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Journal of Human Growth and Development

versão impressa ISSN 0104-1282versão On-line ISSN 2175-3598

J. Hum. Growth Dev. vol.30 no.2 São Paulo maio/ago. 2020

http://dx.doi.org/10.7322/jhgd.v30.10380 

ARTIGO ORIGINAL

 

Caracterização dos casos de sífilis congênita com ênfase no esquema terapêutico em um maternidade filantrópica no ES

 

 

Renata Pereira FerroI; Laylla Ribeiro MacedoII; Mariana Ribeiro MacedoIII; Ionar Cilene de Oliveira CossonIV; Jaçamar Aldenora dos SantosV; Julia Santos CarvalhoVI; Cristina Ribeiro MacedoVII

Ihttps://orcid.org/0000-0001-9008-3396
IIhttps://orcid.org/0000-0002-6246-3559
IIIhttps://orcid.org/0000-0001-9467-1734
IVhttps://orcid.org/0000-0001-8002-1861
Vhttps://orcid.org/0000-0002-1405-4849
VIhttps://orcid.org/000-0003-3259-6585
VIIhttps://orcid.org/0000-0002-1607-2928

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

INTRODUÇÃO: A sífilis ainda é um problema mundial, calcula-se que todos os anos aproximadamente 12 milhões de pessoas são infectadas. Na última década, no Brasil foi registrado um aumento dos casos, apenas no ano de 2016, foram notificados 37.436 casos de sífilis em gestantes e 20.474 casos de sífilis congênita, sendo185 óbitos, os maiores números de casos foram notificados na região Sudeste, especialmente no estado do Espírito Santo com elevadas taxas de sífilis em gestantes, estando em terceiro lugar de maior taxa de incidência no país com 10,4 casos/1.000 nascidos vivos, acima da média nacional de 6,8 casos/1.000 nascidos vivos
OBJETIVO: Descrever o tratamento terapêutico de crianças afetadas com sífilis congênita, bem como as alterações clínicas, radiológicas e laboratoriais associadas a esta doença
MÉTODO: Estudo retrospectivo, descritivo, exploratório, quantitativo, através 204 fichas de notificação de sífilis congênita no período de janeiro de 2016 a dezembro de 2017
RESULTADOS: Os achados mostraram que 88,7% das puérperas realizaram o pré-natal. Em relação aos recém-nascidos, 85,3% eram assintomáticos. Ao analisar o regime terapêutico instituído, 22,5% utilizaram penicilina G procaína, 22,5% penicilina G cristalina e 20,6% penicilina benzatina G
CONCLUSÃO: O tratamento instituído por essa maternidade filantrópica para recém-nascidos com sífilis congênita está alinhado às diretrizes propostas pelo Ministério da Saúde. Os sintomas clínicos não representam um achado frequente durante o período neonatal, no entanto, podem ocorrer mais tarde

Palavras-chave: sífilis congênita, cuidado pré-natal, notificação compulsória.


 

 

Síntese dos autores

Por que este estudo foi feito?

A motivação para realização do estudo se deu pela observação dos autores da alta incidência de sífilis congênita no Brasil, sendo que o estado do espírito Santo, foi constatado pela Secretaria de Saúde que o estado possui a segunda maior taxa de incidência de sífilis adquirida no cenário nacional, com 85,2 casos para cada 100.000 habitantes. Sabendo do desabastecimento no país no período de 2016 a 2017 de antibióticos cujo componente é a penicilina, os autores buscaram identificar tal ocorrência impactou diretamente no tratamento dos recém-nascidos com sífilis congênita em uma maternidade filantrópica de referência. A investigação acerca dos sintomas encontrados, se apoia na hipótese dos pesquisadores diante do fato que a fragilidade possa ter contribuído para a presença de sintomas no recém-nascido com sífilis congênita, que habitualmente são raros.

O que os pesquisadores fizeram e encontraram?

Os pesquisadores utilizando as fichas de notificação compulsória de sífilis congênita de recém-nascidos em uma maternidade filantrópica da região metropolitana de Vitória investigaram o esquema de tratamento instituído e a presença de sintomas nesses pacientes.

