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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.29 no.3 São Paulo set./dez. 2019

http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.v29.9536 

ARTIGO ORIGINAL

 

Nível de atividade física e coordenação motora de escolares em diferentes estágios maturacionais

 

 

Ayrton Bruno de Morais FerreiraI; Jason Azevedo de MedeirosI; Rafaela Catherine da Silva Cunha de MedeirosI; Luiz Afonso Rangel SerranoI; Vanessa Carla Monteiro PintoII; Matheus DantasII; Paulo Moreira Silva DantasII

ICentro Universitário do Rio Grande do Norte, departamento de Educação Física - Rua Prefeita Eliane Barros, 2000, Tirol. Natal / RN, Brasil
IIUniversidade Federal do Rio Grande do Norte, departamento de Educação Física - Av. Senador Salgado Filho, 3000, Campus Universitário Lagoa Nova. Natal / RN, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: Estudos e debates na área do desenvolvimento motor revelam que o esporte e a atividade física desenvolvem e melhoram as habilidades motoras. Esses estudos buscam compreender as mudanças que ocorrem com o movimento, o qual se torna mais complexo à medida que se desenvolve através da atividade física.
OBJETIVO: Comparar o nível de atividade física e coordenação motora de escolares em diferentes estágios maturacionais e relacionar o nível de atividade física com a coordenação motora de jovens.
MÉTODO: Pesquisa descritiva com corte transversal. Participaram do estudo 46 indivíduos do sexo masculino, com idades entre 10 e 14 anos. Foi aplicado o questionário de Atividade Física Habitual de Baecke; o estágio de maturidade foi verificado através da Equação de Predição da Maturação Puberal; a composição corporal foi avaliada através do protocolo de Guedes para crianças e adolescentes; por fim, o desempenho coordenativo foi classificado por meio da bateria de testes Korperkoordinationstest fur Kinder (KTK).
RESULTADOS: Houve diferenças significativas para as variáveis Idade e Estatura entre todos os estágios: P3, P4 e P5 de maturação. As diferenças encontradas na massa corporal ocorreram apenas entre os estágios P3 e P5; P4 e P5. Observou-se também que não foram encontradas diferenças significativas para a coordenação motora entre os estágios de maturação. O mesmo ocorreu quando os índices de atividade física foram comparados.
CONCLUSÃO: Não existe diferença no nível de atividade física entre os estágios 3, 4 e 5 da maturação sexual, assim como o estágio maturacional não parece influenciar o nível de coordenação motora de jovens escolares.

Palavras-chave: atividade motora, destreza motora, desenvolvimento sexual.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

Este estudo foi o trabalho de conclusão de curso em Educação Física - Licenciatura, do autor Ayrton Bruno. A escolha da temática ocorreu por meio da observação do autor, enquanto estagiário da rede privada de ensino básico, do desinteresse pela prática de atividades físicas por parte de crianças e adolescentes na última década.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Buscou-se comparar o nível de atividade física e coordenação motora de escolares em diferentes estágios maturacionais e relacionar o nível de atividade física com a coordenação motora. Foi observado que não existe diferença no nível de atividade física entre os estágios 3, 4 e 5 da maturação sexual, assim como o estágio maturacional não parece influenciar o nível de coordenação motora de jovens escolares. Além disso, foi identificada uma associação entre o nível de atividade física escolar e de lazer com o desempenho de coordenação.

O que essas descobertas significam?

Significam que o professor de Educação Física Escolar pode trabalhar com o desenvolvimento da coordenação motora durante as fases de todos os estágios de maturação sexual, diferentemente do desenvolvimento das capacidades físicas, que possuem períodos sensíveis de adaptação.

 

INTRODUÇÃO

Na última década o perfil de atividade física em adolescentes e crianças tem mudado consideravelmente e os adolescentes apresentam um perfil cada vez mais sedentário1. O baixo nível de atividade física (NAF) pode promover ocorrência de doenças crônicas, distúrbios e disfunções orgânicas2-4. Dentre os fatores que influenciam, o uso abusivo de smartphones5, uso de TV, computador e jogos eletrônicos6 tem estimulado um estilo de vida sedentário em cerca de 61,8% do tempo em vigília7. Embora uma recente revisão de literatura apontou que programas de saúde na escola podem estimular um estilo de vida mais ativo em jovens8, ainda é necessária uma compreensão mais afundo dos fatores que interferem no NAF de jovens e como esse estilo de vida pode afetar o componente físico e motor dos jovens.

