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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.27 no.3 São Paulo set./dec. 2017

http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.141279 

ARTIGO ORIGINAL

 

Estados de identidade de adolescentes em situação de acolhimento institucional

 

 

Eduardo Sales BritoI; Teresa Helena SchoenII; Márcia Regina Fumagalli MarteletoIII; Nancy Ramacciotti de Oliveira-MonteiroIV

ILaboratório de Psicologia Ambiental e Desenvolvimento Humano, Universidade Federal de São Paulo; Rua Silva Jardim, 136 - Vila Mathias - Santos/SP - CEP: 11015-020
IIDepartamento de Pediatria, Universidade Federal de São Paulo; Rua Botucatu, 715 - São Paulo/SP - CEP: 04023-901
IIIDepartamento de Saúde, Universidade Nove de Julho; Rua Vergueiro, 249 - São Paulo/SP - CEP: 01504-001
IVDepartamento de Ciências do Mar, Universidade Federal de São Paulo; Rua Carvalho de Mendonça, 144 - Encruzilhada - Santos/SP - CEP: 11070-100

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: O desenvolvimento de adolescentes que vivem fora do convívio familiar, por situação de acolhimento institucional, tem características peculiares nas interações estabelecidas em suas vidas cotidianas e na constituição de suas identidades. A teoria psicossocial de Erikson estuda o desenvolvimento da identidade observando a exploração e o compromisso. Os estados de identidade podem ser classificados em difusão, pré-fechamento, moratória e identidade estabelecida.
OBJETIVO: Avaliar os estados de identidade de adolescentes que vivem em situação de acolhimento institucional.
MÉTODO: Participaram 87 adolescentes (de 12 a 17 anos) em situação de acolhimento, que responderam ao Extended Objective Measure of the Ego Identity Status II (EOMEIS II), em aplicações individuais. Dados foram tratados de forma descritiva e inferencial pelas variáveis: sexo, faixa etária, escolaridade, e tempo de acolhimento.
RESULTADOS: Houve prevalência do estado de difusão de identidade, em ambos os sexos, independentemente do tempo de escolarização, e a despeito do tempo de acolhimento. Houve diferença nos resultados considerando faixa etária (p=0,033).
CONCLUSÃO: Os adolescentes mais velhos sinalizaram maiores prejuízos no desenvolvimento da identidade, com prevalência de estados mais negativos e imaturos de identidade, indicativos de despreparo para saída da instituição (aos 18 anos).

Palavras-chave: identidade, adolescência, acolhimento institucional, estados de identidade, EOMEIS II.


 

 

INTRODUÇÃO

No final da primeira década deste século, o número estimado de crianças e adolescentes moradores de instituições de acolhimento no mundo era de mais de oito milhões1. Documentos brasileiros de 2013 apontavam que havia, na região Sudeste do Brasil, 14.989 dessas crianças e adolescentes, distribuídos em 1.087 serviços de acolhimento institucional2. O Estado de São Paulo concentrava o maior número desses acolhidos.

Crianças e adolescentes que vivem em serviços acolhimento institucional são considerados em situação de vulnerabilidade social. Vivendo fora dos cuidados das famílias, e mais do que isso, com históricos muito prejudicados nos vínculos familiares (em geral, o motivo da institucionalização), essas crianças e adolescentes estão sujeitos a fatores de risco ao seu desenvolvimento3.

Estudos nacionais e internacionais concordam nos apontamentos de prejuízos ao desenvolvimento na população de acolhidos4-7. Esses trabalhos verificaram prevalência de problemas psicológicos, prejuízos quanto à competência, e também dificuldades para adaptação à sociedade convencional depois que esses adolescentes acolhidos saem das instituições.

