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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.30 no.2 São Paulo maio/ago. 2020

http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.v30.10376 

ARTIGO ORIGINAL

 

Sobrepeso e obesidade: prevalência em crianças e adolescentes ao Norte do Brasil

 

 

Edson dos Santos FariasI, II; Katia Fernanda Alves MoreiraI, II; Josivana Pontes dos SantosI, II; Ivanice Fernandes Barcellos GemelliI, II; Gean Magalhães da CostaI; Orivaldo Florêncio de SouzaIII

IUniversidade Federal de Rondônia (UNIR) - Porto Velho (RO), Brasil
IICentro de Estudos de Pesquisa em Saúde Coletiva (CEPESCO-UNIR) - Porto Velho (RO), Brasil
IIICentro de Ciências da Saúde e Desporto (CCSD-UFAC) - Rio Branco (AC), Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: A obesidade é uma doença crônica com etiologia multifatorial, provocada por um conjunto de aspectos genéticos, ambientais e psicológicos. Esta pode gerar comorbidades que afetam a qualidade de vida e implicam em outros riscos à saúde
OBJETIVO: Descrever a prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes escolares em Porto Velho - RO, Brasil. 2013-2016
MÉTODO: Este estudo incluiu 4165 escolares de 9 a 18 anos. Os escolares foram classificados como sobrepeso e obeso, de acordo com o escore z do índice de massa corporal (IMC) para idade e calculado com auxílio do programa WHO AnthroPlus. Posteriormente, o IMC para idade foi categorizado conforme os critérios propostos pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2007): sobrepeso (
escore z +1 z + 2) e obeso ( escore z +2). Os cálculos de prevalências foram feitos com o auxílio do programa SPSS versão 20.0
RESULTADOS: As prevalências de excesso de peso foram elevadas de 27,1%, sobrepeso 18,8% e obeso 8,3%, escolas particulares 21,4% e 9,8%, públicas 17,0% e 7,2% respectivamente. A zona leste predominou em ambas as redes de ensino 18,8% e 8,3% respectivamente. No sexo masculino a maior prevalência foi aos nove anos 30,7% e 23,0% e feminino 24,3% e 13,8%
CONCLUSÃO: A magnitude da prevalência de sobrepeso e obeso foi elevada e preocupante em escolares da cidade de Porto Velho, o que demonstra a necessidade de ações de saúde pública voltadas à unidade familiar, independentemente do segmento social

Palavras-chave: sobrepeso, obesidade, escolares.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

Em nosso meio, o excesso de peso, desde a tenra idade é um sério problema de saúde pública, que vem aumentando em todas as camadas sociais da população brasileira. Prevenir a obesidade infantil significa diminuir, de uma forma racional e menos onerosa, a incidência de doenças crônico-degenerativas. A escola é um local importante onde esse trabalho de prevenção pode ser realizado. Isso significa que uma política consistente de prevenção da obesidade deve compreender não só ações de caráter educativo e como também medidas legislativas, tributárias, treinamento e reciclagem de profissionais de saúde, medidas de apoio à produção e comercialização de alimentos saudáveis e mesmo medidas relacionadas ao planejamento urbano. A ideia da construção do artigo foi mostrar a prevalência de sobrepeso e obesidade em escolas públicas e particular de crianças e adolescentes de nove a 18 anos de idade da cidade de Porto Velho, RO. A relevância do estudo é mostrar também que epidemia do excesso de peso tem atingido todas as regiões brasileiras, independente do extrato social.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Primeiramente, fizemos um levantamento do esta nutricional em escolas públicas e particular com escolares na faixa etária de nove (9) a 18 anos, constituindo uma amostragem bem relevante de 4165 sujeitos entre crianças e adolescentes. Foi realizada como base as medidas de massa corporal e estatura corporal, usando como parâmetro de avaliação o ZIMC/idade recomendado pela OMS para o diagnóstico de sobrepeso e obesidade. O cálculo de diagnóstico foi realizado pelo programa WHO Anthro Plus. Os dados foram apresentados por meio das prevalências por sexo e idade, usando para a análises o software estatísticos SPSS/20.0. As prevalências foram calculadas pelo teste qui-quadrado.

O que essas descobertas significam?