Em consequência, as atividades das crianças, como correr, saltar, dançar ou andar de bicicleta, possibilitam um grande volume de atividade e uma ampla variedade de movimentos9. Vivenciar uma ampla variedade de movimentos pode ajudar as crianças não só no desenvolvimento da autopercepção, como também a perceber o ambiente que as rodeiam10. Além disso, aprendem mais facilmente novos movimentos, obtendo mais sucesso nas atividades realizadas e retirando delas mais prazer11. Vale ressaltar que a maior experiência também pode promover benefícios quanto às capacidades físicas dos jovens, pois quanto maior o nível de complexidade de uma tarefa motora, maior o nível de coordenação necessário para um desempenho eficiente12. Dessa forma, é possível hipotetizar que a experiência motora desenvolvida previamente por meio das atividades diárias pode auxiliar no cumprimento de tarefas complexas.

Vale salientar que o processo de desenvolvimento motor se revela basicamente por alterações no comportamento motor ao longo do ciclo de vida, proporcionado pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente12. Portanto, o processo maturacional é um mecanismo biológico importante que influencia nas capacidades físicas13 e no nível de atividade física14. O processo de maturidade interfere diretamente na composição corporal de jovens15, que juntamente com barreiras percebidas e auto eficácia apresentaram relação indireta, na associação entre status puberal e NAF14.

Sendo assim, a realização deste estudo se justifica considerando a importância e necessidade de identificar os níveis de coordenação motora de crianças e adolescentes em idade escolar, pois permite detectar possíveis déficits na coordenação e, a partir disso, adotar estratégias que possam contribuir para o desenvolvimento motor, saúde e qualidade de vida do público em questão.

Dessa forma, o objetivo é comparar o nível de atividade física e coordenação motora de escolares (de 10 a 14 anos) em diferentes estágios maturacionais e relacionar o nível de atividade física com a coordenação motora de jovens.

 

MÉTODO

Trata-se de estudo transversal16. A amostra foi composta por 46 indivíduos do sexo masculino selecionados de forma intencional e não probabilística. Para ser incluído na amostra, o participante deveria possuir idade cronológica entre 10 e 14 anos, entregar os termos de consentimento (TCLE) e assentimento livre e esclarecido (TALE) devidamente assinados e não apresentar problemas de saúde e/ou deficiência, física ou mental, que impossibilitasse a realização dos testes ou pudesse ser fator de confundimento na análise dos dados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (parecer n° 1249937/2015). Todo o procedimento de coleta de dados respeitou a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, assim como foi atendido os termos éticos contidos na declaração de Helsinque.

As avaliações foram realizadas em um único dia no ambiente escolar. Inicialmente os participantes passaram pela avaliação do nível de atividade física. Foi usado o questionário de atividade física habitual previamente validado para jovens17. O questionário foi inicialmente proposto por Baecke et al.17, sendo composto por 16 questões que abrangem três índices de atividade física habitual dos últimos 12 meses: 1) índice de atividades físicas ocupacionais na escola (IAFE) com oito questões; 2) índice de exercícios físicos no lazer (IAFLA) com quatro questões; 3) índice de atividades físicas de locomoção, excluindo exercícios físicos (IAFL), com quatro questões. Por fim, o índice de atividade física habitual (IAFH) é obtido pela soma dos três índices citados anteriormente (IAFH = IAFE + IAFLA + IAFL). Todos os participantes receberam as mesmas instruções para a compreensão do questionário.

