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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.29 no.2 São Paulo maio/ago. 2019

http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.v29.9417 

ARTIGO ORIGINAL

 

Efeitos de 12 semanas de intervenções interdisciplinares em parâmetros comportamentais e alimentares de adolescentes com excesso de peso ou obesidade

 

 

Lorany CostaI; Ketlin Laise RubioI; Solange Munhoz Arroyo LopesI; Andressa Tiemi de Andrade TanouyeI, II; Sônia Maria Marques Gomes BertoliniI, II; Braulio Henrique Magnani BrancoI, II

ICentro Universitário de Maringá - UNICESUMAR, Maringá, PR, Brasil
IIPrograma de Pós-Graduação em Promoção da Saúde do Centro Universitário de Maringá (PPGPS/UNICESUMAR), Maringá (PR), Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

OBJETIVO: Analisar os efeitos de 12 semanas de intervenções interdisciplinares em parâmetros comportamentais e alimentares de adolescentes com excesso de peso ou obesidade.
MÉTODO: O estudo apresenta um delineamento longitudinal e quase-experimental. Foram selecionados para participar da pesquisa 40 adolescentes com idade de 16 ± 1 anos. No entanto, apenas 17 concluíram as 12 semanas de intervenções interdisciplinares. As intervenções foram realizadas por profissionais de educação física (exercício físico três vezes por semana), fisioterapeutas (exercícios para o fortalecimento do core e posturais, três vezes por semana), nutrição (reeducação alimentar, duas vezes por semana) e terapia cognitivo-comportamental (foco na mudança de comportamento e adoção de um estilo de vida ativo, uma vez por semana). A fim de quantificar os parâmetros comportamentais dos adolescentes, foram utilizados os questionários: Body Shape Questionnaire (BSQ), teste de atitudes alimentares (EAT), escala de autoestima de Rosenberg (EAR) e escala Hamilton de ansiedade (EHA).
RESULTADOS: para a resposta 9 do BSQ: "estar com pessoas magras do mesmo sexo que você, faz você se sentir preocupada (o) em relação ao seu físico? " Foi identificada redução significativa das respostas atribuídas pelos adolescentes no momento pós-intervenção (p<0,05), assim como para a EHA, na questão 3: medo - de escuro, de desconhecidos, de multidão, de ser abandonado, de animais grandes, de trânsito", com valores inferiores (p<0,05), após as intervenções interdisciplinares
CONCLUSÃO: As intervenções interdisciplinares resultaram em melhoras na imagem corporal em relação à percepção do estado físico, bem como em uma diminuição do medo apresentado pelos adolescentes. As 12 semanas de intervenções apresentaram ligeiras mudanças no comportamento dos adolescentes analisados no presente estudo.

Palavras-chave: comportamento alimentar, pesquisa interdisciplinar, saúde do adolescente.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

O presente estudo foi delineado a fim de investigar os efeitos de uma intervenção interdisciplinar em parâmetros comportamentais e alimentares de adolescentes com excesso de peso ou obesidade. Tratando-se de uma doença crônica de etiologia multifatorial, identificar eventuais mudanças em parâmetros de saúde mental, tornam-se relevantes para entender as respostas da abordagem de intervenção proposta.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Os pesquisadores trabalharam com a terapia cognitivo-comportamental, reeducação alimentar, reabilitação física e exercícios resistidos. A terapia cognitivo-comportamental foi realizada 1x por semana, a reeducação alimentar 2x por semana, a reabilitação física e exercícios físicos foram consumados 3 x por semana. Todas as atividades foram desenvolvidas ao longo de 12 semanas de intervenção. Os pesquisadores identificaram pequenas melhorias em parâmetros advindos do Body Shape Questionnaire e da escala Hamilton de ansiedade. Entretanto, não foram verificadas alterações para a autoestima e tampouco para as atitudes alimentares.

O que essas descobertas significam?