Nossas descobertas sugerem que a susceptibilidade na prevenção, controle e intervenção do excesso de peso (sobrepeso e obesidade) desde tenra idade, seja feita em conjunto com pais ou responsáveis com os filhos e escola, ressaltando a importância de uma cultura de hábitos de alimentação mais saudável com inclusão de frutas e verduras no cardápio doméstico, associado a uma prática habitual de atividade física, como meio de controle e monitoramento do aumento da gordura corporal. O significado dessa descoberta no estudo de altas prevalências de sobrepeso e obesidade na capital de Porto Velho, RO, indica a necessidade de políticas públicas voltadas às famílias e escola para promoção de saúde destes jovens, de forma que, evitem graves transtornos ao sistema Único de Saúde (SUS) com proliferação de doenças e Agravos Não Transmissíveis (DANT) na vida adulta.

 

INTRODUÇÃO

O sobrepeso e a obesidade em crianças e adolescentes são uma preocupação global em vários países do mundo, independente da classe social, e influenciada pelo avanço exacerbo da tecnologia (redes sociais), alimentos industrializados e o sedentários1,2.

Nos países desenvolvidos, a prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes aumentou em uma magnitude de dois a cinco vezes nas últimas três décadas dos anos 80, 90 e 20003,2. Não só ocorrendo esse fenômeno nos países desenvolvidos, mas também em desenvolvimento4,3. Existem inúmeros publicações na literatura sobre o excesso de peso durante o período da infantil e adolescência e seus adversos fatores relacionados com a saúde3-5.

No Brasil o sobrepeso e obesidade entre crianças e adolescentes na fase escolar são preocupantes, tornando-se um caso de saúde pública. Conforme levantamento de dados da Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE)6, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE)7, Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônica (VIGITEL)7, Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO)8, e mais recentemente o Estudo de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA) revelam que o sobrepeso e obesidade aumentou em 239% no Brasil em 20 anos, sendo que 15% dos brasileiros entre 6 a 18 anos já estão com sobrepeso; e 5% são obesos e estes índices continuam aumentando Blochi et al.9.

A hipótese de Han et al.10 postula que o estado de saúde no início da vida pode programá-la em etapas posteriores. Neste sentido, investigações internacionais evidenciaram que as crianças diagnosticadas como obesas apresentam maior risco de apresentar obesidade na adolescência e na vida adulta9. A obesidade está associada a dislipidemias, diabetes mellitus, doenças das artérias coronarianas, alterações respiratórias, artropatia degenerativa, hipertensão arterial e aumento no risco de alguns tipos de câncer11.

Diante disso, é necessária a prevenção do excesso de peso desde a infância e adolescência pelo fato da criança permanecer por longo tempo na escola, essa pode ser considerada um ambiente importante na escolha de comportamentos e estilo de vida. Desse modo, os hábitos alimentares e de atividade física adquirida durante os anos escolares, além das características familiares, podem influenciar no excesso de peso. Assim, o objetivo é analisar a prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes do ensino fundamental e médio de escolas públicas e particulares da cidade de Porto Velho (RO) localizada ao norte do Brasil.

 

MÉTODO

Trata-se de um estudo transversal de base escolar, realizado entre 2013 a 2016, na cidade de Porto Velho, RO, localizada a região norte do Brasil. De acordo com dados da fornecidos pelo Setor de Estatística da Secretaria Estadual de Educação (SEDUC), a população estimada de escolares de Porto Velho (RO) na rede pública foi de 52.465 e na rede particular foi de 13.682, distribuídos em 231 escolas de públicas e 25 particulares, com idades entre 09 e 18 anos, de ambos os sexos. Foi utilizada uma técnica de amostragem estratificada proporcional por zonas da cidade identificando (ID) as representações de cada escola.

O cálculo para determinar o tamanho da amostra tomou por base uma prevalência estimada de 50% de sobrepeso e obesidade, erro amostral de dois pontos percentuais, nível de confiança de 95%, sendo a amostra representativa das escolas públicas de 2296 (52,9%) e particular 2042 (47,1%), respectivamente, com randomização simples pareada entre escolas públicas e privadas por sorteio, as perdas e recusas foi de 4% (173) finalizando o estudo com 4.165 escolares. No processo de seleção foram sorteadas 19 escolas, 12 públicas e sete particulares, o segundo momento ocorreu o sorteio das séries e turmas, onde toda a turma sorteada participou do estudo. Esse processo amostral permitiu que cada escolar tivesse probabilidade igual de ser sorteado.