A adolescência é uma fase da vida humana caracterizada por grandes transformações e reorganizações que atingem diferentes domínios do desenvolvimento, em suas múltiplas dimensões8. Embora haja elementos próprios e comuns na passagem pela adolescência, esta envolve uma enorme diversidade9, mesmo dentro de uma cultura e momento histórico. As perspectivas dos indivíduos que estão inseridos num sistema ambiental problemático, como relacionamentos sociais descontínuos, lares desfeitos, negligência, abuso sexual ou físico, entre tantos, influenciam diretamente suas escolhas e suas condições de existência10. Essa é a situação comum em serviços de acolhimento.

Os serviços de acolhimento institucional são descritos pelo ECA11 como equipamentos que devem oferecer proteção a crianças e adolescentes que tiveram seus direitos violados ou ameaçados e cuja convivência com a família de origem seja considerada prejudicial ao seu desenvolvimento. Apesar da característica da 'transitoriedade' ser prevista nos serviços de acolhimento, é frequente a permanência do acolhido por um longo período, tornando a instituição seu principal espaço referencial, onde são estabelecidos vínculos afetivos e sociais12.

No ambiente desses serviços, os jovens acolhidos vivem as tarefas psicossociais próprias da adolescência, que moldam grande parte do desenvolvimento de suas identidades13. É na etapa da adolescência que especialmente floresce o senso de identidade próprio, com a descoberta do que se deseja ser, o que se quer fazer da vida, que ocupações ou trabalhos são interessantes, com quem se quer compartilhar a vida, quais são os valores de maior importância - prerrogativas que formam bases para a subjetividade ao longo da vida13.

Erikson13 postulou que o desenvolvimento da identidade ocorre ao longo da vida como um processo, mas que vem à ascensão, especialmente, durante a adolescência. Esse autor entendia a adolescência como um período de 'moratória psicossocial', na qual são oferecidas aos indivíduos oportunidades para considerar escolhas (potenciais) de vida, sem ser esperado que esses indivíduos exerçam um trabalho por tempo integral, tenham um relacionamento romântico comprometido, ou se tornem pais - expectativas de tarefas evolutivas dos adultos, que são relativizadas por condições peculiares, de ordem pessoal, social, cultural e histórica.

Marcia sistematizou a teoria psicossocial de Erikson apresentando duas diferentes dimensões essenciais na formação da identidade pelo adolescente: exploração e compromisso14. Exploração é a dimensão relacionada a exames e reexames de escolhas de alternativas. Pela exploração, o adolescente pode experimentar diferentes alternativas, deparando-se com questões novas e/ou antigas a respeito de valores e distintas possibilidades. A dimensão do compromisso refere-se a escolhas relativamente firmes que se repetem e que serão guias de futuras ações (nos domínios interpessoal e/ou ideológico). O compromisso é medido pelo grau de investimento pessoal que o indivíduo possui e expressa com respeito a alternativas possíveis15.

A partir do interjogo dessas premissas de exploração e compromisso, relativas a domínios de ordem interpessoal e ideológico, Marcia14 propõe quatro estados de identidade: difusão, pré-fechamento, moratória e identidade estabelecida16. No estado de moratória, o jovem encontra interesse em explorar vários tipos de alternativas, porém sem haver o estabelecimento de um compromisso para com elas. No estado de pré-fechamento, ocorrem compromissos 'precoces' sem exploração de alternativas; nesse estado, o adolescente compromete-se com escolhas seguindo metas direcionadas por adultos, em geral pais ou seus representantes externos. O estado de difusão de identidade é caracterizado por não haver interesse por explorar e nem se comprometer com escolhas. Já na identidade estabelecida, o jovem faz suas escolhas e persegue metas, ou seja, ele já explorou e chega a compromissos. Durante a adolescência haverá a passagem por esses quatro estados, e o processo de construção da identidade (do estado de difusão ou pré-fechamento, passando pela moratória até chegar à identidade estabelecida) ocorrerá, em geral, nos anos finais da adolescência.