Com base nas respostas do presente estudo, 12 semanas de intervenções interdisciplinares são incipientes para propiciar grandes diferenças nas variáveis de insatisfação corporal e ansiedade. Além disso, o referido período não suscitou alterações para a autoestima e atitudes alimentares. Considerando os pontos elencados, novos estudos com períodos de intervenções mais prolongados e/ou com maior número de sessões/semana e até mesmo, com a participação dos pais, tornam-se substanciais, com a intenção identificar possíveis melhorias nos parâmetros de saúde mental investigados.

 

INTRODUÇÃO

A obesidade é definida como o acúmulo de massa de gordura, causada por um balanço positivo de calorias, em que a ingestão é superior ao gasto energético, e pode ser classificada de acordo com o índice de massa corpórea (IMC), que utiliza para cálculo o peso corporal (P) dividido pela estatura (E) ao quadrado (P/E2), sendo um indicador positivo para obesidade, quando o resultado for igual ou superior a 30,0 kg/m2, para não atletas1-3. A indicação de obesidade em adolescentes, de 10 a 19 anos, utiliza curvas de classificação em consonância com a Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo idade (em meses), sexo e IMC, com as seguintes classificações, de acordo com percentis: a) sobrepeso: a partir de p85 e menor que p97; b) obesidade: maior que p97 e menor que p99,9 e c) obesidade grave: acima de p99,9. Além disso, outra classificação usada é a tabela proposta por Cole et al.4 que separa as crianças e adolescentes, em faixas de corte.

A obesidade é considerada uma doença crônica não transmissível (DCNT), multifatorial e progressiva5. Para a OMS, a obesidade é considerada um dos problemas mais sérios e desafiadores para a saúde pública global6. O Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) apresentou dados que demonstram como, nos últimos 10 anos, a obesidade teve um aumento de 60%, passando de 11,8%, em 2006, para 18,9%, em 20167. De modo semelhante, a pesquisa realizada pelo Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA), apresentou uma prevalência de obesidade de 8,4% em adolescentes entre 13 e 17 anos, totalizando 1,1 milhões de adolescentes obesos no Brasil8. Em vista disso, verifica-se que a prevalência da obesidade em diferentes faixas etárias é alarmante e, em decorrência disso, são substanciais as propostas de intervenção para a prevenção e tratamento desse problema de saúde pública.

Dentre os inúmeros problemas que podem ser observados com a obesidade apresentam-se: o sedentarismo, a ansiedade, a compulsão alimentar, o consumo exagerado de alimentos ultraprocessados, dentre outros9. Adicionalmente, em adolescentes, a obesidade é causada por diversos outros fatores, associados a alterações pubertárias, baixa autoestima, preferência por alimentos industrializados ricos em açúcares, gorduras, o quais são excessivamente calóricos, como por exemplo: fast-foods, salgadinhos, bolachas e outros alimentos que denotam elevada palatabilidade10.

Por outro lado, os alimentos saudáveis são associados a uma alimentação restritiva e pouco saborosa para os adolescentes, fator que leva à redução de seu consumo11. Associada a esses aspectos, vê-se uma redução progressiva no nível de atividade física (AF) combinada com aumento do tempo dedicado às atividades de baixa intensidade, como assistir televisão, usar computador e jogar videogame10-12.

Nessa conjuntura, a mídia tem extrema influência na busca alimentar da população brasileira, sendo responsável por 40% das escolhas alimentares, seguida por nutricionistas e médicos com 20%, internet com 19% e o restante de demais fontes, como amigos, família, revistas e jornais11. Nesse sentido, é por meio de campanhas publicitárias nas diversas mídias sociais que são apresentados padrões de beleza extremamente saudáveis e magérrimos, levando alguns adolescentes a denotar grande insatisfação e frustração com o seu próprio corpo13,14. Complementarmente, aqueles que não se enquadram no padrão de beleza atual passam a ser vítimas de preconceitos, rejeição e insatisfação pessoal, em consequência, isso acarreta diversos distúrbios psicológicos como a ansiedade, compulsões alimentares e baixa autoestima13,14.