Os pesquisadores obtiveram como resultado que o tratamento instituído aos recém-nascidos, seguiu as diretrizes do Protocolo Clínico no tratamento de sífilis congênita, portanto o desabastecimento do medicamento não impactou na maternidade do estudo.

Acerca dos sintomas apresentados foi possível observar 85,3% dos recém-nascidos se mostraram assintomáticos, 11.3% assintomáticos, 2% ignorado, 1,5% responderam que o diagnóstico clínico não se aplica, corroborando com a literatura atual.

Uma dificuldade encontrada pelos pesquisadores foi a incompletude dos dados, foi observado muitas caselas da ficha de notificação não preenchidas.

O que essas descobertas significam?

As descobertas significam que o desabastecimento da penicilina não impactou no tratamento da sífilis congênita, e que o grave problema da sífilis se relaciona a outros fatores que merecem maior atenção.

Sabe-se que o profissional de saúde possui a responsabilidade de notificar doenças de agravo e de propagar ações de promoção e prevenção de agravos de forma ampliada a fim de ofertar o cuidado humanizado com eficiência, a precariedade dos dados evidenciou que necessita maior conscientização em relação a importância do preenchimento adequado das fichas de notificação para a ciência e a instituição de políticas públicas de saúde.

 

INTRODUÇÃO

A taxa de transmissão vertical da sífilis intrauterina é de até 80% e ocorre também na passagem do feto pelo canal do parto. O estágio da sífilis na mãe e a duração da exposição fetal influenciam diretamente na probabilidade da infecção. Sendo assim, em caso de sífilis primária ou secundária durante a gestação a chance de transmissão transplacentária é maior. Ocorrem mais de 300 mil mortes fetais e neonatais por ano no mundo e 215 mil crianças em aumento do risco de morte prematura por causa de sífilis congênita1-3.

A ocorrência da sífilis congênita tem sido motivo de discussão igualmente em países desenvolvidos, como a abordagem trazida por Cooper et al.4, em relação ao aumento do número de casos nos Estados Unidos, os autores afirmam que a sua ocorrência deve ser vista como falha do serviço de saúde5-7.

A sífilis trata-se de um problema mundial, calcula-se que todos os anos aproximadamente 12 milhões de pessoas são infectadas. Na última década, no Brasil foi registrado um aumento dos casos, apenas no ano de 2016, foram notificados 37.436 casos de sífilis em gestantes e 20.474 casos de sífilis congênita, sendo185 óbitos, os maiores números de casos foram notificados na região Sudeste, especialmente no estado do Espírito Santo com elevadas taxas de sífilis em gestantes, estando em terceiro lugar de maior taxa de incidência no país com 10,4 casos/1.000 nascidos vivos, acima da média nacional de 6,8 casos/1.000 nascidos vivos8,9.

No Brasil pode-se observar um aumento de notificação de casos de sífilis em gestantes devido ao aprimoramento do sistema de vigilância epidemiológica e à ampliação da distribuição de testes rápido, além da criação da política de saúde, denominada Rede Cegonha, instituída em 2011 que aumentou o acesso ao diagnóstico de sífilis em gestantes no país. Em 14 de julho de 2005 foi instituída nacionalmente a notificação compulsória de sífilis gestacional3.

Em resposta ao aumento da incidência da epidemia de sífilis congênita verificada nos últimos anos, com intuito de reorientar as intervenções sanitárias que vêm sendo feitas no estado e municípios, foi lançado o Plano Estadual de Enfrentamento da Sífilis Congênita, que propõe, entre outra ações, a realização do pré-natal do homem, assegurar a aplicação da Penicilina G Benzatina em todas as unidades básicas de saúde, garantir para todas as gestantes a realização dos testes rápidos na 1º consulta de pré-natal e no 3º trimestre da gravidez, entre outros objetivos10-13.

A justificativa para a realização do estudo se deu em virtude do aumento do número de casos de sífilis e sífilis congênita nos últimos anos, tendo em vista, ainda as consequências relacionadas ao agravo, ressalta-se a importância de rever e estudar fatores que influenciam tal aumento.