Os escolares foram classificados como sobrepeso e obeso, de acordo com o escore z do índice de massa corporal (zIMC) para idade e calculado utilizando-se o programa WHO AnthroPlus. O zIMC para idade foi categorizado conforme os critérios propostos pela Organização Mundial da Saúde12: Sobrepeso (S) (escore z +1 z + 2) e Obeso (O) ( escore z +2). O teste do Qui-quadrado (χ2) foi utilizado para os cálculos de prevalências de sobrepeso e obesidade por rede de ensino e zonas da cidade, com o auxílio do software IBM SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 20.0.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com seres humanos da Universidade Federal de Rondônia (CAAE: 14190113.30000.5300).

 

RESULTADOS

A Figura 1 apresenta a prevalência (%) por representação da localização geográfica por zonas de sobrepeso: norte 21,9%, leste 20,2%, central 17,8% e sul 16,6; obesidade: norte zero, leste 9,7%, central 7,1% e sul 6,7, respectivamente. A Figura 2 apresenta a prevalência geral de sobrepeso 18,8% (n=785) e obesidade 8,3% (n=345) da cidade de Porto Velho, RO.

Na rede particular a prevalência geral de sobrepeso e obesidade foi de 21,9% e 9,8%, sendo predominante na zona leste 22,2% e 12,4% respectivamente. Na rede pública o sobrepeso e obesidade foram de 17,0% e 7,2%, sendo predominante o sobrepeso na zona norte 21,9% e a obesidade na zona central 7,5% (Tabela 1).

A tabela 2 é apresentada os dados por idade e sexo, as prevalências maiores foram encontradas no sexo masculino sobrepeso 20,2% (n=397) e obesidade 10,2% (n=200) em relação ao feminino 17,6% (n=388) e 6,6% (n=145). O sexo masculino aos nove anos apresentou maior prevalência de sobrepeso 30,7% e obesidade 23,0% (Figura 3). No sexo feminino ocorreu a maior prevalência aos 10 anos de idade sobrepeso 24,3% e obesidade 13,8% (Figura 4).

 

 

 

 

DISCUSSÃO

Este é um dos primeiros estudos realizado na cidade de Porto Velho no estado do Rondônia localizado ao norte do Brasil que utilizou o padrão da OMS de 2007 para identificar a prevalência de sobrepeso e obesidade em escolares do ensino fundamental e médio de escolas públicas e particulares. Foi encontrada uma elevada prevalência geral de excesso de peso de 27,1%, sobrepeso 18,8% e obesidade 8,3% na faixa etária de 09 até 18 anos, em ambos os sexos, indicando um problema emergente de saúde pública associada ao estilo de vida sedentário.

Estudo de análise sistemática a nível global mostrou que a prevalência de excesso de peso (sobrepeso e obesidade) em crianças e adolescentes nos países desenvolvidos e em desenvolvimento vem aumentando gradativamente a cada década2,4,13.

No Brasil, dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009 mostraram que a prevalência de excesso de peso em adolescentes foi de 21,7% e 19,4% no sexo masculino e feminino, respectivamente, valores preocupantes devido aos grandes problemas associados ao excesso de adiposidade corporal14.

O desenvolvimento precoce da obesidade desde a tenra idade, é um forte preditor da persistência dessa enfermidade na vida adulta e fator de risco para o desenvolvimento de outras doenças crônicas não transmissíveis como doenças cardiovasculares, dislipidemia, hipertensão arterial, diabetes tipo 2 e alguns tipos de neoplasias9. Existem vários fatores associados ao desenvolvimento do excesso de peso (S + O) na infância e adolescência, dentre eles: fatores perinatais; hábitos alimentares inadequados; inatividade física; tempo de tela; relação com os pares; nível socioeconômico; contexto social em que o mesmo está inserido; escolaridade materna e estado nutricional dos pais9,15.

