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Journal of Human Growth and Development

Print version ISSN 0104-1282On-line version ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.30 no.1 São Paulo Jan./Apr. 2020

http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.v30.9969 

ARTIGO ORIGINAL

 

Bullying no ambiente escolar: compreensão dos educadores

 

 

Fellipe Soares SalgadoI; Wanderlei Abadio de OliveiraII; Jorge Luiz da SilvaIII; Beatriz Oliveira PereiraIV; Marta Angélica Iossi SilvaV; Lélio Moura LourençoVI

IDoutorando em Psicologia. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo-USP (FFCLRP-USP). Ribeirão Preto. São Paulo. Brasil
IIPós-doutorando em Psicologia. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FFCLRP-USP). Ribeirão Preto. São Paulo. Brasil. Bolsista CAPES
IIIDocente. Programa de Pós-Graduação em Promoção de Saúde. Universidade de Franca (UNIFRAN). Franca. São Paulo. Brasil
IVDocente. Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade do Minho (UMINHO). Braga. Minho. Portugal
VDocente. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP-USP). Ribeirão Preto. São Paulo. Brasil
VIDocente. Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora. Minas Gerais. Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: O bullying é um tipo de violência entre pares caracterizado pela intencionalidade, repetitividade e desequilíbrio de poder entre vítimas e agressores. A ocorrência de bullying no contexto escolar prejudica a aprendizagem e o desenvolvimento saudável dos estudantes
OBJETIVO: Analisar a compreensão dos educadores sobre o bullying no ambiente escolar
MÉTODO: Estudo transversal e qualitativo realizado com 16 educadores (diretores, vice-diretores, coordenadores pedagógicos e professores) de duas escolas públicas de uma cidade do interior do estado de Minas Gerais. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas que seguiram um roteiro produzido a partir de indicações da literatura especializada. O conteúdo das entrevistas foi gravado e transcrito na íntegra. A interpretação dos dados seguiu os pressupostos da análise de conteúdo, em sua modalidade temática, considerando-se as seguintes etapas: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados e interpretação
RESULTADOS: Foram identificadas três categorias temáticas: 1) A centralidade das famílias nos problemas das escolas na concepção dos educadores; 2) Crenças que estabelecem nexos explicativos para o bullying; e 3) Ações de intervenção desenvolvidas em relação ao bullying. Os resultados apontam que as crenças dos educadores responsabilizam exclusivamente as famílias pelos problemas das escolas e pelo bullying. Essas concepções decorrem de situações vivenciadas no cotidiano ou de discursos de outros profissionais da educação que reiteram a ausência das famílias e o pouco envolvimento parental nas questões da educação formal dos filhos como o grande problema. Narrativas dessa natureza denotam a ausência de uma compreensão ampliada sobre o bullying e sua complexidade. Além da família, os educadores apontaram as influências da personalidade, da mídia e dos padrões sociais como fatores que podem explicar o envolvimento dos estudantes em situações de bullying. Para os participantes as respostas mais efetivas para minimizar ou responder adequadamente ao bullying escolar necessitam da participação da família e alguns não acreditavam que a escola pudesse, sozinha, fazer algo de efetivo. No conjunto dos dados, percebeu-se que as crenças e compreensões dos educadores sobre a problemática do bullying impedem que que medidas direcionadas aos aspectos escolares, que constituem causas mais proximais à ocorrência de bullying, sejam efetivadas
CONCLUSÃO: Conclui-se que os educadores investigados necessitam ampliar a compreensão que apresentam sobre o bullying, de modo a desenvolverem ações eficazes de enfrentamento desse fenômeno nas escolas, que incluam igualmente a participação das famílias

Palavras-chave: Bullying, violência, educação, relações familiares, serviços de saúde escolar.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

Para fornecer novos insights acerca de uma problemática enfrentada por crianças e adolescentes em idade escolar, objetivou-se analisar a compreensão dos educadores sobre o bullying no ambiente escolar. Segundo a literatura científica, o professor tem papel essencial no enfrentamento desse tipo de violência, por isso, é necessário compreender como ele entende ou percebe as diferentes formas de sua manifestação na escola.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Entrevistamos 16 educadores de duas escolas públicas de uma cidade do interior de Minas Gerais. Os resultados apontam que as crenças dos educadores responsabilizam exclusivamente as famílias pelos problemas das escolas e pelo bullying, denotando ausência de compreensões ampliadas. Essa compreensão afeta a maneira como eles respondem ou agem diante de diferentes situações de bullying.