Os pesquisadores adotam como hipótese de estudo que o desabastecimento em 2015 no Brasil, dos medicamentos indicados para o tratamento da sífilis nos protocolos do Ministério da Saúde, penicilina benzatina, procaína e cristalina, por parte da Assistência Farmacêutica nos Sistema único de Saúde (SUS) corroboraram com o aumento de casos de sífilis congênita e que o tratamento aos conceptos poderiam não estar ocorrendo em consonâncias com o indicado o que resultaria em maiores complicações ao recém-nascido1.

Considerando os fatores acima o estudo objetivou a partir das fichas de notificação compulsória, caracterizar o perfil epidemiológico dos casos de sífilis congênita de uma maternidade filantrópica, identificar as alterações clínicas, radiológicas e laboratoriais relacionada a sífilis congênita e o esquema terapêutico instituído.

 

MÉTODO

Trata-se de um tipo de estudo de corte transversal, retrospectivo, descritivo e exploratório com caráter quantitativo, por quantificar, descrever, justificar e avaliar as condições e as práticas construindo planos para melhorar a atenção a saúde. O estudo foi realizado em uma maternidade filantrópica da região metropolitana de Vitória-ES.

A população alvo

Os participantes da pesquisa foram 204 puérperas portadoras de sífilis e seus conceptos nascidos em um hospital filantrópico da região metropolitana de vitória no período de janeiro de 2016 a dezembro de 2017.

Foram avaliadas todas as fichas de notificações de sífilis congênita no período de estudo citado acima para a identificação das variáveis relacionadas ao recém-nascido e identificação das variáveis maternas.

O período de estudo

Os dados complementares foram retirados dos prontuários, coletados no período de março de 2018, após aprovação do CEP EMESCAM sob o parecer número 2.403.955. Para as informações pertinentes ao estudo foram utilizadas as fichas de notificação de sífilis congênita no arquivo da Secretaria Municipal de Saúde (SEMUS).

Variáveis de estudo

Em relação as variáveis dependentes relacionadas às puérperas contidas na ficha de notificação de sífilis congênita, analisou-se as variáveis: idade, raça, escolaridade, ocupação, escolaridade, realização do pré-natal, diagnostico de sífilis materna, teste não treponêmico no parto/ curetagem, esquema de tratamento e tratamento do parceiro.

Acerca dos dados relacionados aos recém natos foram analisadas as seguintes variáveis dependentes em relação ao RN: teste não treponêmico ao nascimento e na alta hospitalar, líquor, diagnóstico clínico de comorbidades, presença de sinais e sintomas, esquema de tratamento, raio x de ossos longos e evolução do caso (alta, óbito, transferência), variáveis relacionadas às alterações clínicas e radiológicas relacionadas a sífilis congênita.

Para a coleta dos dados foi elaborado um instrumento com base nas informações contidas nas fichas de notificação para investigação das condições e as práticas relacionados ao tratamento da sífilis congênita na maternidade de estudo. Foram excluídas as fichas de notificação dos RNs que tinham indicação de tratamento, mas foram transferidos para a sua realização em outros serviços de referência

Análise dos dados

Para análise dos dados foram realizados cálculos percentuais, média e desvio padrão, utilizando-se o programa estatístico SPSS versão 23, licenciado pela EMESCAM, os dados foram descritos e representados por meio de tabelas e gráficos.

 

RESULTADOS

Na exportação de dados sociodemográficos por ano, as variáveis relacionadas às informações gerais das puérperas ao analisar a idade materna, foi encontrado um desvio padrão de 5,0, obteve-se uma idade mínima de 15 anos, idade média de 23 anos e idade máxima de 40 anos. De acordo com a raça pode-se observar que 90,7% das puérperas eram pardas, 2,0% brancas, 3,9% pretas e 2,9% das fichas tiveram essa informação ignorada. Conforme a ocupação da mãe, 52,9% realizam atividades do lar, 27,9% fora do lar, 19,1% das informações foram ignoradas/não preenchidas na ficha de notificação.

Quanto a escolaridade, 18,6% possuem ensino médio completo (antigo colegial ou 2º grau), 15,7% possuem ensino médio incompleto (antigo colegial ou 2º grau), 15,7% possuem ensino fundamental completo (antigo ginásio ou 1º grau), 12,3% possuem 5ª à 8ª série incompleta do EF (antigo ginásio ou 1ºgrau), 2,5% eram analfabetas e apenas 1% possuíam ensino superior incompleto. Ainda no que se refere a realização do pré-natal pelas puérperas, 88,7% das fichas informaram que elas realizaram, 7,4% não e 3,9% responderam ignorado. Como apresentado na Tabela 1, logo abaixo.

