolescentes que vivem na cidade de Ribeirão Preto (SP
MÉTODO: Trata-se de um estudo descritivo transversal realizado em 14 escolas da cidade de Ribeirão Preto (SP), incluindo adolescentes de 10 a 19 anos que responderam a um questionário sobre hábitos de sono. O teste do qui-quadrado foi usado para determinar diferenças entre gêneros com o software EPI-INFO 7, com o nível de significância definido em p <0,05
RESULTADOS: 535 adolescentes (65% meninas) foram incluídos no estudo. Destes, 47,7% estudavam durante o período da manhã e 10,3% trabalhavam e estudavam no período da noite. Em relação à duração do sono, 242 (45%) dormiram menos de 9 horas por noite durante a semana e 256 (48%) durante os fins de semana (sábado e domingo). Do total de adolescentes estudados, 75,5% relataram que foram para a cama quando sentiam sono, 90% relataram atraso em adormecer, 84,3% usaram algum tipo de equipamento eletrônico antes de dormir e 44% relataram que acordaram durante a noite. No período da manhã, 70,3% precisavam ser despertados, e 44,7% relataram atraso no despertar. Durante o dia, 70% sentiram-se sonolentos e 34% relataram que dormiam durante o dia. As meninas relataram que sentiram mais sonolência diurna (71,3%) e dormiam mais durante o dia (62,1%) que os meninos (28,7% e 37,9%, respectivamente), sendo a diferença estatisticamente significante (p <0,05
CONCLUSÃO: Quase metade dos adolescentes investigados dorme menos que o tempo mínimo considerado ideal. Além disso, a maioria dos adolescentes foi à cama quando sentiu sono, usou dispositivos eletrônicos antes de dormir, teve dificuldades em adormecer, precisava ser acordado pela manhã e sentiu sono durante o dia. Uma parcela substancial dos adolescentes estudados ficava acordada à noite e dormia durante o dia. Em comparação com os meninos, as meninas sentiram sono e dormiram durante o dia de forma significativa

Palavras-chave: adolescente, sono, higiene do sono, estágios do sono


 

 

INTRODUÇÃO

A adolescência é o período de transição entre a infância e a vida adulta, caracterizada por mudanças no desenvolvimento físico, emocional, sexual e social1. Embora durante esta fase a maioria dos indivíduos seja saudável, sabe-se que o estado de saúde está relacionado a comportamentos e hábitos como dieta saudável, prática regular de atividade física e boa qualidade do sono, que contribuem para o desempenho físico e cognitivo ideal2.

O sono é uma condição fisiológica importante caracterizada por um estado de comportamento reversível com modificações no nível de consciência e de capacidade de resposta aos estímulos internos e externos3. O ciclo sono-vigília é um ritmo circadiano que oscila ao longo de um período de 24 horas sujeito à influência de fatores tais como o período alternado de luz e sombras, horário escolar, horário de trabalho, lazer e atividades familiares. Este ritmo biológico é importante para a manutenção de uma programação envolvendo sono, estudo, lazer e refeições, sendo o sono um importante fator de sincronização entre variações internas e ciclos ambientais. O sono também desempenha um papel importante no desenvolvimento físico e emocional dos adolescentes, que estão passando por um período de intenso aprendizado e diferenciação. O adolescente é um ser biologicamente programado para dormir e depois despertar, com o cérebro não experimentando um estado de vigília durante a maior parte da manhã4. Embora existam variações individuais devido a fatores genéticos, ambientais e socioculturais, há uma necessidade reconhecida de 9 ou mais horas de sono por dia durante a adolescência5,6.

Além do impacto desses fatores biológicos e ambientais, os padrões de sono dos adolescentes podem ser significativamente afetados pelas demandas sociais, como tarefas domésticas, atividades extracurriculares e trabalho após o horário escolar. Os padrões de sono-vigília variam amplamente durante a semana devido ao hábito de dormir mais tarde nos finais de semana, como se fosse compensar a dívida de sono acumulada. Este fenômeno, denominado de "oversleeping", contribui para uma ruptura no ritmo circadiano e em períodos reduzidos de alerta durante o dia7.