González et al.17 apresentam uma subdivisão desses estados de identidade em dois subgrupos: os estados 'ativos' ou 'maduros', e os estados 'passivos' ou 'imaturos'. Os estados de moratória e identidade estabelecida são ativos ou maduros, correspondendo aos estados mais desenvolvidos da identidade; eles são associados a características positivas, como bom nível de autoestima, autonomia e raciocínio moral. Já os estados de difusão e de pré-fechamento são considerados passivos ou imaturos, correspondentes aos estados iniciais do desenvolvimento da identidade; nos anos finais da adolescência, esses estados associam-se a características de maior fragilidade e/ou negatividade, como baixa autoestima e baixo raciocínio moral, além de maior grau de convencionalidade e de conformismo.

Vários estudos sobre estados de identidade vêm sendo realizados em diferentes culturas18-22. No Brasil, ainda há poucos trabalhos sobre o campo da identidade de adolescentes, em especial, sobre estados de identidade15,16,23,24. Nessa circunscrição, insere-se este estudo que teve por objetivo avaliar estados de identidade numa amostra de adolescentes em situação de acolhimento institucional.

 

MÉTODO

A investigação teve características de pesquisa quantitativa, transversal, descritiva e correlacional.

Participantes

Foram participantes do estudo 87 adolescentes, de 12 a 17 anos (Média=14,7; DP=1,24), que viviam em 11 diferentes instituições de acolhimento institucional em municípios da Baixada Santista (SP), tanto públicas como privadas (ONGs). A amostra foi constituída por critérios de conveniência e de acessibilidade, o que a caracterizou como não probabilística e intencional. Dentre os investigados, 35 (40,23%) eram meninas e 52 (59,77%) meninos; 40 (45,98%) tinham de 12 a 14 anos e 47 (54,02%), de 15 a 17 anos. Do total dos participantes, 36 (41,38%) tinham permanência institucional menor que dois anos e 51 (58,62%) estavam acolhidos há mais de dois anos. Quanto à escolaridade dos adolescentes, 23 (26,44%) cursavam até o 7° ano do ensino fundamental e 64 (73,56%) cursavam o 8° ou 9° anos do ensino fundamental, ou estavam no início do ensino médio. Sete adolescentes do subgrupo dos mais velhos (15-17 anos) tinham escolaridade até o 7º ano do ensino fundamental, o que indicava atraso escolar.

Instrumento

Para o levantamento dos estados de identidade dos adolescentes investigados foi utilizado o Extended Objective Measure of the Ego Identity Status II (EOMEIS II)25, uma escala de origem norte-americana, que avalia estados de identidade. Com validação em diversos países26, é um dos instrumentos mais utilizados em estudos sobre identidade15 em adolescentes e em adultos jovens. O EOMEIS II abrange dois domínios: o ideológico e o interpessoal. Os respondentes valoram 64 itens em uma escala tipo Likert de seis pontos, desde 'discordo totalmente' até 'concordo totalmente'. A versão utilizada para esta pesquisa foi a adaptação semântica brasileira do EOMEIS II22, com os pontos de cortes adotados para a amostra paulista15. A somatória das respostas assinaladas pelo indivíduo permite ao pesquisador traçar o estado de identidade (difusão de identidade, moratória, pré-fechamento ou identidade estabelecida) em que os respondentes estavam no momento em que preencheram a escala. O instrumento demora aproximadamente 30 minutos para seu preenchimento total.

Procedimentos

O estudo seguiu normas éticas de pesquisa com seres humanos, tendo sido aprovado pelo CEP-UNIFESP (nº 30478714.1.0000.5505). Foram realizados contatos pessoais com a direção de diferentes instituições de acolhimento de municípios da Baixada Santista (SP), para exposição da proposta da pesquisa. Após os aceites, foram colhidas as assinaturas dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLEs) pelos responsáveis institucionais dos adolescentes. O contato com os adolescentes foi realizado mediante apresentação da proposta da pesquisa e convites para participação. Os adolescentes que concordaram em participar do estudo assinaram o Termo de Assentimento. Antes da aplicação do EOMEIS II, foram levantados informações sobre os participantes: seus nomes, as datas de nascimento, tempo em instituição de acolhimento, ano escolar que estavam cursando e condições de contato com membros da família.