 

 

Na tabela 2 encontra-se identificado a relação do número e porcentagem de casos diagnóstico de sífilis materna. De acordo com a análise estatística.

 

 

Ao analisar o diagnóstico de sífilis materna, 73,5% evidenciou-se o resultado confirmatório no pré-natal, 21,1% das puérperas no momento do parto/curetagem e 4,9% das fichas obtiveram essa informação ignorada/não preenchida.

Em relação ao teste não treponêmico no parto/curetagem, 90.2% obtiveram resultado reagente, 8,3% não reagente e 1,5% não realizaram o teste.

Conforme os esquemas de tratamento 41,2% realizaram tratamento inadequado, 36,3% não realizaram, 12,3% das fichas não obtinham essa informação. Apenas 10,3% obtiveram tratamento adequado.

Variáveis relacionadas ao recém nato

Para realização do estudo das variáveis relacionadas aos recém-nascidos, foi constituída uma amostra de 204 participantes. Considerando a realização do teste confirmatório treponêmico no parto/curetagem, 49,5% não realizaram, 45,1% reagente e 5,4% não reagente. Porém no teste treponêmico após 18 meses, 61,1% das respostas foram marcadas como "não se aplica", 31,1% ignorado, 4,4% não realizado e 2,5 não reagente.

No que diz respeito ao teste não treponêmico/liquor, 81,9% obtiveram resultado não reagente, 16,7% ignorado e 1,5% reagente. Conforme a evidência do Treponema pallidum, 66,2% não foram observados, 25,0% foram ignorados, 8,8% não obtiveram.

Em relação a sintomatologia apresentada pelos recém-nascidos conforme apresentado na tabela 3, a icterícia foi o achado mais comum.

 

 

Ao analisar a alteração liquórica relatadas nas fichas de notificação dos recém-nascidos, verificou-se que 72,5% não tiveram, 12,7% não realizaram, 8,8% tiveram alteração e 5,9% responderam ignorado.

Sobre o diagnóstico Radiológico do RNs relativas as alterações encontradas nos exames dos ossos longos, conforme preconizado pelo protocolo de práticas clínicas do Ministério da Saúde, 70,6% não tiveram alterações, 14,7% não realizaram, 14,2% ignoraram e 0,5% tiveram alteração.

Quanto ao diagnóstico clínico do recém-nascido, 85,3% se mostraram assintomáticos, 11.3% assintomáticos, 2% ignorado, 1,5% responderam que o diagnóstico clínico não se aplica.

Observa-se também na tabela 3 que 42 fichas notificados apresentaram o registro de sinais e sintomas de icterícia em recém-nascidos, 2 com lesões cutâneas e outras 2 registraram ter outro sinal ou sintoma.

 

 

Em relação ao esquema de tratamento, 22,5% utilizaram Penicilina G procaína 50.000 UI/Kg/Dia - 10 dias, 20,6% utilizaram Penicilina G cristalina 100.000 a 150.000 UI/Kg/Dia - 10 dias, 20,6% utilizaram Penicilina G benzatina 50.000 UI/Kg/Dia, 5,9% não realizaram tratamento, 2,9% responderam ignorado e 27,7% responderam que realizaram o tratamento com outro medicamento.

Entre as 56 caselas marcadas como outros, 87,5% informam que foi utilizado ceftriaxona como tratamento e 2,5% dessas respostas não tinham a descrição do medicamento que foi utilizado como alternativa.

Observou-se quanto a evolução dos casos que 97,1% permaneceram vivos, 1,5% natimorto, 1,0% aborto e 0,5% dos casos evoluíram para óbito por sífilis congênita.

 

DISCUSSÃO

O presente estudo aponta como um fator limitante a incompletude dos dados contidos nas fichas de notificações de sífilis congênita, observando na grande quantidade de caselas vazias ou marcadas como ignorado. Tais constatações também foram encontradas em estudo realizado por Saraceni et al.14 a partir dos dados do Sistema Nacional de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) entre os anos 1999 e 2000, em relação ao quesito variável etnia do recém-nascido identificou, que 100% das caselas não foram preenchidas. No presente estudo apenas 7,8% (n=204) não estavam devidamente preenchidas. Observa-se que ambos os estudos apresentam a mesma semelhança quanto a ausência ou preenchimento incompleto das caselas.