Devido ao relacionamento intenso existente entre o sono e a qualidade da vigília, um dos resultados mais imediatos do sono de má qualidade é a queda no desempenho no dia seguinte, com sonolência, flutuações do humor, ansiedade, baixa autoestima, raciocínio lento, perda de memória, mau desempenho escolar e predisposição a acidentes4,8,9.

Em vista da importância do sono para a saúde durante a adolescência e considerando os poucos estudos disponíveis no Brasil sobre esse tema, o objetivo do presente estudo foi determinar algumas características relacionadas ao sono entre adolescentes que frequentam escolas públicas localizadas na região Oeste da cidade de Ribeirão Preto (SP).

 

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal, observacional e descritivo realizado no período de setembro a novembro de 2013 em 14 escolas de nível primário e secundário da cidade de Ribeirão Preto (SP), incluindo adolescentes com idades entre 10 e 19 anos completos. As escolas foram semelhantes quanto a características administrativas (escolas públicas), localização geográfica no setor oeste da cidade e representativas do perfil socioeconômico de seus alunos. Em uma primeira etapa do estudo as escolas foram visitadas para apresentar o projeto de pesquisa e convidar os alunos a participarem. Na visita posterior foram distribuídos os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido e os questionários sobre hábitos de sono, e foram fornecidas instruções sobre o preenchimento e a data do recolhimento. Em vista da possibilidade de ausência dos estudantes ou de esquecimento, foi definido um limite de até três visitas para a devolução das respostas. O questionário utilizado foi um instrumento previamente validado que permitiu determinar algumas características relacionadas ao sono10 e obter informações sobre idade, sexo, escolaridade, período do dia durante o qual o aluno frequenta aulas, horas e tipo de trabalho, atividades realizadas durante o período em que o aluno não está na escola, tempo para ir dormir e acordar nos dias da semana e nos fins de semana, o que o aluno faz antes de dormir (leitura, usa computador, jogos, telefone celular, música), se dorme durante o dia, se demora muito para adormecer, se tem sonolência durante o dia, se o sono é interrompido à noite, se acorda sozinho ou precisa ser despertado. Os seguintes critérios foram estabelecidos para padronizar as respostas: a) demorar muito para adormecer (mais de 30 minutos); b) acordar muito cedo (entre as 5:00h e as 7:00h da manhã); c) dormir durante o dia (mais de 30 minutos), d) acordar à noite (sem considerar idas ao banheiro). Os critérios de inclusão foram: idade de 10 a 19 anos completos, concordância em participar do estudo e obtenção do consentimento informado por escrito, também assinado por uma pessoa responsável. Os critérios de exclusão foram: gravidez, adolescentes sob tratamento com drogas que interferem com o sono (como antidepressivos e neurolépticos), presença de síndromes genéticas e outras doenças que limitam atividades habituais, como ir à escola, praticar esportes ou trabalhar. O protocolo e os procedimentos do estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo (nº 2760/2013). Além do consentimento informado por escrito, assinado pelos alunos e pelos seus responsáveis, também foi obtida autorização da Diretoria Regional de Educação de Ribeirão Preto e do Diretor de cada instituição de ensino. A distribuição de frequência absoluta e relativa do software Excel (Windows 8) foi utilizada para a descrição das variáveis estratificadas por sexo e as diferenças entre as proporções foram analisadas pelo teste do qui-quadrado usando o software EPI-INFO7, com o nível de significância definida em p <0,05.

 

RESULTADOS

Dos 2264 adolescentes elegíveis matriculados nas escolas, 587 (25,9%) retornaram os formulários de consentimento assinados e os questionários preenchidos. No entanto, 52 foram excluídos devido a questionários incompletamente preenchidos, totalizando 535 (23,6%) adolescentes incluídos no estudo. Destes, 348 (65%) eram meninas, 280 (52,3%) estudavam no período da tarde e 55 (10,3%) trabalhavam durante um período do dia. Quanto à duração do sono, 242 (45%) dormiram menos de 9 horas por noite durante os dias da semana e 256 (48%) durante os fins de semana (sábado e domingo), como mostrado na Tabela 1. A duração do sono em dias com aulas foi inferior a 9 horas para 51,8% (97/187) dos meninos e 46,8% (163/348) das meninas.