As aplicações ocorreram individualmente, conduzidas pelo primeiro autor deste artigo, sendo realizadas nas próprias instalações das instituições de acolhimento, em locais com privacidade, em dias e horários previamente combinados com os adolescentes e com as equipes técnicas. O levantamento ocorreu em forma de entrevista para minimizar efeitos de possíveis dificuldades de leitura e compreensão das afirmativas do EOMEIS II. O tempo médio de aplicação foi de 45 minutos.

Os resultados no EOMEIS II foram analisados pelas variáveis: sexo, faixa etária (12-14 anos/15-17 anos), escolaridade (até o 7º ano/acima do 7º ano) e tempo de acolhimento (até dois anos/mais de dois anos). Após a composição de um banco dos dados, foram feitas análises descritivas e inferenciais com uso do software Statistical Package for Social Sciences (SPSS). A análise inferencial foi feita com uso do Teste Exato de Fisher (com nível de significância de 0,05) para verificar a significância entre as variáveis, e os estados de identidade. As medidas descritivas para as variáveis independentes em relação aos estados de identidade foram feitas a partir de uma comparação binária entre elas.

 

RESULTADOS

Os dados descritivos sobre os estados de identidade mostraram uma prevalência do estado de difusão de identidade, com 63,20% do total dos adolescentes da amostra, seguido pelo estado de moratória (21,80%), de pré-fechamento (11,50%), e de identidade estabelecida (3,50%).

A análise inferencial mostrou que não houve diferenças significativas para a maioria das variáveis comparadas. Apenas foi indicada diferença significativa (p=0,033) entre adolescentes mais velhos e mais novos, nos resultados de estados de identidade. A Tabela 1 mostra que, nos adolescentes mais novos (12-14 anos), houve o predomínio do estado de difusão (50%). Também dentre os adolescentes mais velhos (15-17 anos), houve grande predominância (74,5%) desse mesmo estado.

Conforme a Tabela 1 pode-se verificar uma predominância do estado de difusão para os meninos e meninas da amostra. Três meninos foram identificados no estado de identidade estabelecida.

Apresentando dados quanto à variável escolaridade, a Tabela 1 indica que também houve predominância de adolescentes no estado de difusão, sem relação com os anos de estudo. Por sua vez, o estado de difusão de identidade também ficou indicado, a despeito do tempo que o adolescente estava em situação de acolhimento (acima ou abaixo de dois anos).

 

DISCUSSÃO

A amostra estudada apresentou maior número de adolescentes no segmento etário de 15 a 17 anos, com diferentes condições quanto a tempo de acolhimento, e em diferentes (11) e diversificadas (em suas características) instituições de acolhimento da Baixada Santista (SP). Embora constituída pelos critérios de conveniência e acessibilidade, essa amostra apresentou características semelhantes às de outras pesquisas brasileiras com adolescentes em acolhimento institucional. Num estudo realizado em Porto Alegre (RS) com adolescentes acolhidos, por exemplo, também houve maior número de meninos12, e a média da idade dos participantes (15 anos) foi semelhante à deste trabalho (14,7 anos).

O tempo de acolhimento dos adolescentes investigados nesta pesquisa variou de algumas semanas até dez anos, situação também presente no estudo de Gonzalez et.al.12. Igualmente Silva26 identificou tempo de permanência institucional que ultrapassava ao legalmente estipulado (até dois anos), em mais da metade das crianças e adolescentes que pesquisou (52,6%). Dados de 2011, apontados no Levantamento Nacional das Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento27, mostravam que, na região Sudeste, o tempo máximo de acolhimento chegava a 17,6 anos. Esse tempo maior de dois anos de acolhimento afronta determinações do ECA11 quanto ao prazo máximo para a institucionalização em acolhimento. Da amostra aqui estudada, 31% dos adolescentes viviam há mais de dois anos em instituições de acolhimento.