Com efeito, a ansiedade, a compulsão alimentar e a baixa autoestima, impactam diretamente na imagem corporal dos adolescentes, que manifestam uma imagem distorcida de si mesmos e da percepção real de seu próprio corpo, gerando buscas constantes por dietas restritivas para emagrecerem (nenhuma delas é eficaz e tampouco saudável), provocando sentimento de frustração por não obter resultados consistentes15.

Assim, o objetivo do presente estudo foi analisar os efeitos de 12 semanas de intervenções interdisciplinares em parâmetros comportamentais e alimentares de adolescentes com excesso de peso ou obesidade.

 

MÉTODO

Metodologia

O estudo apresentou um delineamento longitudinal, quase-experimental e quantitativo. A partir de divulgações em mídias eletrônicas, jornais e televisão, Foi comunicado aos moradores da região metropolitana de Maringá/PR a proposta do presente estudo que objetivou reduzir os diferentes impactos causados pela obesidade em adolescentes.

Após o processo de divulgação, adolescentes com idade de 16 ± 1 anos, residentes na cidade de Maringá (PR), realizaram a inscrição para participar das 12 semanas de intervenções interdisciplinares. As intervenções foram realizadas em grupo, por profissionais de educação física (exercício físico três vezes por semana, durante 60 min, por sessão), fisioterapeutas (foco na correção postural e core, três vezes por semanal, durante 30 min, por sessão), nutrição (reeducação alimentar, duas vezes por semana, durante 45 min, por sessão) e psicologia (teoria cognitivo-comportamental, durante 60 min, uma vez por semana). Durante todas as intervenções, foram abordados pontos alusivos à promoção da saúde nas esferas biopsicossociais. O estudo intitulado "Programa Multidisciplinar para o Tratamento da Obesidade em Adolescentes: Ensaio de Eficácia" foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa local: nº: 2.505.200/2018. Todos os adolescentes assinaram o termo de assentimento, sendo que seus respectivos pais ou responsáveis autorizaram os filhos, por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A pesquisa seguiu todas as recomendações da resolução nº. 466/2012 do Ministério da Saúde e a declaração de Helsinque.

Questionários Utilizados

Os questionários abordados foram: o questionário sobre a imagem corporal (Body Shape Questionnaire - BSQ), teste de atitudes alimentares (EAT), a escala de autoestima de Rosenberg (EAR) e escala Hamilton de ansiedade (EHA). Abaixo, estão detalhadas as informações de cada um desses instrumentos16-19.

Questionário sobre a Imagem Corporal

O Body Shape Questionnaire (BSQ), contém 34 questões com o objetivo de mensurar a satisfação e as preocupações com a forma do corpo, organizados numa escala tipo likert de seis pontos, com as classificações: nunca, raramente, às vezes, frequentemente, muito frequentemente e sempre (que engloba categorizações de 1 até 6)16,20.

Teste De Atitudes Alimentares (EAT)

O teste de atitudes alimentares foi inicialmente desenvolvido em 197921, adaptado em 198222 e traduzido para a língua portuguesa, validado com adolescentes do sexo feminino em 200323 e possui 26 itens com ponto de corte de 21 (vinte e um) pontos como sendo indicador positivo (EAT-26+) da possibilidade de existência de distúrbios alimentares23. Organizados numa escala tipo likert de seis pontos, com as classificações: nunca, raramente, às vezes, frequentemente, muito frequentemente e sempre (que engloba enumeração de 0 até 5). A avaliação das respostas do EAT-26 é feita atribuindo-se três escores para cada item em que foi marcada a resposta mais extrema ("sempre"), dois escores para a segunda resposta mais extrema ("muito frequentemente") e um escore para a terceira mais extrema ("frequentemente"); as demais respostas não são pontuadas. A questão de número quatro apresenta uma particularidade, pois a pontuação é feita ao contrário, ou seja, "as vezes" equivale a um ponto, "raramente" equivale a dois pontos e "nunca" equivale a três pontos, sendo que as demais respostas não são pontuadas. Isso ocorre somente na questão quatro. Aplicado o instrumento, os escores obtidos em cada questão do EAT-26 são somados e computados para cada pessoa avaliada. Caso o total de escores encontrado seja maior que 21 (vinte e um), o EAT-26 é considerado positivo (EAT-26+) e confirmada a presença de atitudes alimentares patológicas e risco para o desenvolvimento de distúrbios de atitudes alimentares23.