Além disso, outro estudo, demonstra que o empobrecimento das informações contidas na ficha de notificação de sífilis congênita, fato este, também citado no estudo de Boni e Pagliari7, ao enfatizar que por faltar informações fidedignas foram encontradas também, nas fichas de notificação de sífilis para o tratamento materno após a positividade dos exames com as mesmas característica quanto ao preenchimento, diversas caselas foram preenchidas como ignorado ou em branco7.

Quanto ao perfil das gestantes notificadas de positivas para a sífilis, a faixa etária predominante neste estudo teve uma média de 23 anos, portanto, compatível com o resultado encontrado no estudo de Soares et al.14, em relação a idade materna das quais 75% apresentaram a idades média entre 20 a 34 anos.

Ressalta-se o fato de que essas mulheres se encontram em idade reprodutiva, portanto em vulnerabilidade relacionada a maternidade, conforme evidenciado em um estudo com base no Sistema Nacional de Mortalidade (SIM), os autores relacionam essa mudança de comportamento associado a um fator para adoecimento. Pois, nem todo a autonomia em relação a vivência da sexualidade feminina, não vem acompanhada de medidas de promoção e prevenção para assegurar o seu auto-cuidado15.

Para Domingues e Leal9 em seu estudo realizado em 2016, quando uma notificação não é realizada em todo a sua plenitude ao preencher as lacunas das caselas, teve como consequência que 25,6% dos casos de sífilis gestacional não foram tratados o que resultaram em óbitos precoces ou tardios. E ainda, alerta, que 3% dos casos implicaram em óbitos provocados pela sífilis congênita na condição de natimorto e/ou aborto. Estes mesmos pesquisadores já tinham levantado este problema de notificação evidenciado em outro estudo usado para comparação realizado em 201316.

Assim, se faz pertinente a adoção de políticas públicas de saúde mais eficiente que visem adequar o manejo correto de notificação de gestante com diagnóstico de sífilis, que de forma positiva contribui para o enfrentamento da epidemia de sífilis congênita vivenciada no Brasil, a qual só é possível através do acompanhamento adequado e da tomada decisão mais efetivas por parte das equipes de saúde responsáveis, tendo em vista, que o número de diagnóstico de sífilis congênita, são decorrente de falha na notificação em relação ao seu diagnóstico precoce e tratamento1.

Considerando, portanto, que a sífilis congênita, independentemente da situação econômica do país ou das mulheres acometidas, sempre será um grave problema de saúde pública, evidenciado no estudo desenvolvido pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) ao investigar e registrar 6383 casos em 50 estados americanos e Washington DC no período de 1999 à 2013 e com uma taxa de mortalidade de 11,6 por 1000 nascidos vivos de 1999 a 2013, contrapondo a meta da OMS de eliminação da transmissão vertical da SC5.

Observou-se um gradiente de infecção pela sífilis e de sífilis congênita segundo escolaridade materna: quanto menor a escolaridade da mulher, maior a ocorrência de infecção pela sífilis e de sífilis congênita, em que 60,6% possuíam ensino fundamental incompleto, sendo na atual pesquisa, foram encontrados 15,3% puérperas que possuíam escolaridade entre analfabetismo e ensino fundamental incompleto9. A baixa escolaridade materna contribuí para a falta de entendimento das informação e dificultando a adoção de hábitos mais seguro através de medidas prevenção a saúde materna15.

Na instituição do estudo no período referido 2,9% dos casos notificados, não havia informação acerca do tratamento adotado, embora o manual do Ministério da Saúde (MS), intitulado: Diretrizes para o Controle da Sífilis Congênita, afirma que toda criança diagnosticada ou com suspeita de sífilis congênita tem indicação para receber o tratamento específico e adequado a fim de tratar também a neurosífilis16. O achado acima reforça a ideia em relação a incompletude dos dados no preenchimento da ficha de notificação, o que dificulta, o dimensionamento real da situação de saúde logo, contribuindo para adoecimento das populações.