Conforme a classificação de González et al.17, os estados de difusão e pré-fechamento são considerados de polo negativo, ou passivos. O estado de identidade encontrado na maior parte dos adolescentes investigados foi o de difusão (63,20%), mas o destaque negativo dos estados de identidades foi verificado nos adolescentes mais velhos da amostra (57,4% no estado de difusão e 19,1% no de pré-fechamento). Esses resultados diferiram do encontrado em outros trabalhos que apuraram estados de identidades de adolescentes, com verificação da prevalência do estado de moratória15,26, tido como um estado mais maduro e ativo na adolescência.

O estado de difusão da identidade é caraterizado por baixo compromisso e ausência de exploração em diferentes domínios. No final da adolescência11, esse estado de difusão pode representar o fracasso em chegar a um comprometimento depois de um período de exploração14,16,17, ou mesmo, prejuízos nas explorações. Alguns jovens não sentem necessidade e/ou desejo de explorar alternativas, outros não possuem condições favoráveis para tanto, o que parece ter sido a situação dos investigados. A difusão de identidade, num estágio mais avançado da adolescência representa padrões de apatia, desinteresse, dificuldades nos papéis sociais e nos seus próprios sentimentos13.

Como colocado, quando os adolescentes acolhidos completam 18 anos, são obrigatoriamente desligados da instituição de acolhimento. Dessa maneira, esses estados imaturos de identidade encontrados nos adolescentes mais velhos (pré-fechamento e difusão) apontam para inquietações. Sem adequado suporte familiar, e em situação de vulnerabilidade social (por insuficiência de renda, dificuldades para empregabilidade e para habitação), a saída do serviço de acolhimento vai exigir forças e recursos internos desses jovens para o enfrentamento das vicissitudes da adaptação fora dos muros da instituição, e entrada da vida adulta6 - recursos pouco indicados na verificação de seus estados de identidade.

Vários dos adolescentes que estavam com saída da instituição prevista com maior brevidade tinham atrasos escolares, prejuízo também apontado no Levantamento Nacional de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento, publicado em 201127. Para os jovens brasileiros sem déficits em escolaridade, em termos gerais, os anos finais da adolescência coincidem com o período de conclusão dos anos do ensino médio e encaminhamentos para o ensino superior, ou cursos técnicos - situação não encontrada nos pesquisados neste trabalho, com indicativos de despreparo em competências necessárias à entrada no mercado de trabalho.

Procurando avaliar estados de identidade em adolescentes que viviam em serviços de acolhimento institucional, e abarcando fronteiras conceituais sobre a adolescência e o desenvolvimento da identidade, este trabalho buscou contribuir para estudos sobre adolescentes que vivem num contexto peculiar de situação de vulnerabilidade social, o de crianças e jovens não criados e cuidados por suas famílias. Visto limites de ordem metodológica, o estudo não almeja generalizações, mesmo que endosse resultados de outras investigações na verificação de problemas de desenvolvimento em adolescentes acolhidos, destacados aqui os do desenvolvimento da identidade.

Sugere-se a continuidade de pesquisas sobre estados de identidade de adolescentes e também de jovens adultos em condições de vulnerabilidade social, de forma a melhor nortear as intervenções necessárias à promoção do seu desenvolvimento positivo. A ampliação do conhecimento sobre as dificuldades de desenvolvimento de adolescentes acolhidos poderá ser um alerta para o estabelecimento e incremento de ações específicas voltadas à essa população em vulnerabilidade social, no âmbito da saúde pública.

 

CONCLUSÃO

O estado de difusão de identidade foi prevalente nos adolescentes acolhidos investigados. O sexo, o tempo de acolhimento (menor ou maior que dois anos) e a condição de escolaridade (até do 7º ano ou maior que 7º ano) não indicaram ter influência no estado de identidade. Por sua vez, os adolescentes mais velhos, próximos do desligamento dos serviços de acolhimento, sinalizaram maiores prejuízos no tocante ao desenvolvimento da identidade.

 

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Endereço para correspondência:
nancy.unifesp@gmail.com

Manuscrito recebido: Abril 2017
Manuscrito aceito: Outubro 2017
Versão online: Dezembro 2017

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