Embora 75,5% (404/535) dos adolescentes relataram que foram para a cama quando sentiram sono 89,7% (480/535) deles demoraram muito para adormecer. O uso de algum tipo de equipamento eletrônico antes de dormir foi relatado em 84,3% (451/535) dos adolescentes estudados e 44% (235/535) referiram que acordavam durante a noite. De manhã 70,3% (376/535) precisavam ser despertados e 44,7% (239/535) relataram que demoravam algum tempo para acordar. Em relação ao período diurno, 70% (373/535) referiram que se sentiram sonolentos e 34% (181/535) relataram que dormiam durante o dia, conforme pode ser observado na Tabela 2.

A distribuição da quantidade de horas de sono de acordo com o período de estudo e gênero está apresentada na Tabela 3. As meninas relataram que sentiram mais sonolência diurna (71,3%) e dormiram mais durante o dia (62,1%) que os meninos (28,7% e 37,9 %, respectivamente), sendo a diferença estatisticamente significante (p <0,05). Não houve diferença significativa entre os sexos em relação à sonolência diurna ao frequentar aulas no período da manhã (88,6% / 78,1%) e à tarde (65% / 35%). A distribuição dos adolescentes em termos de relato de sonolência diurna de acordo com sexo e período de aulas está apresentada na Tabela 4.

 

DISCUSSÃO

O sono é considerado um indicador importante de saúde e qualidade de vida e a privação do sono é reconhecida como um fator que desencadeia várias consequências adversas para os indivíduos e para a sociedade11. O presente estudo mostrou que, nos dias da semana, 42,2% dos meninos e 46,8% das meninas dormem menos que as 9 horas por noite recomendadas para esta faixa etária, enquanto nos fins de semana essas proporções aumentam para 59,8% e 47,9%, respectivamente, estando de acordo com estudos de literatura que mostram que os adolescentes dormem menos horas do que o recomendado. Uma meta-análise recente de 41 estudos sobre hábitos de sono entre adolescentes mostrou que o número total de horas de sono durante a semana foi de 7,4, 8,3 e 7,6 para indivíduos norte-americanos, europeus e asiáticos, respectivamente12. Entre 308 adolescentes australianos de 13 a 17 anos, 36% dormiram menos de 8 horas por noite13. Em 2013, Maume14 relatou que 974 adolescentes que viviam em Cincinnati (EUA) dormiam em média 7,8 horas por noite, o que também foi observado por Kilani et al. em um estudo realizado com 802 adolescentes de Omã15.

Uma pesquisa que incluiu 250 adolescentes atendidos nas escolas de Pittsburgh (EUA) revelou que seu período de sono variou de 6 a 7 horas durante a semana e de 7 a 8 horas nos fins de semana16. Em um estudo de 15.364 adolescentes dos EUA com idade entre 15 a 18 anos, Meldrun & Restivo17 observaram que 68,5% deles dormiram menos de 8 horas por noite, resultado semelhante ao relatado por Pabayo et al. em um estudo com adolescentes da América do Norte de 14 a 19 anos que dormiam, em média, 398 minutos por noite18.

Um estudo multicêntrico que incluiu 117.888 adolescentes europeus detectou um tempo médio de sono por noite de 7,7 horas19. Maslowsky et al. também detectaram redução das horas de sono por noite entre 15.701 adolescentes dos EUA, que dormiam em média 8,5 horas por noite aos 13 anos de idade e que reduziram esse tempo para 7,3 horas aos 18 anos20. Entre 1991 e 2007, Barnes e Meldrum21 estudaram 287 pares de gêmeos monozigóticos com média de idade de 15,7 anos pertencentes ao Estudo Longitudinal Nacional de Saúde do Adolescente, EUA, e observaram que o tempo médio de sono era de 7,7 horas.