Conforme a pesquisa de Cooper et al.5 a eliminação da transmissão da sífilis entre mãe e feto depende da assistência dos serviços de saúde no pré-natal. As consequências do diagnóstico tardio e o tratamento inadequado dos recém-nascidos infectados podem suceder a complicações severas, que afetam além do sistema nervoso central, ossos, articulações e dentes17. Corroborando, assim, para adoção de medidas de tratamento adequado da sífilis congênita ao recém-nascido, conforme preconizado pelo protocolo de diretrizes para tratamento da sífilis congênita do Ministério da Saúde, que adotado pela maternidade do estudo, e assim, buscando reduzir os danos a uma geração exposta a uma infecção com tratamento acessível e factível, porém em franco descontrole.

Ainda, de acordo com o protocolo do ministério da saúde para prevenção da transmissão vertical de HIV e Sífilis do Ministério da Saúde publicado em 2007, o pré-natal possui elevada cobertura no Brasil, fato esse que também foi encontrado na presente pesquisa, a qual obteve 88,7% das fichas de notificação de sífilis congênita com respostas afirmando a realização do pré-natal. Isto também pode ser observado na pesquisa de Cavalcante et al.18 em que 81,4% das realizaram o pré-natal na gestação17. Portanto, se a cobertura do pré-natal está adequada, e a incidência de sífilis materna e sífilis congênita permanecem altas, se faz necessário ampliar a discussão aos diversos níveis de atenção à saúde no sentido de buscar respostas e somar esforços no controle do problema18.

Para tanto, já pode-se pensar que a qualidade da assistência prestada a gestante se encontra abaixo do esperado para atender as necessidades de prevenção e tratamento. Apesar de a Política Nacional de Atenção Obstétrica e Neonatal prever a realização de exames rotineiros relacionados a sífilis, o MS também verificou que a rotina preconizada e o tratamento adequado por vezes não são observados18.

O protocolo do (MS) quanto ao tratamento adequadamente a gestante e o parceiro é bem sistemático durante o momento do pré-natal e após a realização do diagnóstico de sífilis, portanto, é possível erradicar a sífilis congênita como problema de saúde pública, e em relação ao Manual de pré-natal e puerpério vigente, a testagem para sífilis e HIV na avaliação pré-concepcional é ativo de realização e investigação sempre que possível18. Considerando o número de RN participantes do estudo realizado em 2014 que atenderam aos critérios de inclusão, assim, fica evidente falha no diagnóstico e tratamento das gestantes com sífilis.

Analisando os resultados desta pesquisa e de acordo com Guinsburg e Santos19, mesmo com o conhecimento das medidas de prevenção e tratamento que são capazes de diminuir a incidência da sífilis congênita ou até mesmo eliminar, os casos da doença continuam crescentes20.

Azevedo et al.21, reforça que para erradicar os riscos de transmissão da sífilis ao feto, é necessário realizar corretamente o tratamento da gestante e do parceiro sexual, com a prescrição de penicilina G benzatina realizada em até três doses a depender do estágio da doença.

Para Guanabara et al.22, a não realização do tratamento do parceiro sexual dificulta o tratamento adequado da gestante. Além disso a pesquisa traz relatos de profissionais da saúde que afirmam que os parceiros não comparecem às consultas de pré-natal devido à ausência de sinais e sintomas, motivo pelo qual eles não se identificam no problema2.

Deve-se ressaltar que processos sócio culturais interferem na atenção do sujeito no contexto da saúde, impactando inclusive no delineamento de políticas públicas, sensibilizar o indivíduo e mobilizá-lo para o seu cuidado requer um canal de comunicação eficiente, portanto a realização do pré-natal, por si só, não garante a eficácia do cuidado23-26.

Em 2017, foi publicado o boletim epidemiológico de sífilis que atualiza a definição para confirmação dos casos de sífilis congênita, desconsiderando o tratamento do parceiro sexual da mãe como critério diagnóstico27.

