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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.29 no.3 São Paulo set./dez. 2019

http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.v29.9543 

ARTIGO ORIGINAL

 

Tópicos de metodologia de pesquisa: Estudos de coorte ou cohorte prospectivo e retrospectivo

 

 

Luís Marcelo Aranha CamargoI, II, III, IV, V; Romeu Paulo Martins SilvaV, VI; Dionatas Ulises de Oliveira MeneguettiV, VII

IInstituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, Monte Negro, Rondônia, Brasil
IIDepartamento de Medicina, Centro Universitário São Lucas, Porto Velho, Rondônia, Brasil
IIICentro de Pesquisas em Medicina Tropical, Porto Velho, Rondônia, Brasil
IVInstituto Nacional de Ciência e Tecnologia EpiAmo/Rondônia
VPrograma de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência da Saúde na Amazônia Ocidental, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Acre, Brasil
VICentro de Ciências da Saúde e do Desporto, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Acre, Brasil
VIIColégio de Aplicação, Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Acre, Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Na área de ciências da saúde, o método epidemiológico, pode ser dividido em epidemiologia descritiva e a analítica, essa última que se divide em observacional (estudo de corte transversal, estudo caso-controle e estudo de coorte/cohorte) e experimentais. Os estudos de coorte ou cohorte, podem ser retrospectivos ou prospectivos, e ambos partem do pressuposto que o pesquisador irá acompanhar uma população ao longo do tempo para buscar possível associação entre exposição e desfecho. Esses tipos de estudos apresentam como vantagens a possibilidade de se mensurar vários fatores de exposição e desfechos, tanto primários como secundários, aplicam-se tanto para desfechos relativamente frequentes e fatores de exposição raros. Porém, muitas vezes são estudos prolongados e, portanto, caros. Têm como principais viéses os de seleção, memória e informação. São estudos que podem apontar para associações estatísticas entre exposição e desfecho que necessitam de outros modelos para comprovar se há casualidade destas associações.

Palavras-chave: coorte/cohorte, estudo longitudinais, follow-up.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

O presente estudo foi realizado para mostrar as vantagens e viéses de estudo de coorte prospectivo e retrospectivo, demonstrando a sua aplicação e em quais situações o mesmo é indicado.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Foi constatado que o estudo de coorte pode ser retrospectivo e prospectivo. No estudo retrospectivo o pesquisador colhe informação pregressa dos fatores de exposição e acompanhar por um período de tempo os indivíduos. Já no estudo prospectivo o pesquisador está presente no momento da exposição de um ou mais fatores e acompanham por um período de tempo para observar um ou mais desfechos.

O que essas descobertas significam?

Que o estudo de coorte, mesmo apresentando alguns vieses, é um método que consegue estimar a incidência de um desfecho (ou mais) exposto a um ou mais fatores, e verifica se há associação estatística entre exposição e desfecho, tanto primários como secundários.

 

INTRODUÇÃO

O método epidemiológico, na área de Ciências da Saúde, pode ser dividido em duas grandes vertentes: a epidemiologia descritiva e a analítica. Na primeira vertente utilizam-se indicadores de morbidade, mortalidade, demográficos, socioeconômicos, qualidade de acesso, prestação de serviços de saúde e de qualidade de vida, entre outros. A segunda vertente, por sua vez, utiliza dos dados da epidemiologia descritiva para analisar e buscar explicações para os dados encontrados1-3. Estes estudos (analíticos), por sua vez, dividem-se em observacionais (estudo de corte transversal4, estudo caso-controle e estudo de coorte/cohorte) e experimentais, mais conhecidos com ensaios clínicos1-3. Todos eles têm vantagens, desvantagens, custos, tempo de execução e precisão diferentes. Enquanto os estudos observacionais levantem mais hipóteses ao invés de demonstrar associação causal, os estudos experimentais, considerados o padrão-ouro dos estudos epidemiológicos, são caros, demorados, porém mais precisos e podem sugerir relação causal entre exposição e desfecho.

 

ESTUDOS DE COORTE OU COHORTE

Estes estudos (também chamados de longitudinais ou de "follow-up") partem do pressuposto que o pesquisador vai acompanhar uma população ao longo do tempo para buscar possível associação (ao menos estatística) entre exposição e desfecho. Grosso modo este estudo pode ser dividido em 2 subtipos: estudo de coorte retrospectivo e estudo de coorte prospectivo (Figura 1).

No estudo prospectivo o pesquisador está presente no momento da exposição de um ou mais fatores e acompanham por um período de tempo para observar um ou mais desfechos. No caso do estudo retrospectivo o pesquisador pode colher informação pregressa do(s) fator(es) de exposição (daí o termo retrospectivo) e acompanhar por um período de tempo os indivíduos (a coorte).

Após algum tempo de acompanhamento (meses, anos ou décadas) o pesquisador poderá relacionar a exposição ao (s) fator (es) utilizando o Risco Relativo (RR), que não é nada mais que a incidência do (s) desfecho (s) na coorte. Ao finalizar o estudo o pesquisador analisa a incidência do desfecho no grupo de expostos e não-expostos ao (s) fator (es) de risco em uma tabela de contingência (Tabela 1).