A escala de autoestima de Rosenberg (EAR)

A Escala de Autoestima de Rosenberg foi criada em 1989 e adaptada para adolescentes em 2000, sendo composta por 10 questões, em que as alternativas de respostas são: discordo totalmente, discordo, concordo e concordo totalmente com a afirmativa apresentada, com o objetivo de verificar a satisfação consigo mesmo. As alternativas são divididas em cinco questões positivas (um, dois, quatro, seis e sete) e cinco questões negativas (três, cinco, oito, nove e 10)18.

Escala Hamilton de Ansiedade (EHA)

O questionário de ansiedade foi ciado em 1959, na qual as referidas questões servem para identificar a gravidade dos sintomas depressivos, e não sua existência. O questionário possui 14 itens com respostas de zero a quatro, em que: zero (0) indica que o sintoma está ausente, um (1) indica que o sintoma está com intensidade média baixa, dois (2) indica que o sintoma está com intensidade média alta, três (3) sintomas estão com intensidade forte e quatro (4) indica que o sintoma está com intensidade incapacitante24.

Análise Estatística

Previamente, a normalidade dos dados foi testada por meio do teste de Shapiro-Wilk. Após a referida confirmação, os dados foram apresentados pela média (µ) e desvio padrão (S). Posteriormente, utilizou-se o teste-t pareado para a comparação dos valores pré e pós-intervenção, assumindo-se um nível de significância de 5%. As analises estatísticas foram consumadas por meio do pacote estatístico IBM SPSS Statistics 22.0 (International Business Machines, IBM, Estados Unidos da América).

 

RESULTADOS

Foram recebidas 40 inscrições de adolescentes, com idade de 16 ± 1 anos de idade. No entanto, apenas 17 deles concluíram as 12 semanas de intervenções interdisciplinares. Os outros 23 adolescentes resolveram desistir do projeto na primeira reunião realizada. Na Tabela 1 são apresentadas as respostas pré e pós intervenção para o questionário BSQ, o qual aborda a percepção da imagem corporal dos adolescentes. Os resultados decorrentes das 12 semanas de intervenção apontaram diferença significativa para a questão 9 do BSQ: "Estar com pessoas magras do mesmo sexo que você, faz você se sentir preocupada (o) em relação ao seu físico?" na qual foram detectados valores inferiores após o respectivo período quando comparado com os valores pré-intervenção (p<0,05); para as demais questões do respectivo questionário, não foram observadas diferenças significativas (p> 0,05) (Tabela 1).

Na Tabela 2 são verificadas as respostas do questionário EAT antes e após as 12 semanas de intervenções interdisciplinares. No entanto, para o questionário supramencionado, não foram identificadas diferenças significativas para nenhuma das 26 questões abordadas (p> 0,05), quando comparado os valores pré e pós-intervenção.

Na Tabela 3, são descritas as respostas pré e pós-intervenção relativas ao questionário EAR. Todavia, não foram identificadas quaisquer diferenças significativas para as 10 questões tratadas (p> 0,05), no questionário citado entre os dois momentos de mensuração.

Na Tabela 4, são apresentados os resultados da aplicação da EHA antes e após o período de intervenção interdisciplinar para o tratamento do excesso de peso ou obesidade em adolescentes de Maringá/PR. Nesse aspecto, as comparações pré e pós-intervenção mostraram diferenças significativas para a questão 3: "medo - de escuro, de desconhecidos, de multidão, de ser abandonado, de animais grandes, de trânsito", com valores inferiores após o período de intervenção, quando comparado aos valores pré-intervenção, com p< 0,05.