Em seguida, foram mensuradas as medidas de Massa corporal, estatura, altura tronco-cefálica; perímetros do pescoço, antebraço e cintura; alturas ósseas acrômio-radial e tibial; diâmetro femoral; dobras cutâneas tricipital e subescapular. Todas as medidas seguiram as diretrizes da International Society for the Advancement of Kineanthropometry (ISAK)18. A massa corporal e estatura foram avaliadas por meio de uma balança com estadiômetro acoplado (marca Welmy®) com precisão de 100g e 1cm, respectivamente; as medidas de perimetria e altura tronco-cefálica foram realizadas utilizando uma trena antropométrica inelástica com precisão de 1 mm (marca Sanny®); os diâmetros e alturas ósseas foram verificados a partir de um Paquímetro metálico com precisão de 1 mm (marca Sanny®). As dobras cutâneas foram mensuradas a partir de um Adipômetro científico (marca Sanny®).

Os dados antropométricos foram usados na equação de predição da maturação puberal proposta por Medeiros et al.19 (Equação 1), no qual apresenta uma alta concordância com o método de avaliação das genitálias (ICC= 0,840). Com o resultado, os participantes foram estratificados de acordo com o estágio de maturação sexual. Todos os participantes se classificaram em estágio 3 ou superior.

Para avaliação da composição corporal foi utilizado o protocolo de Guedes, para crianças e adolescentes de 7 a 18 anos com a somatória de duas dobras cutâneas (tricipital e subescapular)20 em rapazes brancos e negros (Tabela 1).

Após avaliação das características antropométricas, os participantes se deslocaram para uma quadra coberta, em que realizaram a bateria de testes KTK (Korperkoordinationstest fur Kinder)21. O KTK pode ser utilizado com crianças entre 5 e 14 anos e é composto por quatro tarefas (trave de equilíbrio, saltos monopedais, saltos laterais e transferência sobre plataforma) com alta confiabilidade (ICC= 0.90)21. Os conteúdos das tarefas apresentam dificuldades que aumentam na medida em que os indivíduos se tornam mais velhos. A diferenciação por idades segue os seguintes critérios: 1) aumento da altura ou distancia; 2) aumento da velocidade; 3) maior precisão na execução, medida em função do maior número de acertos num determinado número de tentativas21. Para a análise, o resultado final foi transformado em quocientes motores (QM) baseado na tabela normativa proposta por Gorla; Araujo e Rodrigues22.

Análise estatística

A normalidade dos dados foi testada por meio do teste Shapiro-Wilk e análise de assimetria e curtose (-1,96 até 1,96). A seguir foi realizado o teste de Kruskall-Wallis para comparar as variáveis antropometria, nível de atividade física e desempenho no Korperkoordinationtest fur kinder (KTK) entre os estágios maturacionais. Correlação de Spearman foi usado para verificar a relação entre o nível de atividade física e a coordenação. Para todas as análises foram adotadas o nível de significância em 5% (p valor < 0,05).

 

RESULTADOS

Do total da amostra, onze jovens foram classificados no estágio três, vinte e dois foram classificados no estágio quatro e treze foram classificados no estágio cinco. A figura 1 apresenta o comportamento das variáveis antropométricas de acordo com os estágios de maturação sexual. Idade e estatura apresentaram diferença estatística significativa entre todos os grupos, enquanto que massa corporal diferiu apenas nos grupos P3 e P4 quando comparado com o grupo P5. Não foi verificada diferença no percentual de gordura entre os estágios de maturação (Figura 1).

 

 

A Figura 2 apresenta os Índices de Atividade física e de Atividade Física Habitual de acordo com os estágios de maturação sexual. Não foi verificada diferença estatística no nível de atividade física escolar (H= 3,005; p=0,223), no nível de atividade física no lazer (H= 3,005; p=0,223) e no nível de atividade física de locomoção (H= 3,952; p= 0,139). Também não foi verificada diferença estatística no nível de atividade física habitual (H= 0,611; p=0,737) (Figura 2).

 

 

A figura 3 reporta a comparação dos desempenhos do teste KTK entre os estágios de maturação. Não foi verificada diferença estatística no teste de equilíbrio (H= 0,594; p=0,743), saltos monopodais (H= 5,611; p=0,060), saltos laterais (H= 1,317; p= 0,518) e transferência sobre plataforma (H= 1,869; p= 0,393) (Figura 3).