Os adolescentes que dormem pouco têm maior probabilidade de adotar outros hábitos não saudáveis22,23, como inatividade física, hábitos alimentares inadequados e comportamentos sedentários24. A sonolência pode interferir com o desempenho escolar e com a disposição de ir à escola, além de gerar menor satisfação pessoal, aumento do número de doenças e sentimentos de irritação e raiva25. Um período de sono noturno mais curto também está associado a maior consumo de álcool, tabaco e drogas, com comportamentos sexuais de alto risco, excesso de peso2, hábitos alimentares inadequados26 e ideação suicida27.

Foi relatado que as mudanças nos comportamentos de sono durante a adolescência são devidas ao aumento dos requisitos escolares, das atividades sociais e sobrecarga de trabalho, bem como outras atividades, como assistir televisão e navegar na internet, o que pode contribuir para o retardo da hora de dormir e sonolência durante o dia28,29. A consequência mais direta do sono inadequado é a sonolência que se manifesta de forma mais significativa como dificuldade em acordar no momento adequado para ir à escola e participar de situações de baixa estimulação, como atividades de leitura durante as aulas30.

Um estudo realizado na Suécia e na Estônia em 2.241 adolescentes com idades compreendidas entre 15 e 16 anos indicou que 25% dormiam menos de 9 horas por noite e que esse tempo de sono reduzido estava associado negativamente ao desempenho escolar e à presença nas atividades escolares30. Um estudo entre adolescentes noruegueses informou que 32,3% deles dormiam menos de 8 horas por noite e também praticavam poucas atividades físicas, com tempo excessivo de televisão e computador e sem horários definidos para refeições31. O número médio de horas de sono por noite foi oito entre 3.311 adolescentes de diferentes países europeus. Aqueles que dormiam menos eram os mais sedentários, apresentavam maior índice de massa corporal e maior gordura corporal e comiam menos alimentos saudáveis32,33.

Alguns autores demonstraram que a duração do sono é reduzida entre adolescentes com idade avançada4,28,34,35. Knutson et al. compararam a duração do sono em uma amostra de jovens australianos entre 1985 e 2004 e observaram uma redução das horas de sono na segunda avaliação em relação à primeira. Além disso, os meninos dormiam mais tarde que as meninas em 2004, diferença que não foi observada na primeira avaliação36. Alguns estudos sobre a duração do sono durante a segunda década de vida também foram realizados no Brasil. Entre 1.126 adolescentes de 13 a 20 anos matriculados no ensino médio da cidade de Santa Maria/RS, 54,8% dormiram 8 horas ou menos nos dias com aulas37. Um estudo de 863 escolares na segunda década de vida, na cidade de São Paulo, revelou que a duração média do sono durante a semana foi de 8,8 horas e que a prevalência de adolescentes que dormiam 8 horas ou menos durante os dias de aula era de 39%. A principal variável associada a menos de 8 horas de sono foi a idade, com redução das horas de sono ocorrendo com o avanço da adolescência28. Entre 92 adolescentes matriculados em escolas públicas da cidade de São Paulo, o número médio de horas de sono foi 8.838 e o tempo de sono foi relacionado a faixa etária mais do que ao sexo.

Fatores como o horário escolar no início do dia39 e emprego37 também podem interferir nos padrões de sono e contribuir para reduzir a duração do sono durante a adolescência, sendo associados a comportamentos problemáticos, como pior desempenho escolar e tempo limitado com a família ou devotado à prática de exercícios físicos. Um estudo de adolescentes brasileiros informou que, independentemente da classe econômica, o período das aulas foi fortemente associado à duração do sono, indicando que aqueles que estudaram ou trabalharam durante o período da manhã tiveram maior privação de sono28. Um estudo brasileiro recente realizado com adolescentes de 15 a 19 anos residentes no estado de Santa Catarina apontou que a prevalência de indivíduos que dormem menos de 8 horas por noite aumentou de 31,2% em 2001 para 45,9% em 2011, refletindo as modificações nos hábitos de vida impostos aos adolescentes durante a última década40.