 

DISCUSSÃO

Em consonância com os objetivos do presente estudo, os quais foram: analisar os efeitos de 12 semanas de intervenções interdisciplinares em parâmetros comportamentais e alimentares de adolescentes com excesso de peso ou obesidade identificaram-se: a) reduções da preocupação em estar com pessoas magras do mesmo sexo, no que diz respeito ao BSQ e b) valores inferiores para a sensação de medo em diferentes situações, no que concerne ao EHA. Conquanto, não foram detectadas outras diferenças significativas para as demais questões do BSQ e EHA, com p> 0,05. Similarmente, também não foram averiguadas quaisquer diferenças para as respostas aos questionários: EAT e EAR, com p> 0,05.

A atenuação analisada no momento pós-intervenção na questão do BSQ: "Estar com pessoas magras do mesmo sexo que você, faz você se sentir preocupada (o) em relação ao seu físico?", sugere estar concatenada ao aumento da autoestima dos participantes, como demonstra o resultado pós-intervenção do respectivo questionário. Nessa perspectiva, evidências apontam que adolescentes obesos possuem níveis de autoestima significativamente inferiores aos não-obesos, especialmente em meninas25,26. Portanto, a elaboração de intervenções para a promoção de mudanças comportamentais, são substanciais nessa faixa etária da população. Além disso, o presente estudo nos apresenta que o grupo de convívio do adolescente e o aumento do conhecimento possibilitado pela intervenção: conhecimento nutricional e do próprio estado físico, pode proporcionar maior satisfação corporal dos adolescentes27, corroborando, desse modo, para a redução da preocupação em estar com pessoas mais magras e do mesmo sexo.

Simultaneamente, as intervenções conduzidas apresentaram o modelo multiprofissional e interdisciplinar. Relativamente ao processo com centrado na mudança de comportamento, utilizou-se a terapia cognitivo-comportamental, dado que a literatura sugere que o referido modelo de acompanhamento tem apresentado efetividade no tratamento de diferentes DCNT's28,29. Em vista disso, com o propósito de apresentar resultados duradouros na vida do adolescente, contribuir para a mudança permanente do comportamento nutricional e adoção de um estilo de vida ativo, as mudanças comportamentais são indispensáveis, pois objetivam minimizar eventuais recaídas30.

Em um estudo publicado sobre o transtorno de ansiedade, foi apresentado que o medo, especialmente em obesos, está associado à insegurança diante de diversas situações, como por exemplo: ser excluído de ocasiões, medo de estar em multidões, de criar inimizades, dentre outros31. Por sua vez, após a intervenção, os adolescentes tiveram uma melhora significativa no que concerne à resposta apresentada no questionário de ansiedade, sugerindo que os jovens se sentiram mais seguros após o período de atendimentos. Complementarmente, verifica-se que a educação em saúde com enfoque nos parâmetros psicossociais proporciona melhora na autoestima, podendo tornar os adolescentes mais seguros e satisfeitos com seu próprio corpo32. Logo, no decurso de um período pleno de mudanças físicas e psicológicas que é a adolescência, pode-se aumentar a disposição para socialização e melhoria da autoestima33-35.

Dos participantes que concluíram as intervenções, foram identificados que 23 adolescentes desistiram do processo de tratamento. Estudos apresentam que diversos fatores da vida do adolescente influenciam diretamente no resultado da intervenção, como por exemplo: apoio do grupo familiar ou/e de amigos que o adolescente está inserido, interação com a mídia e internet, postura do profissional perante a relação com o adolescente e o período de atendimento36-38. Dessa forma, intervenções mais prolongadas podem ser testadas, a fim de averiguar eventuais mudanças comportamentais. Em vista disso, acredita-se que o tempo de exposição e imersão na proposta de mudança de comportamento, pode impactar diretamente nos resultados encontrados. Suplementarmente, as intervenções interdisciplinares tornam-se mais eficazes para adolescentes quando comparadas à intervenção disciplinar no tratamento do excesso de peso e obesidade36. Como resultado, a abordagem interdisciplinar deve ser estimulada para tratar a obesidade que denota origem multifatorial. Outro ponto que deve ser destacado é a participação da família no processo de tratamento. Indubitavelmente, a pesquisa publicada por Fonseca et al.39 indicou a imprescindibilidade da participação da família no processo de tratamento da obesidade, com a finalidade de melhorar satisfatoriamente a saúde e qualidade de vida do adolescente. Subsequentemente, é notório destacar que durante o tratamento em grupo, torna-se primordial também que os profissionais atuantes olhem para o adolescente subjetivamente e individualmente, ao estimular o aumento do consumo de alimentos in natura, incorporação de um estilo de vida ativo e nomeadamente utilizar estratégias heterogêneas, fundamentadas nas características peculiares de cada paciente37,38.