Não foi verificada associação linear entre desempenho no teste de equilíbrio e índice de atividade física escolar (IAFE: r= -0,019; p= 0,901), assim como não ocorreu para o índice de atividade física de lazer (IAFLA: r= -0,019; p= 0,901) e de locomoção (r= 0,077; p= 0,804). Entretanto, o desempenho de saltos monopodais se associou tanto com atividade física na escola (r= 0,438; p= 0,002), como atividade física no lazer (r= 0,438; p= 0,002), mas não para o domínio da locomoção (r= -0,066; p=0,663). O mesmo padrão ocorreu para saltos laterais com atividade física na escola (r= 0,368; p= 0,012), no lazer (r= 0,368; p= 0,012) e de locomoção (r= 0,282; p= 0,057). Transferência sobre plataforma se associou com atividade física escolar (r= 0,492; p= 0,001) e lazer (r= 0,492; p= 0,001), mas não com as atividades de locomoção (r= 0,086; p= 0,569) (Tabela 2).

 

DISCUSSÃO

Os dados do presente estudo reportam um aumento linear da idade e estatura entre os estágios maturacionais (i.e., P3 < P4 < P5). Também foi demonstrado que os participantes que se encontram no estágio mais acelerado possuem maior massa do que seus pares menos maturados (P5 > P4 e P3), além do que não há diferença no percentual de gordura entre os grupos. O nível de atividade física também foi similar entre os grupos, assim como o desempenho no teste de coordenação. Além do mais, foi identificada uma associação entre o nível de atividade física escolar e de lazer com o desempenho de coordenação.

A maturação parece ser um importante fator de alterações na composição corporal durante a adolescência23. Ao longo do desenvolvimento na adolescência, é possível observar um aumento linear da massa magra em ~54%, da massa gorda em ~19% e a menor variação ocorreu para o percentual de gordura, com diminuição de ~11% do estágio 3 para o estágio 5. O autor também mostra uma forte relação entre as mudanças nos níveis de testosterona com os ganhos de massa magra. De fato, questões hormonais são fortemente ligadas com o processo maturacional.

Cole et al.24 desenvolveram uma curva do comportamento das concentrações séricas de testosterona e IGF-1 em 54 crianças, com acompanhamento dos 8 aos 16 anos. Por volta dos 13 anos foi verificado um aumento da secreção dos hormônios, ocorrendo bem próximo ao pico de velocidade de crescimento. Além do mais, os hormônios apresentaram fortes correlações com estatura e com os estágios genitais e de pilosidade (r= ~0,77 - 0,94). Portanto, parece que o processo maturacional nos jovens é mediado por hormônios que induzem mudanças nas características de composição corporal.

Apesar de não ter ocorrido diferença estatisticamente significativa entre os estágios maturacionais para o IAFH, pode-se perceber uma redução nos valores absolutos entre os estágios 4 e 5. É provável que os aspectos sociais e culturais possam influenciar no padrão comportamental, tendo como consequência o declínio dos níveis de atividade física com o aumento da idade25. Um dos fatores sociais que pode ajudar a entender a redução do NAF é a alteração que se analisa ao longo da idade nos modelos que orientam os comportamentos dos adolescentes. Enquanto na infância a família parece ser o primeiro e o mais poderoso agente socializador na transmissão de valores, comportamentos e normas, a entrada na adolescência leva os adolescentes a desenvolverem um sentido de autonomia e independência; acarretando, na maioria das vezes, no distanciamento dos seus pais, o que pode alterar seus modelos e valores, vindo a influenciar negativamente nos comportamentos e estilos de vida saudáveis26. Outro aspecto do envolvimento social na adolescência é a escola e, mais especificamente, a disciplina e o professor de Educação Física. De fato, os adolescentes empregam cotidianamente uma grande parte do seu tempo na escola, estando sujeitos a várias influências positivas e/ou negativas que poderão condicionar os seus hábitos de atividade física26.