O que essas descobertas significam?

Os achados do estudo sugerem que os educadores investigados necessitam ampliar a compreensão que apresentam sobre o bullying, de modo a desenvolverem ações eficazes de enfrentamento desse fenômeno nas escolas, que incluam igualmente a participação das famílias.

 

INTRODUÇÃO

O bullying escolar é abordado com crescente periodicidade nos meios de comunicação e diversos estudos têm sido desenvolvidos na tentativa de melhor compreendê-lo. Ele ocorre mediante agressões contínuas e intencionais entre estudantes que se encontram em situação de desigualdade de poder físico, social ou psicológico1. O bullying pode se manifestar diretamente, em situações de agressão física ou verbal, bem como indiretamente, quando há disseminação de informações que caluniam os colegas, denigrem sua imagem ou provocam sua exclusão do grupo de pares2. Os envolvidos, via de regra, são identificados como vítimas, agressores, vítimas-agressoras e testemunhas3.

A Organização Mundial de Saúde considera o bullying como um problema generalizado a nível mundial4. No Brasil, especificamente, a prevalência nas escolas é de aproximadamente 28%5, o que faz com que seja considerado um problema de saúde pública, devido também às consequências negativas que ocasiona à saúde, qualidade de vida, desenvolvimento psicossocial e às trajetórias educacionais de crianças e adolescentes6. Resumidamente, encontram-se a ele associados: depressão, ansiedade, insônia, solidão, indisciplina escolar, evasão dos estudos, uso de álcool e outras drogas, comportamentos infracionais, automutilação e suicídio3,7,8.

De maneira geral, identifica-se que na realidade brasileira as pesquisas sobre bullying são baseadas em sua maioria no autorrelato de estudantes e possuem foco na identificação de sua ocorrência e na caracterização dos participantes. Entretanto, existem lacunas a serem preenchidas, no sentido de melhor compreender este fenômeno utilizando-se como fonte de dados outros atores sociais, tais como os educadores, que possuem a possiblidade de prevenirem e intervirem intencionalmente nas agressões ocorridas no contexto escolar9. Trata-se, portanto, de uma temática relevante, pois existem indicações na literatura de que, em geral, as instituições escolares e os educadores não se encontram adequadamente preparados para lidarem com o bullying10.

Em relação aos educadores, o nível de conhecimento e as compreensões que eles possuem acerca do bullying norteiam o modo como eles identificam e respondem às situações ocorridas na escola. Por exemplo, o entendimento de que o bullying não é prejudicial e representa brincadeiras típicas da idade colabora para que a necessidade de intervenção seja vista como dispensável. Por outro lado, conceber que se trata de comportamentos excessivamente graves, estimula a aplicação de métodos punitivos que podem agravar ainda mais o problema, em vez de resolvê-lo11. Portanto, a ausência de conhecimentos específicos sobre o bullying que permitam identificar as suas principais causas, características, sujeitos envolvidos, entre outros aspectos, compromete a forma como ele é interpretado pela equipe escolar, que pode considerá-lo com sendo trivial e inofensivo12, ou então estimular intervenções inadequadas, por não se conseguir identificá-lo e distingui-lo de outras formas de violência ou de indisciplina dos alunos.