As atividades realizadas por adolescentes entre deitar na cama e começar a dormir têm sido objeto de interesse por muitos pesquisadores. No presente estudo, observa-se que 84,3% dos adolescentes usaram algum tipo de equipamento eletrônico antes de dormir. Noland et al. relataram que os adolescentes afirmam que usam algumas estratégias para adormecer ou permanecerem acordados, sendo a estratégia mais utilizada a de assistir televisão (46,2%)41. Dados de uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde sobre as condições de saúde de adolescentes de 41 países demonstraram que aumentou de 61% para 70% aqueles que assistem televisão por mais de duas horas ao dia42.

Um estudo realizado na Inglaterra com adolescentes de 11 a 13 anos observou que o uso de tecnologia (televisão, videogames, telefone celular e redes sociais) foi inversamente associado à duração do sono, que foi reduzido em média por 1 hora quando comparado aos adolescentes que não fizeram uso desses tipos de tecnologia43. Zhou et al.44 relataram em seus resultados alguns mecanismos pelos quais o uso de equipamentos eletrônicos pode afetar a qualidade do sono, seja seu uso como forma de lazer a qualquer momento durante o dia ou à noite, estendendo-se por longos períodos sem definição de início ou tempo final. Também, este tipo de entretenimento sedentário altera a arquitetura do sono, resultando em baixa qualidade de sono, a exposição à luminosidade da tela perto do tempo de repouso pode afetar o ciclo do sono pela supressão salivar noturna da melatonina; o uso de equipamentos eletrônicos pode aumentar o nível de atividade do sistema nervoso e resultar em alerta elevado, emoção psicológica e dificuldade em adormecer. Além disso, os programas de televisão e os videogames foram apontados como fatores que interferem no sono devido ao seu conteúdo excessivamente violento e/ou estimulante, possivelmente inibindo o relaxamento e resultando em ansiedade e dificuldade em adormecer40.

Esses fatores foram semelhantes aos relatados por Mesquita & Reimão45, que mostraram que o aumento do tempo de uso de computador por adolescentes foi associado a menor duração do sono e à percepção mais fraca da qualidade do sono. Em outro estudo realizado com 136.589 adolescentes coreanos observou-se que o menor número de horas de sono devido ao uso excessivo do computador e da internet foi associado a distúrbios emocionais, como sintomas depressivos e ideação suicida27.

As limitações do presente estudo são o fato de que a investigação foi realizada em um número relativamente pequeno de adolescentes que estudam em escolas de uma única região da cidade e que os dados foram obtidos por autoavaliação, possivelmente levando a uma superestimação do tempo de sono. Além disso, por ser um estudo transversal, pode ter refletido hábitos sazonais que não são mantidos em outros períodos do ano. Por outro lado, a informação relevante obtida aqui sobre as características do sono dos adolescentes pode ser adicionada àquela obtida em outros estudos, fornecendo uma base para a implantação de ações voltadas para a melhoria da qualidade do sono e, consequentemente, das condições gerais de saúde46. Aprender sobre essas condições, aliadas às peculiaridades da adolescência, deve ser a base para o aconselhamento dos próprios adolescentes e seus pais sobre cuidados de saúde, com prioridade para ações envolvendo higiene do sono, que devem ser integralmente incluídas nos programas de Hebiatria.

 

CONCLUSÃO

Quase metade dos adolescentes investigados dorme menos que o tempo mínimo considerado ideal. Além disso, a maioria dos adolescentes foi deitar-se quando sentiu sono, usou dispositivos eletrônicos antes de dormir, teve dificuldades em adormecer, precisava ser acordado pela manhã e sentiu sono durante o dia. Uma proporção substancial de adolescentes estudados referiu ficar acordada à noite e dormir durante o dia. Em comparação com os meninos, as meninas sentiram sono e dormiram durante o dia de forma mais significativa.

 

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Endereço para correspondência:
delciamp@fmrp.usp.br

Manuscrito recebido: Setembro 2017
Manuscrito aceito: Novembro 2017
Versão online: Dezembro 2017

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