O boletim ainda apresenta os resultados referentes ao tratamento da sífilis, no qual a prescrição de pelo menos uma dose de penicilina benzatina foi muito superior a nível nacional quando comparado ao resultado obtido no presente estudo, entretanto, quando observados outros esquemas de tratamento verifica-se a inversão dos valores, sendo que a pesquisa atual apresenta dados muito maiores do que o boletim, em relação às informações ignoradas, os documentos também não demonstram equilíbrio de proporção27,28.

O Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde publicado em 2015 afirma que existe uma complexidade no diagnóstico da criança uma vez que mais da metade são assintomáticas ao nascimento e quando possuem expressão clínica os sinais e sintomas são discretos e pouco específicos, portanto, a instituição do tratamento do RN se baseia em exames sorológicos e na história epidemiológica gestacional e do RN28.

Pode-se também ter a mesma percepção pois 75,5% das respostas relataram que os recém-nascidos não obtiveram sinais e sintomas, 4% responderam que não se aplica/ignorado, e 20% das respostas marcadas que obtiveram sinais e sintomas, e através da tabela três pode-se observar que 42 pacientes apresentaram icterícia, dois pacientes demonstraram lesões cutâneas e dois participantes marcaram como outro sinal ou sintoma.

Embora o surgimento de sintomas no período neonatal não represente um achado frequente, sabe-se que o aparecimento tardio pode ocorrer, nesse sentido, a necessidade de tratamento precocemente na vida intrauterina foi evidenciado pelo estudo de revisão literária que identificou a não ocorrência da perda auditiva neurossensorial sifilítica (PNSI) pediátrica após tratamento intrauterino da sífilis, contudo, o estudo ressalta a importância de proceder a triagem auditiva para todos os pacientes pediátricos com sífilis congênita, assim como a relevância da instituição criteriosa do tratamento adequado do RN28,29. Tendo em vista que a realidade de instituição em questão tem em média 400 nascidos vivos por mês, e com relação aos dados encontrados nesta pesquisa identificou-se que 21,25 casos de nascidos vivos em casa 1000 apresentam sífilis congênita na instituição da pesquisa. Conforme a meta do milênio, que preconiza a redução de 1 caso para cada 1000 nascidos vivos, pode-se concluir que ainda há um longo caminho a ser percorrido para alcançar o objetivo de redução ao ideal29.

Uma limitação apresentada pelo presente estudo, foi a dificuldade em relação ao cálculo da taxa de mortalidade pelo fato da não realização do teste confirmatório treponêmico no parto/curetagem em 49,5% dos casos, o que pode ter resultado subestimação dos dados.

 

CONCLUSÃO

Os achados da presente pesquisa permitiram concluir que o tratamento instituído aos recém-nascidos na maternidade do estudo, encontra-se em consonância com as diretrizes propostas pelo Ministério da Saúde, embora o desfecho após a adoção de condutas adequadas; envolvendo assistência à saúde, exames clínicos e tratamento penicilina benzatina, procaína e cristalina, determinem um prognóstico favorável, deve ser considerado os riscos e implicações biossociais e econômicas associadas ao processo de internação.

Vale ressaltar que a dificuldade encontrada pelos pesquisadores em virtude da precariedade dos dados nas fichas de notificação. Provocou no profissional de saúde ao promover uma conscientização do no que se refere o preenchimento adequado das fichas de notificação, podem influenciar de forma global a fim de impactar em forma mais ativas e positivas no seu enfrentamento.

A magnitude do problema, é de suma importância o enfrentamento deste impasse com a utilização de estratégias. Sabe-se que o profissional de saúde possui a responsabilidade de notificar doenças de agravo e de propagar ações de promoção e prevenção de agravos de forma ampliada a fim de ofertar o cuidado humanizado com eficiência. Objetivando o envolvimento da comunidade e serviços de saúde o qual possibilitará a eliminação da sífilis congênita como um problema de saúde pública.

Agradecimentos

Agradecemos ao Governo do Estado do Acre, por meio da Secretaria de Estado da Saúde - SESACRE, pelo contrato de parceria interinstitucional (SESACRE / UFAC / FMABC) 007/2015, constituído para capacitação de profissionais de mestrado e doutorado em Ciências da Saúde .

 

REFÊRENCIAS

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Endereço para correspondência:
cristinarmacedo@gmail.com

Manuscrito recebido: Setembro 2019
Manuscrito aceito: Janeiro 2020
Versão online: Maio 2020

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