Ademais, indica-se que a prática de AF não deve ser consumada apenas nos programas de tratamento do excesso de peso e obesidade. A recomendação para a prática de AF envolve o cumprimento de 60 min de exercícios moderados a vigorosos por dia, nessa faixa etária da população40. Do mesmo modo, as mudanças comportamentais são elementares para o sucesso do programa de tratamento. Um recente estudo publicado pela força tarefa sobre "intervenções comportamentais para prevenir a morbidade e mortalidade em decorrência da obesidade"41 sugere que o aconselhamento, estímulo a prática de AF, mudanças comportamentais e a reeducação alimentar são pilares determinantes para a manutenção do peso corporal41. Por consequência, o atendimento multiprofissional e interdisciplinar se faz indispensável no tratamento do excesso de peso e, sobretudo, para a obesidade.

Magnani Branco et al.42 identificaram que as intervenções interdisciplinares compostas por profissionais de educação física, fisioterapia, nutrição e psicologia impactaram positivamente na redução de circunferências, massa gorda e percentual de gordura corporal de adolescentes do sexo masculino (n = 19), após 12 semanas de tratamento. Os autores supracitados compararam duas abordagens de exercício físico, uma com o peso corporal e outra utilizando aparelhos de musculação, as quais apresentaram resultados similares. Destarte, com poucos recursos materiais é possível combater o sedentarismo e melhorar a qualidade de vida da população. Por conseguinte, dentre os vários benefícios causados pela AF, destacam-se: a melhoria do bem-estar e sono, o desenvolvimento cognitivo e intelectual, o aumento do rendimento escolar, bem como a redução da prevalência às DCNT's, estresse e depressão43-46.

Finalmente, as 12 semanas de intervenção expuseram poucas mudanças significativas nos parâmetros analisados no presente estudo. Propõe-se, à vista disso, intervenções com maior duração, i.e., 16, 20, 24 semanas ou até mesmo, constantes. Tendo em vista as limitações, elencam-se: a) atendimentos foram realizados apenas com os adolescentes sem a família e b) a universidade não consegue absorver uma demanda elevada de participantes. Em adição, destaca-se que os profissionais que trabalham diretamente na promoção da saúde, prevenção e tratamento das DCNT's, por vezes não possuem acesso aos periódicos científicos. Por isso, a elaboração de cartilhas, folders, panfletos e materiais educativos são vitais para integralização entre os centros de pesquisa, com os serviços de atenção básica à saúde.

 

CONCLUSÃO

A intervenção interdisciplinar resultou na melhoria da imagem corporal em relação à percepção do estado físico e uma redução do medo apresentado pelos adolescentes. Para as demais variáveis avaliadas neste estudo, os participantes não apresentaram melhora significativa. Desta forma, salienta-se que retroalimentação das intervenções, com inclusão da família, requere ser incorporada com a intenção de propiciar resultados mais expressivos nos parâmetros avaliados e igualmente, na qualidade de vida dos adolescentes.

 

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Endereço para correspondência:
braulio.branco@unicesumar.edu.br

Manuscrito recebido: Novembro 2018
Manuscrito aceito: Maio 2019
Versão online: Outubro 2019

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