A comparação da prevalência do sobrepeso e obesidade dos escolares do presente estudo com investigações nacionais e internacionais é dificultada pelo uso de diferentes referenciais5,16. Esses referenciais diferenciam-se quanto aos métodos estatísticos aplicados e na escolha dos pontos de corte para o diagnóstico do excesso de peso (sobrepeso e obesidade). Entretanto, considerando as correntes imigratórias ocorridas ao longo da formação da população rondoniense, foi escolhido o referencial da OMS de 2007 por ser procedente de uma representativa amostra multiétnica de vários países, inclusive o Brasil.

O zIMC é um indicador sensível e específico de excesso de peso entre crianças e adolescentes. O sobrepeso é definido como um zIMC entre o z escore maior ou igual + 1 (percentil 85) e obesidade maior que o z escore +2 (percentil 95) para idade e sexo13. Pode haver diferenças nos padrões normais de referência do IMC entre os diferentes países, mas os padrões da IOTF são recomendados para uso geral17.

Apesar de existir na literatura diversas investigações da prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes escolares, pesquisas similares realizadas em Porto Velho/RO, são escassas. A prevalência geral de excesso de peso foi de 27,1%, sobrepeso 18,8% e obesidade 8,3%, do presente estudo (n=4165), mostraram-se semelhantes em contraste à magnitude de excesso de peso de adolescentes brasileiros com idade entre 10 e 19 anos (20,5%), conforme evidenciada na Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008-0914, que também aplica o referencial da OMS de 200712.

Estudos nacionais realizados pelo projeto de Estudos de Riscos Cardiovasculares em Adolescentes (ERICA) iniciado em 2008 encontrou uma prevalência de sobrepeso por regiões norte de 16,8%, nordeste 16,2%, centro-oeste 17,4%, sudeste 18,7% e sul de 17,4 - 20,0%; obesidade norte 7,4%, nordeste 7,4%, centro-oeste 8,6%, sudeste 11,1% e sul 10,0 - 12,3% respectivamente9, em contrapartida, estudos internacionais de países da América do Sul17-19, Ásia19 e Estados Unidos (31,7%)20 os índices de excesso de peso (S + O) foram maiores do que encontrados em estudos nacionais.

As representações na tabela 1 e figuras 1 e 2, no sexo masculino e feminino mostraram que as maiores prevalências foram de sobrepeso do sexo masculino 20,2% e feminino 17,6%, obesos 10,6% e 6,6%. A maior prevalência de sobrepeso ocorreu no grupo masculino aos 9 anos de idade (30,7%) e obeso aos 10 anos (20,8%) (Figura 1). Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)21 feita em 2015 com alunos de 13 a 17 anos, do 5º ano fundamental até o 3º ano do ensino médio, revela que 7,8% dos jovens eram obesos. O problema atinge 1 milhão de adolescentes. Entre os alunos do sexo masculino, 8,3% eram obesos e do sexo feminino, 7,3%. Tinham excesso de peso 23,7% dos entrevistados (incluindo os obesos), ou 3,1 milhões de jovens. O maior índice de obesidade foi registrado na Região Sul, onde 10,2% dos jovens estão nessa categoria. No Sul, 28,2% dos jovens apresentaram excesso de peso (PeNSE)7.

Estudos internacionais conduzidos em países de economia emergente mostraram prevalência similar ao do presente estudo, como observado na Índia22, onde a prevalência de sobrepeso e obesidade foi respectivamente de 19,8% e 9,5%, enquanto que, em países desenvolvidos, a prevalência de excesso de peso tem sido acima de 30% em adolescentes23. Para verificar possíveis influências dos pontos de corte adotados para classificar o estado nutricional dos adolescentes, utilizaram-se os critérios sugeridos pela World Health Organization (WHO)12. A aplicação desses critérios produziu uma prevalência de 27,1%: bastante próxima da encontrada com o CDC-NCHS, que foi de 26,9%. A prevalência de excesso de peso no presente estudo foi maior nos meninos 30,8% (S = 20,2% e O = 10,6%) e meninas 24,2% (S = 17,6% e O = 6,6%), respectivamente.