Assim sendo, as compreensões apresentadas pelos educadores constituem um tema importante de investigação por constituírem indicadores do conhecimento que possuem acerca do fenômeno, do modo como o compreendem e como interveem nas agressões praticadas pelos alunos13. Por exemplo, um estudo desenvolvido com gestores educacionais acerca das causas que eles atribuíam à violência escolar identificou: família disfuncional, violência doméstica, baixa autoestima do aluno, pouca perspectiva para sucesso no futuro, fracasso escolar e desigualdade social14. Preponderou a crença de que a violência decorre de características individuais dos estudantes e de processos sociais exógenos à escola. Assim, a responsabilidade pela prevenção ou redução da violência, para os sujeitos investigados, caberia à família, ao contexto social e aos próprios estudantes.

É importante destacar que a crença dos gestores investigados no estudo de Marra14 se encontra em dissonância com os dados apresentados pela literatura que indica serem os fatores intraescolares os maiores responsáveis, especialmente: a ausência ou falência de regras da escola, clima escolar negativo, ausência de supervisão de adultos, entre outros aspectos15,16. Assim sendo, para fornecer novos insights acerca dessa problemática enfrentada por crianças e adolescentes em idade escolar, na perspectiva do professor e que esse estudo foi desenvolvido.

Como referido, o professor tem papel essencial no enfrentamento desse tipo de violência, por isso, é necessário compreender como ele entende ou percebe as diferentes formas de sua manifestação na escola. Ao mesmo tempo, reconhece-se que ainda faltam aos educadores informações relacionadas ao bullying especificamente, por se tratar de um tipo de violência escolar.

Assim, o objetivo é analisar a compreensão dos educadores sobre o bullying no ambiente escolar.

 

MÉTODO

Delineamento

Trata-se de estudo transversal, qualitativo, do tipo exploratória, que visa ao exame cuidadoso de um fenômeno com o intuito de compreendê-lo, descrevê-lo em seu significado, respondendo, assim, a questões muito particulares. Esse tipo de abordagem busca apreender um nível da realidade não quantificável, envolvendo crenças, valores, percepções e sentimentos, que envolvem aspectos mais profundos dos fenômenos ou sujeitos investigados, que dificilmente podem ser alcançados mediante a operacionalização objetiva de variáveis17. Ao mesmo tempo, estudos transversais são importantes no que se refere ao seu caráter descritivo, mas também na medida em que podem assumir perspectivas analíticas a partir do exercício de interpretação exercido por pesquisadores qualificados/experientes na temática explorada18.

Local do estudo

O estudo foi realizado na cidade de Juiz de Fora-MG, situada a 283 km da capital do Estado de Minas Gerais. Juiz de Fora possui uma população de 516.247 habitantes, 320 escolas particulares (Ensino Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino Superior), 103 escolas municipais (Ensino Infantil e Ensino Fundamental) e 53 escolas estaduais (Ensino Fundamental e Médio)19. Um estudo desenvolvido com estudantes juiz-foranos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental indicou prevalência de bullying de 60,0%18, índice superior à média nacional que em 2015 foi de 28,0%5, o que denota a relevância de se desenvolver estudos sobre a temática nas escolas da cidade. Duas escolas públicas (escola A e escola B) foram selecionadas por conveniência para participação no estudo.

Participantes

O critério de amostragem de participantes na pesquisa qualitativa não corresponde aos atributos numéricos, tais como distribuição, extensão e tamanho. O interesse está na obtenção de material relevante para a compreensão do assunto. Sendo assim, a pesquisa obedeceu à amostragem heterogênea, através da estratégia da variação máxima, quando os participantes são escolhidos para entrevista por apresentarem características de diversidade apontadas pela revisão de literatura20.

Participaram do estudo 16 educadores. Na escola A foram entrevistados o diretor, o vice-diretor, um coordenador pedagógico e cinco professores. Na escola B foram entrevistados o vice-diretor, dois coordenadores pedagógicos e cinco professores. A média de idade dos educadores foi de 42,7 anos. O tempo de docência variou entre seis e 30 anos (média de 12,1 anos). Em relação ao sexo, 13 pertenciam ao feminino e três ao masculino. Além disso, a composição do grupo de participantes abrangeu uma variação na formação inicial (Português, Matemática, História, Geografia e Educação Física), bem como em relação a maior e menor tempo de experiência no ensino (períodos maiores e menores de cinco anos de docência).