O RR será calculado utilizando-se a seguinte fórmula:

Esta fórmula, em súmula, representa a razão entre a Incidência entre expostos (Ie) e Incidência entre não expostos (Io), portanto RR= Ie/ Io.

O cálculo do tamanho da amostra se dá pela seguinte fórmula:

(n - Amostra calculada; N - População; Z - Variável normal padronizada associada ao nível de confiança; p - Verdadeira probabilidade do evento; e - Erro amostral)

Tanto o cálculo do RR e tamanho da amostra, podem ser realizados utilizando programas de livre acesso tais como EpiInfo5 e OpenEpi6. Existindo também outras plataformas online que realizam esses tipos de análises, além de realizar o cálculo do tamanho amostral7.

Além de estimar a incidência de um desfecho (ou mais) exposto a um ou mais fatores de exposição, pode-se verificar se há associação estatística entre exposição e desfecho. Para tal pode-se utilizar o teste do qui-quadrado e verificar o intervalo de confiança de 95%. Se o número 1 estiver excluído do intervalo de confiança e/ou o cálculo da significância estatística (p) for menor que 5% (0,05), pode-se validar a associação estatística (muito embora não se possa assegurar que há relação causal).

Como exemplo, expõe-se a seguinte situação: seguiu-se por 10 anos uma coorte de 3.400 pessoas das quais 1.600 foram expostas a um produto químico e outras 1.800 que não foram expostas. Com desfecho, mediu-se a incidência de casos de leucemia mieloide. No grupo exposto ocorreram 67 casos e no grupo sem exposição ao produto 24 casos em 10 anos (estudo de coorte prospectivo). Para se calcular o RR utilizando-se a fórmula acima, elabora-se a tabela de contingência abaixo (Tabela 2).

Utilizando-se a fórmula para cálculo do RR acima:

RR =4,5 (IC 95% 2,918- 6,939)

* Intervalo de Confiança 95% (IC95%) e o p<0,05 (estatisticamente significante).

Com estes dados podemos afirmar que a ocorrência de casos novos de leucemia no grupo exposto ao produto químico tem uma incidência (Ie) de 6,25 casos novos/1.000 pessoas , que no grupo não exposto a incidência (Io) é de 1,38 casos novos/ 1.000 pessoas e que estatisticamente o risco de ter leucemia no grupo de exposto é 4,7333 maior que no grupo não exposto (RR) com alta significância estatística (p=0,001). Como o p< 0,005 e o número 1 não se encontram no intervalo de confiança, eu aceito a hipótese de associação estatística entre exposição de desfecho.

Além do cálculo de RR e incidência entre expostos e não expostos, este modelo de estudo permite calcular (Tabela 3).

 

CONCLUSÃO

Os estudos de coorte apresentam como vantagens a possibilidade de se mensurar vários fatores de exposição e desfechos (primários e secundários). Aplicam-se para desfechos relativamente frequentes e fatores de exposição raros. De uma maneira geral são estudos relativamente caros em função do tempo de acompanhamento da coorte. Os erros de informação e de memória são os maiores viéses destes estudos. Muitas vezes, em se encontrando associação estatística entre exposição e desfecho, busca-se o Ensaio Clínico (experimental) para se confirmar a hipótese.

Talvez o exemplo mais exitoso de Estudo de Coorte (prospectivo) seja o Estudo de Framingham que já se prolonga por mais de 60 anos. Boa parte da informação sobre fatores de risco (exposição) e doenças cardiovasculares (desfechos) derivam deste estudo.

 

Agradecimentos

Ao Prof. Dr. Sergio de Almeida Basano e Dra. Juliana de Souza Almeida A. Camargo pela revisão crítica do artigo.

 

REFERÊNCIAS

1.Gordis L. Epidemiology. 5th Ed. Saunders Elsevier. 2013.         [ Links ]

2.Galvão TF, Pereira MG, Silva MT. Saúde baseada em evidências. Guanabara Koogan, 2016.         [ Links ]

3.Merril RM. Introduction to epidemiology. 5th ed. Jones & Bartlett Publishers, 2010.         [ Links ]

4.Zangirolami-Raimundo J, Echeimberg JO, Leone C. Research methodology topics: Cross-sectional studies. J Hum Growth Dev. 2018;28(3):356-60. DOI: http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.152198        [ Links ]

5.Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Epi InfoTM. [cited 2018 Dec 12] Available from: https://www.cdc.gov/epiinfo/index.html        [ Links ]

6.OpenEpi. Estatísticas epidemiológicas de código aberto para a Saúde Pública. OpenEpi. [cited 2018 Dec 12] Available from: https://www.openepi.com/Menu/OE_Menu.htm        [ Links ]

7.Santos GEO. Cálculo amostral. [cited 2018 Dec 14] Available from: https://praticaclinica.com.br/anexos/ccolaborativa-calculo-amostral/ccolaborativa-calculo-amostral.php        [ Links ]

 

 

 

Endereço para correspondência:
dionatas@icbusp.org

Manuscrito recebido: Setembro 2018
Manuscrito aceito: Agosto 2019
Versão online: Outubro 2019

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