Os dados do levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatístico (IBGE)14 mostraram que a parcela dos meninos de 10 a 19 anos de idade com excesso de peso passou de 3,7% (1974-75) para 21,7% (2008-09), já entre as meninas, o crescimento do excesso de peso foi de 7,6% para 19,4%. Outros estudos também observaram maior prevalência de excesso de peso entre os adolescentes do sexo masculino13,15. Estudo realizado no Reino Unido24 indicou que o excesso de peso é comum tanto em adolescentes do sexo masculino como do sexo feminino, todavia, na Itália, Finlândia e Áustria, a prevalência é mais elevada no sexo masculino; na Inglaterra e Espanha, resultados opostos são verificados25.

No presente estudo, a prevalência de sobrepeso (30,7%) e obesidade (20,8) foi maior nos meninos aos nove e 10 anos de idade, respectivamente. Nas meninas o sobrepeso (24,3%) e obesidade (13,8%) foram maiores aos 10 anos de idade. As prevalências nos meninos de sobrepeso foram mais acentuadas nas idades de nove a 16 anos, nas demais idades ocorreram queda, a obesidade maior ocorreu nas idades de nove aos 13 anos. As prevalências das meninas foram diferenciadas em relação aos meninos observados na figura 2, a maior foi aos 10 anos (23,4%) e manteve uma linearidade até 14 anos, ocorrendo queda aos 15 e 16 anos, e novamente aumentando, sendo que aos 18 anos a prevalência (23,4%) se torna idêntica as idades de nove e 10 anos de idade.

Apesar de parecer haver um padrão à escala global, que sugere que a prevalência de sobrepeso e obesidade é inferior nas crianças do que nos adolescentes, tem-se registrado um aumento das taxas de sobrepeso e obesidade em crianças na tenra idade2,3. No presente estudo, verificou-se igualmente uma maior prevalência de sobrepeso e obesidade no grupo etário das crianças nas idades de 9 e 10 anos, o que levanta preocupações importantes em termos de saúde, pois significa que a prevalência de excesso de peso (sobrepeso e obesidade) irá aumentar no futuro e as repercussões desta patologia tenderão a ocorrer cada vez mais precocemente.

O estudo COSI - Portugal 2008/2009, promovido pela Plataforma Contra a Obesidade da Direção Geral da Saúde, que abrangeu 3.847 crianças com idades compreendidas entre 6-10 anos, constituindo uma amostra representativa nacional, estimou, com base nos critérios CDC 2000, uma prevalência global de sobrepeso de 18,1% e de obesidade de 13,9%. Quanto à distribuição por sexos, apuraram-se prevalências de obesidade e sobrepeso de 18,1 e 13,9% no sexo feminino e de 18,1 e 14,9% no sexo masculino. Este estudo está integrado numa iniciativa da OMS - European Obesity Surveillance Initiative, que constitui o primeiro Sistema Europeu de Vigilância Nutricional Infantil26. Comparando os dados do estudo COSI - Portugal com o presente trabalho e tendo em conta apenas os dados correspondentes às mesmas faixas etárias, conforme se pode observar na tabela 1 e figuras 1 e 2, as prevalências estimadas neste estudo são aproximadas, sobretudo no que diz respeito aos meninos.

Este estudo apresenta limitações. O nível de maturação sexual dos adolescentes não foi avaliado, e é sabido que ele afeta o acúmulo e a distribuição da gordura corporal em meninos e meninas27. Além disso, pelo fato de a avaliação ter utilizado apenas o zIMC que mede conjunto da massa gorda e magra podendo apresentar falsos positivos, a recomendação feita por Farias et al.28 que se utiliza os dois indicadores o zIMC e o %G como ferramentas de identificação de sobrepeso e obesidade, a fim de evitar os falsos positivos ao estudo.

Deste modo, é sugerido que o %G seja incluído em estudos para rastrear a obesidade em crianças e adolescentes. Apesar disso, o IMC também é considerado uma alternativa razoável, embora se deva levar em consideração sua limitação em discriminar a massa gorda da massa livre de gordura, o que restringe a identificação dos casos de gordura subcutânea.

 

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Endereço para correspondência:
esfarias@bol.com.br

Manuscrito recebido: Setembro 2019
Manuscrito aceito: Janeiro 2020
Versão online: Maio 2020

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