Instrumentos

Utilizou-se um roteiro para suporte da entrevista semiestruturada, produzido a partir de revisões da literatura. Algumas das questões que compuseram o roteiro de entrevista foram: 1. "Dentre os problemas que sua escola passa, quais são os mais graves?"; 2. "A partir da sua experiência como gestor/educador, o que você considera ser bullying?"; 3. "Na sua opinião, quais seriam as causas do bullying?"; 4. "Você pensa existir alguma solução para o bullying?"; 5. "Como vocês intervêm nas situações de bullying?".

Procedimentos

Os participantes foram selecionados por estarem no quadro docente das duas escolas selecionadas. Os diretores, vice-diretores e coordenadores pedagógicos foram todos entrevistados, já que a utilização da variação máxima era impossível de ser aplicada devido ao número reduzido de educadores nesses cargos. Os professores foram selecionados cumprindo as seguintes características: a) sexo/gênero, b) disciplina ministrada, c) tempo de trabalho na rede municipal menor que cinco anos, d) tempo de trabalho na rede municipal maior que cinco anos, e) tempo de formado. Dessa forma, escolheu-se um educador do sexo feminino seguido de um masculino; um educador que ministra disciplina de português, seguido de matemática, história, geografia e educação física; um educador que ainda não somou cinco anos de docência, seguido de um que completou os cinco anos e um educador cuja formação seja recente, seguido de outro que já tem mais tempo de formado. As entrevistas foram realizadas nas próprias escolas, individualmente, em salas reservadas.

Análise dos dados

O conteúdo das entrevistas foi gravado e transcrito na íntegra, contanto, para isso, com autorização prévia dos participantes. A interpretação dos dados seguiu os pressupostos da análise de conteúdo, em sua modalidade temática, considerando-se as seguintes etapas: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados e interpretação21. A pré-análise tem como objetivo principal a operacionalização e a organização do material para análise, no caso, o texto integral proveniente das entrevistas. A exploração do material corresponde à fase da leitura flutuante, responsável pela apropriação do conteúdo total das entrevistas e a constituição do corpus para iniciar a composição da unidade de análise. O tratamento dos resultados correspondeu ao processo de interpretação do scopus à luz da categorização temática, no qual dois juízes foram consultados com o objetivo de se evitar possíveis vieses de interpretação do material. Os dados foram comparados e discutidos para a formação de categorias finais que corresponderam aos resultados do estudo. Foram identificadas três categorias: 1. A centralidade das famílias nos problemas das escolas na concepção dos educadores; 2. Crenças que estabelecem nexos explicativos para o bullying; e 3. Ações de intervenção desenvolvidas em relação ao bullying.

Aspectos éticos

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), parecer 148/2011. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e, em todas as etapas da pesquisa, foram seguidas as recomendações da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.

 

RESULTADOS

Foram entrevistados 16 educadores de duas escolas públicas de uma cidade do interior de Minas Gerais. Os resultados apontam que as crenças dos educadores responsabilizam exclusivamente as famílias pelos problemas das escolas e pelo bullying, denotando ausência de compreensões ampliadas. Essa compreensão afeta a maneira como eles respondem ou agem diante de diferentes situações de bullying.

A centralidade das famílias nos problemas das escolas na concepção dos educadores

Identifica-se que as concepções dos educadores investigados decorrem de situações por eles vivenciadas ou de discursos de outros profissionais da educação, e reiteram a ausência das famílias e o pouco envolvimento parental nas questões da educação formal dos filhos. As famílias ou aspectos a elas relacionados são indicados como o principal problema enfrentado pelas escolas, especialmente a "[...] falta de participação da família na vida escolar dos filhos" (P3).

