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Journal of Human Growth and Development

Print version ISSN 0104-1282On-line version ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.28 no.1 São Paulo Jan./Mar. 2018

http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.143887 

EDITORIAL

 

HPV vacina: conhecer e aceitar para assegurar a eficácia

 

 

Isabel Cristina Esposito SorpresoI; Patricia Jane KellyII

IDisciplina de Ginecologia. Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
IISchool of Nursing. University of Missouri

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

As novas tecnologias em vacina contra doenças transmissíveis e não transmissíveis como o câncer, tiveram impacto na saúde pública internacional, especificamente a vacina para o papiloma vírus humano (HPV) utilizada em larga escala nos programas de imunização em mais de 58 países, com resultados de eficácia e segurança para lesões precursoras do câncer de colo do útero além de lesões anogenitais. Após a introdução em território Nacional da vacina quadrivalente para o HPV (6,11,16 e 18) desde 2014, ressalta-se a importância do monitoramento da cobertura vacinal e o desenvolvimento de estudos de prevalência de HPV em logo prazo, de incidência de anormalidades cervicais e lesões pré-cancerosas bem como de tendência de morbimortalidade por câncer in situ e invasivo. O incentivo às informações, aconselhamento e educação continuada é recomendado como uma estratégia para ampliar a aceitação da vacina a fim de sedimentar sua implantação e assegurar a eficácia na redução dos novos casos de câncer de colo do útero para o futuro.

Palavras-chave: HPV, vacinas contra papillomavirus, vacina quadrivalente recombinante contra HPV tipos 6, 11, 16, 18, neoplasias do colo do útero.


 

 

O câncer de colo do útero contribui com a morbimortalidade entre as mulheres na América Latina, Caribe e Brasil sendo fundamental a prevenção, detecção precoce e promoção de saúde1,2. No Brasil, com estimativas de 16.340 casos novos, sendo a segunda neoplasia mais comum na região Nordeste3. A permanência de casos novos e a alta incidência em determinadas regiões do país está relacionada à infecção por HPV (papiloma vírus humano) de alto risco oncogênico (capacidade de causar lesões pre malignas, câncer in situ e invasor), persistência de infecção além de fatores não virais como baixo nível socioeconômico, outras infecções genitais, imunossupressão e causas genéticas. A prevalência de HPV de alto risco oncogênico em territórios e populações especificas ou isoladas são descritas como fatores étnicos ou raciais existentes em nosso país2-4.

A identificação de genótipos virais e de fatores não virais do câncer de colo do útero além do estimulo a pesquisa para verificar as especificidades em cada território são fundamentais para prevenção do HPV, detecção precoce das lesões precursoras e ações em promoção de saúde como educação continuada para profissionais e educação em saúde no autocuidado da população em geral e das vulneráveis3,4.

Desde 2014, o Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde (PNI-MS) implementou a vacina quadrivalente (6,11,16 e 18) para o HPV para meninas de 9-14 anos, ampliando para mulheres que vivem com HIV até 26 anos e atualmente meninos de 12 e 13 anos e meninos e homens com HIV de 9 a 26 anos, sob orientação médica4. A prevenção primaria representada pelo uso de preservativo e vacina quadrivalente para o HPV, bem como o advento novas vacinas (como a nonavalente), representam um avanço tecnológico em saúde e um ganho para a saúde da mulher a curto e longo prazo5.

Os resultados demonstrados pelos países que adotaram a vacina relatam redução de lesões precursoras com variação de 60-80% e índices de 100% nas populações vacinadas com a quadrivalente (6,11,16 e 18) para os casos de verrugas genitais5-7.

"Optimal timing" - O momento ideal de vacinação para o HPV é recomendado antes do primeiro contato sexual de um indivíduo. A eficácia da vacina em homens e mulheres sugere que a imunização é mais efetiva entre os indivíduos que não foram infectados com HPV e reduz a morbidade de jovens mulheres relacionada às lesões precursoras e cancer in situ8.

Entretanto a cobertura vacinal na população alvo vem decrescendo desde a implantação da vacina pelo território Nacional, apresentando porcentagens abaixo de 80% na cobertura territorial da população alvo, ou seja, abaixo do esperado e recomendado pela OMS para primeira e segunda dose assegurando o efeito rebanho (benefícios da aplicação de vacinas recebidos por pessoas que não inoculadas) da vacina9.