Nesse sentido, tendo em vista a associação entre nível de atividade física escolar e de lazer com o desempenho de coordenação, os professores de Educação Física devem possibilitar o desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e motor em suas aulas, utilizando-se de conteúdos como os jogos, as danças, as ginásticas, as lutas e os esportes27, uma vez que, crianças e adolescentes sempre estão prontos para algum tipo de experiência, contudo a seleção e provisão de estímulos que desencadeiem a resposta esperada são de responsabilidade do professor28. Sendo assim, um dos objetivos da Educação Física Escolar é o de fazer crianças e adolescentes aprenderem o movimento, pelo movimento e para o movimento27. Desse modo, a avaliação física deve ser levada em consideração em qualquer programa de Educação Física, pelo fato de proporcionar a oportunidade dos professores medirem as potencialidades e progressos dos estudantes29.

Com relação a coordenação motora, os resultados encontrados mostraram que não houve diferença significativa nos níveis de coordenação motora, quando comparados aos diferentes estágios maturacionais. As mudanças no estágio maturacional induzem mudanças morfofisiológicas no organismo, porém essas alterações são mais relacionadas com as ações de produção de força máxima ou de potência (e.g., aumento no percentual de fibras tipo 2 e aumento da atividade da creatina quinase)30,31. Estudos prévios demonstraram relação entre a maturação e a força explosiva de membros superiores e inferiores32-34. Entretanto, quanto as capacidades coordenativas, outros fatores podem ter maior relevância, como o tipo de programa de treinamento e a idade de treino do indivíduo. Vale salientar que poucos estudos buscaram utilizar os estágios maturacionais em conjunto com os testes de coordenação motora35,36.

Freitas et al.35 objetivaram analisar a contribuição da maturação esquelética no desempenho dos testes do KTK em crianças de 7 a 10 anos de idade, tendo como resultado coeficientes de correlação negativos, concluindo que a maturação biológica isoladamente, ou mesmo combinada ao tamanho corporal, manifesta pouca influência sobre os resultados do KTK. Ao passo que, Luz et al.36 tiveram como objetivo analisar a associação dos estágios maturacionais com o desempenho nas provas de coordenação motora em crianças. Os resultados mostraram que os estágios maturacionais não teve correlação significativa com a maioria das provas do KTK (saltos monopedais, saltos laterais e transferência sobre plataformas). Em contrapartida, houve correlação significativa, porém inversa, com a trave de equilíbrio.

Nota-se, portanto, que ambos os estudos citados acima35,36 corroboram com os achados do presente estudo. Além disso, a não diferença nos níveis de atividade física apresentados na amostra do presente estudo também pode ter interferido no resultado final, reforçando o argumento que: independentemente dos estágios maturacionais, o desempenho coordenativo é eficiente quando associado ao nível de atividade física37.

Desta maneira, torna-se necessário estimular a prática de atividade física durante as fases de todos os estágios de maturação. Em vista disso, as aulas de Educação Física e as instituições esportivas são espaços propícios para a evolução dos níveis de coordenação motora38.

De uma forma geral, este estudo apresenta relevante contribuição acerca dos processos de maturação e coordenação motora, destacando a importância da realização de avaliações físicas com crianças e adolescentes no âmbito escolar, utilizando o KTK, tendo em vista que se trata de uma ferramenta útil no processo de detecção de talentos esportivos39. Entretanto, sugere-se a realização de estudos com medidas objetivas (e.g., acelerômetro), a fim de compreender melhor o comportamento das variáveis em questão durante o processo de crescimento e desenvolvimento das crianças.

Assim, destaca-se que não existe diferença no nível de atividade física entre os estágios 3, 4 e 5 da maturação sexual, assim como o estágio maturacional não parece influenciar o nível de coordenação motora de jovens escolares. Entretanto, o nível de atividade física praticada na escola e de lazer se associou significativamente com o desempenho de coordenação motora.

 

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Endereço para correspondência:
ayrtonbruno12@hotmail.com

Manuscrito recebido: Setembro 2018
Manuscrito aceito: Agosto 2019
Versão online: Outubro 2019

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