Em relação ao bullying, atribuem a sua ocorrência à falta de funcionalidade familiar, por exemplo: "[...] vai refletir aqui na escola essa falta de carinho da família, ou não tem o pai ou não tem a mãe. Ou quando tem são pessoas que têm problema com o álcool e outras drogas" (P7). "Você passa a tarde toda resolvendo problema [...]. Essas ofensas que ocorrem, esses deboches, eles trazem de casa" (P5).

Neste cenário, fragilidades familiares são identificadas como forte motivo para o desânimo na prática profissional, pois, segundo os educadores, os responsáveis pelos estudantes, muitas vezes, não reforçam os bons comportamentos dos filhos e não dão atenção, carinho e apoio necessários às crianças e adolescentes: "[...] o desânimo é muito grande porque a gente percebe que os pais não respondem a isso [reforço e atenção]" (P5). "Nós não temos formação específica pra resolver problemas de psicólogo, de assistente social. A escola deveria ter esses profissionais. Até exame de acuidade visual a gente tem feito. E o pai não perceber isso, fico chocada" (P4).

Considerações dos educadores sobre as possíveis causas do bullying

Os educadores apontaram fatores considerados como determinantes para explicar o envolvimento dos estudantes em situações de bullying nas escolas. Eles acreditam que a família é o principal influenciador desse tipo de comportamento agressivo, apesar também das influências da personalidade, da mídia e dos padrões sociais. Essa relação causal entre o contexto familiar e o bullying é desvelada pelas falas: "[...] essa questão do bullying também tem a ver com a questão familiar" (P2). "O que está vendo na TV e na família está fazendo isso se tornar uma coisa bem mais grave" (P7). "Falta de limite, a família presente, falta de valores [...]. Fica essa mentalidade de violência, cultura de violência em que nada tem limite" (P1).

Os educadores acreditam que o modelo comportamental e emocional se origina em casa e incide no ambiente escolar, por exemplo: "acho que isso vai gerando hábitos em casa, vê o pai xingando a mãe [...]. E os alunos reproduzem o que eles têm em casa, a escola é só um reflexo" (P8). A responsabilização da família pode ser o resultado da concepção que os educadores sustentam em relação à composição familiar tradicional, de classe média, cujo modelo pressupõe a existência de uma mãe em casa auxiliando o filho em tempo integral, se dedicando exclusivamente às atividades domésticas. Comentam que "[...] a saída mulher do lar provocou uma modificação muito grande, os nossos, as nossas crianças hoje são, na maioria das vezes, criadas pelos irmãos mais velhos, pela vizinha" (P8).

Ações de intervenção anti-bullying consideradas efetivas pelos educadores

Segundo os educadores, as respostas mais efetivas para minimizar ou responder adequadamente ao bullying escolar necessitam da participação da família. Alguns deles não acreditam que a escola possa sozinha fazer algo de efetivo, apesar de acreditarem que ela seja importante para o desenvolvimento das crianças e adolescentes e relevante para lidar com situações de agressão: "solução de longo prazo, mas só com a participação da família" (P6); "[...] a escola tem um papel importante, mas de novo, sem a família não dá pra fazer nada não. A escola ajuda, pode chamar os pais a abrir os olhos, mas o pai deve tomar providência" (P1); "[...] "acho que a escola deve alertar os pais para cuidar dos filhos, para passar tempo com eles mesmo, sabe? Tempo de qualidade e que a criança não se sinta com raiva ou sozinha mesmo" (P2); [...] "nós estamos fazendo aqui na escola algumas intervenções muito importantes em relação à violência [...]. Então nós tivemos uma ideia de fazer reuniões que são chamadas reuniões da família (P8).

 

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Endereço para correspondência:
fellipe.salgado@usp.br

Manuscrito recebido: Maio 2019
Manuscrito aceito: Outubro 2019
Versão online: Março 2020

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