Entender os fatores que afetam a tomada de decisão da vacinação de HPV é fundamental para que as intervenções em promoção de saúde possam ser desenvolvidas e abordem dúvidas, mitos e receios à aceitação em grupos populacionais menos susceptíveis de receber a vacina para o HPV9,10.

Os fatores que afetam a adequada cobertura vacinal em determinada população são examinados em diferentes níveis sócios territoriais que incluem político, comunitário, organização, interpessoal (relação pais e filhos) e intrapessoal (profissional)10. Em recente revisão, Ferrer et al.10, ressaltam fatores políticos, decisão de pais e responsáveis bem como o conhecimento e o aconselhamento dos profissionais de saúde como principais motivos encontrados em tomada de decisão de obter a vacina para o HPV. Ainda, estas decisões são influenciadas por considerações financeiras; normas sociais e valores relacionados com a atividade sexual; confiança nos programas de vacinação e prestadores de cuidados9,10.

As limitações financeiras em nosso sistema universal de saúde não caracterizam influência na tomada de decisão uma vez que a vacina é fornecida à população alvo sem custo11.

Nos equipamentos de saúde, o conhecimento e a habilidade de fornecer informação dos profissionais de saúde podem restringir o acesso de uma mulher jovem à vacina, independentemente de suas próprias crenças e preferências12.

Os profissionais de saúde representam em alguns estudos os principais em aconselhamento sobre a vacina. Ainda, a relação de confiança entre o profissional e àquele que toma a decisão exige comunicação e informações claras, acessíveis e, às vezes, culturalmente apropriadas sobre o programa de vacinação contra o HPV12,13.

Os pais podem decidir não permitir que suas filhas sejam vacinadas, baseadas em percepções culturais ou religiosas sobre a correlação errônea e não fundamentada da vacina como a antecipação da atividade sexual12,13.

A identificação de lacunas de conhecimento e barreiras de aceitação para a vacina do HPV entre adolescentes, pais/responsáveis e profissionais de saúde são informações necessárias para desenvolver programas de educação para a população leiga e educação continuada no processo de trabalho dos profissionais de saúde13,14.

Embora as mulheres jovens sejam fundamentais para o programa de vacinação contra o HPV, a sub-representação de suas opiniões na literatura qualitativa em pesquisa futura deve ser considerada13. A promoção de saúde deve atuar em no tripé adolescente, pais/responsáveis e profissionais de saúde integração fundamental para garantir adequada cobertura vacinal e assegurar os resultados promissores da vacina.

O periódico Journal Human Grown Development (JHGD) traz a temática promoção de saúde na divulgação científica de artigos, além de discutir mudanças necessárias no processo saúde-doença, como no estudo de Conception Of The Right To Health Of Mid-Level Technical Professionals Of Unified Health System In Brazil. O artigo relata, a concepção de saúde remanescente do modelo biologicista focado na doença e na medicalização como elementos ainda presentes da política do SUS15.

O permanente compromisso do periódico JHGD em publicar temas com foco no desenvolvimento saudável inserido no ciclo de vida da criança e do adolescente como a associação da prevalência de exposição ao flúor nas unhas das mãos das crianças com a fluorose dentária16-18 entre atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e lactentes de usuárias de drogas ilícitas19 e o adequado crescimento com o perfil lipídico20.

O periódico JHGD traz a importância do conceito de planejamento reprodutivo e planejamento pré concepcional como promoção de saúde para criança, bem como para a atual situação de gravidez na adolescência e a associação com hipertensão arterial21,22. Os direitos sexuais e reprodutivos são considerados no artigo citado sobre as repercussões do Zica vírus durante a gravidez23. No campo da saúde pública o periódico divulga a importância de identificação de risco para prover qualidade assistencial para doenças crônicas24 e não transmissíveis bem como o uso indiscriminado de antibióticos25.

Assim, a percepção e o envolvimento de crianças e adolescentes em pesquisas clínicas, o consentimento e assentimento e a tomada de decisões compartilhada devem estar presentes no desenvolvimento e planejamento de ações em promoção de saúde para esta população.

 

REFERÊNCIAS

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Endereço para correspondência:
icesopreso@usp.br

Manuscrito recebido: Dezembro 2017
Manuscrito aceito: Fevereiro 2018
Versão online: Março 2018

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